quinta-feira, 7 de março de 2013

Panfleto distribuído pela Juventude às Ruas na FEUSP: calourada, assembleias e depoimentos

A Calourada da FEUSP frente aos atuais desafios da Universidade!

O início do ano letivo nas universidades, principalmente nas públicas, é marcado por um clima de comemoração e festa, dado que nesse período centenas de novxs estudantes ingressam no ambiente universitário, após cansativas provas e processos seletivos do vestibular. No entanto, este clima está relacionado a uma concepção de meritocracia individual que em nada questiona a verdadeira função do vestibular, que é de excluir centenas de jovens, principalmente negrxs, pobres e trabalhadorxs, e não refletindo como essa comemoração em si está em contradição ao direito a uma educação realmente pública, gratuita e a serviço da maioria da população.

É principalmente nessas comemorações de recepção que vemos tantas demonstrações do elitismo, do racismo, do machismo e da homofobia tão presentes na universidade. Isso fica claro no caso do concurso “Miss Bixete” na USP de São Carlos, ou até em coisas mais simples, como nas pinturas nxs calourxs, onde diversas vezes são escritos nomes de universidades particulares que são voltadas justamente para a população que não consegue estudar na USP ou em outras universidades públicas, numa forma, ainda que não percebamos imediatamente, de zombar dxs estudantes trabalhadorxs que têm que pagar para ter seu “direito ao estudo”. 

Nós, da Juventude Às Ruas, achamos que é fundamental que esse momento de recepção sirva tanto para ajudar xs calourxs a se familiarizarem com a universidade como, principalmente,seja um espaço que discuta os problemas políticos que envolvem a universidade – ainda mais na USP onde temos problemas profundos de falta de democracia em todos os âmbitos –, que questione o próprio filtro social do vestibular que xs calourxs acabaram de passar traumaticamente, onde só na USP em 2013 foram quase 150 mil excluídos. E foi com essa perspectiva que intervimos nas reuniões para a construção da calourada.

A demonstração de que estávamos corretos em defender que a calourada priorizasse espaços de discussão política se fez evidente no debate sobre a brutal repressão que tem acontecido na universidade (e fora dela), com a presença de Diana, diretora do SINTUSP, trabalhadora da FEUSP e também uma dxs 72 processadxs pelo MP. A sede dxs calourxs em discutir levou a que fossem abordados diversos temas somente nessa mesa, como: repressão; questão de gênero; cotas e a questão negra; acesso, permanência e democratização da gestão da Universidade; papel do movimento estudantil e mobilização; e, principalmente, educação e o papel do professor. Os inúmeros questionamentos dxs calourxs (como fizeram na aula-trote) só reafirma o interesse destxs em se envolverem nos principais temas que perpassam hoje a Universidade e a educação brasileira.

Infelizmente, não era essa a visão geral da gestão Caleidoscópio do CAPPF, que, durante todas as reuniões da construção da calourada se mostrou vacilante em aprovar atividades que debatessem questões políticas na primeira semana (na qual a atenção dos calouros é maior), tendo sido uma luta tremenda de nossa parte aprovar a atividade contra a repressão (que se mostrou acertada). Essa secundarização das discussões políticas por parte da gestão, que possui outra concepção do que deve ser uma calourada, tem se mostrado prejudicial axs calourxs. Mesmo estxs demonstrando interesse, renegar essas discussões à segunda semana de aula – momento em que xs calourxs estão conhecendo sua sala, suas disciplinas e seus/suas professorxs e após uma jornada de atividades durante a primeira semana – só pode refletir em espaços de discussão esvaziados.

Achamos que, no mais, a primeira semana de calourada foi boa, inclusive em seus espaços de integração entre xs calouros e veteranxs, principalmente o Sarau que proporcionou além de uma integração entre xs estudantes, uma integração com outros grupos e movimentos de fora da universidade, em meio a atividades artísticas e culturais. Nesse sentido é importante ressaltar nossa diferença, já expressa durante a atividade, em relação ao ceticismo defendido pelos professores durante a Aula Magna. Esse mesmo ceticismo é reivindicado por alguns dos membros mais ativxs da Caleidoscópio, e é essa concepção que (i)move a atuação da gestão dentro do movimento estudantil, porque essa visão, apesar de questionar as coisas que estão ruins, ao não acreditar em uma mudança, refletem completamente por fora da miséria imposta pela crise capitalista e se calam frente aos exemplos concretos na história de luta da classe trabalhadora e dxs estudantes da possibilidade, necessidade e das próprias transformações. Hoje, em todos os cantos do mundo, xs trabalhadorxs, estudantes, mulheres e a juventude saem às ruas para exigir mudanças radicais em suas condições de vida e trabalho e já tendo, em diversos lugares, conquistado algumas vitórias parciais.

Pensamos que é fundamental que a gestão Caleidoscópio, do CAPPF – enquanto representante eleita pelxs estudantes – usando o próprio exemplo do debate sobre repressão e do sarau na calourada, siga construindo atividades que tragam discussões fundamentais de dentro e de fora da universidade para mobilizar xs estudantes junto axs trabalhadorxs na luta por uma universidade realmente democrática, pública, gratuita e a serviço da maioria da população. 

