quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nota acerca das eleições para a AMORCRUSP 2013 e chamando voto crítico à chapa “RETOMADA”!


Nos próximos dias 22 e 23 de novembro, nós moradores do CRUSP escolheremos a chapa que comporá a gestão da AMORCRUSP em 2013. Cremos que nossa escolha não pode estar alheia ao histórico de lutas do último período e ao projeto de universidade de Rodas e do governo do Estado.

Estamos em um estado de exceção dentro da USP. A reitoria avança a passos largos em seu projeto de universidade, fundado na precarização do trabalho e do ensino, na privatização e atrelamento cada vez maior às necessidades do mercado, na elitização da universidade e na repressão aos que se oponham a tudo isso. As dezenas de prisões da ocupação da reitoria e da Moradia Retomada, as eliminações de oito estudantes, os processos administrativos, que devem se encerrar com dezenas de eliminações exemplares até o final do ano, a ameaça de demissão de diversos diretores sindicais, a demissão inconstitucional de Brandão em 2008, o atentado à sede do SINTUSP com tentativa de explosão no início do ano e a terceirização na Universidade (como forma de evitar a organização sindical), são expressões categóricas disso.

No CRUSP, o escolhido de Rodas, Waldir Antonio Jorge, professor da FO, ex-militar, dá continuidade a esse projeto de universidade, no que diz respeito às particularidades do CRUSP: moradia cada vez mais vigiada, a recente descoberta de câmeras escondidas no bandejão, a proibição de andar sem camisa, a ameaça de despejo da companheira Amanda com seu filho que ainda não tem 1 ano de idade, pinturas nos prédios sem reformas estruturais entre tantas outras coisas.

 A chapa CRUSP Popular é a continuidade do projeto e atuação imobilistas da atual gestão Unidade Cruspiana, que inclusive têm membros em comum. Seu programa passa por fora de um balanço sério da atuação das últimas gestões e se quer menciona a situação de repressão que vivemos na USP e na cidade de São Paulo, além de conter propostas que mostram que a chapa não compreende que todas essas questões e problemas que enfrentamos em relação à permanência estudantil não estão descolados do projeto de universidade de conjunto e, por isso mesmo, o programa e a gestão devem trazer essas discussões.

Por outro lado, o pulso de ferro da SAS tem encontrado apoio num setor de moradores, claramente de direita, ligados à chapa Reação (que concorreu às eleições para DCE no início deste ano) e à gestão da AMORCRUSP de 2011, Novo AMORCRUSP (sic): a chapa Pra Frente CRUSP. Estes veem apenas uma alternativa à representação e organização dos moradores: a via institucional, ratificando as ações da antiga Coseas, fomentando propostas de maior vigilância de todos nós e mesmo a criação de uma absurda equipe em conluio com a SAS para investigar conflitos entre moradores e puni-los como bem entender. Lembrando que um de seus membros, Celso Borzani, foi o único morador que ultrapassou o bloqueio da TROPA DE CHOQUE na reintegração de posse da Moradia Retomada, estando junto com as assistentes sociais e com a PM nessa operação.

É necessário que retomemos o histórico de lutas da nossa moradia e a AMORCRUSP nesse momento deve estar a serviço disso. Reivindicamos a tradição dos estudantes que ocuparam o CRUSP nos anos 60, transformando-o em moradia estudantil e num verdadeiro centro de resistência à ditadura. O CRUSP, que reúne grande parte dos poucos filhos de trabalhadores e da juventude negra que conseguiram passar pelo filtro social do vestibular, é um lugar privilegiado para levantar a política de um movimento estudantil que consiga vencer a apatia e rotineirismo das direções do PSOL e PSTU que estão no DCE e na maioria dos CAs, tendo uma política de aliança efetiva com os trabalhadores da USP, efetivos e terceirizados, a começar pelos dos bandejões, que sofrem cotidianamente com o assédio e as péssimas condições de trabalho. É necessário lutar pela permanência estudantil plena, não apenas levantando a reivindicação de moradia estudantil para todos que necessitem, mas também bolsas de estudo sem contrapartida acadêmica, alojamentos para mães em quantidade adequada, atendimento nas creches para todos que necessitem, ampliação dos bandejões com a contratação de funcionários segundo as demandas levantadas pelo SINTUSP.

