Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

RACISMO na UNESP: Não passará!!!


Articular o movimento estudantil da UNESP no CEEUF para combater o racismo em todas suas implicações sociais

Mais uma vez um câmpus da UNESP é protagonista em uma ofensiva opressora, dessa vez o câmpus é o de Araraquara e a opressão é de racismo. Desde o início de abril, os estudantes que circulam pelos corredores dos Centros Acadêmicos podem ler a seguinte pixação em frente ao CA de Letras: “sem cotas para os animais da África.” Há dois anos atrás, nesse mesmo câmpus, durante o Interunesp*, mais de 70 estudantes protagonizaram o auto-intitulado “Rodeio das Gordas”, onde homens apostavam quem conseguia subir em cima de uma mulher gorda e ficar o máximo de tempo possível. Em diversos câmpus, todo o ano, se realiza a famosa “Festa do Miss Bixo”, onde alguns estudantes veteranos embriagam e coagem alguns calouros a se travestirem e esteriotiparem, por meio de expressões e ações machistas e homofóbicas, a travestilidade.
O estudante Sumbunhe N'Fanda mostra  a pichação "Sem cota para os animais da África", na Unesp
















Todas essas ações opressoras se tornaram ainda mais correntes a partir da campanha eleitoral entre Dilma e Serra em 2010 e das contradições que o governo petista da Dilma vem tendo para manter a governabilidade com o amplo arco de alianças que fez com os setores mais reacionários da burguesia brasileira, que se expressa nos limites e na incapacidade de avançar nos elementares direitos democráticos (educação sexual laica; direito ao aborto legal, seguro e gratuito; casamento e adoção para casais homoafetivos; direito à terra; direito à punição dos torturadores da ditadura; etc), utilizando de um discurso para responder a um suposto "Brasil de todos" e aos movimentos sociais que se contradiz com a prática de acordo e submissão aos setores organizados dos militares, da bancada evangélica, dos ruralistas e dos industriais. Esse ato de racismo, porém, representa não só o avanço dos setores reacionários legitimados pela política do governo, mas as contradições mais profundas de um desenvolvimento do capitalismo que se formou com uma origem colonial e a partir de um regime escravagista, tendo em dois pólos opostos, de um lado, os negros constituindo as camadas mais exploradas e oprimidas do proletariado urbano e rural, e do outro, uma burguesia incipiente surgida do campo e dos oligarcas brancos.

Esse ato de racismo dentro da Universidade pública representa os interesses dos setores mais reacionários da burguesia brasileira, especialmente a latifundiária que no interior de São Paulo cumpre um papel chave na monocultura da cana-de-açúcar, nas usinas e no agronegócio. Hoje, dentro das universidades públicas, com mais ênfase nas estaduais paulistas, os negros representam menos de 5% do número de estudantes, número esse que diminui drasticamente se observarmos os cursos de Direito, Medicina, Arquitetura e Engenharias. Por outro lado, mais de 50% dos trabalhadores são negros, dado que salta bruscamente devido essencialmente axs trabalhadorxs terceirizadxs, os setores mais precarizados, mais explorados e com menos direitos dentro da Universidade.

Servente aos interesses da burguesia paulistana, a burocracia da UNESP não está interessada em modificar esse quadro. Há um mês atrás, o atual Reitor em exercício, Julio César Durigan junto do govenador Alckimin anunciaram a criação de mais um campus e outros 11 cursos na UNESP, todos de Engenharia (bioprocessos, química, agronômica, pesca, energia e recursos renováveis, etc), todos ligados aos interesses do agronegócio. Ao mesmo tempo a Reitoria precariza cada vez mais alguns campus, como Ourinhos, onde existe apenas o curso de Geografia, e que, por não servir aos interesses imediatos dos latifundiários da região, vem sendo sucateado para justificar um possível fechamento. A política de expansão de vagas da UNESP além de não ser para os negros é pensada em combate aos mesmos, favorecendo os filhos de seus algozes (burguesia branca de origem oligárquica), elitizando ainda mais a UNESP e permitindo que manifestações racistas como essa de Araraquara surjam e possam se reproduzir mais corriqueiramente. A maior responsável por esse ato de racismo é a política da Reitoria da UNESP e do governo do Estado!

