Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A greve da USP e algumas de suas lições


O reflexo de junho explode na USP em outubro

No dia 1 de outubro teve início na USP uma das maiores greves estudantis dos últimos anos nesta universidade. Quando centenas de estudantes atenderam o chamado feito pelo DCE para um ato por democracia na USP (sendo que o programa do DCE para esta demanda era apenas de “diretas para reitor”), ocuparam a reitoria da universidade e deram início à greve em uma assembleia com mais de mil estudantes, isto estava longe de ser uma surpresa imprevisível.

Ao longo do ano, diversas mobilizações estouraram na USP até mesmo antes das jornadas de junho: greve no direito pela mudança curricular; mobilizações na FAU contra as reformas da diretoria; mobilizações na FEA contra a instalação de catracas; greve dos três setores na EACH em protesto contra a contaminação do campus. Outros tantos descontentamentos estavam latentes, como a revolta pela falta de professores na Letras. 

O ato do dia 1 de outubro foi o estopim que unificou estas demandas e desencadeou a luta unificada dos estudantes.

Da Reitoria e do Governo do PSDB mais do mesmo: Repressão e autoritarismo

Coerente com seu projeto estratégico de destruir o movimento de trabalhadores e estudantil, determinado pelo Governo do PSDB, Rodas manteve sua característica forma truculenta e autoritária de lidar com a luta, desde o início. Inicialmente com uma estratégia de “fingir de morto”, postergaram o quanto puderam as negociações, buscando que o movimento se esvaziasse com o tempo e a ameaça de fim de semestre. Infelizmente, para eles, os estudantes seguiram em luta conseguiram, após a adesão de dezenas de cursos, impor negociações que, por política da reitoria, serviram para ser mais uma etapa em sua estratégia de desgaste, com promessas vazias, “tirando o corpo fora” e muito silencio sobre questões cruciais, como o fim dos processos aos trabalhadores e estudantes, a reintegração de Brandão, Cotas e toda uma série de demandas que o movimento levantava.

Conforme o movimento chegava a seu ápice a Reitoria, como não poderia deixar de se esperar, buscando dar um ponto final e vender uma “saída” para a greve e ocupação, acenava com um “acordo salvador” que, além de não garantir nenhuma conquista efetiva,  sendo apenas  uma declaração de intenções sem prazos ou compromissos claros firmados, garantia que seríamos punidos pela mobilização.

Como toda “boa” estratégia do PSDB, se não vale o engodo, vale a repressão e, quando da recusa dos estudantes quanto a este acordo, Rodas, o primeiro reitor a militarizar a USP após a ditadura, novamente convocou o choque, com seus cachorros e sanguinários, para resolver o problema.
O saldo foi de dois estudantes presos fora da reitoria e torturados dentro do camburão para assumirem que estavam envolvidos na “baderna”.
Mais uma vez, o PSDB deixaria sua marca de truculência como um aviso aos que virão de como lidar com as lutas dentro e fora da USP.

O programa do PSOL e PSTU questionado desde o início

Se por um lado enfrentamos nosso inimigo, com sua característica intransigência repressiva, tivemos de, ao longo da greve, superar também a tão característica política corporativista e cética das direções de PSOL e PSTU no movimento.

Já na assembleia que deflagrou a greve, no próprio dia 1, com presença expressiva de estudantes de diversos cursos e campi, como EACH e São Carlos, o programa de “diretas” ficou questionado pela vanguarda do movimento. Como sempre apontamos, este programa é absolutamente insuficiente para mudar o que é a universidade e sua estrutura de poder. 

Hoje a USP é dirigida pelo Conselho Universitário (C.O.), um punhado de professores titulares com ínfima participação estudantil e de trabalhadores, e  com “ilustres convidados” para representar a “sociedade civil”, tal como representantes da FIESP, FAESP (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e FECOMERCIO. Estes “ilustres senhores” são ligados, em sua maioria, às fundações privadas e às empresas terceirizadas que lucram com a privatização da universidade e a precarização do trabalho e cujos donos representam 1/3 do C.O. demonstrando a serviço do que está a USP.

Mantendo este conselho de pé, a estrutura podre da universidade mais elitista e racista do Brasil fica intacta. Além disso, quem pode se candidatar para reitor são apenas os professores titulares.
É por isto que nós dizemos que diretas para reitor não basta: não queremos escolher um tirano, queremos democracia de verdade na USP.

Na primeira assembleia da greve, as centenas de estudantes que estavam lá, mesmo que em sua maioria nunca tivessem tido um contato prévio com outro programa que não o do DCE, rapidamente compreenderam a insuficiência deste a partir da discussão que nós e outros setores colocaram, e aprovaram as consignas de dissolução do Conselho Universitário, por um governo tripartite (composto por estudantes, professores e funcionários) e por uma Estatuinte Livre e Soberana. Isto mostrou claramente que “não é só por diretas”, como dizia o DCE demagogicamente. Os estudantes que estiveram nas ruas em junho e se mostraram indignados com os governos da burguesia do PT, PSDB e PMDB queriam ir além de uma reforma cosmética na estrutura de poder da USP.



Uma política correta para disputar o programa a partir das bases

Contudo, a greve se espalhou por toda a universidade, e estava claro que, graças à política do DCE de levantar as diretas como o programa que “dialogava mais”, nem todos os estudantes puderam compreender

a insuficiência destas.
Por isto, nossa política não foi, como a de setores como o POR e o PCO, de querer “banir” nas assembleias gerais a pauta de diretas, o que significaria uma política de separar a vanguarda que se reunia nas assembleias gerais da base dos estudantes que se reunia nas assembleias de curso (nas quais poucas aprovaram o programa mais avançado em oposição ao do DCE).
Nossa política era de, em cada assembleia de curso, discutir a insuficiência das diretas e qual programa deveria ser levantado para democratizar de fato a USP.

Fizemos isto não apenas em relação às diretas, mas em outros aspectos fundamentais do programa, como a questão do acesso, em que o DCE levantou o programa de cotas da Frente Estadual Pró-Cotas– que limita as cotas raciais a menos da metade do que o movimento negro reivindica historicamente –, e que nós disputamos nas assembleias de curso o programa de cotas para negros proporcionais à população do estado (36%), ligada à luta pelo fim do vestibular e estatização das universidades privadas, como via de nos ligar a maioria da juventude fora da USP e demonstrar “que democracia” queremos.
Junto disto, buscando ligar a vanguarda do movimento estudantil ao conjunto dos estudantes, ainda sob a influência das “diretas” do DCE, lutamos por uma Estatuinte Livre, Democrática e Soberana, que fosse imposta pela luta e com a derrubada do C.O. e da Reitoria, para arrancar uma verdadeira democracia na USP, garantindo que os trabalhadores, estudantes e funcionários efetivos e terceirizados definissem os rumos de seu conhecimento, pesquisas, verbas, além das questões referentes ao acesso, permanência e estrutura de poder, demonstrando ao povo trabalhador que lutamos pela transformação da USP a seu serviço.

