Mais um ano começa na USP. Milharesde novos estudantes entram na universidade que é não somente a mais disputadano vestibular, mas também a mais mobilizada do país. É uma excelenteoportunidade para que cada novo estudante possa entender o porquê e descobrir arealidade que a mídia, o tucanato e a casta de burocratas que detém o poder nauniversidade nunca vão dizer. Coloca-se uma grande oportunidade para somarforças à difícil luta que há anos vem sendo travada na USP em defesa dauniversidade pública, levada a frente por estudantes, junto aos trabalhadores eum setor de professores que se enfrentam com a ditadura de Rodas. Coloca-se apossibilidade de ser parte da luta que segue aberta contra a polícia nauniversidade, que mostra como a universidade não é uma ilha, pois aqui tambémela cumpre o mesmo papel reacionário que cumpre no Pinheirinho, na chamada“Cracolândia” e em cada lugar onde há luta. Mais que isso, coloca-se apossibilidade de ser parte de um movimento de milhares de jovens que se coloca depé e mostra que, no Brasil que o lulismo tenta apresentar como o “país dofuturo” e do crescimento econômico, há uma juventude que não fica passiva vendoa roda da história girar no Egito, na Grécia, no Estado Espanhol, nos EUA, noChile, e também quer ser sujeito da transformação pela qual está passando omundo frente à crise capitalista.
A luta do ano passado na USP deixouconquistas muito importantes do ponto de vista do fortalecimento damobilização, - que tinha como eixo central a luta pelo Fora PM da USP e pelofim do convênio USP-PM - e que são uma grande base para seguir a luta neste anoe construir uma greve que seja capaz de conquistar as nossas demandas. Fizemosduas ocupações e construímos uma greve que, apesar de não terem sido fortes osuficiente para vencer, geraram um movimento de milhares e milhares deestudantes, que se organizaram num comando de greve com delegados eleitos nabase, que junto aos trabalhadores da USP e seu combativo sindicato, o Sintusp,e de um setor de professores e intelectuais, foram capazes de desgastar Rodas ea burocracia acadêmica, e de gerar um repúdio de massas na USP à PM, aoconvênio e a Rodas. Apesar disso, a reitoria seguiu avançando de maneiradecidida na repressão, inclusive nas férias, aproveitando o esvaziamento dauniversidade, e impôs derrotas táticas para o movimento com sua enorme ofensivarepressiva para tentar calar o movimento pela força. Somado a isso, a reitoriavem com uma política, apoiada no aumento conjuntural da economia que impactapositivamente no orçamento da universidade, de fazer concessões econômicas atrabalhadores e professores para levá-los à passividade frente aos ataques etentar impedir a unidade dos três setores contra a reitoria e o governo doestado. Mas há um importante setor que segue resistindo nas três categorias,com um apoio de massa dos estudantes, principalmente nas faculdades que têmmais tradição de luta, e de milhares de trabalhadores da USP que têm uma amplatradição de luta. Em síntese, a luta em defesa da universidade pública e contrao projeto privatista de universidade ocorre há anos, está em momentos decisivose teve no ano passado mais uma batalha muito importante.
Vejamos quais foram os principaisaspectos que envolveram essa luta que segue em curso e os desafios que nós, daJuventude às Ruas (composta por militantes da Liga Estratégia Revolucionária eindependentes), consideramos os mais importantes e para os quais chamamos atodos a enfrentar conjuntamente conosco como parte da luta por um movimentoestudantil massivo, anti-burocrático, aliado aos trabalhadores, que lute paraderrotar os ataques e passar à ofensiva na luta por uma universidade a serviçodos trabalhadores e do povo pobre, e, como diziam os estudantes do maiofrancês, passar “do questionamento da universidade de classes ao questionamentoda sociedade de classes”.
O que está em jogo na luta em curso na USP
Muito tem sedito acerca da truculência da PM no campus e, em torno disso, aparecempropostas de uma polícia mais humana ou de mudanças no convênio USP-PM. Noentanto, a função social da polícia não é proteger a população. Trata-se dobraço armado da classe dominante para garantir sua propriedade e seusinteresses. Na USP, esses interesses se demonstram pela via de um projetoprivatista de educação.