Hoje em dia já é cada vez mais claro que o papel do vestibular é funcionar como um filtro social, que impede que o povo pobre e os filhos da classe trabalhadora possam sequer sonhar em prestar sua prova, que elimina desde antes do processo seletivo boa parte dos negros e serve para manter a elitização das Universidade Públicas (que, ou não possui, ou possui uma débilissima política de permanência estudantil) e empurrar o jovem trabalhador para a goela dos tubarões do ensino privado. Por essa razão a primeira luta de todos os setores organizados desde o movimento estudantil, social e de trabalhadores deve ser o fim do vestibular e a estatização das universidades particulares.

Vemos, porém, que a expressão desse racismo nas Universidades e em setores do movimento estudantil se localiza no ataque às tímidas políticas de cotas raciais. Tímidas por que o próprio governo, que representa os interesses da burguesia brasileira, mas tem que responder a alguns mínimos anseios de sua base eleitoral, não tem interesse em garantir uma política de cotas raciais séria que responda realmente a demanda do povo negro. Àqueles que dizem que as políticas de cotas seriam segregacionais, respondemos que as cotas já existem há anos, e são cotas de 98% para os brancos. A segregação racial no Brasil existe desde os tempos coloniais e ganha traços de classe a partir do desenvolvimento do capitalismo. Sem abrir mão da luta principal pelo fim do vestibular, que é o funil que nos leva a discutir hoje a necessidade de cotas raciais, uma política séria de cotas seria a garantia de uma porcentagem de vagas na Universidade Pública equivalente a porcentagem da população negra no Estado.

Por esas razões, não acreditamos que o Estado ou a Reitoria sejam capazes de garantir a apuração e julgamento desses atos (no plural, porque não são isolados), já que os mesmos são os maiores incentivadores desses atos de violência e opressão por meio das políticas e dos projetos elitistas que implementam nas Universidades Públicas e, particularmente, o governo do Estado, pela política de violência direta que aplica através da Polícia Militar na higienização da cidade com a expulsão, encarceramento e assassinato de moradorxs de rua (a maioria negrxs, já que a questão da terra está diretamente ligada à questão negra), criminalização da pobreza nas periferias, morros e favelas e com o extermínio do povo negro, que perfazem 75% das estatística dos inúmeros assassinados pela polícia militar. E, como se não bastasse, a Reitoria da UNESP, por via da Diretoria de Marília, pretende implementar um curso de pós-graduação em Ciências Policiais para aprofundar ainda mais a repressão ao povo negro e com isso incitar ainda mais ações de opressão e violência.
Nesse sentido, pautados nessas reflexões, é que enxergamos como tarefa central do movimento estudantil da UNESP, por via do Conselho das Entidades Estudantis da UNESP e da FATEC (CEEUF), que irá ocorrer em Marília nos dias 12 e 13 de maio, efetivar uma enorme campanha CONTRA O RACISMO. O movimento estudantil de Marília, hoje, se mantém em uma ocupação da Seção de Comunicações da Faculdade para repudiar a nova tentativa da Direção de contratar trabalhadorxs terceirizadxs para o Restaurante Universitário. Como apontamos, a terceirização do trabalho, como a forma mais precarizada, mais humilhante e mais divisionista da classe trabalhadora, se configura como uma semi-escravidão dos tempos neoliberais, atingindo, na ampla maioria, xs negrxs; também as recorrentes tentativas de sucateamento das mínimas políticas de permanências estudantil vão no mesmo sentido de eliminar xs poucos estudantes pobres (a maioria dxs negrxs que hoje estudam nas Universidades Públicas) da possibilidade de cursar o ensino superior. Sabendo que a Reitoria não é capaz e nem tem interesse em punir xs agressorxs e racistas, mas sim xs lutadorxs, nós, da Juventude Às Ruas, construiremos e participaremos desse CEEUF para garantirmos uma enorme campanha contra o racismo que abarque o combate à terceirização, a luta por políticas reais e efetivas de permanência e a democratização do acesso à universidade pública com o fim do vestibular!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Companheira Camila: PRESENTE!

IACI MARIA (estudante de Ciências Sociais da Unicamp) - Juventude Ás Ruas Campinas

Já a um tempo não passo por aqui, e me angustia muito pensar o que me motiva a escrever novamente...
  