Nessa luta tivemos que nos enfrentar também com as direções da UNE (PT/PCdoB) que apoiavam a consigna por uma Estatuinte Livre, Democrática e Soberana, mas mantendo o Conselho Universitário intacto, os órgãos colegiados com sua composição majoritariamente docente e, inclusive, mantendo a figura do Reitor. Não à toa, foram entusiastas e militaram chamando os estudantes a participarem da consulta para Reitor, um engodo aprovado pelo questionado C.O. do dia 01/10, dizendo ser “um passo para a democracia que os estudantes deveríamos aproveitar”.

Esta política que levantamos se opunha também à política oportunista levantada pelo MNN/Território Livre, que ao invés de disputar o programa correto nas bases preferiu reproduzir capitular o programa incorreto do DCE (mesmo também considerando o programa de diretas como incorreto) com uma “cara de esquerda” e levantar o programa de “diretas universais” com voto por cabeça ao invés das diretas paritárias, tentando assim apenas se localizar ao invés de por de pé um programa que mostrasse que nossa luta era da maioria da população.



O combate por um comando de greve ligado às bases para dirigir a luta

Nesta greve, como em todas as outras, travamos uma luta contra a forma burocrática que PSOL e PSTU procuraram em todos os momentos dirigir o movimento a partir da gestão do DCE e por fora de discussões democráticas nas bases. Por isto, como sempre fizemos, propusemos um comando de greve com delegados eleitos em cada assembleia de curso para representar as posições destas, e que pudesse ser revogado e substituído a qualquer momento.
Historicamente, tanto PSOL como PSTU foram contrários a esta proposta, defendendo comandos de greve “abertos e por consenso”, que, com uma cara “mais democrática”, poderiam na verdade emperrar qualquer decisão bloqueando o consenso e, assim, continuar dirigindo o movimento pelas costas do comando a partir das entidades.

Defendemos a legitimidade das entidades estudantis e de sua representatividade, e inclusive lutamos por sua democratização defendendo gestões proporcionais nos CAs e DCE.
 Contudo, em momentos de luta como o que estávamos passando, é necessária uma direção mais dinâmica e mais sensível às bases, ligada às discussões cotidianas de cada curso e à evolução política dos estudantes no calor da mobilização.
Nesta greve, diferente de outras mobilizações, PSOL e PSTU rapidamente concordaram com nossa proposta de comando. Mas então eles reviram sua posição e resolveram ser mais democráticos com as bases? Não.
Na verdade, o que ocorreu foi que a gestão do DCE percebeu rapidamente, a partir dos resultados desfavoráveis da primeira assembleia geral, que ali naquele espaço estava se reunindo uma vanguarda muito mais radicalizada e com posições que se contrapunham às suas e, assim, havia um risco de que perdessem o controle do movimento com as decisões das assembleias gerais.
Contudo, na base dos cursos a posição do DCE ainda era hegemônica, e por isto eles poderiam eleger a maioria de delegados e sua posição política prevaleceria nas reuniões do comando. Por isto, foram favoráveis para poder manter o controle do movimento. Um cálculo político, digamos, oportuno.
Mas então por que a Juventude às Ruas não defendeu manter as assembleias gerais como único órgão de direção do movimento, se suas posições poderiam ser mais hegemônicas ali? Porque para nós não se trata de uma questão tática, do que é mais conveniente no momento. O comando de greve faz parte do que nós chamamos de “auto-organização”, que significa as bases do movimento poderem se organizar politicamente e ser sujeitos políticos de sua mobilização.
 Se, num primeiro momento, as posições do DCE eram de fato hegemônicas nas bases, defendemos que a auto-organização a partir do comando de greve é a melhor forma da maioria dos estudantes fazerem experiência com todas as posições, dirigirem a luta abarcando todas as posições dos cursos e poderem tirar balanços e avançar, vendo que as posições políticas do DCE são equivocadas para poder levar o movimento à vitória.
 Enquanto as assembleias gerais são espaços em que a democracia dificilmente pode se expressar, pois são milhares de estudantes e isto leva a que nem todos possam falar, que tenhamos bizarrices como o sorteio de falas, que os encaminhamentos sejam confusos e muitas vezes ganhe a política de quem souber “manobrar melhor” as votações, no comando devem se expressar a posição dos estudantes reunidos em um espaço muito mais democrático, que são as assembleias de curso, onde há um debate muito mais aprofundado.

As debilidades do comando de greve e a política do DCE para este

Contudo, para que o comando expresse de fato as posições das bases, algumas coisas são necessárias: as discussões feitas nas bases devem se refletir na eleição dos delegados, e estes devem levar as posições das assembleias proporcionalmente a partir das principais discussões.

Se, por exemplo, a principal polêmica se dá em torno do programa, que a eleição expresse isto. Por isto defendemos a eleição de delegados por chapas, para que o debate político se expresse.
 Isto não quer dizer “amarrar” os delegados a votarem apenas o que foi discutido nas assembleias de curso: para nós eles cumprem o papel político de direção do movimento, e por isto devem ter autonomia para votar em outras questões.
 Isto, no entanto, faz com que seja imprescindível que os estudantes nos cursos tenham controle sobre seus delegados, ou seja, que tenham momentos de balanço para debaterem o que cada delegado levou ao comando, como estão atuando politicamente. A partir disto se poderá revogar os delegados e substituí-los. Assim, o comando passa a ser um organismo democrático, sensível às bases e que permite que os estudantes façam experiência política com as distintas posições.
Demos uma luta política para que o comando funcionasse assim, em particular na Letras onde compusemos a chapa 1 de delegados junto a estudantes independentes, chamando reuniões abertas de balanço e dando uma luta para que os delegados fossem revotados a cada assembleia (mas esta posição prevaleceu apenas em uma assembleia).

Isto mostrou resultado, pois se na primeira votação dos delegados na Letras o DCE levou a grande maioria, na segunda, no período noturno, a chapa 1 teve mais votos a partir do balanço que apresentou sobre a atuação de cada delegado. Contudo, sabemos que o comando não funcionou de forma alguma como deveria: nos cursos onde o DCE dirige sozinho, como a Farmácia, tiveram uma posição extremamente burocrática de eleger os delegados na primeira assembleia e nunca mais revotá-los, chegando a manter mais de uma dezena de delegados em cursos que já tinham até saído da greve! Isto comprova como para eles o comando não é uma questão de democratizar o movimento e fomentar a auto-organização, mas apenas mais uma forma burocrática de dirigir o movimento para levar a sua política sem discutir com as bases.

Para levar o movimento à vitória, era necessário unificar as lutas

Desde o começo se expressaram três estratégias distintas para o conflito. 

