segunda-feira, 8 de julho de 2013

Morre Mc Daleste, só mais um moleque do funk



“...mente criminosa, coração bandido, sou fruto de guerras e rebeliões”
 


Com apenas 20 anos de idade, no meio de um show numa quebrada em Campinas, Daleste foi atingido por um tiro. Ainda não existe explicação sobre o caso e assim permanecerá, tal como a morte de milhares de moleques todos os dias nas periferias do país. As explicações sempre oscilam entre auto de resistência ou acerto de contas do tráfico. Como Daleste morreu no palco, resta a segunda explicação. O mesmo foi no caso do garoto Wendel, de 18 anos, que apenas iniciava sua atividade como Mc, assassinado há dois meses em São Gonçalo, RJ. Ano passado, em Santos, o assassinato de Mc Primo, conhecido por criticar ações policiais em seus shows, também sem explicação, culminou num protesto de Mc’s, que denunciavam como há tempos vinham ocorrendo assassinatos como esses.

O fato é que o funk, por mais que a indústria cultural e certo espírito de época tentem reduzi-lo à temática da “ostentação” (exaltando o consumo de produtos e marcas de luxo e caras), nunca deixou de ser uma expressão artística musical das periferias do país, ou seja, produzida sobretudo por e para a juventude proletária. Sendo assim, era inevitável a temática de denúncia das principais contradições sociais enfrentadas por esse setor, que literalmente enfrenta uma política de genocídio organizada pelo Estado há décadas. Um grande sucesso do início da década de 90 já denunciava essas mortes sem explicações, quando se cantava “e é só mais um Silva, que a estrela não brilha, ele era funkeiro, mas era pai de família” (“Rap do Silva”, Mc Bob Bum). As chacinas policiais nas periferias, sempre noticiadas como mortes sem explicação, ou acertos de contas do tráfico, também são denunciadas pelo funk, como canta JK 13, “...de motoca e de carro eles tocaram o terror, vários tiros de oitão matando trabalhador/ passou no SPTV, tá na capa do jornal, ninguém disse é bandido, isso foi policial!”, denunciando ocorrido em Osasco em 2012.

O caso de Mc Daleste não é diferente. Sua sensibilidade social permitiu que o jovem artista mais do que se fazer porta voz de uma juventude sem perspectivas, atiçando Alckmin e demais políticos corruptos a legitimarem o extermínio da juventude proletária com propostas de redução da maioridade penal, quando cantava músicas como “Mata os polícia é nossa meta”, conseguisse ainda captar os sentimentos de outros setores da sociedade que sofrem dramas como as vidas perdidas nas cadeias que abrigam uma das maiores populações carcerárias do mundo (“Dia de visita”), ou o sofrimento das famílias que veem seus filhos serem levados pelo tráfico (“Mãe de traficante”). O espírito de artista que tenta sintetizar um momento histórico também já havia se contaminado com o novo momento do país, quando cantava em nova música “é porque cansamos de acreditar em alguns salafrários, aumenta lei da condução e cadê o aumento dos nossos salários” (“O gigante acordou”).

Do alto de suas breves duas décadas de vida, Mc Daleste mereceu morrer, provavelmente por decisão de um Estado que recentemente aprovou a criminalização dos bailes funk organizados de improviso pelas ruas da cidade por uma juventude que não tem seu lugar, proposta da “bancada da bala” paulistana, com nomes como Conte Lopes (famoso ex-PM conhecido por matar centenas de jovens negros nas periferias) à frente. Contudo, o funk não irá parar. Atos em protesto contra o assassinato do jovem já estão marcados e centenas de outros jovens talentosos estão produzindo sua arte por todas as quebradas, melhor ainda do que em qualquer momento, agora fazendo parte de um país em ebulição. Exemplo claro disso é o recente sucesso de Mc Garden (“Isso é Brasil”), que mais parece ter sido escrito para transformar em música os coros que tomaram conta das ruas do país nas últimas semanas.

Lutamos por uma arte livre e para que a juventude proletária tenha mais direito à vida!

7 comentários:

falou a pura realidade em que vivemos... Ótimo texto!!

Meu Deus!!! O bandido é vítima do sistema sempre, certo? Está ali, do lado do trabalhador na luta pela revolução, e quando tomarmos o poder o bandido ficará bonzinho e não roubará mais ninguém, certo? Afinal, TODO bandido, TODO, só é bandido por culpa do sistema capitalista... De que vale então ser um trabalhador honesto? Viva o Daleste!

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