A que ponto a miséria do capitalismo pode levar alguém? Alguém cuja consciência dessa miséria era bastante conhecida. Alguém cuja tamanha sensibilidade faz com que a dor dessa miséria, a dor da opressão seja tão desesperadora que viver em meio a isso se torna insuportável. Literalmente insuportável, em seu sentido mais correto. Que realmente não suporta mais, e tomba. Uma lutadora que tomba em batalha, pois em tempos como esse em que vivemos, só de estar vivo com a clareza e sensibilidade de que é necessário lutar para mudar isso tudo, essa é a primeira batalha. Manter-se vivo.

E qual o papel dos revolucionários frente a uma situação como essa?

 O papel de lutadores, claro! Daqueles que se indignarão frente a essa perda, e terão muito mais certeza da necessidade de acabar com a doença que matou a companheira, a doença do capitalismo. A mesma doença que fez um jovem atear fogo em seu próprio corpo na Tunísia, no início de 2011, dando o pontapé inicial da Primavera Árabe. A mesa doença que matou o aposentado grego há algumas semanas. Lutar pelo fim desse modo de produção, que todos os dias matam pessoas, trabalhadores, lutadores da batalha diária que é manter-se vivo dentro desse sistema. Lutar pelo fim desse sistema de opressão e exploração, que tanta dor causa à tantas e tantas pessoas, conscientes ou não da causa dessa dor. Oprimidos e explorados. Lutar por um mundo onde não mais haja exploração do capital, onde não mais haja monopólios, onde o Imperialismo seja apenas uma passagem da história.


Mas antes de tudo isso, o grande papel dos revolucionários frente a esta situação, o verdadeiro papel dos revolucionários, que nos fará conseguir levar adiante o papel de lutadores, é o papel de seres humanos! Seres com qualidades humanas! Porque é exatamente isso que faz dos lutadores, pessoas revolucionárias. Toda a miséria do capitalismo levou a que a grande maioria das pessoas hoje perdesse as qualidades humanas, são “milhões de vasos sem nenhuma flor”. A dor da perda de uma companheira, de uma lutadora, de uma amiga, transformada em raiva do sistema que levou a essa trágica decisão, transformada no ódio que nos move! No ódio, que é o que nos faz seguir em frente, seguir na luta. Porque a luta não pode ser somente contra o modo de produção, contra o imperialismo, contra o trabalho assalariado. A luta é pela sociedade comunista! A luta é por uma sociedade humana, onde ninguém mais sinta a necessidade de se questionar o porquê de estar vivos! Que as pessoas estejam vivas e vivendo, e não apenas sobrevivendo! E isso começa agora, isso começa com nós. Ser sensível com a sensibilidade alheia. Assim como tiramos lições de nossas derrotas, temos também que aprender com nossas perdas. E que essa perda sirva, de uma maneira triste, mas revolucionária, para que valorizemos os que estão ao nosso lado nessa grande batalha, aqueles que estão ombro a ombro conosco, dedicando suas vidas à essa luta, justamente por essa luta ser o que nos mantém vivos. Pois no limite, na luta pela construção da sociedade comunista, são esses que estarão ao nosso lado até o fim, são os camaradas, os companheiros, os lutadores. Que essa perda nos ensine a sermos mais sensíveis, que nos ensine a desenvolver nossas relações, aprofundar nossas amizades. Que sejamos camaradas por completo, partilhando nossas lutas, nossas alegrias, mas principalmente nossas dores e angústias. Que confiemos plenamente naqueles que caminham conosco nessa jornada, que são aqueles a quem confiaremos a vida nos momentos de luta acirrada, e a quem protegeremos com a vida.
  
Porque tão revolucionário quanto um dia inteiro de intensa militância e estudos, é a pergunta “e aí, como você está?” no final do dia.
  
À todos que tombaram em meio a batalha de viver: PRESENTE! Agora, e sempre!

Camarada Camila: PRESENTE! Agora e sempre!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

DEBATE TEATRO E POLÍTICA NA LETRAS (USP) - CULTURA E MARXISMO


Hoje debate imperdível na Letras (USP) sobre "Teatro e Política" com Tin Urbinatti (ex-diretor do Grupo Forja de Teatro do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema), Maria Silvia Betti (Professora da Letras da USP e coordenadora do Centro Ángel Rama e do Núcleo de Estudos Teatrais Décio de Almeida Prado), Thiago Vasconcelos (diretor da Cia. Antropofágica de teatro, que apresentou a peça "Auto dos 99%" na Calourada Unificada da USP 2012) e Gabriel Lima (participante do Grupo de Estudos de Cultura e Marxismo).

