quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Unicamp - Não queremos deixar para amanhã: um balanço sobre o processo de luta que passamos!


Aquela velha rotina da universidade foi quebrada nesse ultimo mês, aonde vimos explodir um dos maiores processos de luta do movimento estudantil. Com a morte de um estudante dentro do campus em uma festa, a reposta da reitoria foi imediata: através da pró-reitora que se pronunciou publicamente falando que o patrulhamento policial já havia começado em 26 de setembro. Mesmo diante de um caso grave como esse, onde o velho senso comum poderia aceitar essa resposta da REItoria, o que vimos foi o questionamento e a explosão dos estudantes através de seus métodos de luta, com greves e ocupação, expressando uma posição irresoluta de que a polícia não traria segurança mas sim mais violência e assassinatos. A polícia que reprimiu as manifestações e assassinou tantos Amarildos está questionada: definitivamente a politização de junho arrebentou os portões da universidade!
Ocupamos a REItoria, acompanhados de mais de 20 institutos que entraram em greve ou paralisaram em um contexto nacional de luta como não víamos há anos. Com USP também com sua reitoria ocupada questionando a estrutura de poder da Universidade, EACH (USP Leste) ocupada, Unesp em luta contra as sindicâncias,USP São Carlos aderindo a greve em assembleia massiva, petroleiros em luta contra o leilão do pré-sal, professores do RJ protagonizando uma greve histórica pautando nacionalmente o debate da educação. Ou seja, havia toda uma situação nacional favorável para as lutas dos estudantes e dos trabalhadores,  e era desde essa perspectiva que tínhamos que determinar os rumos de nosso movimento.
Frente a esse cenário é central que façamos um balanço do que foi o processo, bem como as distintas concepções políticas presentes em nossa mobilização. Aqui queremos debater com algumas delas no sentindo de avançarmos nas experiências conjuntas do movimento estudantil para que este volte a fazer história, 
e assim possamos alcançar grandes objetivos, que transcendam a miséria do que tentam nos vender como possível.

Domínio Público/PSOL – Luta ou eleição? Freou o movimento estudantil para respeitar os calendários eleitorais!

