domingo, 25 de agosto de 2013

Unificar a luta contra a homofobia, no Brasil e na Rússia, para arrancarmos nossos direitos

Juventude ÀS RUAS na linha de frente contra a homofobia
Por Virgínia Guitzel, travesti, militante do Pão e Rosas
 
                Nesta sexta-feira, 23, nós da ANEL, desde a Juventude ÀS RUAS, estivemos presentes no ato convocado em frente ao consulado Russo, em São Paulo, para expressar nossa solidariedade a todos LGBTs que vêm sofrendo duríssima repressão, seja diretamente do Estado com aprovações de leis extremamente reacionárias, proibindo a expressão visual, política ou afetiva entre pessoas não heterossexuais, seja com a legitimidade que grupos nazistas vêm ganhando nesse país, levando abertamente um lema de “abençoe um homossexual com urina para curá-lo”, postando vídeos de violência na internet, etc .
                Junto a 60 ativistas ali presentes, entre eles a presença da conhecida cartunista Laerte, demonstramos a importância de nos mobilizarmos contra os ataques do governo de Vladimir Putin e o avanço reacionário sobre os LGBTs em nosso país e internacionalmente. Como o caso da França, que sempre foi visto como o país mais democrático e progressista, que reuniu 100.000 pessoas nas ruas protestando contra o casamento igualitário, ou como no Irã onde homossexualidade segue como crime com pena de morte.
               Os avanços de direitos que garantem aos LGBTs mais igualdade na legislação são parte de nossa luta, cotidianamente. Nós da Juventude ÀS RUAS nos colocamos na linha de frente com nossos companheiros LGBTs para garantir questões elementares como o casamento igualitário, e o acesso à saúde pública para as travestis e transexuais e também para os homens trans, garantindo acompanhamento hormonal e cirurgias de qualidade para garantir concretamente a livre construção física do gênero e a autodeterminação dos corpos, sem risco de morte e problemas de saúde posteriores.
               Porém, a igualdade na lei não é a mesma da vida. Sabemos que outros setores também atingidos pela superexploração capitalista, colocados nos piores postos de trabalho, e que são atingidos pelos avanços da dominação burguesa (ideológica e física) já conquistaram algumas “garantias legais” que não mudaram radicalmente a realidade absurda dos abusos e da violência contra as milhares de mulheres, e tampouco superamos o racismo em nosso país (apesar de tanto se propagandear a “democracia racial”).
 
 
               Avançar na luta independente dos LGBTs contra o sistema capitalista e seus pilares!
 
              Ao mesmo tempo que o ato também expressou diferentes visões de como barrarmos o avanço da bancada evangélica no parlamento burguês, abriu um espaço importantíssimo para um debate necessário para o movimento LGBT que no Brasil, hoje, começa a se reorganizar. O PSOL, desde sua juventude do Juntos, deixava claro o recado: “ precisamos de mais deputados, vereadores e presidentes LGBTs”,  “esquecendo-se” que Obama enquanto um negro norte-americano, e Dilma enquanto mulher ou mesmo Jean Wyllys[1] como gay , não expressam defesa real aos setores oprimidos.  Pelo contrário, estão a serviço de iludir os setores oprimidos e não motivá-los a ir às ruas por seus direitos.
                A visão do PSOL, como produto da estratégia desse partido, se perde dentro do parlamento burguês sem conseguir ver, para além do sistema capitalista, como organizar os setores oprimidos para triunfarem de forma independente. Não conseguem nem retomar o que foi Stone Wall, como uma das maiores marcas do Movimento LGBT por expressar sua auto-organização para revidar a violência policial que cotidianamente sofriam, também não consegue hoje ver movimento moleculares, mas de extrema importância, de organização em países como Egito, que em meio ao processo revolucionário que segue em aberto e com conflitos convulsivos, as mulheres que vão às ruas protestar para garantir seu direito de Pão, mas também uma vida plena, precisam se organizar[2] de forma independente para evitar os estupros e abusos que começavam a aparecer nos protestos massivos, que chegaram a reunir até 22 milhões de pessoas (o maior protesto da história da humanidade).
                Não veem ainda como as mulheres indianas que deram uma luta exemplar na auto-organização em 2012 indo às ruas com centenas de milhares, colocando um forte movimento de mulheres, vivo na luta, por seus direitos e contra o abuso sobre seus corpos. Agora, retornam elas às ruas[3] com o escandaloso caso de estupro coletivo sofrido por uma jornalista.
                Os caminhos para uma saída independente dos governos e dos patrões, de uma luta anticapitalista, sem se adaptar à democracia dos ricos em que vivemos, precisam ser construídos dentro do movimento LGBT. E nós, a partir da Juventude ÀS RUAS, nos dispomos a fazer parte dessa construção, por um movimento LGBT classista e anticapitalista que possa golpear os nossos inimigos comuns.
 