A estratégia do DCE era de levantar uma luta corporativa, ou seja, que se restringisse aos muros da universidade com a política apenas de diretas para reitor, sem dialogar em nada com os que não estão na USP, mostrando nos jornais como era uma luta para os “estudantes poderem opinar”. Por outro lado, havia os que levantavam a radicalização nos métodos por fora de pensar em como se aliar a outros setores, tal como o MNN, que levantava o programa de diretas universais e métodos como a ocupação da nova reitoria por fora de pensar em como massificar a greve e ganhar aliados.
Mesmo setores que levantavam um programa mais correto para a estrutura de poder, como POR e PCO, tinham uma política vanguardista e sectária, sem pensar em como disputar este programa nas bases, das quais estavam descolados, travando nas assembléias gerais disputas sobre “propostas mais corretas” tentando impor uma cartilha imensa de pautas, sem pensar em qual o programa para ligar a base e a vanguarda. No caso do PCO, sem procurar nenhuma medida de aliança com setores de fora da USP ou de fortalecer a auto-organização a partir do comando.

Nossa estratégia se distinguia das demais por vermos no conflito a possibilidade de reacender a faísca de junho, que a importância política da USP no cenário nacional poderia espalhar por todo o país. No mesmo momento em que lutávamos na USP, duas importantes greves da educação aconteciam: a histórica greve dos professores do Rio, que há mais de vinte anos não protagonizavam uma luta como esta; e a greve dos estudantes da Unicamp, bem ao nosso lado, levantando a mesma pauta pela qual lutamos em 2011: contra a polícia.

Em nossa visão, a unificação destas lutas poderia mudar completamente o cenário das lutas. Não uma unificação “em palavras”, como o DCE fez em mais de uma oportunidade dizendo que “apoiava” a greve no Rio e na Unicamp. Propusemos e inclusive conseguimos aprovar nas assembleias medidas concretas de unificação: na USP e na Unicamp, onde também está presente a Juventude às Ruas, propusemos a criação de um comando de greve estadual, de uma plenária unificada estadual que também incorporasse Unesp e Unifesp, e um dia nacional de lutas em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para todos, todas iniciativas em relação as quais o DCE não se contrapôs mas não deu peso algum.

A possibilidade de que pudéssemos dar um exemplo nacionalmente de uma forte luta em defesa de uma das principais demandas de junho – a educação – significava uma possibilidade concreta de que outros setores seguissem nosso exemplo e pudéssemos desencadear uma luta muito maior e mais forte contra as reitorias e os governos em todo o país. Também defendemos a unificação com os que são excluídos do acesso a universidade com medidas como o ato de quebra dos muros que separam a USP da São Remo, que o DCE insistiu em boicotar a todo o momento. Mais uma vez, o ceticismo e a estreiteza, combinados a ansiedade pelas eleições e a rotina estudantil das direções do PSOL e PSTU mostrou que não estão a altura das tarefas que temos pela frente.

Da não unificação aos “acordos vitoriosos” que enterraram as lutas

No dia em que foi realizada a reunião do comando estadual, aprovada nas duas universidades, tanto o DCE da USP como o da Unicamp (dirigido pela corrente 1 de maio, também do PSOL), como dissemos, boicotaram este importante espaço.
Compareceu apenas um delegado do PSTU da USP. O sindicato dos professores do Rio também era dirigido por PSTU e Insurgência/PSOL, duas correntes que estão no DCE da USP.

Também o PSTU dirige a ala majoritária da ANEL, uma entidade nacional na qual estudantes de diversas universidades do país atuam, e o PSOL dirige a Oposição de Esquerda da UNE, tendo também peso nacional, sendo que essas correntes poderiam ter tentado organizar um dia nacional de mobilizações, paralisações e ocupações de Reitorias, como propusemos em Assembleia da USP e como ala minoritária da ANEL buscamos construir nos locais onde atuamos. Mas não o fizeram. Isso sem falar da majoritária da UNE e do Campo Popular (dirigido pelo Levante Popular da Juventude), que se orgulham em dizer que dirigem a entidade que representa a maioria dos estudantes do Brasil, mas na hora de um conflito dessa magnitude mostram o aparato inútil que essa entidade nacional se tornou sob suas direções.

A unificação estava em suas mãos, mas a estratégia das “pequenas vitórias” em cada local prevaleceu: na Unicamp, diante do primeiro recuo que o movimento conseguiu impor à reitoria, o DCE defendeu a desocupação da reitoria, o que, na prática, significou o desmonte da greve.
Chegaram a dizer em assembleia que “a melhor forma de apoiar a luta da USP era sair da reitoria com uma vitória e mostrar que é possível vencer”. Mas o recuo da Unicamp mostrou bem as “vitórias” que o PSOL e PSTU constroem: no dia seguinte da desocupação, os estudantes da Unicamp passaram a ser chamados pela polícia para depor e o vice-reitor foi à imprensa para dizer que “a possibilidade da polícia no campus não está descartada”.

Assinaram um acordo que não garantia a não punição dos estudantes, e que inclusive responsabilizava o DCE por qualquer dano causado à reitoria! Chegaram mesmo a aprovar em assembleia uma campanha financeira do movimento para pagar os “danos” à reitoria, assinando embaixo da criminalização do movimento!

Por incrível que pareça, assim que isto aconteceu na Unicamp o DCE da USP saiu dizendo que tínhamos que “seguir o exemplo” da Unicamp, e até na mesa de negociações propuseram um acordo do “modelo Unicamp”, que criminalizava o DCE pela ocupação.

Saíram da negociação, ao contrário do que afirma o PSTU em seu balanço (“garantindo” permanência estudantil e parte das pautas atendidas), com seu “acordo vitorioso”, que, como todos puderam ver, era um apanhado de promessas requentadas que a reitoria já havia feito mil vezes, sem nenhuma garantia de nada.

Contudo, o mais grave não eram as falsas promessas que o DCE se esforçou em pintar de “vitórias” em seu comunicado aos estudantes em que descaradamente mentiam sobre o conteúdo do acordo.

O pior era que, além de ter medidas claramente antioperárias como a “ampliação do funcionamento dos Restaurantes” sem nenhuma garantia de novas contratações nem mudança no regime exploratório de trabalho que existe nos refeitórios, o acordo dizia expressamente que os estudantes seriam processados e “os procedimentos administrativos observarão os princípios constitucionais”, o que o DCE afirmava que era uma garantia de não punição!
Uma coisa é sair da greve de mãos abanando, e em determinados momentos a correlação de forças pode de fato impor isto ao movimento. Outra coisa, bem distinta, é assinar um acordo dizendo à reitoria que o movimento concorda que os estudantes sejam punidos... em respeito a constituição!!!! Para nós, isto é algo completamente absurdo, pois significa que nós estamos legalizando e naturalizando punições contra nossas mobilizações políticas.

