segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DEMOCRATIZAR AS ENTIDADES PARA LUTAR! Tese da Juventude as Ruas para o congresso dos estudantes da Unicamp


Democratizar as entidades para lutar!

Se o país mudou as entidades tem que mudar!

O Brasil mudou. A luta e ânsia pela transformação social contaminaram milhares de pessoas. Ouvimos um grito de “BASTA!”, basta de transporte caro e de péssima qualidade, basta de educação e saúde precária, basta de homofobia e machismo. Se eletrizando com a energia contestadora das ruas, trabalhadores de todo o Brasil também começam a entrar em ação para reivindicar suas demandas. Há uma clara insuficiência dos governos em conseguir responder às demandas das ruas, e a própria hegemonia do PT que está há 10 anos no governo federal está profundamente abalada. A antiga ideia de que “devagar as coisas melhoram” foi por água abaixo, agora a tônica é “só lutando se muda a vida”.

Toda essa efervescência ocorre em sintonia com um cenário mundial cada vez mais explosivo. Uma crise econômica sem precedentes, que recoloca milhões no mundo inteiro em movimento para lutar pelo futuro, que pretende ser roubado pelos distintos governos que aplicam medidas de corte de orçamento e salário, para que a juventude e trabalhadores paguem o custo dessa crise. No Norte da África e no Oriente Médio, seguem processos de luta que estão abalando a configuração geopolítica mundial. A própria América Latina não é mais a mesma, Chile, Bolívia, Argentina já dão demonstrações de que não ficarão de fora dessa torrente de ebulição social e política. Nos últimos 30 anos a palavra revolução havia sido abolida diante de sua impossibilidade, hoje retoma sua vitalidade diante de sua inevitabilidade.

A juventude mostra o caminho: a necessidade de o movimento estudantil emergir como sujeito político!

Meio ao turbilhão de mobilizações nacionais que vimos em Junho, com o convulsivo cenário internacional como pano de fundo, é necessário que reflitamos por que o movimento estudantil não emergiu como um movimento político organizado. Parecem-nos evidentes os inúmeros problemas que perpassam o ensino público superior, e a educação de conjunto, portanto demandas não faltam. Por que então na Unicamp o movimento estudantil ainda não saiu como movimento político ativo? Acreditamos que essa passividade não é espontânea, pelo contrário, ela se deve a uma concepção que apaga do horizonte dos jovens a possibilidade de enxergar no movimento estudantil um espaço onde possa se organizar e lutar por suas demandas.

Na Unicamp essa questão é clara. Retomemos Junho para analisar quais foram as práticas políticas do atual DCE (Viramundo – PSOL e independente) no que tange a organização dos estudantes para lutar nas ruas. Quando todos se perguntavam “o que fazer?”, “como se organizar”, os estudantes não enxergaram em sua própria entidade uma resposta para seus anseios políticos. Afinal de contas, a própria gestão do atual DCE sequer proporcionou um espaço para que os estudantes debatessem os rumos e as tarefas diante das mobilizações. Sequer UMA assembleia foi vista nesse período. Há doze anos o mesmo grupo político (1º de Maio) hegemoniza a entidade, com práticas burocráticas que andam na contramão dos processos de Junho. Semeiam a passividade, atuam conscientemente para manter a entidade monolítica e desvinculada da ampla maioria dos estudantes, Congresso atrás de Congresso negam a possibilidade de abrir sua gestão para que proporcionalmente todos fossem representados.

Essa prática produz um efeito nocivo em relação a como os próprios estudantes enxergam o movimento estudantil. Pelo fato de seu próprio instrumento de luta estar profundamente burocratizado, acabam por associar essa “falência” ao próprio movimento como sujeito de transformação. O próprio Congresso de Estudantes que se avizinha não é visto como um espaço para que os estudantes decidam os rumos da entidade. Evidentemente tal prática é funcional à atual gestão que esvaziando e despolitizando os espaços, se mantém mais estável para se perpetuar no controle burocrático da entidade.

O movimento estudantil foi sujeito de grandes ações que foram determinantes no curso da história. Desde as revoluções no começo do século XX, o Maio Francês de 68, nas lutas contra os regimes ditatoriais do cone sul, até nas atuais jornadas multitudinárias no Chile e no México o movimento estudantil mostrou sua magnitude e potencialidade! Diante disso não podemos compactuar com uma visão cética sobre sua potencialidade de transformação social, porém entendemos que é legítima a repulsa que vários estudantes assumem diante de práticas burocráticas que historicamente foram se consolidando nas entidades estudantis. Basta ver a traidora e burocrática UNE, que avaliza os projetos do PT de precarização e privatização da educação, para enxergarmos a profundidade do problema. Por isso, compomos uma ala na ANEL, para que essa seja uma alternativa de coordenação nacional de nossas lutas, ainda que assumindo divergências profundas com a concepção majoritária dessa entidade.