               
                 A revolução é uma condição!
 
                Por isso, nessa sexta feira, quando paramos faixas, colamos cartazes no portão do Consulado, gritávamos “Na Rússia, não passará! O governo e os fascistas vão pagar!”, apontávamos a necessidade de construir uma grande mobilização em solidariedade internacional à Rússia, contra todos os ataques reacionários do governo e dos setores nazistas, mas também apontando as contradições em nosso país, que apesar da aprovação do casamento igualitário que é parte de uma das nossas demandas de igualdade nas leis, não garantimos o direito à adoção e seguimos com a contradição de avanços legais, enquanto os números de assassinatos de LGBTs só aumentaram, chegando a 117% durante o governo que se dizia “mais democrático”, o PT.
                Sem nenhuma confiança em Dilma que permitiu Feliciano na Comissão de Direitos Humanos, não se pronunciou sobre a Cura Gay, vetou o "kit anti-homofobia" e preferiu receber o Papa da ditadura argentina, gastando 118 milhões dos cofres públicos, enquanto mais de 1 milhão em todo o Brasil saía às ruas reivindicando educação, saúde e moradia, nós da Juventude ÁS RUAS junto as companheiros do Pão e Rosas Brasil nos colocamos na disposição, com nossas humildes forças, a construir uma alternativa revolucionária para a luta LGBT.
                A partir de Junho e das importantes vitórias que tivemos, como a revogação do aumento do transporte publico e o recuo do projeto da Cura Gay, sabemos que é nas ruas que poderemos ir por mais. Se antes de Junho, já avançávamos em nossas lutas, hoje temos  a tarefa de não mais permitir nenhum projeto contra nossos direitos, mas também de conquistá-los!
                Nesse marco, fazemos um chamado às entidades estudantis, como a ala majoritária da ANEL (PSTU), centrais sindicais antigovernistas, como CONLUTAS, para organizarem desde as escolas, universidades e lugares de trabalho uma grande mobilização de juventude e trabalhadores para expressarmos nossa solidariedade e conformarmos um movimento LGBT capaz de responder às nossas necessidades.
 
- POR UM MOVIMENTO LGBT CLASSISTA E ANTICAPITALISTA INTERNACIONAL, QUE RETOME STONE WALL E A ORGANIZAÇÃO DOS LGBTs AO LADO DOS TRABALHADORES E DA JUVENTUDE QUE SE REBELA NAS RUAS!
 
- FORA PUTIN! FORA FELICIANO! PELA SEPARAÇÃO DA IGREJA E DO ESTADO NO BRASIL E NA RÚSSIA!
 
- PELA PUNIÇÃO IMEDIATA DE TODOS OS TORTURADORES, ASSASSINOS E AGRESSORES DOS LGBT NA RÚSSIA E NO BRASIL! POR UMA INVESTIGAÇÃO INDEPENDENTE, DE SETORES LGBTS, MULHERES E NEGROS E FAMILIARES DAS VÍTIMAS PARA IDENTIFICAR TODOS OS AGRESSORES!
 
- POR EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS! POR ATENDIMENTO MÉDICO DE QUALIDADE PARA TRAVESTIS, TRANSSEXUAIS E TRANSHOMENS PARA GARANTIR A LIVRE CONSTRUÇÃO FÍSICA DE IDENTIDADE E A AUTO-DETERMINAÇÃO DOS CORPOS! POR PLENO EMPREGO COM SALÁRIO MÍNIMO DO DIESSE PARA TODOS!
 




[1] Texto sobre a declaração do deputado do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, sobre se recusar a redução do salário dos deputados: http://blogiskra.com.br/?p=452
[2] Um interessante vídeo que mostra o potencial dessa organização das mulheres: http://www.youtube.com/watch?v=tumCxnRyPqo&feature=share
[3] Também sobre essa organização, na Índia: http://cnnespanol.cnn.com/2013/08/17/brigadas-de-adolescentes-indias-combaten-y-humillan-a-los-violadores/


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Foto das mobilizações quando foi aprovada a lei contra a propaganda "gay"
 


Fotos do ato do dia 23/08 em frente o Consulado Russo
 


 

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