domingo, 7 de abril de 2013

Chamado da Juventude às Ruas e independentes para a construção de um CAFCA (Centro Acadêmico da Filosofia/UFMG) militante!

Por Juventude às Ruas - Belo Horizonte, MG

CRÔNICA DA UNIVERSIDADE ANUNCIADA
Um misto de sensações. Misto de euforia e medo, a alegria de quem ganhou brinquedo novo, o susto das mudanças que viriam. A sensação de missão cumprida. Foi aprovada no vestibular. Pelos próximos anos, a UFMG seria parte cotidiana de sua vida.
As semanas começam, passam, pessoas surgem, muito interessantes, muito interessadas. O alívio por no seu curso não haver aqueles trotes que os jornais mostram. Mas uma angustia começa a ser parte. 
Conseguiu romper a barreira que a separava do ensino superior. Seus amigos não. Foi o primeiro momento em que a sensação de “missão cumprida” começou a deixar de fazer sentido.
Repercute a notícia do trote nazi-racista. Sabe o que é racismo, sabe que não tem graça. Sabe que seus amigos, que são trabalhadores negros, da periferia, não estudam ali.
Quer aproveitar a oportunidade que tem, mas a euforia e medo fazem cada vez menos sentido.
Nota que há mulheres pretas ali dentro. Nota que a maioria delas não entrou pelo vestibular. Entram pela porta dos fundos através de uma empresa terceirizada. Entram com uma vassoura e um balde na mão. Saem com um calo e um salário de miséria na mão.
A ideia de uma empresa terceirizada na universidade pública também não faz muito sentido.
Nota que o trabalho pesado e precário tem rosto de mulher. Mulher negra. “Estranho. Aqui dentro se reproduz racismo, machismo e homofobia, como lá fora.”.
Mas afinal, a quem serve essa universidade? Com certeza não é àquelas mulheres da limpeza. A alegria do brinquedo novo cada vez mais se substituía em angústia, faz cada vez menos sentido. Tudo aquilo que era produzido ali, tecnologia, conhecimento, intelectualidade. Pra quem produz-se, quem usufrui? Soube que o reitor era escolhido pela presidente.
“Em que século a universidade está? Antes da Revolução Francesa?”. Sabe que o governo está atrelado às grandes empresas. À burguesia. À serviço de quem está a universidade começa a ficar mais evidente.
A angústia toma conta. Não existe mais “missão cumprida”.
O vestibular deixou seus amigos de fora. Deixou toda a juventude de fora.
As opressões circulam livremente pelos corredores. A terceirização humilha trabalhadoras. Tudo que ali é produzido são a interesses que não correspondem a ampla maioria da população.
É jovem. É mulher. Não sabe carregar angústia. Sabe carregar bandeira. Ideais. Sabe carregar luta. Sabe que é estudante, e precisa ser representada. Ouviu dizer sobre o Centro Acadêmico. Poderia se organizar. Poderia se colocar na luta. Contra a reitoria. Contra o projeto que faz com que a universidade pública só produza para alguns. Contra o vestibular que deixou milhares de jovens de fora do sentimento de euforia e medo que a afetou semanas atrás. Por aquelas mulheres que carregam vassouras. Que também podem carregar bandeiras. Pelo direito de lutar pelos direitos. É jovem. Pode fazer algo. E fará. 
"Contra o machismo, o racismo, a homofobia e toda forma de opressão! Por um CAFCA militante!"
CHAMADO PARA FAZER DO CAFCA UM CENTRO ACADÊMICO MILITANTE
PARA ACABAR COM AS OPRESSÕES, LUTAR POR UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE PARA TOD@S!
Em uma sociedade dividida entre duas classes sociais radicalmente antagônicas, todo o aparato de Estado é construído para servir à classe dominante; na nossa sociedade (capitalista), a burguesia. A universidade não é exceção: ela se organiza de forma elitista e hierarquizada; forma essa que permite que a maioria da população fique fora da universidade e não tenha influência nas diretrizes para produção do conhecimento. Com os governos do PT por mais de 10 anos no poder, a privatização, a elitização e o atrelamento da universidade aos interesses burgueses foram mantidos; a universidade continua excluindo a imensa maioria dos trabalhadores, pobres e negros que aqui desejam estudar e continua tendo a maior parte de suas verbas voltadas, ou para pesquisa atrelada ao capital privado, ou para a formação de mão-de-obra que serve aos capitalistas (uns enquanto trabalhadores precarizados – como exemplo, os professores da rede pública –, outros enquanto funcionários especializados que têm o privilégio de um bom salário se puderem gerar muitas vezes mais lucro ao patrão do que aquilo que recebem).
Sobre essas bases podres caracterizadas pela exploração dos interesses da maioria em benefício de poucos, surgem todas formas de opressão dentro da universidade. A cada estudante que entra pelo vestibular, dezenas de outros têm seu direito a estudar gratuitamente e com qualidade negado. Muitos outros, ainda, cumprem dupla-jornada e/ou se endividam para pagar mensalidades de universidades privadas (verdadeiras empresas do “ramo” da educação superior) que, em sua maioria, não oferecem ensino de qualidade. Daí o evidente racismo presente na porcentagem de negros que se matricula a cada ano na UFMG. Tal racismo, também presente diariamente na precarização das condições impostas aos trabalhadores que garantem as bases materiais da universidade (trabalhadores que são majoritariamente negros!), se reflete em ideologia e opressão reproduzidas dentro da universidade; a mentalidade elitista da maioria dos alunos, que traz consigo o machismo e a homofobia, é consequência inevitável da forma como a universidade se organiza. Por fim,  já que o atual projeto de educação superior busca nos oferecer uma perspectiva de vida que se fundamenta na ascensão pessoal e na competição, outro elemento que também baseia as relações dentro da universidade é o individualismo.
É tendo isso em conta, que nós da Juventude Às Ruas chamamos todos interessados a construir um Centro Acadêmico militante para unirem-se a esse projeto. Um Centro Acadêmico que aja em função dos interesses históricos da classe trabalhadora dentro da universidade: pelo fim do vestibular, pelo fim da terceirização e da precarização do trabalho dentro da universidade, pela estatização das universidades privadas, por diretrizes que estimulem um conhecimento libertador e à serviço da humanidade. Acreditamos que estes sejam os alicerces necessários para forjarmos um instrumento que combata as opressões presentes na universidade consequentemente; pois só é capaz de combater e extinguir as opressões cotidianas quem aponta suas causas primeiras, e não seus piores “sintomas”. É confrontando o caráter de classe da universidade, combatendo todas as bases materiais que visam pô-la lacaia do capital, que podemos caminhar firmemente para uma universidade realmente pública, gratuita e de qualidade para tod@s!

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