Oreitor-interventor Rodas, segundo colocado na eleição - ela mesma restrita aoantidemocrático Conselho Universitário (C.O.) - e nomeado arbitrariamente porJosé Serra, representando os projetos da burguesia na USP, veio para manter eaprofundar a privatização da educação e a precarização do trabalho. No ensino,a verba não é dividida sob o critério de uma universidade pública e que,portanto, deveria se voltar às necessidades da população, mas sob os interessesdas grandes empresas que entram na universidade através das fundações privadase das ligações que têm com a casta de professores titulares que compõe oConselho Universitário oligárquico. Aliado a isso, o filtro social dovestibular deixa de fora da universidade pública a maioria da juventude, oriundada classe trabalhadora, e consequentemente a juventude negra; e os poucos quepassam por essa etapa são repelidos da universidade pelas precárias condiçõesde permanência estudantil, falta de moradia ou auxílio para todos, levandomuitos a abandonar a faculdade. No entanto, não são apenas as condições deestudo que são afetadas. Por exemplo, em abril de 2011 estourou o conflito queescancarou a semi-escravidão existente na USP pela via do trabalhoterceirizado. Centenas de trabalhadoras de limpeza da empresa União entraram emgreve por seus salários e seus direitos atrasados, evidenciando a rotina deexploração, assédio moral, e por vezes sexual, nos corredores da universidadeque consta nos rankings das melhores do mundo.


A polícia,portanto, é uma ferramenta para manter a USP a serviço da elite. A reitoria daUSP já vinha em uma ofensiva de repressão com dezenas de processos contraestudantes e trabalhadores por se mobilizarem politicamente, em base a umdecreto da ditadura, de 1972, que ainda vigora na USP, que coloca comoinfrações passíveis de expulsão os ‘’atentados à moral e aos bons costumes’’ e‘’manifestações de cunho político e racial’’. Talvez a reitoria racista da USP,uma universidade da qual uma ínfima porcentagem dos estudantes é negra, considereo Núcleo de Consciência Negra como uma ‘’manifestação racial’’, e por isso osexpulsou do local onde funciona. Também é crime na USP lutar por moradia, eportanto por condições para se manter na universidade, como demonstra aexistência de processos e agora 12 novas prisões políticas e 6 expulsões deestudantes por militarem por permanência estudantil na Moradia Retomada. Nãobastasse, o SINTUSP, sindicato combativo e aliado histórico do movimentoestudantil, teve um de seus diretores, Brandão, demitido inconstitucionalmenteem 2008 e todo o restante da diretoria do sindicato é processada pela USP.
Em 2011 oestudante Felipe Ramos Paiva morreu assassinado no estacionamento da FEA,tragédia que foi usada de forma oportunista pela reitoria como pretexto paracolocar a PM ostensivamente dentro do campus. Numa universidade fechada aoconjunto da população, numa metrópole que concentra as contradições do “Brasilpotência” das enchentes, da miséria e do trabalho precário, a ideologia dasegurança aparece para legitimar a repressão e a PM, que estava na USP nomomento do crime e nada fez para evitar o assassinato. O que a presençaostensiva da polícia fez na USP não foi “proteger", foi abordar estudantespor ‘’olhar feio’’, caminhar pelos corredores abordando professores, estudantese trabalhadores, intimidar a entrada da população da favela São Remo queutiliza serviços oferecidos pela universidade. A prisão de 73 estudantes etrabalhadores que se colocaram em luta contra tantas arbitrariedades e por um projetodistinto de universidade se dá nesses marcos, assim como a prisão de outros 12que viviam na Moradia Retomada. A agressão do estudante negro Nicolas no espaçodo DCE durante as férias demonstra que, além de politicamente repressora, apolícia é racista. Com a presença da PM na USP não foi impedida uma criminosatentativa, também nas férias e logo após o sindicato se colocar na defesa deNicolas, de explosão do Sintusp abrindo o gás do fogão, na verdade,estranhamente provocada por alguém que não arrombou a porta e revirou uma salacom documentos do sindicato sem roubar nada – ao contrário, tudo aponta para aconclusão de que a própria polícia esteja envolvida no atentado.
A PM, pois, estáa serviço de um projeto e de uma classe. A ideologia da “segurança” existe paralegitimar a repressão estrutural à pobreza em um país de enorme desigualdade.Não existe segurança sob o regime de miséria do capitalismo, sem educação,moradia, emprego, saúde, que são as verdadeiras ameaças à vida da maioria dapopulação.
