quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cotas raciais para as universidades racistas e elitistas

Após o último dia 26 de abril, no qual o STF aprovou a legalidade do sistema de cotas no Brasil, esse tema novamente veio à tona como um debate nacional, discutido amplamente nas universidades do país, criticado por alguns setores e defendido por outros. É papel da juventude, aliada a classe operária, apoiar esse tipo de demanda mínima? É evidente que sim. 

Os setores racistas alegam que o sistema de cotas raciais é inconstitucional e que cria uma segregação racial que não existiria, já que a constituição brasileira prevê igualdade de direitos e deveres a todos os cidadãos. O que esses setores da direita propositalmente não dizem, é que apesar da constituição garantir também, na teoria, salário, saúde, educação, moradia e etc., para todos, não é isso que acontece no nosso suposto “Brasil potência”, permeado pela intensa desigualdade racial e social, que obriga milhares de trabalhadores, em sua maioria, negros, a venderem sua força de trabalho em postos cada vez mais precários. Não precisamos nem mesmo recorrer a dados estatísticos e fazer grandes análises históricas sobre o papel que a escravidão (tardiamente encerrada) cumpriu no processo de opressão ao povo negro brasileiro, basta olharmos para o lado e contarmos quantos negros convivem conosco como alunos na universidade, particularmente aqui na Unicamp, que é uma das uma das universidades mais racistas e elitistas do nosso país. Aqui, onde estudamos, só vemos os negros nos postos de trabalho precário, como é o caso dos trabalhadores terceirizados da limpeza. Basta abrirmos qualquer jornal da grande mídia e contabilizarmos quantos moradores dos morros e periferias, em sua maioria negros, são cotidianamente massacrados pela polícia, pelo tráfico ou pela precariedade do sistema público de saúde. Neste sentido, medidas de combate ao racismo, como as cotas raciais, tratam-se de uma política de reparação histórica ao povo negro, que após séculos de luta contra a escravidão, ainda hoje permanece enfrentando cotidianamente o racismo estrutural de nosso país. 

As lutas por demandas democráticas imediatas de combate ao racismo, como as cotas raciais para as universidades, são parte fundamental de uma luta para um amplo questionamento da estrutura racista de nosso país, que questione todos os pilares da nossa sociedade, que questione a naturalização do racismo. A política das cotas raciais, apesar de ser apenas uma parte da luta contra a opressão racial, é capaz de impor medo à burguesia, demonstrando todo o poder do povo negro organizado através dos métodos da luta de classes, com independência da burguesia e aliada aos trabalhadores. 

Entretanto, esta reivindicação isolada pode ser usada para desviar os processos de luta, fazendo apenas reformas superficiais que não resolvem a exclusão racial dentro das universidades, pois acabam beneficiando uma ínfima parcela da população negra, como aconteceu nos EUA, que passou por diversos processos de luta por direitos civis e igualdade racial nas décadas de '60 e '70, que obrigou a burguesia a fazer concessões, mas acabou desviando os processos de luta e criando ilusões na população negra através da democracia burguesa. 

Por isso nós, da Juventude Às Ruas, defendemos que uma política de cotas minimamente justa, capaz de se defrontar de fato com a estrutura racista de nossa universidade, deve partir de ser proporcional à quantidade de negros de cada estado, e não percentuais aleatórios de acordo com o que for possível conciliar com as elites racistas de cada região. Além disso, deve necessariamente estar ligada à luta pelo fim do vestibular, por mais verbas para o ensino público, pela melhoria das escolas públicas e pela estatização das universidades privadas, pelo fim do genocídio da população negra nos morros e periferias, pela saída da polícia dos campi universitários e pelo fim do trabalho precário e terceirização, com efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso público. Não se trata de fazer maquiagens em um sistema falido, pintas negras em uma universidade branca, trata-se de expulsar o racismo em todas as suas formas e abrir as portas para a juventude e população negra das periferias de todo o país!

0 comentários:

Postar um comentário