Mas um programa que levante as demandas da permanência estudantil só pode ser consequente se questionar em seu conjunto a estrutura de poder da universidade que mantém viva no CRUSP as tradições da ditadura de espionagem e controle sobre os moradores, e que há anos restringe cada vez mais a permanência estudantil; é necessário lutar para que o CRUSP seja gerido pelos trabalhadores e estudantes, e isso só pode ocorrer levantando a necessidade de dissolução do CO e do reitorado, que historicamente implementaram a repressão sobre os moradores. É necessária uma estatuínte livre e soberana, a constituição de um governo universitário composto por professores, funcionários e com maioria estudantil.

Além disso, não podemos nos contentar em defender os poucos filhos de trabalhadores que estão dentro da USP, mas precisamos lutar pelo acesso universal ao ensino superior, o que só pode ser conquistado com a luta pelo fim do vestibular e a estatização das universidades privadas.

Para tudo isso, a primeira e mais elementar tarefa da AMORCRUSP e dos estudantes deve ser organizar uma grande campanha contra a repressão na universidade, a começar pela reintegração dos oito estudantes eliminados (todos moradores do CRUSP, evidenciando o elitismo da USP) e de Brandão, demitido por lutar em defesa dos terceirizados, pelo fim de todos os processos contra estudantes e trabalhadores, e pelo fim do regimento disciplinar de 1972. Também precisamos ver como o projeto de repressão que é implementado dentro da USP é instrumentalizado pela mesma polícia que hoje está cometendo chacinas e um verdadeiro genocídio do povo negro nas periferias, inclusive na São Remo onde a reitoria pretende desalojar milhares de famílias com seu projeto de “reurbanização”. É imprescindível que nos coloquemos em defesa dos que estão sendo assassinados. Fora polícia das universidades, escolas e periferias! Abaixo a militarização da São Remo e o projeto de “reurbanização”!

A chapa Retomada reúne dentro de si setores que estiveram na linha de frente de importantes lutas do último período, como a defesa da ocupação do térreo do bloco G transformado em Moradia Retomada. Durante os últimos anos discutimos diversas vezes com estes companheiros nossas diferenças com seus métodos de impulsionar lutas sem a estratégia de massificá-las a partir de conquistar apoio nos cursos, CAs e DCE, e muitas vezes sequer travaram uma luta consequente para massificar estas lutas dentro do próprio CRUSP. Esta estratégia equivocada muitas vezes levou a um isolamento da vanguarda combativa, o que foi muito útil para a reitoria iniciar uma campanha de calúnias e medidas repressivas que culminaram nas expulsões e na recente política de Waldyr Antonio Jorge de “evangelização” do CRUSP, trazendo catequizadores e impondo absurdas regras como a proibição de circular sem camisa.

Para além disso, ainda que o programa da Retomada aponte corretamente diversas questões fundamentais, como a luta contra a repressão dentro e fora da USP, por permanência estudantil, contra a espionagem da SAS, ela é insuficiente em seu programa para responder plenamente a estas questões, não discutindo, por exemplo, a estrutura de poder da USP. É esta ausência que faz com que a chapa Retomada não seja uma alternativa real para levar adiante as justas demandas que colocam em seu programa. É com esta perspectiva que nós, da Juventude às Ruas, construímos a chapa Cicera para as eleições do DCE da USP.

Diante disso, chamamos voto e apoio críticos à chapa Retomada, para colocarmos a AMORCRUSP à serviço da luta por permanência estudantil sem contrapartida para todos que precisam, em defesa de todos os lutadores, contra os ataques da Reitoria e da SAS e pela auto-organização dos estudantes.

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