Uma luta queavançou na auto-organização que é necessário retomar e fortalecer paramassificar o movimento
A luta USP doano passado explodiu no dia 27 de outubro, a partir da truculência da PM com 3estudantes que estariam fumando maconha na FFLCH. Centenas de estudantes serebelaram, colocaram a PM para fora, organizaram uma assembleia e votaram aocupação da diretoria da FFLCH, contra a vontade do PSOL (DCE) e do PSTU. Apartir daí a luta só se intensificou. Em poucos dias, na FFLCH havia um apoio massivoe em amplos setores da USP. É então convocada uma assembleia geral com mais de1000 estudantes, na qual o PSOL e o PSTU querem acabar com a luta e com aocupação da FFLCH. Baseando-se em setores conservadores e burocratizando aassembleia, votam o fim da ocupação e, frente a centenas de estudantes quequeriam seguir a luta e votar a ocupação da reitoria, o PSOL e o PSTU implodema assembléia para impedir qualquer votação, com o claro interesse de seguir ocalendário das eleições estudantis. Os estudantes se rebelam, não aceitam,seguem a assembleia e votam a ocupação da reitoria. A universidade ficapolarizada, cursos votam apoio a ocupação, outros contra, o movimento se dividecom uma campanha do PSOL e do PSTU de difamação da ocupação – inclusive comdeclarações e notas públicas denunciando as organizações políticas que estavamna ocupação, entregando para a repressão e fornecendo citações para a imprensadeslegitimar a mobilização diante da opinião pública, facilitando a repressão.A reitoria, frente à divisão do movimento, invade a universidade com um enormeaparato militar e prende 73 lutadores que estavam no momento na ocupação. Masao contrário do que esperava a reitoria, o movimento se expande, e numaassembleia com milhares de estudantes é votada a greve e, por proposta daJuventude Às Ruas a construção de um comando de greve com delegados eleitos nabase, uma votação histórica no movimento estudantil do país, seguindo o exemplodo que há de mais avançado no movimento estudantil internacionalmente. Sãoeleitos mais de 120 delegados a partir das assembleias de base, sendo 1 paracada 20 estudantes em assembleia, mandatados democraticamente e revogáveis.Assim, os estudantes assumiram em suas mãos a greve de forma anti-burocrática,para que nada senão as suas posições devidamente representadas dirijam os rumosda greve, em detrimento ou de uma corrente política hegemônica que decide pelabase via entidades estudantis (como faz o PSOL, e o PSTU se adapta – verpolêmica de estratégias neste mesmo jornal) e de políticas vanguardistas quetendem a desconsiderar as posições dos estudantes nos cursos (MNN, PCO eautonomistas).

Dentro de um balanço, é necessárioidentificar os erros do movimento. Na nossa opinião, um deles é que a partir daassembléia que o PSOL e o PSTU implodiram, dividindo e enfraquecendo omovimento para impôr de modo burocrático sua posição, e que acabou por votar aocupação da reitoria - uma medida ofensiva contra inimigos mais fortes, com omovimento enfraquecido por responsabilidade do PSOL e PSTU, que polarizou todaa universidade, era fundamental uma política de se ligar organicamente a basedos cursos e não tratar a ocupação como um fim em si mesmo (como o MNN e o PCO,com o argumento de que gerava “instabilidade” sem se importar que o movimentohavia se dividido profundamente e perdido apoio de setores da base), levantandouma política de auto-organização desde antes e combatendo a política dedifamação do movimento por parte do PSOL e PSTU. Mas não bastava a denúncia,era necessária uma política de exigência de impulsionar novamente assembleiasem comum para definir os rumos da mobilização. Além disso, opinamos que após umasemana, em que a ocupação ganhou apoio em alguns cursos, mas não rompeu o cercona opinião pública, na última assembleia antes da invasão da PM, teria sidomais correto um recuo tático organizado, desocupando a reitoria e votando umaofensiva na base dos cursos para organizar a greve e um comando com delegados.Nós, da Juventude Às Ruas, que víamos que a ocupação não era um fim em simesmo, e lutamos pra que ela não se isolasse da base dos cursos, tambémsuperestimamos suas forças nesse momento, não defendendo a desocupação, queteria evitado a prisão de 73 companheirxs.
