quinta-feira, 14 de março de 2013

Pela livre sexualidade, contra o ataque dos setores "próvida"

por Fernanda Montagner


8 de março, dia mundial da mulher, dia este que se passa num novo momento histórico, onde com a entrada do 6 ano da crise capitalista e a aceleração dos tempos para uma realidade de intensificação da miséria e exploração da classe trabalhadora mundialmente, vemos também a entrada em luta das mulheres, um dos setores mais oprimidos, e por isso, sensíveis as mudanças históricas. Na índia, Egito, Europa, as mulheres são pioneiras dos levantes de massas, são a linha de frente contra a violência, a precariedade da vida, a intervenção da igreja son seus próprios corpos. "Aqueles que lutam com mais energia pelo novo, foram os que mais sofreram com o velho" (Trotsky, L.), essa frase carrega uma síntese do que é hoje a realidade de milhares de pessoas.
É importante resaltar esse novo momento de época, para refletirmos e atuarmos frente a o que ocorreu no dia 8 aqui no IFCH. Recebemos como "homenagem", nas colunas do corredor de aulas, uma decoração reacionária em toda medida. Um grupo chamado "pró vida" colou uma série de cartazes comparando todos aqueles que lutam pela legalização do aborto com o nazismo, que é a mais repugnante expressão da violência imperialista contra todos os direitos democráticos dos setores oprimidos e dos trabalhadores, até imagens com fotos de fetos de dois meses no útero, enumerando as partes "humanas" que já possui, relacionavam o aborto com assassinato e vários outros absurdos.
Frente a uma ofensiva reacionária, em pleno instituto historicamente conhecido como instituto referência de combate às opressões, não podemos nos ater a uma discussão sobre machismo restrita aos muros da universidade. Estes setores, quanto mais alto gritam serem "pró vida", com tanto mais força pisoteiam milhares de vidas femininas e buscam estrangular as vozes dxs verdadeirxs combatentes pelos direitos da mulher: advogam o mesmo discurso dos governos de turno da burguesia, como hoje de Dilma e do PT, que esconde o feminicídio que há por trás da criminalização do aborto com o mesmo discurso de "defesa da vida". Assim, condena milhares de mulheres anualmente à morte, por meio do aborto clandestino e proíbe que a mulher decida sobre o próprio corpo. Quem realmente paga por isso são as mulheres trabalhadoras, que são destinadas aos postos de trabalho mais precários, como nas empresas terceirizadas, criadas para humilhar e dividir as fileiras operárias, nas quais a Unicamp se alicerça.
A luta contra a violência à mulher deve começar por impedir que ela morra. Os abortos clandestinos são responsáveis pela quarta causa de morte feminina no país (estar criminalizado não "defende" a vida de ninguém. Portanto, não pode estar desvinculada da luta pelo aborto livre, legal, seguro, gratuito, garantido pelo Estado, assim como educação sexual nas escolas e contraceptivos de qualidade de graça nos postos de saúde, para que as mulheres tenham condições de não precisar abortar.
Enquanto a uma estrutura universitária vem, através da repressão, tentando calar a todos os estudantes que denunciam seu caráter antidemocrático, que denunciam a violência policial, que lutam contra a opressão dentro e fora da Universidade e para que esta esteja de fato a serviço da população, permite e nada diz sobre as mulheres terceirizadas que são constantemente assediadas e violentadas, nada diz sobre grupos como este que para a burocracia acadêmica goza de todo o direito de expressar suas ideias reacionárias e de cunho profundamente machista e homofóbico. Sendo esses grupos os mesmos que apregoam que a homossexualidade é uma doença, que a população negra é inferior e que a mulher deve ser apenas reprodutora e não ter direito à livre sexualidade, são esses grupos que dão respaldo para que pessoas como o pastor Marco Feliciano seja eleito como presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias (CDHM).
A discussão sobre a violência a mulher e aos GLBTTI também não pode ser desvinculada de uma auto-organização das mulheres, partindo de uma discussão da função social da polícia, o braço armado do estado burguês. Ou seja, a instituição feita para reprimir os trabalhadores, feita para perseguir as mulheres, os negros e o setor LGTTBI. Não podemos de maneira nenhuma confiar nas instituições repressoras do estado burguês. Assim, temos de reivindicar a auto-organização das mulheres, para construir sua autodefesa, por meio de uma campanha ampla pelo aborto legal, seguro e gratuito, contra a Igreja, governo e o estado.
Por isso é central que as entidades estudantis se coloquem claramente contra as organizações que cinicamente se dizem "pró vida" e se calam diante das milhares de mortes de mulheres por abortos clandestinos. Esta é a discussão concreta que estes ocultistas silenciam "em defesa da vida". A estrutura de poder Universitária é conivente com estas expressões aberrantes de intolerância, de violência contra a mulher, e de ignorância histórica quanto aos principais fenômenos políticos do século XX. É preciso ter em seu programa o combate a opressões com centralidade a legalização do aborto. Nós da Juventude as Ruas, que compusemos a chapa Contra Corrente ano passado, fomos os únicos que colocamos com centralidade essa questão, pois já prevíamos uma possível campanha reacionária da direita, frente a um cenário mais convulsivo de luta de classes onde também a direita tenta massificar e consolidar sua ideologia reacionária, como também seria impossível se calar frente a uma situação nacional, onde milhares de mulheres morrem anualmente por abortos clandestinos. A atual gestão do CACH não tem a legalização como programa, o que consideramos um equívoco, que já se mostra com o alastramento desses grupos de ultra direita pelo instituto. É central que a gestão do CACH se coloque frente ao ocorrido, faça balanço do fato de não ter hierarquizado o tema nas eleições e organizemos uma campanha pela legalização do aborto, contra as opressões, para que esses grupos não se sintam mais na liberdade de expressarem seu reacionarismo.
NOSSO CANTO É O ESPANTO DOS QUE NOS JULGARAM MORTAS
 

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