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Boletim Juventude às Ruas DIREITO -FRANCA

Direito para Quem?


Anualmente milhares de jovens ingressam em cursos de Direito no Brasil. A maioria carrega o “sonho” de conquistar uma carreira jurídica de prestígio e alguns se aventuram no curso com a sede de construir uma justiça que de fato seja “justa”.

Entretanto, muitas vezes não damos conta que, seja por um ou outro motivo, ao ingressar no curso de direito nossas ações concretas como futuros “operados” do direito têm implicações imediatas na vida de muitas pessoas. Exatamente por isso queremos nessas breves linhas fazer um convite a um início de reflexão: Qual o verdadeiro papel do Direito? O que é Justiça? Qual o papel do estudante de Direito nisso?

O direito, ao contrário do que pode parecer no primeiro momento e do que nos é frequentemente ensinado nas salas de aula, não é um simples conjunto de Leis e princípios que são absolutos, inquestionáveis, acima do certa e do errado e que estão à espera da aplicação prática. O Direito, e dessa forma a própria legalidade, é um processo construído historicamente por homens de carne e osso e, por tanto, com interesses próprios, com princípios próprios e por tanto com um perfil de classe próprio. Como explica o Professor de Filosofia do Direito da USP Alysson Mascaro:

“O Direito Moderno é a consagração da igualdade e da impessoalidade na lei, ao contrário da pessoalidade e da diferença das formas sociais antigas e pré-capitalistas. No entanto, aquilo que é igualdade para o direito moderno é o encobrimento da realidade social desigual pelo condão da técnica formalista, e não a plena igualdade real. A felicidade e a necessidades ainda são de alguns e não de todos, mas não há mais sorte nem divindade para consagrar a diferença; há a técnica jurídica a desviar a atenção da desigualdade, e, enquanto desvia a atenção para a pirotecnia das promessas de sua cidadania formal, legitima a injustiça real”.[1]

As pessoas que “manuseiam” o Direito também estão sujeitas as próprias condições de sua época, a moral de sua época, as leis de suaépoca, as instituições de sua época, mas principalmente aplicam o Direito em consonância com sua opção de classe. Um juiz do Trabalho pode utilizar o Direito do Trabalho, sua legislação e princípios, para garantir o direito constitucional de greve dos trabalhadores ou então para isentar de responsabilidade um empresário que emprega mão de obra escrava. Um promotor de Justiça pode utilizar sua prerrogativa de exercício de uma ação penal pública para criminalizar um jovem pobre e negro que cometa algum pequeno delito para comer ou pode utilizar a mesma ação para denunciar um prefeito ou empresário corrupto. Como podemos ver as ações concretas dos operadores do direito estão relacionadas com sua opção de classe e acabam refletindo de modo prático, e infelizmente hoje de forma trágica, na vida de milhões de trabalhadores e pobres do país. Desse modo concordamos com o Professor da USP e juiz do Trabalho Jorge Souto Maior quando diz:

“Assim, a reivindicação de justiça social por intermédio do Direito não aniquila a sua compreensão, é o que lhe dá dignidade. A luta pelo Direito, a luta de todos os dias, como dizia Marx e Engels, possibilita, conforme reconhece Tarso Menezes de Melo em seu estudo recente, a organização política dos trabalhadores, que se constitui o pressuposto necessário para a implementação de um movimento mais amplo”[2]

Em outras palavras, ainda que os institutos jurídicos e o próprio judiciário sejam criados à imagem e semelhança de seus criadores (a classe dominante) é possível sim o estudante de direito escolher desde já, como nós da Juventude às Ruas no Direito defendemos, utilizar a técnica jurídica para criar uma plataforma ou um substrato legal que permita aos próprios trabalhadores e ao povo pobre, auto-organizados e consciente de sua tarefa histórica, lutarem por suas demandas. Não cremos, de forma alguma, que basta uma aplicação dogmática, positivista e “neutra” do Direito de uma maneira completamente descompromissada da realidade social para se “fazer” justiça.

