quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os toques de recolher e a falsa guerra propagada pela mídia



Toques de recolher por toda a cidade, enquanto isso a mídia noticia a morte de policiais escondendo o fato de que centenas de pessoas morrem nas periferias pelas mãos dessa polícia em proporções muito maiores. Mais uma vez vemos se acirrar a política de genocídio da população negra, principalmente da juventude, tudo isso em nome da guerra contra as drogas, estamos vendo um novo maio de 2006, talvez com proporções ainda maiores.

Na favela de Paraisópolis numa mega operação a policia diz ter encontrado documentos com os nomes dos policiais que seriam mortos, confirmando que os supostos ataques do PCC teriam saído dessa favela, o que provavelmente a maior parte da população esqueceu é que só nesse ano essa mesma favela foi vítima de 33 incêndios criminosos, sem receber socorro de nenhuma força da segurança pública, com relatos de moradores de que a polícia era a primeira a chegar, antes mesmo dos bombeiros, pronta para agredir e abusar, não para socorrer. Na São Remo, comunidade ao lado da USP, a repressão policial já acontece há tempos, contabilizando Cícera, jovem trabalhadora terceirizada da USP, entre seus mortos pela polícia. A Reitoria da USP vêm há meses ameaçando as famílias de despejo, tendo aplaudido os recentes toques de recolher e a ocupação das policias civil e militar, que desde a sua efetivação, no dia 30 de outubro, já é responsável por várias mortes.Hoje vemos casos como esses em toda São Paulo e região, como Osasco e Guaianases, com incêndios criminosos, chacinas e posteriormente toques de recolher, mortes de lideres comunitários, ações policiais e etc.

Desde a abolição da escravidão, já vemos políticas de criminalização e de genocidio dos negros, temos como exemplo a criminalização da capoeira, a lei contra a vadiagem. O resultado dessa politica de mais de 500 anos é a população negra sendo maioria nas favelas, morrose nas cadeias. As principais vitimas da violência do Estado, são os jovens negros, também são os que mais sofrem sem educação, saúde, moradia e etc.

Essa chacina que vemos esses últimos dias não é novidade. Entre 2006 e 2010 mais e 2262 pessoas morreram em supostos confrontos com policiais, no primeiro semestre de 2012 mais de 170 pessoas já morreram, não são poucos os número de morte por “auto de resistência”, que significa resistência seguida de morte, assim como já é sabido que a maior parte dos autos de resistência são homicídios. Em maio de 2006 também com a a justificativa de “combate” ao crime organizado a policia promoveu uma enorme chacina que resultou em centenas de morte de jovens, em sua maioria negros, dessa chacina resultou o movimento mães de maio.

O que acontece em São Paulo hoje não é uma guerra civil e sim um acirramento do genocídio da população negra pelo braço armado do Estado, que combina seus órgãos legais com a sua própria política de repressão sobre os trabalhadores precarizados, juventude negra e pobre das favelas, que se não fossem duramente reprimidos, instalariam uma situação de constante rebelião contra suas condições de vida, mantêm-se então uma aura de medo e suspeita toda a população negra e pobre residente de favelas para seguir esse projeto.

Nós da Juventude Às Ruas! sabemos que não é possível - apesar da propaganda de diversos setores da esquerda - confiar na humanização de um órgão espúrio como a policia militar, e por isso reivindicamos o exemplo dos Panteras Negras, que em meio a política genocida do estado norte-americano, organizou grupos de autodefesa entre o povo negro e pobre das periferias, sabendo que em meio a um Estado que visa o genocídio dos negros e pobres, só é possível se proteger de maneira independente. Em sua carta de princípios, diziam: 

“Nós queremos o fim imediato a violência policial e o assassinato do povo negro, outras pessoas de cor, todos os povos oprimidos dos Estados Unidos. Nós acreditamos que esse governo racista e facista dos Estado Unidos usa suas agências de força doméstica para levar a cabo seu programa de opressão contra o povo negro, outras pessoas de cor e o povo pobre dentro dos Estados Unidos. Nós acredito que é de nosso direito, portanto, nos defender contra tais forças armadas e que todos os negros e povos oprimidos deveriam se armar para auto defender seus lares e comunidades contra essas forças policiais fascistas. (…) Nós acreditamos que se o governo dos Estados Unidos ou seus lacaios não cessam essas guerras agressivas é direito de todas as pessoas defenderem a si mesmas por qualquer meio necessário contra esses agressores.” (Pontos 7 e 8 dos 10 pontos da plataforma “O Que Nós Queremos” do Partido dos Panteras Negras)

Viemos no último período em nossa agrupação realizando uma série de intervenções no sentido de solidariedade a população das periferias, com professores da Juventude Às Ruas! acompanhando seus alunos às suas casas para evitar que se tornassem novas vítimas da violência policial, assim como pensando junto aos trabalhadores da São Remo formas de se colocar contra a política genocida que se implementa nessa comunidade vizinha a Universidade de São Paulo, dividida por um muro representando o verdadeiro Apartheid implementado pelo trabalho precário e pelo vestibular, onde esses moradores só podem ingressar na universidade para limpar o chão dos prédios onde, se depender da burguesia, jamais poderão estudar. Junto aos trabalhadores da São Remo, a ADUSP, SINTUSP e DCE, construiremos um grande ato no dia 22 de novembro, as 14h30, no portão da São Remo, contra a "reurbanização" - desalojamento - da São Remo, organizada pela Reitoria para aprofundar ainda mais o fosso que separa a universidade dos trabalhadores pobres e negros da periferia, que faz com que através de sua figura gestora João Grandino Rodas, aplauda efusivamente a ocupação militar dessa e de outras favelas em toda a grande São Paulo.

No momento onde na USP se abrem os processos eleitorais para Centros Acadêmicos e Diretório Central de Estudantes, consideramos fundamental que todas as chapas expressem centralmente esse combate em seus programas, como parte de fazer da universidade, do movimento estudantil e de trabalhadores, o tribuno do povo negro e pobre que não tem espaço de reivindicação e que pode, pela via dos sindicatos e entidades estudantis, ganhar a voz que por outras vias lhes é negada. Estamos nesse processo construindo nossas chapas a partir dessa perspectiva, e convidamos todos a conhecerem nossos debates e nosso programa; programa esse onde queremos não apenas fazer ecoar o grito contra a violência policial, mas derrotar o plano de "reurbanização" de Rodas e também exigir as medidas necessárias para que toda a população negra, pobre e trabalhadora possa ter os mesmos direitos trabalhistas, sem a divisão imposta pela terceirização, assim como possam estar dentro da universidade para estudar, sem os filtros elitistas do vestibular e da falta de permanência estudantil.

- Pelo fim do vestibular com estatização das universidades privadas! Pela imediata implementação de cotas raciais proporcionais a população do estado, sem vinculação às cotas sociais!
-  Abaixo a terceirização que escraviza, humilha e divide! Pela contratação imediata dos trabalhadores terceirizados sem concurso público!

-Contra a reurbanização da São Remo e por um plano de obras públicas pensado e decidido pelos moradores da comunidade!Abaixo a violência policial! Nenhuma confiança na segurança da burguesia - pela autodefesa dos negros e pobres!

- Punição imediata a todos os assassinos de Estado! Investigação de todas as mortes em “autos de resistência”, sem nenhum julgamento especial para policiais!

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