Por isto defendemos que o acordo não fosse assinado, e em uma assembleia geral isto foi aprovado por 757 votos contra 562 (o que, de acordo com o balanço do PSTU da greve, é uma “vitória apertada”sic!).

Contudo, para o DCE e as correntes governistas não bastou votar pelo fim da greve e pela assinatura do “vitorioso acordo” que garantia punições: na semana da assembleia que votou contra o acordo, eles militaram como em nenhum outro momento da mobilização, passando em cursos onde não tinham dado as caras antes, como Poli e Veterinária, para chamar os estudantes para a assembleia e votar o fim da greve! Chegaram a trazer dois ônibus de São Carlos, coisa que só fizeram para o ato do 1 de outubro, para poderem ganhar a posição na assembleia! Na Assembleia da Faculdade de Educação foram capazes de defender contra que os estudantes voltassem à greve mesmo se houvesse reintegração de posse da Reitoria (que naquele mesmo dia tinha sido aprovado pelo juiz).

E mesmo assim, perderam pela “apertada” margem de 200 votos. Em diversos lugares, como no curso de Relações Internacionais, Educação Física e no campus de São Carlos, defenderam que os estudantes saíssem da greve após conquistarem suas pautas específicas, e disseram que este era o “exemplo a ser seguido” nos outros cursos. Ou seja, quando na assembleia geral a gestão do DCE disse que era necessário acabar com a greve porque “não havia correlação de forças”, o que eles esconderam é que lutaram em cada curso para criar esta correlação de forças desfavorável, desmobilizando a greve em cada lugar!

O PSTU, em seu balanço, desenvolve a peripécia mental de dizer que a “ultra” (na qual incluem a todos que lhes fazem oposição) dialogou apenas com a vanguarda “mais a esquerda” que se divorciou (por alguma obra mágica do destino) da base dos estudantes.
Esquecem, apenas que, se houve algum divórcio, foram eles, juntos do PSOL, o Juiz e o escrivão que fizeram de tudo para assinar a separação... da base com a vanguarda!

O “´diálogo” com a massa estudantil que tanto se gabam em possuir se baseou em separá-las do sentimento mais correto e progressista que dizia que, após junho a luta da USP deveria sair dos seus muros. Mais uma vez, com sua rotina e ceticismo cansados mostraram a incapacidade frente aos novos tempos...


No Rio, a atuação do PSTU e da Insurgência (que na USP apresenta o nome de Movimento Primavera) não foi diferente: depois de uma combativa greve que enfrentou a polícia e a intransigência do governo, a direção do sindicato defendeu sair da greve de mãos abanando, e teve que refazer a votação um punhado de vezes para passar esta posição (por 1.085 contra 889 – nesse caso sim uma votação apertada!). Ou seja, para PSOL e PSTU, a política em todas as mobilizações é esta: isolar as lutas e garantir “vitórias” mínimas em cada lugar (ou inventar alguma caso não exista nenhuma conquista de fato), e em seguida abandonar a luta esperando as próximas eleições.


Da desmobilização “vitoriosa” ao boicote ao movimento

Infelizmente, após a derrota de sua política no movimento, o DCE se recusou a se disciplinar pelas bases e fazer experiência com sua política. Passaram a boicotar o movimento, esvaziando a ocupação da reitoria, inviabilizando uma reunião do comando de greve com piquete humano a pretexto de se colocar contra a agressão de um militante do PCO a um militante do PSTU (agressão esta que, assim como o revide posterior por parte do PSTU, vale repetir, repudiamos em absoluto), se retirando da última assembleia que o movimento conseguiu realizar, etc.

O PSTU, em seu balanço público, chegou ao extremo: passou a cumprir o papel de criminalizar setores do próprio movimento, dizendo caluniosamente que: “a festa ‘Atentado Contra a Moral e os Bons Costumes’ (...) acabou na invasão do centro de vivência onde ficam as sedes do DCE e da APG em reforma atualmente. O infeliz ‘incidente’ resultou na destruição do espaço, com a quebra de aparelhos eletrônicos e o incêndio dos móveis.”, vinculando a suposta depredação da reitoria a todas as correntes políticas de oposição de esquerda ao DCE.
Da mesma forma, se deram declarações de membros do DCE, desta vez ligados ao Juntos/PSOL, ao jornal do campus e grandes meios delatando as ações de “minorias” nos ditos “depredações e vandalismo” ocorridos nesta festa.
Este método de “delator” para tentar salvaguardar sua política mesquinha é um escândalo, e o mínimo que o PSTU deveria fazer seria retirar este texto criminoso de seu site e, junto de PSOL, se retratar publicamente destas calúnias e acusações.

A luta de 2013 foi um prenúncio das mobilizações de 2014

As lições e balanços desta greve não devem servir para guardarmos em uma gaveta, mas para nos prepararmos para as lutas que virão no ano que vem.
Ficou claro em junho e está claríssimo agora que esta esquerda (PSOL e PSTU), reproduzindo a mesma lógica petista de militar daqueles que constroem a UNE, adaptada aos calendários eleitorais e buscando a todo custo entidades exclusivamente para sua autoconstrução, não podem cumprir o papel que exigem os novos tempos!
Tiveram duas oportunidades este ano; em ambas falharam lamentavelmente.

Temos visto a repressão crescendo brutalmente, como, por exemplo na recente prisão de um morador de rua como “bode expiatório” dos protestos; temos visto, também o aumento da precarização do trabalho, com quatro mortes nas obras da copa apenas nas últimas semanas (duas em São Paulo e duas em Manaus); a volta da indignação da juventude, contra o absurdo da copa bilionária, enquanto a saúde, o transporte, a educação seguem precários.

Diante disto, a juventude e o movimento estudantil precisam se preparar a altura para estar na linha de frente das lutas de 2014, ombro a ombro com a classe trabalhadora.
Nós da Juventude às Ruas lutamos para construir alas revolucionárias no movimento estudantil, que estejam preparadas para, em cada luta e mobilização, estar ao lado do povo trabalhador e da juventude precarizada contra os magnatas e grandes capitalistas. Foi com essa perspectiva que construímos as chapas “Douglas” nas Ciências Sociais e a chapa “Contra a Corrente” na Letras e a expressiva votação que tivemos nos dois cursos demonstra que muitos estudantes também começam a ver essa necessidade.

Acreditamos que isto se faz no dia a dia, nas entidades, nos cursos, buscando destroçar todo traço de elitismo e isolamento do movimento estudantil e ligá-lo as lutas históricas que faremos a partir de Junho! Superar nossas velhas direções, mobilizar nas bases e colocar a juventude nas ruas, organizada a partir de cada sala de aula! Depois de junho, o país mudou; o movimento estudantil também precisar mudar!