A Juventude às Ruas, como parte de uma juventude que luta por um futuro que este sistema capitalista não pode nos dar, coloca todas as suas discussões, debates e seu programa para avançar, junto aos trabalhadores, camponeses e ao povo pobre, por uma outra sociedade, sem exploração e opressão. Uma juventude que não se resigna ao ceticismo e conservadorismo que os professores nos passam na sala de aula. Acreditamos que os estudantes de Direito podem sim ter um papel protagonista no movimento estudantil e nos grandes debates políticos, jurídicos e sociais de nosso país, contribuindo para transformar a realidade. Participe de nossas reuniões!

48 anos do Golpe Militar no Brasil: Pelo Direito à Memória, Verdade e a Justiça!

No próximo dia 1 de Abril completam-se 48 anos do Golpe militar no Brasil. Foram 21 anos de torturas, assassinatos, fim dos direitos políticos e repressão contra as organizações operárias, estudantis e camponesas. O objetivo do golpe era evitar a crescente mobilização operária e popular que colocava em cheque o sistema de miséria o qual Brasil vivia em meados da década de 60. Os militares e os empresários que os patrocinavam não pouparam esforços para reprimir as mobilizações da classe trabalhadora e das organizações de esquerda.

O ano 1988, com a promulgação da Constituição Federal, é o marco da consolidação de uma nova “democracia”. Entretanto, como se não bastasse os inúmeros direitos, as chamadas de “normas programáticas”, que até hoje não saíram do papel, a dita democracia brasileira é a única na América Latina que até hoje não publicizou os documentos secretos da ditadura, não levou nenhum torturador aos bancos dos réus e muito menos puniu os militares torturadores e os empresários cúmplices desse genocídio.

A impunidade em relação a repressão de ontem é o que legitima e reforça a impunidade em relação a repressão estatal de hoje. O Brasil segue sendo o país onde os sem terras e camponeses são mortos e os crimes sequer são investigados. Onde a polícia mata mais do que o exército americano no Iraque (segundo dados da própria anistia internacional). Mesmo 26 anos depois da Ditadura a repressão estatal contra os pobres, os negros e os movimentos sociais segue aumentando. Nós da Juventude às Ruas somos parte daqueles que não esquecemos e nem perdoamos os crimes da ditadura. Achamos que a juventude em geral, e os estudantes de Direito em particular, devem estar na primeira fila da luta pela abertura dos arquivos da ditadura e pela punição a todos os torturadores. A luta contra os crimes da ditadura e pelo resgate à memória é condição elementar para que de fato possamos aprofundar uma perspectiva que prime pelos direitos humanos em nossos dias.

Como parte da campanha que estamos realizando nos locais de estudos e trabalho onde militamos convidamos todos os estudantes para o debate: “48 anos do golpe militar: Ditadura, classe operária e transição democrática”na Quarta feira (28/03) às 16h na sala.....Assistiremos o documentário “O ABC da Greve” e contaremos com a contribuição da professora Marisa, do curso de História.
  
Crise do judiciário?

As inúmeras denúncias de esquema de corrupção no Tribunal de Justiça de São Paulo, as notícias que trouxeram à tona as grandes festas organizadas para juízes do Trabalho por empresas que frequentemente são partes em processos julgados por esses mesmos magistrados estamparam nas capas dos principais jornais a verdadeira situação do judiciário no Brasil: Uma instituição composta por membros descompromissados com os trabalhadores e o povo brasileiro, com uma estrutura burocrática e corrupta e, sobretudo, com uma missão institucional voltada aos interesses dos ricos. Esses casos não são exceção. Os estudantes de Direito devem se debruçar sobre esses problemas a partir de uma crítica profunda sobre o papel do judiciário em nosso país. Esse questionamento, ao nosso entender, não é possível sem realizar antes um questionamento do Direito e do judiciário brasileiro, que ao longo de nossa história esteve ligado às oligarquias mais conservadoras de nosso país e de costas para os problemas reais da população. A juventude às Ruas se distingue de outros grupos no curso de Direito, pois prima por um estudo que leve a uma crítica profunda às instituições do sistema capitalista e principalmente por que seu estudo está voltado para atuação prática transformadora.Estivemos às ruas durante o julgamento do militar torturador Ustra em São Paulo, tomamos as avenidas em apoio aos moradores da ocupação do pinheirinho que foram arbitrariamente despejados. Em Franca, estamos lado a lado na luta dos operários (sapateiros). É dessa forma, com um estudo crítico e uma ação prática transformadora, que buscamos alcançar nossos objetivos. Participe de nossas reuniões e atividades, atue conosco no movimento estudantil, construa a Juventude às Ruas.