Nós, da Juventude às Ruas, que acreditamos no potencial revolucionário da juventude aliada à classe trabalhadora para transformar esse sistema miserável que nada pode nos oferecer além de mais exploração, nos colocamos desde já junto à gestão e a todxs xs estudantes que se dêem essa tarefa!
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TODXS A ASSEMBLEIA DA PEDAGOGIA (Bloco B) E DA USP (vão da História)

Após a iniciativa de algumxs estudantes, dentre eles nós da Juventude Às Ruas, em reivindicar a convocação de tal espaço de deliberação fundamental, o CAPPF marcou a primeira assembleia do ano da pedagogia para o dia 12/03/13. Também, a partir da insistência dos estudantes, o DCE convocou para o dia 14/03/13 a primeira assembleia Geral da USP.

Estamos em um momento histórico, em que 72 estudantes e trabalhadorxs da USP estão sendo processadxs pelo MP por formação de quadrilha após terem se colocado na linha de frente da luta contra a repressão policial dentro e fora da USP e por uma Universidade realmente aberta a toda a população e gerida democraticamente por ela. É extremamente necessário que cada gestão de Centro Acadêmico, cada organização política e grupos de extensão se coloquem na tarefa de construir uma grande assembleia e busquem massificar em cada curso esse debate e a necessidade de barrar a repressão. Somente com a massificação dessa luta podemos construir uma mobilização que esteja à altura de revogar as punições institucionais e deter a denúncia do MP. A repressão só serve para que estudantes e trabalhadores tenham medo de se expressar e lutar para democratizar as elitistas Universidade públicas; temos que barrar essa repressão todos têm direito de lutar!

Enquanto o governo do Estado e as Reitorias, por um lado, reprimem e perseguem o movimento de estudantes e trabalhadorxs que lutam pela democratização da Universidade, por outro lado, buscam uma retórica de "democratização no acesso" para aprofundar a segregação elitista das Universidades Estaduais Paulistas. É o PIMESP, um suposto programa de "inclusão" que as Reitorias pretendem implementar como uma política de cotas. Um programa que prevê barrar em 17,5% o número de negrxs com possibilidade de entrar em uma Universidade Pública até 2018. Essxs jovens deverão obrigatoriamente cursar um "colegião" de dois anos à distância para que, dessxs, apenas aquelxs que conseguirem rendimento superior a 70%, poderem, finalmente, entrar na Universidade Pública. Porém, o curso no qual estudarão estará subordinado a um ranking de classificação e a quantidade de vagas oferecidas/disponíveis por cada curso.

Somente uma mobilização massiva poderá barrar esse projeto de elitizaçãoe segregação travestido de política de inclusão. A única inclusão de fato será com o fim do vestibular (esse funil sócio-racial que serve aos interesses dos monopólios de cursinhos e escolas particulares) e a estatização das universidades particulares para que todxsxs que queiram tenham o direito de cursar o ensino superior no curso que desejarem.

ASSEMBLEIA PEDAGOGIA – BLOCO B – 18h – 12/03/13
ASSEMBLEIA GERAL – VÃO DA HISTÓRIA – 18h – 14/03/13
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Diana Assunção, diretora do SINTUSP, trabalhadora da Pós-graduação da FEUSP e uma dos 72 processados pelo Ministério Público


"Queria saudar a solidariedade da Juventude às Ruas frente à minha suspensão e as punições aos demais estudantes e trabalhadores. É imprescindível nesse momento que os estudantes e trabalhadores se unifiquem para revogar essas suspensões e as eliminações de estudantes e demissões de trabalhadores, como Brandão, já levadas a cabo pela Reitoria. É somente uma forte mobilização massificada dos estudantes em aliança com os trabalhadores que poderá barrar essa repressão e impor o projeto de uma universidade realmente democrática no seu acesso, acabando com o vestibular, e na sua gestão, efetivando os trabalhadores terceirizados e exercendo um governo com aqueles que realmente constroem a universidade."
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Kaky Vagliengo, estudante de pedagogia da USP e militante da Juventude às Ruas

“Muitas de nós ao entrarmos na universidade acreditamos que o ambiente acadêmico poderá nos proporcionar espaços de estudo e socialização minimamente livres de opressões machistas. Essa expectativa logo é desmistificada quando percebemos que em todos os cantos da universidade essa lógica se reproduz fortemente, seja nos trotes, nas festas, nas entidades representativas, nos programas de bolsas e até mesmo dentro da sala de aula. Mas essa opressão não se destina apenas as estudantes, mas de forma muito mais brutal as trabalhadoras, principalmente as terceirizadas, que além de serem oprimidas são exploradas, submetidas a condições de trabalho extremamente precárias, sofrendo em alguns casos assédio moral e sexual. Por isso, para podermos lutar contra o machismo dentro e fora da universidade, é necessário nos unirmos estrategicamente às trabalhadoras contra esse sistema que oprime, explora e mata milhares de mulheres pelo mundo. Nesse 8 de março construa com a Juventude às Ruas e as trabalhadoras um bloco classista e anti-governista as 13:00 na praça da Sé! E venha participar do relançamento do Livro “A Precarização Tem Rosto de Mulher” no dia 9 de março, as 16:00, na Casa Socialista!” 

O livro estará à venda por R$15,00. Após o relançamento haverá uma festa com comes e bebes.
Contatos: May (may.trst@gmail.com) / Karol (karolcomum@gmail.com)
A Casa Socialista "Karl Marx" de Cultura e Política fica localizada na Praça Américo Jacomino, nº 49, em frente à estação de Metrô Vila Madalena - São Paulo.



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