quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CARTA ABERTA AOS ESTUDANTES DO IFCH: Porque rompi com a atual gestão do CACH



Há algum tempo tento refletir as causas e consequências que contribuíram ao atual estado de afastamento e desagregação de nossa gestão, e por consequência, do próprio Centro Acadêmico, contribuindo, humildemente, com o debate, buscando maneiras para superar possíveis equívocos a partir das contribuições mais diversas dos estudantes. Em meio à sedução "democrática" ilusória que tem a eleição de um diretor de instituto, porta voz da reitoria no IFCH, estamos órfãos de um Centro Acadêmico que organize a vida política: esse é o problema principal. Infelizmente, minha posição é minoritária. 

Em meados desse ano, traços de heterogeneidade ficaram evidentes entre os “Intergalácticos”, culminando, meses depois, em evidente falta organicidade entre seus integrantes. Somado a isso, as poucas propostas “prático-programáticas” não surtiram os efeitos esperados; em suma, não conseguimos, através de novos meios, resolver antigos problemas. Dessa maneira, abateu sobre parte da gestão um desalento político, desencadeando na atual fragmentação. Os “Intergalácticos”, quando a realidade guardou suas manchetes cruéis no esquecimento comum, foram incapazes de guiar a política do Centro Acadêmico – faltou uma bússola, faltou estratégia e programa, faltou um horizonte claro.

Hoje a atual gestão do centro acadêmico já não existe mais. É um cadáver sendo arrastado por uma reunião semanal. Seus membros se fragmentaram, quase toda a chapa eleita já não participa mais do CA, adotando diferentes posições, sobrando somente quatro membros da gestão. Enquanto isto o PSTU tenta inutilmente ressuscitar o morto, sustentando artificialmente e inutilmente seu corpo com seus próprios militantes. Enquanto isto os principais fatos políticos de nossa época passam impunes, despercebidos, intocados por esta gestão, sem programa, sem membros.

Dessa maneira, qual deve ser o horizonte para um Centro Acadêmico? Acredito que boa parte dos ingressantes, em qualquer Ciência Humana, carrega certo anseio transformador, gerado pelo incomodo perante a realidade. Dessa maneira, o Centro Acadêmico representante desses alunos deve ser a ponte que auxilie os estudantes a ligar a teoria crítica e transformadora, produzida nas salas de aula, à realidade cruel de milhares de trabalhadores, mulheres, homossexuais, negros, pobres. Em contrapartida, ser também, dentro da Universidade, o eco das vozes dos morros e periferias, a tribuna no qual os excluídos e marginalizados, os oprimidos e explorados, possam discursar. O horizonte do Centro Acadêmico de Ciências Humanas deve ser a superação do modelo educacional empresarial pactuado com o imperialismo durante a Ditadura e da sociedade, através de sua aliança com os setores mais explorados; ser a ilha de discussão política e ação prática, rodeada pelo mar da estagnação acadêmica; ser o contraponto no qual todos possam ouvir e questionar, aprender e ensinar.
 
Em uma das ultimas reuniões ordinárias do CA, estavam presentes cerca de trinta estudantes. Eu, juntamente com meus companheiros da LER-QI, propusemos a rediscussão do balanço e perspectivas da atual gestão, para que pudéssemos chamar uma assembleia geral com este mesmo tema, já que da ultima vez que este tema foi discutido na reunião do CACH a posição do PSTU contraria a assembleia venceu. Esperávamos ouvir a opinião de muitos estudantes, que, apesar de discutirem e se posicionarem, rotineiramente, não frequentam as reuniões ordinárias do CA. Para a minha surpresa, e a de muitos estudantes ali presentes, os companheiros do PSTU, fizeram uma defesa apaixonada do silêncio, da omissão. Desviando a atenção para o processo burocrático das eleições de diretoria do instituto ao invés de se preocupar com a auto-organização estudantil no CACH.  Reduzindo cinicamente em seu discurso todas as discussões do CACH “a um debate entre LER-QI e PSTU", com a finalidade de generalizar a todos os estudantes não organizados um desinteresse em realizar a assembleia, desinteresse que era apenas seu. Levaram a crer que apenas os “organizados” são capazes de se posicionar perante a questão em pauta, e que os estudantes ‘independentes’, por não possuírem "uma posição unificada", estavam impossibilitados de poder dizer o que pensam (o que efetivamente está acontecendo sem um espaço amplo para discussão) – como se a legitimidade da crítica e da proposição fosse privilégio dos “mobilizados” ou dos “organizados”. Ao invés de se posicionarem a favor de uma assembleia, onde os estudantes pudessem se inteirar e se posicionar sobre os acontecimentos, o PSTU adotando uma postura burocrática preferiu esconder esse debate da base dos estudantes e tomar para si a direção do CA, sem que todos pudessem se posicionar politicamente sobre qual CA temos de construir. Votaram sozinhos contra a proposta de reabertura deste ponto de pauta, e infelizmente foi o suficiente para que ganhassem a votação.