Seguir a luta por uma universidade a serviço do povo trabalhador; não parar nos 20 centavos, mas lutar pela estatização do transporte sob controle dos que usam e trabalham nele; barrar a copa dos bilionários; enfim: Desafiar a miséria do possível! É isto que queremos!
Este é o chamado que fazemos a cada estudante a começar pela construção do 1º Grande Ato contra a copa, no Masp, em SP, dia 25 de janeiro! Venha construir conosco esta alternativa! Faça parte da Juventude Às Ruas!

NÃO AO AUMENTO DAS TARIFAS! LUTEMOS PELA ESTATIZAÇÃO SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES E USUÁRIOS DE TODO SISTEMA DE TRANSPORTE!

No dia 5 de dezembro o prefeito Eduardo Paes deu uma declaração dizendo que as passagens em 2014 vão aumentar, depois da onda de manifestações que se deram nas chamadas "jornadas de junho" onde os trabalhadores com maioria de juventude foram às ruas lutar contra o aumento da tarifa e reivindicar transporte, saúde, educação e moradia.

A prefeitura declara que vai aumentar novamente as passagens!!

Nós temos que garantir que este aumento não ocorra e ir por mais com nossas reivindicações, não podemos aceitar nenhum direito a menos. A CPI dos transportes foi instalada e mais uma vez deu em pizza. Não podemos deixar na mão do governo e do bando de políticos burgueses uma tarefa que é nossa! os trabalhadores do transporte e nós que pegamos o transporte coletivo todos os dias é que sabemos exatamente o que falta e o que precisa para que ele seja de qualidade.

Os governos Cabral e Paes, aliados ao PT e ao PCdoB, governam para os capitalistas e para o lucro, não para o conjunto do proletariado que é a maioria, sendo assim nunca teremos transporte e direitos sociais para todos. Sem acabar com a máfia dos transportes só virão aumentos e serviços ruins, com baixos salários e péssimas condições de trabalho para os trabalhadores do transporte, enquanto os "Barata" enriquecem ainda mais. Basta de lucros e subsídios para os empresários, corrupção para os políticos e péssimos serviços sociais!

Por isso é preciso levantar o programa de Estatização dos transportes, sob controle dos trabalhadores e usuários, com comissão de trabalhadores desde os sindicatos e de estudantes desde os C.A´s, D.A´s e DCE´s, e locais de moradia para garantir que o transporte seja controlado por nós! Os governos e os capitalistas só visam o lucro dos seus negócios, nunca teremos transporte e direitos sociais para todos com um transporte funcionando sob a lógica do lucro. Sem acabar com a máfia dos transportes só virão aumentos e serviços ruins, com baixos salários e péssimas condições de trabalho para os motoristas e cobradores.Sem organização e direção combativa (tirando a máfia que controla estes sindicatos) e democrática não se pode vencer.

Em junho lutamos, milhões, e conseguimos barrar o aumento. A luta não seguiu de forma organizada e ampliada, ligando todas as reivindicações sociais - moradia, saúde, educação, contra a violência policial e o racismo, etc. - para unir e coordenar sindicatos, organizações estudantis e populares num movimento orientado por um plano de luta e reivindicações que enfrentasse com toda força os governos e os capitalistas. Esta oportunidade foi desperdiçada em junho-julho, e depois frente a greve dos professores, e nesta segunda correntes do PSOL e PSTU que dirigem o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE) tem responsabilidade por não haver uma coordenação como esta. A luta refluiu principalmente porque não se consolidou em organização ampla e democrática dos setores em luta como direção de todo o povo indignado com as péssimas condições de vida.

Os inimigos - governos, políticos e capitalistas - se recuperaram do "susto", prometeram mudanças para manter tudo como estava, continuaram lucrando com seus negócios (obras superfaturadas, leilão de petróleo, privatizações etc.) e agora pretendem voltar com novos aumentos contra os trabalhadores, a juventude e o povo pobre.

Precisamos desmascarar o roubo dos empresário-mafiosos do transporte e do governo Paes, exigimos a abertura dos livros de contabilidade. Somente nos organizando, desmascarando esses roubos, nos unindo e lutando pela Estatização dos transportes sob controle dos trabalhadores usuários é que podemos garantir um transporte decente, de qualidade para todos. fortalecer nossa luta e unificar nossas forças, é preciso nos organizar desde os locais de trabalho, de moradia e de estudo.

Garantir a luta e os lutadores!

Frente organização dos lutadores o governo Cabral gasta milhões com repressão, armamento, balas de borracha, sprays e bombas, para garantir a cidade modelo da Copa e Olimpíadas. Perfeita para os interesses dos burgueses internacionais e nacionais, colocando as contradições da cidade por de baixo do tapete ou do chão com é o caso dxs Amarildxs, utilizando a cadeia como celeiro como é o caso de Rafael morador de rua, que não tinha nada a ver com as mobilizações e foi condenado a 5 anos de prisão, ou mesmo o Baiano todos negros e pobres, o que mostra como as punições nesse país tem cor e classe. Os verdadeiros bandidos e ladrões são Sergio Cabral e sua corja (Paes, Beltrame e Dilma), que tem em comum o objetivo de garantir e gerir os lucros da burguesia nas costas da juventude e dos trabalhadores.

Não aceitaremos mais ataques!!! Não ao aumento das tarifas! Estatização sob controle dos trabalhadores e usuários de todo sistema de transporte público!
Liberdade imediata de todos os presos políticos! (Baiano e Rafael no Rio)
Anulação de todos os processos! Pelo fim a criminalização aos movimentos sociais!
Abaixo a repressão de todos os lutadores!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Somos todos EACH!

A estrutura centralizada, antidemocrática e autoritária da Universidade de São Paulo nos proporciona mais uma vez um episódio lamentável. Desde a “suspeita de contaminação do solo” em setembro, seguida de uma greve geral, mobilizada organicamente pelos três setores e uma ocupação, a USP continua com sua postura intransigente ao não pautar com a seriedade necessária o problema ambiental que se desenrola na EACH.

O próprio Ministério Público entrou com uma ação contra a universidade cobrando a solução das irregularidades, impedindo a ampliação do Titanic e dando 30 dias para que todas as atividades de aula e administrativas sejam movidas para outro espaço.

No início a universidade cruzava os braços, dizendo que não havia sido informada sobre o recurso, como se o problema da contaminação já não tivesse sido pautado em uma greve geral que durou 50 dias.

Nas últimas semanas, porém, a reitoria finalmente se pronunciou, falando que iria recorrer da decisão do juiz, claramente fechando os olhos para os problemas que estão acontecendo naquela unidade. Enquanto isso o ambiente do campus se torna cada vez mais insalubre, com a contaminação da água, infestação de piolhos de pombo e até a ameaça de um surto de sarna.

