quarta-feira, 8 de maio de 2013

Roda de conversa da Juventude às Ruas sobre as greves da educação no país



Roda de conversa da Juventude às Ruas sobre as greves da educação no país

Por Mateus, estudante de Ciências Sociais USP, militante da Juventude Às Ruas

Educação em luta

Já faz mais de duas semanas que os professores da rede estadual de ensino do estado de São Paulo estão em greve por melhores condições de trabalho e por transformações na qualidade do Ensino Público do estado. Apesar do sindicato da APEOESP estar totalmente burocratizado e não ter a disposição de cumprir seu papel fundamental em construir a greve no cotidiano das escolas, a base da categoria se mostra disposta e vem ganhando força e independência ao longo dos últimos dias.

Já nas universidades do estado, o primeiro grande movimento de lutas do ano se dá nas UNESPs, onde, a partir do Campus de Ourinhos, seus estudantes iniciam uma ampla jornada de lutas contra a precarização do ensino nas universidades, tendo como eixos centrais a luta por permanência estudantil e contra o projeto racista de cotas do PIMESP proposto pelo PSDB e já previamente aceito pela UNESP.

Discussão da Juventude às Ruas nas Ciências Sociais, USP
Foi a partir destes acontecimentos e da sua necessária ligação, que os militantes da Juventude às Ruas se reuniram nesta Quinta-feira, 03/05, no Espaço Verde, do prédio de Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH/USP, para discutir com diversos estudantes quais são as condições dadas nesta luta e qual o caminho que devemos tomar.

A partir das falas dos professores estaduais em greve, organizados através dos “Professores pela Base”, ficou clara a condição precária que o ensino público se encontra no estado de São Paulo. Escolas sem estrutura, professores sem incentivo e condições dignas de trabalho, incluindo os mais precários de categoria “O”, com seus contratos temporários e sem direitos básicos, apesar da mesma quantidade de trabalho que os professores efetivos. Configura-se, além disto, a escola ainda como uma formação de classes, sendo o ensino público, destinado aos filhos da classe trabalhadora, uma mera produção de mão de obra barata, muito diferente daquele ensino particular, na mão dos grandes empresários da educação, destinado aos filhos da burguesia. A escola, como discutida em nossa reunião, é estruturalmente construída como um presídio, com seus horários de cárcere nas salas de aula, onde os estudantes não se identificam como os sujeitos pensantes e críticos das relações escolares, e os professores, restritos por esta estrutura, são vistos por seus próprios alunos, muitas vezes, como os inimigos, como os carcereiros.

                Devemos então golpear a educação que os governos e a burguesia nos impõem, partindo de todos os ambientes educacionais e envolvendo toda a classe trabalhadora da educação. São nas universidades que se formam, através de cursos de licenciatura, os professores da rede pública de ensino fundamental e médio. Porém, na maioria dos cursos de licenciatura, vemos uma capacitação idealista, levando em conta uma escola irreal, formando assim um professor despreparado para enfrentar a dura realidade das escolas estaduais, reais, com estudantes pobres e marginalizados pelo sua sociedade, que não se reconhecem como parte da escola e se veem forçados a estarem lá, sob a tutela do professor. Logo, é também uma luta contra os atuais currículos universitários de licenciatura, é uma luta por outra educação em conjunto!


A luta pela educação é uma só! Do Fundamental ao Superior, do Privado ao Público!

A UNESP vem sofrendo nos últimos anos um projeto de ampliação de vagas muitos parecidos com o REUNI das Universidades Federais, onde criam-se novos campus e novos cursos sem a devida estrutura para tal. No campus de Ourinhos vemos o drástico exemplo desta ampliação precária, onde os estudantes se encontram sem restaurante universitário, sem o devido auxílio de bolsas de permanência, e ainda com um campus improvisado em terreno da prefeitura. Não por acaso este campus tem a menor renda por estudantes de todas as UNESPs, demonstrando de forma clara quais são as políticas do governo para a educação dos mais pobres e da classe trabalhadora em geral. Ou seja, nas poucas vagas de universidades públicas que a classe trabalhadora tem acesso, o ensino é precário, e nas muitas vagas de universidade particulares, muito bem pagas aos maiores conglomerados educacionais do mundo, como é o caso da Anhanguera, o ensino é mercadológico, operacional, visando assim o mais rápido lucro. Resta então à classe trabalhadora ou o filtro do vestibular para as universidades públicas, e que mesmo passando por este filtro devem encontrar cursos sem a devida estrutura para sua formação, ou então resta que paguem pelo ensino superior privado, já que o Estado não cumpre seu dever de fornecer a todos a educação superior pública, quanto menos de qualidade.

                A luta da UNESP é a mesma luta dos professores em greve no ensino público do estado. É a luta pela educação de conjunto, a luta contra as políticas de sucateamento do ensino público, que não param apenas no estado de São Paulo, nas mãos do governo do PSDB, mas também se estendem por todo o país, onde exemplos deste sucateamento não acabam, como nas Universidades Federais, nas mãos do governo do PT.

                Se nas escolas públicas da periferia as condições são mais precárias, também é assim nas universidades mais “periféricas” do sistema de ensino superior nacional! Se existe repressão, com proibições de mobilização sobre a greve dos professores nas escolas da rede pública do ensino básico, também existe esta mesma repressão nas lutas da educação universitária! Se com a precarização do ensino é a classe trabalhadora a mais atingida, seja no ensino fundamental, médio ou superior, também é assim com a precarização do trabalho, onde na educação pública cada vez mais aumentam as terceirizações e o processo de precarização trabalhista! Logo, a luta das universidades e dos professores de ensino básico é mesma, é a luta pela educação! A luta no estado de São Paulo e a luta no Brasil é a mesma, contra o governo e a burocracia! Sendo assim, a luta dos estudantes deve estar sempre aliada à luta da classe trabalhadora!


O papel da ANEL é fundamental na luta pela educação no país!
               
Em nossa reunião ficou claro, além de todos os pontos aqui já expostos, qual deve ser o papel de uma entidade nacional dos estudantes nesta luta, e ele parte de um movimento estudantil pró-trabalhadores! Ou seja, apoiar as mobilizações da classe trabalhadora, fortalecer essas mobilizações e aliar as lutas estudantis à luta dos trabalhadores é o único caminho que o movimento estudantil pode tomar para obter a vitória! Logo, a greve dos estudantes da UNESP deve estar aliada a greve dos professores do ensino básico do estado, assim como estas greves devem se aliar às greves da educação por todo o país! E para além, as lutas dos estudantes e dos professores pelo Brasil devem ser articuladas em conjunto, e por parte do movimento estudantil a única entidade com respaldo e independência suficientes para tal tarefa é a ANEL!  Só pela ANEL poderemos unificar as lutas pela educação pública no Brasil, só através dela poderemos nos alinhar às fileiras da classe trabalhadora que lutam contra os ataques da burguesia e do Estado pelo país, e apenas a ANEL poderá organizar o movimento estudantil nacionalmente numa entidade independente, democrática e verdadeiramente de luta!

Todo apoio às greves da educação pelo país!
Contra a precarização do ensino e do trabalho!
Pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades privadas!

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