domingo, 17 de março de 2013

Quando deve ser mostrado o programa da ANEL?

De Letícia Parks - estudantes de Letras da USP e militante da Juventude Às Ruas - texto publicado em http://consciencianegra.wordpress.com/2013/03/17/quando-deve-ser-mostrado-o-programa-da-anel/

Publicado em 17 de março de 2013

Em 2009 participei daquilo que seria o início da Assembléia Nacional de Estudantes Livre. Na época eu não era uma militante organizada, era independente, fazia ciências sociais, já tinha militado na UNE e em suas ramificações de movimento negro, como podem imaginar, me desiludi e concordei com a necessidade de atuar em uma entidade nacional, mas que fosse de luta, revolucionária.

Foram muitos os momentos de luta política que me desiludiram também com o projeto que se dizia ser da ANEL. Eu ia às plenárias e via os que romperam com a UNE se negando a defender o fim do vestibular, se negando a defender setores de trabalhadores e estudantes que vinham sendo reprimidos. O que mais me chocou foi o dia em que propusemos (nesse momento eu era parte de um bloco, o “Anel às Ruas!”) que o fim da precarização e a incorporação dos terceirizados sem concurso público fosse um eixo programático da ANEL. Os companheiros do PSTU foram contra, empataram a votação e deram um jeito de ganhar por um voto, em 2010, que eram contra esse eixo programático fundamental para ser consequente com a luta operária no Brasil.

Após anos de experiência dentro da ANEL percebi que alí existem setores que querem de fato lutar por um país e um mundo que se organize, materialmente e culturalmente, de outra maneira. Dedico essa “carta” a estes.

Em 2011 fui presa na ocupação de reitoria, organizada em luta contra a presença da polícia militar no campus. Diferente do que se diz por aí, essa luta não foi pela maconha, tampouco foi pelo elitismo. A Juventude às Ruas! reivindicava em cada uma de suas intervenções que a luta contra a polícia militar na USP deveria ser a luta contra a polícia nas periferias, favelas, bairros, escolas, onde essa PM tortura, prende e mata a revelia.

Naquele momento e hoje, demos luta política dentro da ANEL para que esse também fosse o programa da entidade. De olhos fechados para a população assassinada pela polícia e reprimida pelos bombeiros e de olhos abertos e brilhando para a possibilidade de dirigirem sindicatos de segurança pública, a majoritária da ANEL – PSTU – se posicionou na contramão da luta contra a PM, e assim que pode, apoiou as greves policiais que exigiam “melhores condições para reprimir”. No seu congresso de 2011, contra nossa ala que dizia não a PEC 300, que aumentaria o salário dos mercenários do Estado, o PSTU dizia que eram todos bombeiros, e que PM também é trabalhador.

Depois de muita luta política, conseguimos aprovar que a ANEL é pelo fim do vestibular. Hoje, quando se desenha uma campanha nacional de diferentes setores da esquerda, inclusive do PTismo, reivindicando cotas, o PSTU escohe pela via da ANEL não defender essa importante pauta que se refere ao acesso de toda a juventude à universidade pública, inclusive da grande maioria de negros que não entrariam pelas cotas. Quando defendemos, na última assembléia estudantil da USP que o programa a ser defendido pelo movimento fosse “PIMESP não! Cotas sim! Pelo fim do Vestibular!”, fomos o único setor da ANEL a de fato representar o programa da entidade, tendo o PSTU defendido junto com o PSOL e a Consulta Popular o programa que em nada se diferencia de Dilma Roussef: “PIMESP não! Cotas sim!”

No ano passado, no auge da ameaça de reintegração do terreno da favela São Remo e da ameaça de demissão e expulsão dos trabalhadores e estudantes que como eu foram presos no dia 8 de novembro de 2011, o PSTU convocou a plenária estadual da ANEL no circo escola da favela São Remo. Essa convocação era uma perfumaria. De todas as propostas concretas que colocamos para lutar contra a repressão e a policia militar, a majoritária foi contra, levando companheiros sinceros nossos às lágrimas, por não saber o que ainda poderia ser feito dentro dessa entidade que servisse para impedir a escalada de repressão do governo do estado e federal.

Naquele momento, me elegi para estar na executiva estadual. Venho, desde então, participando das reuniões da executiva. Me aterei as diferenças políticas que se expressaram lá, que vêm se mostrando cada vez mais de grande valia.

Durante a mobilização contra o aumento da passagem, reivindiquei que a ANEL fizesse materiais para dialogar com os trabalhadores do transporte, chamando-os a luta como um setor estratégico para conquistar qualquer vitória nos transportes. Foram contra. (!)

Durante a discussão das calouradas, já sabendo da possibilidade de denúncia do ministério publico, e já tendo clareza das punições impostas pela reitoria da USP em relação aos estudantes e trabalhadores, propus que nosso eixo de intervenção fosse a repressão. Foram contra (!).

Sabendo da denúncia do Ministério Público sobre os 72 ativistas da USP, exigi que colocássemos na mesa de abertura do próximo Congresso da ANEL um dos denunciados pelo ministério público, demonstrando por essa via que a repressão seria o principal dos eixos do Congresso. Foram contra estar na mesa, perdi a votação. Me disseram que esse tema perpassaria todos os temas, e que em nada estaria subtraída a discussão da repressão e da denúncia aos 72. Recebi com surpresa um material de divulgação do Congresso feito pela Executiva Nacional que não fala absolutamente nada sobre a denúncia que estamos sofrendo e sobre o forte ataque sobre os jovens e movimentos sociais que ela significa. Para além disso, em nenhum momento do material se fala sobre a escalada repressiva dos governos, fazendo uma construção do Congresso que passa quilômetros longe disso.

Tais elementos não me fazem desistir da participação na ANEL. Apenas me mostram que só é possível estar dentro dela na medida em que a luta política se torna mais intensa, na medida em que a construção desse espaço sirva para corrigir erros políticos graves como esses, que só acontecem pela visão aparatística e adaptada que correntes como o PSTU têm quando se trata de construir programa, consignas, etc.

Na Juventude às Ruas! sei que não pautamos nosso programa pelo que as pessoas vão concordar, mas pelo que é necessário que elas se preparem para lutar. Assim, sei que nos preparamos para as batalhas que a crise irá impor sobre a juventude e os trabalhadores, e por isso vou ao Congresso da ANEL para exigir uma transformação da política dessa entidade, que a leve para preparar a juventude estudantil e trabalhadora para os mais duros ataques, que a prepare para resistir e para fazer o novo.

Rumo ao Congresso da ANEL!

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