No auge desse processo, quando víamos ainda cursos entrando em luta, como o IE (economia) e o IG (geociências), e as distintas lutas cada vez mais se intensificando nacionalmente, o processo da Unicamp foi barrado por uma política de desocupação da reitoria protagonizada principalmente pelo DCE dirigido pelo PSOL/Domínio Publico. Era claro que a ocupação da REItoria era o centro político de nossa mobilização, vários institutos se colocaram em movimento em solidariedade a ela, e desocupá-la seria um golpe de morte para o imenso processo que ainda estava em pleno desenvolvimento. Quando propuseram desocupar a margem de voto foi estreita, com um número altíssimo de abstenções (159 votaram por manter ocupados, 231 por desocupar e 80 se abstiveram). Esse fato comprova de que havia disposição de luta dos estudantes, porém vários desses ainda referenciados em sua entidade representativa acabaram se iludindo que era possível desocupar e “continuar mobilizando”. Porém os desdobramentos dessa decisão adotada conscientemente pelo PSOL comprovou que os discursos “avermelhados”, de que mesmo desocupando continuaríamos em luta, eram meras palavras ao vento para enganar os estudantes e enterrar nossa luta. Em todas as assembleias dos institutos o DCE em nenhum momento colocou suas forças para fortalecer a greve, pelo contrario, atuaram esvaziando o movimento sem nenhuma proposta concreta para manter nossa mobilização. Já no dia seguinte o IEL (linguística) saia da greve.
O fundamento dessa traição tem ficado evidente para os estudantes, chama-se eleições estudantis. O Coletivo Domínio Publico/PSOL, tem uma concepção de entidade que não serve aos estudantes, mas sim a auto construção do seu próprio coletivo. Sua política não é orientada no sentido de responder as reais necessidades dos estudantes e fazer com que as suas lutas triunfem, mas sim mantém uma política adaptada a Reitoria, sem questionar o caráter da universidade de classe e sua estrutura de poder, se mantém nas lutas mais pontuais e imediatas cultivando o corporativismo para a partir dessa pequena política passar todo o ano orientado para as eleições e assim se manter no controle aparato do DCE. Esse ano essa política foi mais escandalosa, uma vez que passaram seus próprios interesses eleitorais por cima das necessidades do movimento e sua continuidade. Durante a própria luta seu objetivos eram claros: queriam somente discutir as “meias palavras” da reitoria na carta ao invés de centrar forças para efetivar nossa aliança com a USP e com a heroica greve dos professores do Rio. Não moveram uma palha nesse sentido, mesmo sendo a mesma organização política que está no DCE da UNICAMP, USP e do sindicato dos professores do Rio. Evidentemente a negociação com a REItoria era importante no sentido de conseguirmos a declaração publica de recuo do Tadeu à declaração da entrada da PM 
e a garantia de que não haveria nenhuma sindicância. Contudo o movimento deve se pautar pelos seus métodos e necessidades, e não pela negociação que tem um limite que é até onde a própria REItoria pode ceder para não por em xeque seus interesses mesquinhos. Há todo momento afirmavam que as “negociações haviam se esgotado” e que por isso poderíamos ser desocupados da REItoria pela polícia espalhando um sentimento de medo nos estudantes. Está claro como para eles, as migalhas que a reitoria deixa derrubar para enganar e cooptar os de baixo são grandes “vitórias”. Prova disso é que na mesma semana que desocupamos a polícia civil soltou declarações que irá abrir inquérito policial a partir do B.O. feito pela própria REItoria contra a ocupação, e o vice-reitor Álvaro Crosta (que participou das negociações) se sentiu a vontade para declarar que “a presença da polícia não está completamente descartada” e que "não pode impedir sua entrada em um espaço público". Ou seja, aquilo que foi cantando como “grande vitória” em pouco tempo depois mostrou seu verdadeiro conteúdo. Quando podíamos ir por mais e estávamos fortes e mobilizados o DCE resolveu entregar suas cartas para que a REItoria se recompusesse e na semana seguinte voltasse a ameaçar os lutadores da universidade. Diante dessa situação qualquer estudante que sofrer sindicância, processo policial, ou se a polícia voltar a entrar no campus a principal responsabilidade sobre esse retrocesso será do PSOL/Domínio Público.
Essa foi uma importante experiência dos estudantes com esses que estão há 13 anos no DCE. Na ultima assembleia geral política desse grupo se tornou explícita: votaram sozinhos contra a proposta de adiar as eleições do DCE para que o movimento pudesse ser prioridade de todos os estudantes e correntes políticas. Nada mais do que uma prática absurdamente eleitoreira, que trocou nossa luta por objetivos mesquinhos!

“Para fazer diferente” na medida do possível? Um debate necessário com as concepções do PSTU