[1]MASCARO, Alysson Leandro. Crítica da Legalidade e do Direito Brasileiro. São Paulo, Ed Quartier, 2003.

[2] MAIOR, Jorge Luiz Souto. Curso de Direito do Trabalho. Volume 1, São Paulo, LTr, 2011.

Formação da Juventude às Ruas-Franca

Uma Juventude que não esquece e não se cala frente a repressão de ontem e de hoje!

Com a presença de aproximadamente 40 estudantes da UNESP/Franca se iniciou, nesta quarta-feira, dia 28/03, a segunda atividade de fomação da Juventude às Ruas.

De início retomamos que essa atividade tinha o caráter de continuidade do que havia sido a primeira reunião, em que assistimos um vídeo que tratava da mudança de época a qual estamos entrando desde a crise econômica mundial de 2008 e mostrava os inúmeros processos de luta que vêm se desevolvendo desde o fim de 2010 ao redor do mundo (Grécia, França, Primavera Árabe, Espanha, Chile, etc...). Discutimos como esses processos, relacionados à crise econômica mundial, jogavam por terra as teses de “fim da história” e colocavam novamente no horizonte da juventude a perspectiva de revolução. Buscamos compreender o quanto o engodo da “vitória do capitalismo” que nos foi ensinado trouxe consigo uma bagagem ideológica e moral extremamente conservadora, fazendo da nossa geração, uma geração com valores retrógrados e que esses exemplos demonstravam que era necessário subvertermos a própria moral sobre a qual fomos educados.

Trouxemos a discussão para o Brasil e avaliamos como, ainda que pese o conformismo, consumismo e o individualismo, frutos da ofensiva neoliberal da década de 90 amaciada por programas assistenciais e crédito fácil no governo Lula, começam a surgir alguns processos de resistência, seja da juventude nas marchas pelo passe-livre e pela liberdade, seja na classe trabalhadora, como em Jirau e Santo Antônio e com as terceirizadas da USP. Assistimos um video sobre o processo de luta das trabalhadoras teceirizadas da USP de 2011, onde a Juventude Às Ruas, desde o movimento estudantil, interviu ativamente junto das trabalhadoras e conseguimos arrancar uma vitória com o pagamento dos salários na luta estratégica da efetivação sem concurso das trabalhadoras terceirizadas.

Nesta quarta-feira, semana em que se completam 48 anos do Golpe Militar brasileiro, no sentido de dar continuidade aos debates, buscamos retomar o processo da ditadura militar no Brasil. De início fizemos uma saudação aos trabalhadores espanhóis que dia 29 de março realizam uma greve geral contra a Reforma Trabalhista do governo Rajoy e colocamos a atividade em memória dxs três companheirxs do MLST que, dia 23/03, foram assassinados em uma emboscada, fruto da concentração de terras no Brasil e da impunidade, resquício da ditadura. Assistimos, então, ao documentário “ABC da greve”, tanto para demonstrar a existência e potencialidade da classe trabalhadora, quase sempre apagada da história pela academia, quanto para resgatar o papel fundamental que os trabalhadores tiveram na resistência à ditadura militar e sobre sua queda.

Logo após, a Profª Marisa tomou a palavra para jogar questões importantes a serem refletidas. Partiu de lembrar que vivemos em uma ditadura do capital sobre o trabalho, que assume formas distintas de realizá-la, naquela época, a forma era o regime ditatorial, que tinha como ônus colocar amplos setores ao seu combate, hoje, a forma é o regime democrático, que afeta a subjetividade das pessoas acerca de como combater o inimigo. Marisa problematizou também o período entre o fim do Estado Novo e o início da ditadura militar, questionando se poderíamos considerá-lo como democrático, afinal, por exemplo, as organizações e partidos de esquerda eram mantidos na ilegalidade. E, por fim, apontou a farsa da justificativa do Golpe ter sido para “barrar o perigo do comunismo”, quando na verdade, o mesmo representou os anseios dos setores latifundiários mais conservadores que, temerosos com as revoltas camponesas que estouravam no campo, com as greves operárias que eclodiam semanalmente nas fábricas, com a insubordinação de setores do exército e a possível unificação popular desses movimentos, viram nas reformas de base de João Goulart no meio desse processo (reformas populares na esfera democrático-burguesa) uma ameaça concreta aos seus interesses, o que motivou o golpe de 64.