E qual a atitude da direção?
Culpar em nota o movimento de greve e a ocupação por sua irresponsabilidade de não cumprir os requisitos mínimos para a manutenção do bem-estar da unidade.

Precisamos nos lembrar que desde o início desse processo a direção já foi trocada (o diretor Boueri foi afastado pelo movimento, e, na sequência, pela reitoria, e tomou posse, até o fim do ano, seu vice Leite), e até foi conquistada uma consulta à comunidade, que, no entanto, é subordinada à Congregação da EACH e ao Reitor. Desde então apontávamos a insuficiência desta consulta para conseguir democratizar a direção da EACH ou dar respostas aos problemas que sofremos na unidade.

Os crimes ambientais que aconteceram na EACH foram feitos antes da gestão Boueri, ou Rodas, por isso é necessário aprofundar o debate em torno do caráter antidemocrático do cargo de Reitor, do oligárquico Conselho Universitário que rege a universidade, e, no caso da EACH, de diretor que justamente por ter uma grande concentração de poder, bem como da Congregação que é também extremamente antidemocrática. Esta estrutura de poder facilita políticas criminosas como as que estão acontecendo na unidade.

Vale lembrar que, desde 2011, muito foi discutido sobre o fechamento de cursos na EACH. A reitoria, o Conselho Universitário e a direção da EACH chegaram a se posicionar favoráveis ao fechamento de um curso de imensa importância social, mas baixo apelo mercadológico, como obstetrícia, demonstrando bem o projeto de universidade que defendem. O fechamento só não ocorreu pela resistência do movimento estudantil.

É necessário também ligar estas demandas a uma luta pela democratização do ensino superior, aumentando as políticas de permanência estudantil e lutando por cotas raciais proporcionais ao número de negros no estado (36%) e pelo fim do vestibular. A EACH é a unidade da USP com maior número de alunos de escolas públicas, porém não tem ao menos um prédio de moradia estudantil, isso contribui muito para que os cursos da faculdade se mantenham no topo do número de evasões de alunos. Além disso, é evidente que o plano de Alckmin quando criou a EACH era o de deixar seus cursos mais precarizados para ser uma “prima pobre” da USP (nas palavras da Folha de S. Paulo), mostrando que a política do PSDB no estado é a mesma do PT no governo federal com o REUNI: uma expansão insuficiente e precária para os filhos da classe trabalhadora, enquanto mantém os pólos de “excelência” elitizados e racista.

Nesse momento é necessário pressionar a reitoria para tomar responsabilidade e lidar com a problemática ambiental, porém sabendo que esse problema é fruto do caráter extremamente antidemocrático e autoritário das estruturas de poder da Universidade.

Estamos ao lado dos trabalhadores contra as arbitrariedades das chefias!

Carta aberta de estudantes da FFLCH sobre as transferências do DLCV
 
Recentemente a chefia do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV) da Letras, junto com a diretoria da FFLCH, promoveu a transferência repentina e arbitrária de três funcionários deste departamento. De acordo com a chefa do departamento, Marli Quadros Leite, e o diretor da FFLCH, Sérgio Adorno, as transferências se devem a problemas dos funcionários na execução de seu trabalho, questão que pode facilmente ser desmentida tanto por seus colegas, quanto pelos professores que são ligados ao departamento, e mesmo por sua antiga chefia que em nada reclamou deles em suas avaliações anteriores.
Contudo, o que nós estudantes sabemos é quem são os responsáveis por estas transferências: Marli Quadros Leite foi chefa da Comissão de Graduação da FFLCH e, neste período, foi responsável por editar a portaria FFLCH 17, que impede que os estudantes troquem de turmas e que os professores tenham autonomia para aceitar alunos que não conseguiram a matrícula no período regular, incluindo sua matrícula no sistema posteriormente. Esta medida não apenas é um ataque à autonomia dos estudantes e dos professores em relação à formação acadêmica, como prejudica e atrasa a graduação de centenas de estudantes, em particular da Letras, curso no qual Marli Quadros Leite é professora. Não bastasse isto, no segundo semestre deste ano turmas de matérias do departamento gerido por Marli ficaram sem professores e os alunos passaram mais de um mês sem aula, como foi o caso de Literatura Portuguesa II. Além disso, os que cursam matérias com Marli sabem que é ela quem não comparece ao trabalho, enviando monitores para dar aulas em seu lugar. Enquanto Marli acusa os funcionários de “desleixo”, é ela a real responsável por não garantir que haja professores para ministrar as matérias, compactuando com a política de precarização do ensino de Rodas. Quanto a Sérgio Adorno, também o conhecemos bem: como coordenador do Núcleo de Estudos da Violência, foi um dos defensores da presença da polícia no campus; foi escolhido a dedo por Rodas para ser diretor da FFLCH, e participou de sua comissão de negociação durante a greve deste ano, sendo o testa-de-ferro da intransigência de Rodas contra os estudantes. Na FFLCH, cumpriu papel semelhante, dificultando a negociação com os estudantes com relação às demandas da greve, como a falta de professores, por exemplo.
Não é à toa que estes dois aliados da reitoria de Rodas promovem agora uma transferência que é uma verdadeira perseguição política, incluindo um dos diretores recém-eleitos do Sintusp para evitar “mais problemas”, já que deve ter preocupado o diretor as plenárias unificadas dos três setores da FFLCH que reuniram centenas durante a greve. No caso do diretor eleito do Sintusp, a perseguição começou anteriormente com um processo administrativo que está em curso pedindo sua demissão por justa causa. Nós respondemos que não aceitamos os ataques arbitrários contra os trabalhadores, seja de Rodas, Adorno, Marli ou qualquer outro. Os objetivos destas medidas são enfraquecer a organização política e sindical dos trabalhadores, atacar sua unidade com estudantes e professores, para poder avançar no projeto de universidade privatista e elitista do governo. Estamos ao lado dos trabalhadores na luta pela democratização da USP e contra as arbitrariedades das chefias!


Juventude às Ruas (LER-QI e independentes)
Movimento Negação da Negação


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Recado de dentro da fábrica pra Juventude às Ruas


por Doni, operário da indústria, militante da LER-QI


Ainda é bem cedo e já completo a primeira hora de produção (sem contar que estou acordado há 3h), com o corpo ainda se adaptando ao choque térmico (trabalho a 6ºC normalmente, mas quando começo a suar é que sinto um friozinho, porque o líquido gela na pele, mas depois acostuma), espirro, sinto os braços doendo e percebo que já estou cansado. Como serão as 8:30 restantes para bater o cartão?