Agora gostaríamos de debater com outra concepção que participou da mobilização, e que se propõe a ser alternativa ao m.e., inclusive se auto-intitulam como “oposição”, o Coletivo Pra Fazer Diferente (PSTU e independentes). Ainda que tenham votado pela manutenção da ocupação, em todo o momento mostraram que também estão muito distante de construir um m.e. que de fato faça história e promova grandes mudanças em nossa sociedade. Como já desenvolvemos nossa tarefa central era se propor a unificar as distintas lutas em curso para compor uma grande luta nacional pela educação que poderia colocar não só a REItoria de joelhos, como também atemorizar governos já abalados desde as grandes jornadas de junho.Infelizmente, essa que deveria ser a “ordem do dia” para qualquer um que de fato se pretenda subverter o atual projeto de universidade, passou completamente por fora da política dessa agrupação. Por mais que queiram assumir uma face mais de esquerda do que a escandalosa traição do PSOL, o Coletivo Para fazer Diferente (PSTU e independentes) também se manteve no âmbito das negociações se adaptando ao refluxo imposto pela desocupação da reitoria, na media em que mesmo com um coletivo que abarca uma dezena de cursos eles não conseguiram ser uma força “diferente” para dar todas as batalhas para manter a mobilização. Agregado a isso espantosamente não vimos o PSTU fazer um debate sério com o PSOL após essa forte traição, será que os companheiros concordam com essa política? Achamos fundamental que as coisas sejam ditas pelo seu nome, se adaptar as posições burocráticas do PSOL significa ser conivente com elas, o que infelizmente acaba sendo a consequência da omissão dessa agrupação, será que para depois fazer um chamado a uma chapa unificada para o DCE com o PSOL? Não conseguem responder o por que, mesmo fazendo parte do sindicato dos professores do Rio e o DCE da USP foram incapazes de propor uma só medida de unificação das lutas. Pior, boicotaram a reunião do Comando Estadual de Mobilização referendados pelas assembleias da USP e UNICAMP não mandando sequer um representante para ela. Optaram manter as lutas fragmentadas lutando por pequenos objetivos e assim quem sabe se localizar “mais à esquerda” para as eleições do DCE. 
Do ponto de vista programático se negaram a avançar na pauta que questionasse o estatuto da Universidade e assim sua estrutura de poder. Essa poderia ser uma grande pauta que unificasse nossa luta com USP! Na prática negaram não só se unificar com a USP como também construir uma batalha contra uma corja de burocratas privilegiados que tem adegas na Reitoria e ganham milhões por ano para manterem a Universidade fechada a juventude negra e pobre. Sabem que qualquer mudança esta subordinada a esse estatuto, bem como as sindicâncias que só poderiam não ter caráter persecutório e político, como a reitoria vinha “prometendo”, se não fossem geridas por um estatuto herdeiro da ditadura.
E ainda no próprio curso onde 
são a gestão do centro acadêmico, o IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), propuseram na ultima assembleia (quarta-feira) o fim da greve na sexta-feira! Durante todo o ano praticamente abandonaram o CACH, soltando muito mais notas pelo próprio coletivo (Para fazer Diferente), impulsionando pouquíssimos espaços de debates políticos, se eximindo assim de ser um elemento politizador do instituto para que pudéssemos estar mobilizados quando a realidade exigisse. Mesmo sabendo das declarações do vice-reitor, mesmo sabendo que naquele mesmo dia que a REItoria lacrara um importante espaço de vivência na moradia, mesmo sabendo que as sindicâncias continuaram em curso, propuseram o FIM da greve! As práticas eleitoreiras que contaminam essas correntes, acabam sendo o peso maior da balança quando precisam escolher entre a luta ou as eleições: seria mais fácil enterrar de vez o último suspiro de luta que permanecia na Unicamp, para tranquilamente se dedicarem ao calendário eleitoral do DCE.
Achamos que poderíamos fazer do IFCH um pólo de política e de resistência a reitoria usando dos nosso próprios métodos de luta do movimento estudantil para continuar sendo um sujeito em luta na universidade, lutando contra as sindicâncias, se unificando ao Instituto de Artes que também estava disposto a continuar com os debates, e mais do que isso mostrando a toda USP que os estudantes deste instituto continuariam em luta juntos e em solidariedade, apesar da traição de  nosso DCE. Nós da Juventude as Ruas colocamos desde o inicio que tínhamos um momento único de luta em esfera nacional, poderíamos ter alçado o movimento estudantil para fazer história e colocar em crise a estabilidade do regime universitário e se ligar a população de fora para impor uma grande luta por educação. Era necessário levantarmos a demanda de uma estatuinte livre e soberana para que os estudantes, juntos aos trabalhadores, definam o que querem da Universidade. Essa é a única maneira de democratizarmos de fato a Universidade, não só internamente, mas para que ela sirva a juventude e classe trabalhadora, para que os negros possam estar dentro dela, para que tenhamos em nosso currículo a sua história de luta, para que a luta dos GLBTTis seja estudada, que seu acesso seja livre e sem vestibular, com vivencia e arte para toda a população!

Faremos das eleições do DCE com a chapa “Por todos Amarildos” uma continuidade dessa batalha contra essas práticas burocráticas e políticas adaptadas que servem antes a manutenção da miséria do possível do que sua superação. Queremos uma entidade de fato democrática e que coloque a luta dos estudantes e dos trabalhadores como centro de sua política, superando o velho movimento estudantil que a cada “migalha” canta vitória relegando nossos sonhos para um futuro indefinido. Nossa luta é agora!

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