sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Uma segunda onda de mobilizações da juventude no mundo

Nas últimas semanas, México, França e Hong Kong estiveram no centro das mobilizações de juventude de todo o mundo. Desde a eclosão da crise capitalista em 2008, a juventude vem cumprindo um papel social e político de protagonismo entre os que saem a enfrentar as consequências desta. É um dos setores mais atingidos pelas políticas de precarização do trabalho, pelas consequências dos cortes, pelo desemprego e pela pobreza. Com diferentes alcances e limites, poderíamos tomar estas últimas mobilizações como uma nova onda após as grandes manifestações que haviam tido forte presença da juventude: os jovens da Praça Tahrir, os indignados do Estado espanhol, Occupy Wall Street, o movimento da juventude antifascista na Grécia e as enormes manifestações nas ruas do Brasil no início deste ano. Além disso, foi a juventude negra nas periferias de Missouri que enfrentou a polícia militarizada após o assassinato de Michael Brown, nos Estados Unidos.

México. Os estudantes acenderam o pavio.

Sem dúvida, o desaparecimento dos 43 normalistas em Ayotzinapa se transformou em um problema estatal e geopolítico de magnitude, não só para o governo mexicano, mas também para os Estados Unidos, que compartilha com esse país milhares de quilômetros de fronteira. O desaparecimento dos jovens desencadeou um profundo sentimento de insatisfação de amplos setores da população que adotaram o grito de #YaMeCansé para expressar o profundo rechaço deles ao regime. O grito que pede a aparição dos normalistas "Vivos os levaram. Vivos os queremos" foi aos poucos se misturando com a denúncia dos responsáveis políticos pelos desaparecimentos: “Fora Peña Nieto” e uma fogueira com sua figura no centro do Zócalo, em uma manifestação de centenas de milhares de pessoas, foi um exemplo de que é o conjunto do regime político e sua decomposição que aparecem no centro do questionamento.

O ataque aos jovens normalistas que estavam se mobilizando para arrecadar fundos frente à comemoração do massacre de Tlatelolco acabou abrindo uma rachadura de difícil conserto para o governo, sendo que o fenômeno de juventude/ estudantil nas mobilizações, com demonstrações importantíssimas como as assembleias massivas na UNAM, começa a confluir com o conjunto dos setores que se puseram em movimento: professores, pais, funcionários públicos, camponeses e setores médios.

França. Nos temem porque não tememos

O medo parece estar empurrando algumas decisões do governo francês.
O assassinato no sul do país do jovem Rémi Fraisse, militante ambientalista que protestava contra a instalação de uma represa detonou uma série de manifestações, passeatas e protestos que receberam uma resposta contundente do governo: proibição das manifestações, repressão aberta, 21 detenções e 16 processados. Algumas universidades até foram fechadas para evitar a confluência dos estudantes e dissipar as tendências à organização. A política de Hollande frente ao incipiente mas decidido movimento dos estudantes secundaristas que tinham começado uma série de ocupações de institutos passou da esfera educacional; agora quem está cuidando da questão é a mesma polícia dando caminho à aberta militarização dos distritos populares da "Grande Paris". A polícia montada transitando pelas ruas de Saint-Denis é uma imagem crua da firme decisão do governo de enfrentar a mobilização juvenil com mão pesada tentando evitar um possível "efeito de contágio". Aqueles que se lembram das manifestações de 2006 e da radicalidade dos protestos na Banlieu Parisina, quando se incendiava os carros policiais colocando em questão a "ordem" em Paris, perceberão a preocupação do governo em conter o protesto.

Hong Kong. Fecham-se os guarda-chuvas?
Após quase 8 semanas de protestos, os guarda-chuvas parecem estar se fechando nas ruas de Hong Kong. Depois dos primeiros momentos em que milhares de manifestantes lotaram as ruas com seus guarda-chuvas abertos, resistindo às tentativas de dispersão por parte da polícia e gerando um impacto no centro do gigante asiático, parece que as manifestações estão entrando em um certo refluxo. A estratégia de ocupar as ruas começa a mostrar os seus limites e agora são só alguns acampados os que ficaram no centro da cidade. A estratégia do governo foi apostar no desgaste, sabendo que, ainda que houvesse objetivos comuns que davam vida ao movimento, não estava clara qual era a política dos jovens dos guarda-chuvas para conquistar suas demandas. Nos últimos dias, o grau de desaprovação dos protestos e ocupações chegava a 70% da população de Hong Kong.

Da ação às conclusões políticas

Ainda que com muitos limites, tanto nos objetivos que se propõem quanto nos meios para alcançá-los, as manifestações de diferentes setores da juventude continuam expressando de forma distorcida e não linear, uma resposta – ainda que elementar – às consequências da crise capitalista dos últimos 6 anos. Pela própria dinâmica da crise e os limites ao desenvolvimento de seus traços mais catastróficos, as respostas ainda são limitadas, mas marcam uma tendência ao questionamento de diversos aspectos do regime e dos governos. A onda anterior de mobilizações – de maior intensidade e impacto político global – em que a juventude havia sido um ingrediente essencial teve rumos diferentes, ainda que em todos os casos estas caracterizassem-se pelo objetivo "negativo" de suas reivindicações. No momento, os fenômenos juvenis estão fazendo uma experiência política em uma situação onde o movimento operário ainda não aparece à frente das reivindicações e demandas de setores sociais mais amplos.

O lema dos indignados contra a casta política e contra a monarquia, que foi canalizado pelo PODEMOS como fenômeno político no Estado espanhol, é uma mostra de que as experiências políticas e de luta que a juventude está fazendo ao redor do mundo ainda têm um longo caminho a trilhar no que diz respeito à luta de estratégias. Em certo sentido, as respostas de setores da juventude mostram que se encontra politicamente muito mais atrasada do que expressam suas tendências para a mobilização, coordenação, confronto com a polícia, etc.

Na Argentina, onde não assistimos à manifestações massivas, a insatisfação que atravessa os jovens e trabalhadores vem se expressando de maneira muito mais paciente, mas com mais força política e clareza sobre quais são as alternativas para superar "pela esquerda" os problemas do momento. O fato de que os setores que rompem com o governo encontram uma esquerda revolucionária, expressa no PTS e na FIT, com alguns pontos de apoio em locais de trabalho e estudo, com deputados e com presença nacional, faz muito mais simples a tarefa de apontar uma via de organização a uma juventude que, por mais que ainda não seja um ator de grandes demonstrações de força, vem fazendo uma experiência sustentada com os principais conflitos operários que ocorreram nos últimos tempos. O fortalecimento objetivo e subjetivo do movimento operário, e de uma esquerda que é parte fundamental desse desenvolvimento, deve ser considerado dentro do "capital" com o qual conta a juventude trabalhadora e estudantil para conquistar suas demandas, e mais em geral, para propor-se a construir uma força revolucionária com chances de cumprir um papel central em momentos de maior crise.

Parte dos problemas postos para uma nova geração de jovens de todo o mundo parece uma obviedade, mas não é. O problema da revolução como uma saída para os grandes problemas que a crise capitalista põe em questão, deve voltar ao centro dos debates dos movimentos e organizações de juventude em todo o mundo.

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