Para que o Congresso deve servir?
Consideramos fundamental que retomemos nossos próprios instrumentos de organização política, e achamos fundamental que esse Congresso sirva para isso. Queremos democratizar a entidade para lutar! O país mudou as entidades têm que mudar! É necessário que nos organizemos pela base, com debates cotidianos que fervilhem politicamente a universidade. Mais do que isso é fundamental que as assembleias voltem a ser o espaço fundamental de decisão dos estudantes! Basta de assembleias mal divulgadas, burocráticas, restritas a um setor minoritário, queremos que a auto-organização seja um imperativo de nossa ação política. Não haver proporcionalidade dentro da própria gestão é escandaloso, queremos que todas as forças políticas e concepções se expressem, para que no transcurso de nossas próprias experiências possamos decidir qual concepção de movimento estudantil é a mais capaz de responder aos imperativos da realidade. As ruas deram seu recado, a sociedade e a universidade urgem por transformação, é necessário ousar!

O que é a UNICAMP e em qual direção ela caminha?

Entendemos que para qualquer proposta de ação concreta, temos que entender o que é a universidade e para onde ela caminha. Para nós, esse entendimento passa por entender o Projeto de Universidade que está por trás de uma universidade de excelência.
Na própria descrição da universidade em seu site temos: “A Unicamp responde por 10% da pesquisa acadêmica no Brasil e mantém a liderança entre as universidades brasileiras no que diz respeito a patentes e ao número de artigos per capita publicados anualmente”. Aqui já expõe o produtivismo acadêmico ao qual estudantes, professores e funcionários estão inseridos e que serve a um interesse explícito, o dos empresários, nacionais ou internacionais, que estão presentes aqui dentro através das fundações privadas e de laboratórios que carregam seu nome, além de eventos como a Feira Talento – evento dedicado exclusivamente às empresas na busca ávida por mão de obra especializada.
Essa é a mesma lógica se aprofundou no início do 2º semestre de 2013 quando 750 estudantes jubilaram por não se encaixar dentro da perspectiva de formação no menor período de tempo, ou seja, nos padrões do mercado.
Enquanto a Universidade alimenta os lucros das empresas, a universidade de vida intelectual e artística definha. Os espaços sociais, culturais e artísticos são cada vez mais cerceados e restritos, para que não haja “dispersão” para se produzir cada vez mais. Intelectualmente a universidade agoniza, pois está distante de oferecer um projeto que viabilize a construção de saberes críticos e novos, pelo contrário, opta por reproduzir o que é melhor para o mercado.
Para sustentar os interesses empresariais aqui dentro, a universidade seleciona uma camada específica da sociedade para cursá-la. Não é qualquer um que consegue furar o filtro social que é o vestibular e se manter numa das cidades mais caras do Brasil. Aqueles que são oriundos de camadas populares, filhos de trabalhadores ou negros, e nunca receberam educação básica de qualidade, ficam automaticamente apartados do ensino superior público. Menos de 5% dos universitários são das públicas, a maioria absoluta é obrigada a cursar universidades privadas com mensalidades caríssimas, e muitas vezes de qualidade baixa. Também podemos expor outro problema venal, que corre por baixo de todo alicerce construído dessa universidade e que por vezes explode, como na greve das trabalhadoras da CENTRO, empresa responsável pela manutenção da limpeza – A universidade de excelência apoia-se no trabalho precário de milhares de trabalhadores, seja para erguer seus prédios e mantê-los, seja para limpar nossa universidade.

Abaixo a atual estrutura de poder! Por uma universidade gerida pelos trabalhadores, estudantes e professores!
Existe aqui dentro uma burocracia escolhida a dedo pelo governo para manter a universidade em seu rumo: a Reitoria e uma casta de professores que controlam o rumo dessa Universidade, uma expressão clara dessa casta são os escândalos dos super-salários, nos quais o Tribunal de Contas denunciou pessoas como o ex-reitor Fernando Costa por receber quase 400 mil reais anuais! Enquanto isso há prédios pegando fogo e casas rachando na Moradia. A isto denominamos Burocracia Acadêmica, grupo privilegiado que controla a Universidade para melhor atender governantes e grandes empresários, a revelia dos interesses da própria sociedade. Em síntese, querem transformar a universidade em produtora de tecnologias e pesquisas que auxiliem na maximização dos lucros de grandes monopólios e na formação de “profissionais” que contribuam para aumentar a exploração sobre os trabalhadores. Basta ver a quantidade de laboratórios privados (Microsoft, Petrobrás), para tirar essa conclusão.
No momento onde nacionalmente a juventude questiona o caráter antidemocrático da atual estrutura política da sociedade, é ultrajante que na Unicamp se mantenha um Estatuto herdeiro da ditadura, com artigos disciplinares que são Ctrl+C/Crtl+V do AI-5 de 68. No próprio CONSUL, professores detém 3/5 do poder de votos, enquanto estudantes e trabalhadores 1/5 cada um respectivamente. Nem mesmo a carcomida democracia brasileira, onde cada cidadão representa um voto, é tão arcaica como as instâncias de decisão da universidade. Ou seja, toda uma estrutura profundamente antidemocrática, funcional para manter a universidade dentro dos trilhos do mercado sem que a comunidade acadêmica e nem a sociedade possa influir sobre seus rumos.
É necessário questionar o projeto de universidade produtivista e privatizante, para reavivarmos a universidade como um espaço de contestação política, realmente de produção de ciência, tecnologia, saberes e teorias críticas que se sintonizem com as demandas de toda população! É necessário que estudantes, trabalhadores (efetivos e terceirizados) e professores, desde assembleias de base, formulem um novo Estatuto verdadeiramente democrático. Que cada cabeça equivalha à um voto, e que cada decisão seja respalda pela maioria!

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