Em seguida, Rafael Borges, estudante de direito e militante da LER-QI, resgatou a radicalidade que se expressava nas ligas camponesas na década de 60, que tinham como consígnia “reforma agrária Já! Na lei ou na marra” e os chamados dos marinheiros revoltosos à unificação com a classe trabalhadora como propulsores do Golpe, que no Brasil, diferente do Chile e da Argentina, pode ser caracterizado como um golpe preventivo, já que visava barrar essa potencial unificação e não pôr fim a um processo já em curso. O Golpe Militar veio para acabar com as organizações da classe trabalhadora. Sobre o documentário, comentou a radicalidade expressa nos trabalhadores, a vontade de seguir em luta não apenas pelo aumento salarial mas contra os ataques do regime ditatorial (como o documentário deixa claro), apontou, porém, a traição e os limites aos quais a direção do movimento, com a figura central de Lula, levou o conjunto da classe, selando acordo com a patronal e conduzindo o movimento ao retorno às fábricas.

As intervenções foram bastante dinâmicas, algumas dialogaram com os resquícios ditatoriais que ainda persistem nas instituições atuais, especialmente a polícia militar, e apontaram, ainda que de maneira equilibrada pelas brechas que o regime democrático nos permite, o quanto a ditadura ainda se faz presente. A impunidade dos crimes da ditadura servem hoje como carta branca para a repessão assassina aos movimentos de trabalhadores e camponeses, a repressão ao movimento estudatil e as práticas corriqueiras de sequestro, tortura e homicídio da polícia nas favelas e periferias contra o povo pobre e negro. Outras falas dialogaram com a atuação da academia na formação do indivíduo, como na História os professores buscam esconder o papel da classe trabalhadora como sujeito, como no Serviço Social se expressa uma tendência de formação de um profissional mediador do conflito capital-trabalho, que muitas vezes subestima a força da classe trabalhadora, como o próprio Direito, quando de suas partes progressistas, é impossível de ser aplicado. Por fim, questionou-se a possibilidade do governo garantir uma Comissão da Verdade, e mais ainda, que garanta a Justiça, levou-se em conta o papel que os sindicalistas autênticos – com Lula a frente – cumpriram na transição pactuada com a ditadura e como que o atual governo, do PT, compromissado com um amplo setor da burguesia, dos latifundiários e dos próprios militares, não pode, nem pretende, levar ao fim tal feito, e que é necesário que os estudantes, as organizações de direitos humanos, os sindicatos, os trabalhadores e os camponeses tomem a tarefa de garantir uma Comissão da Memória, Verdade e Justiça, independente do governo e dos militares.

Uma última reflexão que fechou a atividade foi acerca da possibilidade do movimento grevista do ABC ter continuado para além dos limites impostos pela direção. Alguns apontamentos destacaram que poderia ter havido um esvaziamento, outras falas apontaram a importância de uma estratégia que levasse o movimento a crescer e avançar, que a estratégia da direção do sindicato era somente garantir o movimento, quando o correto seria uma estratégia que tivesse como método a análise correta da correlação de forças para a finalidade de derrubar a ditadura com a força da classe operária. Também levantou-se a bola para nossa próxima reunião, questionando o papel que o movimento estudantil poderia ter cumprido nesse processo, inclusive pendendo a correlação de forças para o lado da classe trabalhadora.

Com esse questionamento daremos continuidade à formação da Juventude Às Ruas-Franca no dia 11/04, quarta-feira, às 16:30, na sala do 4ºano de História. Teremos como leitura básica o texto “Reflexões sobre a crise da Universidade e o movimento estudantil. Estudantes e trabalhadores: uma aliança estratégica” de Ricardo Festi e Marcelo Torres, publicado em 2008 na Revista Iskra. Desde já, fica o convite a todxs para que compareçam, conheçam a Juventude às Ruas, debatamos nossas concepções e construamos juntxs uma juventude internacionalista, questionadora dos valores, da moral e da ordem, que não esquece e não se cala diante dos crimes do passado e do presente da ditadura, e que atua na construção de um movimento estudantil combativo, democrático e aliado com a classe trabalhadora.