O desafio de impulsionar uma grande campanha contra a repressão ligada àdemocratização da universidade
Desde a prisão dos 73 estudantes nareitoria, dizíamos que era preciso colocar sua defesa em primeiro lugar, poisse esse ataque passasse, a reitoria estaria em melhores condições para punir osdemais processados, e o governo para reprimir os movimentos de moradia, porterra, e dos trabalhadores. Os acontecimentos desses meses, infelizmente,confirmaram o que prevíamos. Não tivemos apenas 73 presos políticos, tambémtemos 6 expulsos, 12 outros estudantes presos na luta por permanênciaestudantil, trabalhadores processados e ameaçados de demissão por semobilizarem e uma tentativa de atentado contra a sede do SINTUSP. Esses fatosescancaram qual é a política não apenas da reitoria da USP, mas do governo doestado, para os que lutam ou que atrapalham o andamento dos projetos a serviçoda burguesia. Contra isso devemos levantar uma ampla campanha democráticacontra a repressão, que deve retomar com todo peso a luta para colocar a PMpara fora da USP e pelo fim do convênio USP-PM, construindo uma ampla frenteúnica, superando todo tipo de sectarismo que há entre setores vanguardistascontra uma forte política para intelectuais, professores, etc, e também apolítica mesquinha do PSTU, e principalmente do PSOL, de não defender osperseguidos políticos (talvez porque não há nenhum deles?), pois é um problemade princípio a unificação de todos contra a repressão numa campanhaconsequente, pois está em jogo a defesa da universidade e dos lutadores. Nósseguiremos defendendo incondicionalmente qualquer lutador atacado apesar dasnossas diferenças políticas.

Essa luta se liga à defesa de umaverdadeira autonomia universitária. As classes dominantes não podem aceitar queexista um movimento estudantil que questione o papel da polícia nas favelas,que vote em suas assembleias gerais a efetivação dos terceirizados sem concursopublico com salários e direitos iguais aos efetivos, que apoie os métodosradicais de luta dos trabalhadores; não pode aceitar que exista um sindicatoque faça greves e piquetes em defesa de mais verbas para a educação, pelo fimdo vestibular para que o povo pobre possa entrar na universidade, contramedidas de cerceamento da atividade sindical e política na universidade e emdefesa dos trabalhadores terceirizados; sobretudo, não podem aceitar a aliançade um sindicato não corporativo e um movimento estudantil não elitista naprincipal universidade do país, o que seria um "péssimo exemplo" paraos trabalhadores e estudantes fora da universidade. É para impedir que essaaliança siga se desenvolvendo que a reitoria ataca a já frágil autonomiauniversitária. Mas não é só isso, a luta pela verdadeira autonomiauniversitária passa também pela ruptura da relação do ensino, pesquisa eextensão com os interesses dos capitalistas, para que se possa ter odesenvolvimento da ciência livre das amarras do capital e voltada para osinteresses da população, apontando no sentido da construção de uma universidadea serviço dos trabalhadores e do povo pobre, partindo da visão da universidadee da sociedade dividida em classes, ligando a luta contra a ditadura dentro daUSP, que tem Rodas e seu braço armado como inimigos mais visíveis, com a lutacontra a sociedade capitalista dos monopólios, que só gera sofrimento para asmassas de todo o mundo, como se expressa agora com a crise capitalista. Se noBrasil essa crise ainda não chegou, é apenas uma questão de tempo. Mesmo semela, já estamos vivendo a repressão aos que lutam, porque a burguesia está sepreparando; cabe a nós fazer o mesmo, nos organizando não somente no movimentoestudantil, mas construindo uma forte juventude revolucionária; é para essaperspectiva na USP e fora dela que te chamamos a conhecer e a construir aJuventude às Ruas, uma juventude composta por estudantes e trabalhadores queatua dentro e fora das universidades, em São Paulo, no Rio de Janeiro e emMinas Gerais. Nas universidades, estamos principalmente na USP, Unesp (Marília,Franca e Rio Claro), Unicamp, Fundação Santo André, PUC-SP, UFRJ e UFMG. Entreem contato e se quiser difunda este jornal.