Apesar de sustentar um ponto de vista crítico perante o CA, estive sempre preocupado em conhecer as opiniões de todos os estudantes, sejam elas convergentes ou divergentes da minha. Por isso, desde meu primeiro posicionamento público, defendi a construção de uma Assembleia, na qual todos pudessem apontar suas opiniões, críticas e propostas, contudo o bloqueio silencioso dos companheiros do PSTU venceu em todos os momentos. E dessa forma, não vejo motivos para permanecer na atual gestão. Não posso continuar como coordenador de uma gestão falida, já inexistente, que não é capaz de cumprir o mínimo de seu dever democrático frente a sua fragmentação, ou seja, chamar uma assembleia de balanço e perspectivas. 

O anúncio de meu rompimento com o CACH não significa abandono do CA, mas sim uma posição de princípio que lutarei apaixonadamente para defender com meus colegas. Defendo um CA, que combine militantes organizados e independentes, dotado de horizontes, que também possa acolher todos os posicionamentos críticos e propositivos, que não se omita perante um estado agudo de desagregação, que expresse sua opinião, mas ouça também as demais. Defendo uma CA que se erga sobre um programa, que se ligue aos principais processos de luta dentro e fora da universidade, politizando o instituto com debates e atividades, mantendo uma relação orgânica com a base de estudantes através da auto-organização, como as assembleias. Unificando o movimento estudantil e se aliando aos trabalhadores, numa clara perspectiva de se defrontar com o atual projeto de universidade privatista e elitista, e sua estrutura de poder antidemocrática e repressiva.

Dessa forma, anuncio hoje meu afastamento da gestão “Intergalácticos: Uni-vos!” e faço um chamado para que o conjunto dos estudantes para que avancemos para a construção de uma novo centro acadêmico.

Fabiano Galletti, militante da Juventude Às Ruas e LER-QI.
Campinas 09 de outubro de 2012

1 comentários:

Quem tem medo dos comunas do CACH? :=) Sério, vocês todos de esquerda brigando por causa de problemas nas reuniões, e a reação em bloco, coesa, lhes dá igualmente um único epíteto, sem distinguir posadistas, stalinistas, trotskistas, morenistas e o escambau: todos COMUNAS, mesmo. Um "lixo ideológico" canceroso que é preciso extirpar urgente da universidade em prol de seu serviço à "sociedade" (quer dizer, "mercado").

O problema é muito mais sério e muito mais "embaixo" do que meras desgregações no movimento estudantil. Militar e ter opinião política hoje virou sinônimo de "démodé" e "empecilho ao bom desempenho acadêmico". A Juventude não está mais nas Ruas, a fragmentação da convivência social, gerada por internet, televisão, horários de trabalho apertados e prazos acadêmicos impossíveis, acabou com a discussão dos problemas "cara a cara", "boca a boca", "olho no olho". Desde o Ensino Fundamental, a gente aprende a ser apenas parafuso da máquina do consumo, não pensa em refletir pra que existimos e o que podemos fazer no país e no mundo.

Os estudantes universitários não estão formando opinião própria, e isso é grave pra quem deseja ser acadêmico, pesquisador ou mesmo um ótimo profissional. Mesmo que seja uma opinião de direita, e não de esquerda, mas uma opinião, uma postura... O Santo Mercado vende a ideia de que o discurso bipolar "direita/esquerda" acabou, quando o que vemos é uma fascistização do capitalismo em crise. Querem nos convencer de que "tomar partido", em todos os sentidos, é anacrônico, inútil; querem desmontar e sucatear o único patrimônio que temos, que é o RACIOCÍNIO!

Enfim, talvez o maior inimigo a enfrentar não seja diretamente o "mercado" e o modelo de universidade atual, mas sua consequência mais direta, que é a atomização do corpo discente. E iniciativas culturais, políticas, sociais, acadêmicas e outras no câmpus, fora dele e mesmo nas redes sociais são de importância fundamental. Certamente, procurar algo que UNA ao invés de DIVIDIR, para que antes de afinarmos nossa ideologia, ressuscitemos o mais caro dos mortos, que é a VIDA SOCIAL ESTUDANTIL.

Sem mais pretensões, vos fala um humilde História 06 que acompanha com carinho, mas pouca diligência, os acontecimentos políticos de nossa fauna.

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