O dia 7 de setembro de 2013 foi
um dia de luta no Brasil. Cerca de 40 cidades ao redor do país se levantaram
duramente contra os governos municipais, estaduais e federal. Os enfrentamentos
com a polícia lembraram os momentos mais radicalizados das jornadas de Junho e
a truculência policial chegou a níveis ainda mais alarmantes. Nós, da Juventude
Às Ruas, queremos compartilhar algumas das experiências que tivemos nesse dia e
refletir sobre alguns pontos para que avancemos nas mobilizações e construamos
novas jornadas de luta em Setembro.

A partir da conformação de um ato
organizado principalmente pelos Black Bloc’s, centenas de jovens se colocaram
às ruas para lutar contra a repressão policial, contra o genocídio nas
periferias, contra os privilégios dos de cima, contra a Copa da FIFA, por
melhorias na saúde, educação e transporte e foram duramente reprimidos. Foi um
ato que deu um novo fôlego às mobilizações e infelizmente em São Paulo setores
da esquerda (Juntos/PSOL e PSTU) decidiram não construí-lo.
Das 525 detenções (até onde
sabemos) ocorridas hoje, cerca de 41 aconteceram em São Paulo e foram fruto
direto da truculência da polícia. Estivemos no 1º DP para nos solidarizarmos
com seis dos companheiros presos por lutar, onde presenciamos a expulsão de
seus advogados por parte do delegado de polícia, que ficou sozinho com eles
para interrogá-los. Estes seis, dentre eles um menor de idade, podem ser
indiciados por tentativa de homicídio, processo inédito em manifestações. Nem
em Junho vimos tais acusações. Que ocorreram, aliás, no mesmo dia em que um
Policial Militar disparou tiros de arma letal, sem que isso sim seja considerado
tentativa de homicídio. Dois repórteres foram atingidos (um deles encontra-se
no hospital, com um tiro de raspão no queixo, e outro com ferimentos causados
por estilhaços). Dois manifestantes foram atropelados por viaturas da Polícia
Militar, que cortavam o centro da cidade em uma densa demonstração de força
repressiva. Os vídeos seguem na internet, enquanto as grandes mídias deixam de
veicular as formas de violência mais brutais da polícia. Em Brasília, a PM
chegou a soltar cachorros contra os jornalistas! As bombas de gás lacrimogêneo,
as balas de borracha, os sprays de pimenta, os cassetetes, ou seja, os
mecanismos de repressão, já não servem mais para frear as mobilizações de rua e
cada vez mais a polícia mostra sua verdadeira face.
Episódios como esses, de brutal
repressão, repetiram-se em diversas cidades e capitais brasileiras, contra mais
de dois mil manifestantes em São Paulo e cerca de 20 mil em todo o país,
segundo a grande mídia. Mas não nos surpreendamos! A violência que aparece
agora contra todos aqueles que se levantam é a mesma que ocorre diariamente nas
periferias de todo o país há décadas. A polícia de São Paulo é a que mais mata
no mundo (de acordo com dados da ONU). Sistematicamente assassinando a
população pobre e negra nas favelas, a mesma que historicamente é marginalizada
da sociedade e que ocupa os postos de trabalho mais precários.
Essa é a mesma polícia que
reprime greves de trabalhadores no país há anos. Os operários da construção
civil de Belo Monte e Jirau, por exemplo, paralisaram as obras do PAC em 2011
(por melhorias nas condições de trabalho) e foram submetidos a um verdadeiro
campo de concentração por parte da Força de Nacional de Segurança, de Dilma. As
forças repressoras do Estado, cada vez mais questionadas, escancaram seu papel
de classe, na manutenção da propriedade privada e privilégio de pouquíssimos
indivíduos. Foram as UPP’s de Cabral que desapareceram com Amarildo! Isso nos
leva a defender a dissolução de todas as polícias que, por dentro desse
sistema, baseado na exploração de muitos para o lucro de poucos, numa sociedade
dividida em classes, continuarão cumprindo o mesmo papel, reprimindo,
violentando e assassinando cotidianamente os que estão à margem da sociedade.
Nesse sentido, as organizações e
partidos de esquerda, os sindicatos, as entidades estudantis, a juventude
e os trabalhadores do Brasil têm uma tarefa importantíssima: defender seus
lutadores presos, lutar contra a repressão policial do Estado e fazer ecoar as
vozes de todos os oprimidos do país e do mundo afora. Queremos nos forjar como
uma juventude que pense como superar esse sistema que não nos dá nenhuma
perspectiva para o futuro e que nos explora cotidianamente. Que pense em como
acabar com as mazelas impostas à juventude e aos trabalhadores. Mas que não
apenas pense, e sim que seja sujeito ativo do processo de superação delas. E é
por isso que achamos que as mobilizações de rua, combativas e radicalizadas,
são importantes chaves do processo, mas que não são suficientes para organizar
a juventude e os trabalhadores na luta contra a polícia e os governos, pois não
atacam diretamente os lucros dos empresários. Não basta apenas pararmos o
trânsito das cidades, é necessário parar a produção e circulação de
mercadorias! Pelo papel que cumprem, de produzir tudo em nossa sociedade,
apenas os trabalhadores podem atacar diretamente o bolso dos grandes
capitalistas, colocar a burguesia de joelhos e organizar a produção a serviço
das necessidades de todos. É com essa perspectiva estratégica que a juventude
que hoje toma as ruas das grandes cidades e enfrentam a repressão policial e do
Estado devem se colocar: a refletir como nos ligamos e fortalecemos a
organização os trabalhadores a partir de seus locais de trabalho, exigindo e
denunciando a burocracia sindical para que os trabalhadores passem por cima
desses verdadeiros agentes da burguesia dentro do movimento dos trabalhadores.
Devemos continuar nas ruas, tendo
em vista os ganhos que nelas já obtivemos. Mas trazemos às mobilizações de
setembro as experiências de junho. Se não nos organizarmos em espaços
democráticos, desde nossas escolas e universidades, locais de trabalho e
bairros, conformando um comitê que pense política e organizativamente nossa
intervenção nos processos que prometem se reabrir, não avançaremos por maiores
conquistas e facilmente nos desarticularemos.
Este é o momento histórico de
transformarmos radicalmente a sociedade em que vivemos. Se não nos organizarmos
conscientes de nossas tarefas, não poderemos avançar em nossos questionamentos
e conquistas!
* Liberdade imediata para todos os presos por lutar e fim dos processos criminais!
* Por uma ampla campanha democrática impulsionada por entidades estudantis, sindicatos, correntes de esquerda, movimentos sociais, e todos aqueles que tem a dizer: Abaixo a repressão!
* Continuamos em luta neste setembro para conquistar tudo aquilo que não obtivemos em junho, e muito mais!
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