As diferentes estratégias na luta dos estudantes da USP
Como se sabe, omovimento estudantil não é um todo homogêneo. Na USP, há não somente uma sériede correntes políticas que têm distintas concepções de movimento estudantil ede como deve se dar cada luta, o que está ligado às concepções mais de fundo decada organização, mas também uma série de estudantes independentes que, emparte concordam com as posições das correntes políticas, e em parte tem outrasposições, alguns inclusive definindo-se como autonomistas. O debate políticoentre as posições é algo normal no movimento e, ao contrário do que muitasvezes se diz, são essenciais para fazer o movimento avançar, desde que adefinição sobre os rumos do movimento esteja sempre nas mãos dos estudantes quedemocraticamente devem votar os passos a seguir.
A mídia tentousimplificar as posições da USP fazendo uma divisão entre “radicais” e“moderados”, que era não somente uma tentativa de isolar o movimento estudantilcombativo, mas também não expressa as três estratégias fundamentalmente queestavam em disputa na luta da USP, além de que há uma ampla camada deindependentes que não se alinha organicamente com nenhuma delas. Vejamos quaissão estas três estratégias.
O que há de realna divisão entre o que a imprensa chamava de “radicais” e “moderados”?

E os que a mídia chamou de “radicais” ou “ultras”?
Chamar dessa forma era parte dapolítica de isolar o movimento estudantil combativo que estava encabeçando aluta. Dentro desse bloco, colocavam desde a Juventude às Ruas e a LER-QI,passando pelo Movimento Negação da Negação, o PCO e um amplo setor deindependentes, incluindo setores que se definem como autonomistas. Mas dentrodeste bloco houve antes, durante e depois do conflito, duas estratégias para aluta e duas concepções de movimento estudantil. Por um lado, estão o MNN, o PCOe um setor autonomista que são a negação mecânica e infantil de parte dospiores problemas do PSOL (e do PSTU). Contra a passividade, defendem a ofensivapermanente, independentemente da correlação de forças ou se há apoio para elasou não, dos estudantes que se envolvem nas “ações exemplares”, fazem um feticheda radicalização nos métodos separado da política, ou seja, um “radicalismo”que tem “perna curta” porque é impossível arrancar conquistas efetivas equalitativas sem um movimento massivo e ligado organicamente à base dosestudantes. Podem até conseguir satisfazer os anseios de alguns estudantescombativos que querem lutar seriamente, mas a negação da política demassificação, da necessidade de saber atuar em frente única com outros setoresnas questões em que houver acordo (mantendo a liberdade de crítica para todosos que atuam em comum) e de um programa profundo de democratização dauniversidade, levará essa vanguarda a se descolar cada vez mais da baseestudantil e as derrotas táticas repressivas que já vieram se implementando vãose aprofundar, avançando o projeto elitista de universidade e impedindo queconquistemos nossas demandas.
Entre os setores vanguardistas, sedestaca a posição do MNN sobre a universidade e seu programa. Essa corrente nãoassume a posição adaptada do PSOL e do PSTU, defendendo mais guarda esegurança. Por outro lado, se coloca contra as demandas de democratização doacesso e do poder, como o fim do vestibular, a permanência estudantil, aassembleia estatuinte. Isso porque não se trataria de defender a universidadepública, nem lutar pra que esteja a serviço dos trabalhadores, mas simdestruí-la a favor do que eles chamam de “território livre”. Essa fraseologiaveste, na verdade, um programa abstrato, que não arma a mobilização paragolpear a universidade elitista e racista hoje existente e abrir espaço paraque os trabalhadores possam ter acesso a ela, para que os que entram possamnela permanecer com permanência estudantil e para que o conhecimento nelaproduzido esteja a serviço da sociedade. Tudo isso para eles seria reformismo:o correto seria destruir tudo e erguer o “território livre”. Para nós se tratade uma adaptação (pela esquerda) ao elitismo da universidade.