As vezes o cansaço físico e mental dão as mãos, é foda. Esses dias vi dois moleques que só não se pegaram porque foram separados. Na hora me senti mal, sem entender por que chegavam a tanto, assim como outros casos de estranhamento entre companheiros. Hoje foi minha vez, deixei o palete no meio do caminho de propósito, só de raiva, afinal, "esses maluco sempre enrola pra pega essa porra!" Poderia ter alimentado uma briga com um colega de trabalho que também está se fodendo pra dar conta do serviço. Pedi desculpas.

Como esses desgraçados só conseguem ver o quanto essa máquina nova aumenta a produção, mas não vêem que o nosso corpo continua o mesmo? É preciso trabalhar feito louco o dia inteiro, mal conseguimos conversar. Você sente que está sendo devorado por essa máquina. Como dar conta desse ritmo de trabalho? O pior é que a gente dá.

É preciso saber exatamente o que está fazendo, para conseguir continuar fazendo.
Então me lembro que hoje não é um dia normal, hoje teve panfletagem!

Assim que sentei na mesa do café, revoltado porque a panfletagem estava atrasada, logo veio um rapaz com o Boletim Classista enrolado na mão. Ele sentou próximo, junto com uma menina, abriu o material sobre a mesa e ela me perguntou, "vc viu? acabaram com os donos da fábrica, chamaram até de miseráveis!, quando cheguei não tavam lá…" No corredor vi uma senhora lendo andando e quando desci pra linha o Alam estava muito empolgado "passa na farinha depois que te passo meu." 

Na linha, Pedro, que leu e opinou previamente sobre o texto, contou que no vestiário ouviu várias conversas empolgadas sobre o material. Até o Billy, que estava meio distante, atravessou a linha inteira pra me contar que estavam falando muito do Boletim. O tiozinho das antigas pagando pau, dizendo que "é muito bom porque fala e explica pro povo que não tem estudo, que não entende o que tá acontecendo…"

Ufa!
Agora ganhei uma força infernal, trabalhei feito louco e comecei a discutir com Pedro o próximo passo, as possibilidades da repressão, etc. Ele quer que o próximo seja logo.

Quase no final do dia, um colega mais instruído comentou que não conseguiu pegar um "não achei, mas se eles estiverem lá na hora de saída eu quero pegar." Essa frase diz muito, pois se ele não encontrou o material jogado no chão ou no lixo, significa que a vida útil do Boletim será transcendente, pegará ônibus, trem, ocupará residências de operários, talvez seja debatido no jantar, com colegas de outras firmas, etc.

E ao final daquelas 8:30 que faltavam desde o momento em que pensei em escrever esse texto, quando o colega da frente na fila do ponto pega o papelzinho, eu olho sorrindo e digo "mais um que tá garantido!"
Esse é o meu recado pra galera da Juventude às Ruas.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nota da Juventude às Ruas sobre a "consulta" para reitor na USP

"Os progressos da USP nos últimos anos são incontestáveis e essa trajetória de sucesso tem de ser mantida a qualquer custo."

"Valorização da graduação com Implantação do ensino online, com padrões pedagógicos adequados e investimento em base computacional de alto desempenho, Cloud, com softwares dotados de inteligência artificial. Objetivo é formar estudantes com as habilidades exigidas pela revolução digital."

"Desta forma, o ponto mais significativo da reforma do poder é mudar a maneira como são tomadas as decisões, fazendo com que o Conselho Universitário, as Congregações e os Conselhos Centrais tenham uma participação mais relevante na vida da Universidade"

"Há melhores caminhos para inclusão social do que o estabelecimento de cotas. A política da USP está na direção certa ao valorizar o mérito acadêmico e estimular por meio de bônus diferenciados, pela busca de talentos, pela melhor divulgação de informações sobre o vestibular e preparação dos alunos de ensino médio."

As afirmações acima vieram de diferentes candidatos à reitoria. Dentre os candidatos, não há um que não seja favorável terceirização, que explora e oprime milhares de trabalhadores todos os dias dentro da Universidade. Nenhum favorável a qualquer medida de inclusão social que não legitime a lógica meritocrática. Nenhum se posicionou, durante o período de greve, para dialogar com os manifestantes e pensar numa solução conjunta. Nenhum se posiciona claramente sobre a PM dentro do Campus, que teve sua entrada permitida com a finalidade única de reprimir estudantes e trabalhadores.
A falta de bons candidatos não é apenas um acaso infeliz, que pode ser corrigido no próximo período. O fato de ser uma parcela extremamente restrita da comunidade a decidir o próximo reitor, faz com que as políticas propostas para o exercício do poder sejam voltadas precisamente ao interesse desta mesma parcela. A própria consulta à comunidade acadêmica se apresenta como indiferente, bastando apenas lembrar que na consulta à FFLCH, os consultados escolheram o candidato que nos votos válidos fora derrotado.

A Juventude às Ruas chama um boicote a essa consulta e a essa eleição. Chamamos toda a comunidade acadêmica, a todos os Centros Acadêmicos, ao DCE e à ADUSP a participarem deste boicote. Não existe a possibilidade de uma gestão verdadeiramente democrática através da reitoria e do concelho universitário, é preciso dissolver estas estruturas burocraticas, e assim possibilitar que todos os estudantes, funcionários e professores participem democraticamente da escolha de nossos representantes. A representatividade, hoje, como se dá, transforma estas eleições em uma fraude. Participar dela é compactuar dessa fraude, não bastando a fraude da própria consulta à comunidade sem caráter decisório.

Estivemos em um período de greve e intensas mobilizações por democracia, com eixo em uma Estatuinte Livre, Soberana e Democrática, por um Governo Tripartite composto democraticamente por estudantes, funcionários e professores. Estivemos lutando por uma série de demandas mínimas, sobre as quais todos os candidatos são contrários. Eles não estão dispostos a ceder e, seja quem for o vencedor, elas precisarão ser arrancadas, o que só será possível a partir de mobilizações massivas ao lado dos trabalhadores, os mais afetados pela política nefasta de desmonte do serviço público e submissão ao capital das grandes corporações.

Para nós, a democracia na USP e em qualquer universidade não se dará apenas modificando sua estrutura de poder. É necessário que a universidade se coloque a serviço das demandas dos trabalhadores e do povo pobre, e para isto lutamos pela democratização radical do acesso, através da implementação imediata de cotas proporcionais para negros e com uma luta pelo fim do vestibular e estatização de todo o sistema privado de ensino. É necessário reformular todos os currículos colocando o conhecimento produzido nas universidades a serviço da população que financia a universidade com seus impostos. Na USP, por exemplo, faculdades como a Poli e FAU deveriam se colocar a serviço de pensar um plano de moradias para os moradores da São Remo, ao invés de abrigar em seu campus cursos para a formação de policiais. Só assim a universidade será verdadeiramente democrática!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Que xs negrxs entrem nas Universidades pelas salas de aula e pelos currículos!

