quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sobre a eliminação dos 6 estudantes da USP

Por Izabel Gogone


São escandalosas as “eliminações” de 6 estudantes da USP que lutam por permanência estudantil, justificadas pela Reitoria pela ocupação do bloco G, onde ficava o Coseas (Coordenadoria de Assistência Social), em março de 2010, hoje denominado “Moradia Retomada”. As declarações da USP e da mídia em geral tendem a reverter a eliminação desses estudantes e transformá-la em “cumprimento da lei”, numa justa punição sem fins políticos. Entretanto, essa punição  é respaldada num Estatuto da USP criado em 1972 em meio a Ditadura Militar, e que trata como indicisplina grave passíveis de punição "promover manifestaçõesde caráter político-partidário" e "apoiar ausências coletiva aos trabalhos escolares"  . Não se trata de fazer "cumprir a ordem" essas e outras perseguições inserem-se num contexto de colocar a USP a serviço de ser cada  vez mais elitista e voltada para os interesses do mercado. Não só, também se inserem no contexto de acirramento mundial da luta de classes (vide levantes na Grécia, Tunísia, Egito, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Chile dentre outros, todos caracterizados pela massiva participação da juventude). Trata-se, portanto, sim, de uma via de repressão política e a história recente da USP e do CRUSP podem esclarecer com mais segurança esse fato. Vejamos.
O CRUSP foi uma conquista estudantil histórica na qual o método de luta da ocupação teve sempre importante papel. Construído na década de 60, sua função original era abrigar atletas dos jogos Pan-Americanos e, prometia-se, posteriormente tornar-se via da permanência estudantil. Como a promessa não foi cumprida, de 64 a 68 aconteceram sucessivas ocupações que o transformaram em moradia e num importante espaço de resistência política do Movimento Estudantil contra a Ditadura Militar reunindo centenas de militantes de esquerda. Alguns dias após o decreto do AI-5 – que marcou a fase mais truculenta e assassina da ditadura militar brasileira –, o CRUSP foi invadido pelo Exército, expulsando e prendendo centenas de militantes muitos dos quais fazem parte da história dos mortos do regime. Isso aconteceu em 17/12/1968, exatos 43 anos antes da publicação das eliminações desses seis estudantes. Mais do que uma ironia histórica, isso só demonstra o quanto as raízes do autoritarismo ainda estão profundas no estado brasileiro e começam a brotar nos nichos de maior contestação política.
A partir de 1979, quando se inicia a abertura política do regime, reiniciaram-se as ocupações que possibilitaram a utilização do CRUSP como moradia estudantil ATÉ HOJE. Outras várias ocupações aconteceram (a história que a USP quer esquecer pode ser consultada em sites como http://ocupauspcontrarepressao.blogspot.com/2011/10/moradia-retomada-usp-1-ano-de.html) até que, em março de 2010, estudantes ocuparam o térreo do bloco G. Surgia a Moradia Retomada. O objetivo da ocupação era retomar este espaço conquistado com muita luta em meio a repressão militar, que foi arbitrariamente invadido pela COSEAS, que cumpre um papel de perseguição e vigilância contra os estudantes e para reivindicar mais vagas para permanência estudantil e disponibilizar, imediatamente, o espaço para essa finalidade. Um ano depois, residem na ocupação cerca de 40 pessoas que resistem contra a pressão política e jurídica (reintegração de posse) que a reitoria impõe.
Apesar de ganhar o maior destaque da mídia, as “eliminações”  fazem parte de uma histórica lista de perseguições  da Reitoria à ativistas e lutadores que vão desde a demissão do dirigente do SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP), Claudionor Brandão, em dezembro de 2008, até a polêmica assinatura do Convênio com a PM e a reintegração cinematográfica da reitoria que culminou com a prisão de 73 estudantes e trabalhadores neste semestre, além de vários processos administrativos contra os lutadores por conta de greves e ocupações anteriores. Essas são táticas para calar o movimento estudantil e de trabalhadores, impor o medo e o isolamento político dos que lutam.
Há muito mais para se falar: os critérios injustos de seleção de moradores do CRUSP, as imposições para não se perder a vaga, os abusos machistas que são de conhecimento do Coseas que nada faz, a espionagem de moradores, a punição de professores e trabalhadores que denunciam irregularidades na universidade, o embasamento legal das eliminações, que se pauta em normas da época da ditadura.
Hoje, os estudantes da USP têm sobre os ombros o peso de uma universidade construída no individualismo meritocrático de “excelência”, em que lutar significa, como disse um dos “eliminados”: “O reitor, em uma decisão, acaba com a minha vida acadêmica e profissional.” E, obviamente, essa decisão tem o intuito de “dar o exemplo” dentro e fora da USP. Por isso mesmo temos um papel histórico de reverter essa decisão, bem como as outras medidas de repressão aos que lutam, como tática fundamental de fortalecer o movimento estudantil e de trabalhadores. Permanecer inerte, neste momento, significa deitar por terra todas as conquistas democráticas alcançadas por lutadores de antes e de hoje, bem como assumir que a usp seja e continue a ser uma universidade elitista, racista e excludente.


PELA REVOGAÇÃO  IMEDIATA DAS 6 “ELIMINAÇÕES”!
PELA REVOGAÇÃO DE TODOS OS PROCESSOS, ADMINISTRATIVOS E CRIMINAIS, CONTRA OS 73 ESTUDANTES E TRABALHADORES PRESOS!
PELA REVOGAÇÃO DE TODOS OS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS E CRIMINAIS CONTRA ESTUDANTES E TRABALHADORES! 
FORA PM DA USP, DOS MORROS E FAVELAS!
PELO FIM DO VESTIBULAR E ESTATIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES PRIVADAS!






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