Nós da Juventude às Ruas não somos “radicais” nem “ultras”, somosrevolucionários que lutamos por um movimento massivo, anti-burocrático ecombativo com uma estratégia para vencer
Durante o processo de luta, nossacorrente, composta por militantes da LER-QI e independentes, era identificadapela mídia como parte do bloco dos “radicais”, mas na verdade não somentetivemos uma política diferente das outras correntes, com as quais soubemosfazer frente única para fazer o movimento avançar, como ocorreu, mas temosconcepções de fundo bastante diferentes que constituem uma estratégia distintapara a mobilização e para a universidade, como queremos aprofundar em maisalguns elementos de balanço e de perspectivas para além dos que já colocamos.
O PSOL, o PSTU e o PCO sempre secolocaram contra a auto-organização, ou seja, contra os comandos de greve comdelegados eleitos na base, que sempre defendemos como corrente. O PSTU serelocalizou para não se opor ao movimento anti-burocrático. O MNN não fala daauto-organização, salvo em momentos ultra pontuais, mas nunca foi consequentena sua defesa, esteve contra a auto-organização em anos anteriores, e tampoucotem uma visão verdadeiramente democrática, como se expressou na política queteve para o comando de greve nas férias. Para retomar a luta e a greve nesseinício de ano, era importante que a calourada fosse organizada pelos delegadosem luta e pelos CAs, tal como foi feito, defendido por nós, e está correto. Noentanto, nesse período a greve não se manteve, pois as disciplinas seencerraram. O erro que cometemos ao votar a continuidade da “greve” num períodosem aulas – e portanto sem as assembleias – está em que um comando democráticodepende do controle constante das assembleias (que podem revogar delegados quenão estejam representando adequadamente os estudantes de seus cursos). Isso nãoteve piores consequências – até agora – porque com luta política dentro docomando, foi possível evitar com que se tomasse grandes medidas por fora de seumandato (organizar a calourada). Ainda assim, um setor restrito, em particularo MNN, impôs pela via de comissões organizativas sua política à calourada emnome do comando. O caso mais grave é que a festa-protesto da calourada, umamedida de luta, seja garantida contratando trabalho terceirizado para limpeza,como defendeu o MNN; a segurança também será privada, contra tudo o quesignificou o avanço da luta contra a terceirização uma USP e toda tradição demovimento independente, que já fez enormes festivais sem polícia, nem segurançaprivada, velha conhecida nossa da USP, controlada por policiais – foi o quedefenderam juntos o PSOL, PSTU e MNN, o que não surpreende, já que estãoestrategicamente juntos no apoio às greves da PM por “melhores condições detrabalho”; a questão, também aqui, é a completa ausência da independência declasse. Devemos reverter o erro e seguir com o comando de greve submetido àsassembleias e aos cursos, ampliando a participação com a eleição de novosdelegados que representem verdadeiramente os estudantes.

Declaração de Marcelo Pablitoe Diana Assunção

1 comentários:
Esses constantes "meu colega fez errado" cheio de nome aos bois me incomoda. Estarei na calourada, sou ex aluno, concordo com a greve e acredito que a derrota do Rodas deve ser o objetivo principal de qualquer pensamento minimamente de esquerda na USP. Mas o proselitismo de grupo das esquerdas da USP é intolerável para a verdadeira massificação e democratização do movimento. Mesmo que os colegas responsáveis pelo texto se sintam realmente traídos pelo PSTU, PSOL e em menor escala pela MNN - movimentos todos dos quais eu sempre discordei também - acredito que a tal da "União Estudantil" só vai acontecer quando superarmos essa disputa de grupos de "quem é a verdadeira esquerda". Como a Juventude Às Ruas quer construir uma greve universitária se, ao invés de convidar os militantes de outros grupos à reflexão sobre as discordâncias e sua superação, ao menos temporária, em prol do objetivo comum mais do que justificado perante a todos os militantes. Esse tipo de texto "compra briga" pode afastar estudantes do movimento, no momento em que nosso discurso deveria ser mais aberto e cativante, especialmente para a apropriação pelos calouros dos desafios da greve. O que pergunto é: o PSTU e o PSOL deixaram claro que seus objetivos micropolíticos partidários estavam acima da clara e óbvia necessidade principal da militância na USP. Ao tomar a postura de enfrentamento, ao invés de "crítica construtiva"e conciliação, justamente nesse momento, a Juventude Às Ruas não parece estar fazendo diferente.
Dedico essas palavras e o tempo que dediquei a formulá-las com carinho, e não como represália.
Essa luta é importante demais para ser travada internamente.
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