Mais uma vez a universidade de São Paulo mostra seu racismo institucional ao manter fora do currículo da Faculdade de Educação uma matéria que discuta sobre a questão negra, negligenciando as leis de diretrizes e bases. Essa mesma universidade que se recusa a implementar cotas raciais, que tenta derrubar o núcleo de consciência negra e que se nega a construir uma casa de cultura negra no país mais negro fora da África.
A mudança na LDB a partir das leis federais 10.639/03 e 11.645/08 prevê a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e indígena nas escolas e para isso prevê também que nas faculdades é preciso um ajuste nos currículos para formarem professores que possam implementar essa lei nas escolas, assim como especialização para os professores que já estão nas redes.
Depois da pressão de estudantes da Faculdade de Educação, em maio de 2013 uma resolução da Comissão de Graduação (CG) previu tal cumprimento para o primeiro semestre de 2014 como optativa, o que já mostra como os professores responsáveis pela graduação no centro de formação de todos os professores da USP encaram a questão negra dentro do processo de formação de professores. Mas os estudantes no final do ano se depararam com a o fato de tal disciplina não constar nem como optativa na grade horária do primeiro semestre de 2014.
Na faculdade mais “democrática” da USP, percebemos o quanto escolher nossos diretores e reitores se torna insuficiente, se a comunidade FEUSP pode escolher a professora Lisete como diretora de sua unidade, os alunos e trabalhadores continuam tendo uma ínfima participação nos colegiados, como é o caso da comissão de graduação. Quando é preciso discutir como proporcionar aos futuros professores matérias que discutam sobre a cultura e a história dos negros, a burocracia acadêmica usa de seu peso nos colegiados para se impor.
Uma mudança como essa na grade curricular do curso de pedagogia da USP não é qualquer coisa, pois abre precedente para que possamos disputar os currículos de outros cursos de nossa universidade, exigindo que todos os discutam sobre a história, arte, literatura, cultura corporal, música e todo o conhecimento do povo negro, assim como em outras universidades do Brasil. Por isso deve ser uma luta de todos e não pode se dar apenar por pressão na burocracia acadêmica por RDs ou abaixo assinados. Reivindicamos esse ato e queremos construir mais mobilizações como essas para que possamos arrancar com nossas forças as mudanças que queremos na educação.
Entretanto, para impor conquistas reais é preciso lutar contra essa estrutura de poder que perpetua o racismo na universidade, por isso levantamos o governo tripartite com maioria estudantil, onde os três setores da universidade possam gerí-la de acordo com o seu peso real. Que possamos reorganizar nossos currículos de acordo com as demandas sociais, dos trabalhadores e do povo negro e não do mercado de trabalho, pois a universidade deve estar a serviço de quem a financia e mais dela precisa, os trabalhadores.
Neste ato, trazemos também a memória dos jovens negros que, estando fora da universidade, sofreram brutalidades por parte da polícia militar, da justiça burguesa e do trabalho precário e que hoje seguem suas vidas aprisionados pela única instituição brasileira que prioriza a entrada de negros: o sistema carcerário. Por isso, estamos aqui também em protesto ao espetáculo racista ocorrido no Shopping Vitória e exigimos a punição de todos os policiais e civis que praticaram ou incitaram violência racista.


* PELA IMEDIATA IMPLEMENTAÇÃO DE DISCIPLINAS SOBRE A CULTURA, HISTÓRIA E REALIDADE DOS NEGROS NO BRASIL EM CARÁTER OBRIGATÓRIO!
* COTAS PROPORCIONAIS JÁ! PELO FIM DO VESTIBULAR!
* POR UMA CASA DE CULTURA NEGRA NA USP!
* PELA NÃO DERRUBADA DO NÚCLEO DE CONSCIÊNCIA NEGRA!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Nos organizemos para lutar contra o racismo no Shopping Vitória!


Durante toda a história de nosso país, a cultura, a religião e todo tipo de manifestação cultural do povo negro foi sempre criminalizada pela classe dominante. O candomblé, a capoeira, o samba foram alvos da repressão institucional. Hoje em dia, não é diferente: Desta vez são os bailes funk em cada periferia que são perseguidos, proibidos, criminalizados e impedidos de ocorrer pela força policial. No dia 30 de novembro, no Pier ao lado do Shpping Vitória, foi isto o que aconteceu, quando a polícia entrou para acabar com o baile funk utilizando como pretexto uma falsificação de que haveria ali “brigas entre grupos.”

A juventude negra conhece bem a atuação da polícia no seu cotidiano: não chegam para perguntar, ajudar, entender; chegam para reprimir, prender, matar, torturar. E por isso, logo os jovens correram para o interior do Shopping Vitória para tentar se proteger da polícia. Neste momento, foi seu segundo crime: invadir um espaço da “Casa Grande” onde os pretos e pobres não podem entrar se não para servir. Os autênticos freqüentadores do shopping, a burguesia branca, não perderam tempo para se defender das dezenas de jovens negros, que a seu ver só poderiam estar ali para promover um arrastão nas lojas, e chamaram imediatamente a polícia.

O que se viu em seguida é um “espetáculo” que só pode ocorrer em uma sociedade profundamente racista fundada em 400 anos de escravidão, tal como a nossa: sob aplausos dos apavorados freqüentadores brancos do shopping, a polícia rendeu todos os jovens negros que acabava de expulsar do Píer, colocando-os sentados tal qual as cenas que assistimos nas rebeliões nos presídios, com a cabeça baixa, sem camisa, mãos cruzadas sob a nuca. Conduzidos em fila indiana para fora do Shopping, enquanto a multidão vai ao delírio: seus capitães-do-mato cumpriram a missão, removeram aqueles negros perigosos dali. Negros no Shopping Vitória? Só de uniforme, do outro lado do balcão ou limpando os banheiros. O secretário de Segurança Pública do Estado, André Garcia, mostra como não há nada de incomum no racismo, e afirmou: “Havia um tumulto e algumas pessoas relataram furtos na praça de alimentação. A polícia agiu corretamente. A intenção era identificar quem invadiu o shopping”.

É neste país que foi forjada a hipócrita teoria da democracia racial, que diz que não há mais racismo, que há uma “harmônica” integração entre as raças constituindo o povo brasileiro. Para a classe dominante, enquanto sua polícia mata e tortura os negros nas periferias e favelas, convém dizer que não há racismo. Mas os negros não se calarão: em Vitória já organizam sua resposta com o “grande baile funk no Shopping Vitória”. Precisamos em cada canto do país dar uma resposta e punir cada responsável por esta ação!

Pela imediata punição dos responsáveis por agressão!
Pela punição dos cometedores do crime de racismo, sejam policiais ou civis que aplaudiram a agressão!
Pela imediata libertação de todos os jovens apreendidos na ação e pela indenização pelos crimes de racismo e danos morais!
Pelo fim da polícia assassina de negros, herdeira dos capitões do mato e da ditadura militar!