Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Surrealismo e trotskismo: os caminhos cruzados antes do Manifesto da FIARI (1938)

por Thyago Villela






Somos especialistas da Revolta. Não há um meio de ação que não sejamos capazes de empregar, se necessário...
O surrealismo não é uma forma poética.
É um brado do espírito que se volta para si mesmo e está nitidamente decidido a romper desesperadamente seus entraves.
E se necessário com martelos materiais.

(Declaração surrealista de 27 de janeiro de 1925)
A análise do movimento surrealista, se encarada mediante uma perspectiva retrospectiva superficial, pode desembocar facilmente na simples conclusão de que o devir natural do grupo, e sua realização última enquanto tal, repousa em sua articulação ao materialismo dialético – este enquanto guia de ação capaz de abarcar e enriquecer todas as aspirações dos poetas e artistas plásticos surrealistas de então. O Manifesto da FIARI (escrito por Leon Trotsky e André Breton em 1938, na cidade de Coyocán, México) é utilizado largamente para exemplificar os laços firmados entre ambos, muitas vezes no sentido de simplesmente enaltecer os surrealistas pela adesão ao léxico e à prática revolucionária (e muitos destes enaltecedores tampouco conhecem o surrealismo como prática artística), e raras vezes no sentido de enaltecer uma síntese da série de contradições que se abriram na esquerda artística e política do começo do século XX. A esta primeira leitura mistificadora e de caráter teleológico, que faz da história do grupo surrealista uma límpida história linear e sem tensões, proporemos uma breve abordagem do movimento que procura, ao contrário, apreender as contradições intestinas ao mesmo, bem como reconstruir os momentos de aproximação e distanciamento deste da esquerda organizada e, por fim, no que cabe aos desígnios deste artigo, do trotskismo. A questão chave aqui é apontar qual a relação que o surrealismo manteve com o trotskismo antes do tão citado Manifesto do México.
Em um primeiro momento, cabe pontuar que o surrealismo, enquanto desenvolvimento de uma ruptura no interior do movimento Dadá provocada por discordâncias quanto à filosofia e prática meramente destrutiva dos últimos, segundo os dissidentes1, não se desenrola para o campo da prática política imediata, ou para um ideário de “politização da estética”, como proporia posteriormente Walter Benjamin; mas, antes, para a radicalização de procedimentos artísticos já iniciados no dadaísmo, incorporação e criação de novas estratégias criativas e alargamento da crítica Dadá até uma positivação da mesma, ou seja, até um rompimento com seu imaginário niilista em prol de uma prática vital que combatesse o homem do pós-guerra e suas misérias e, centralmente, o campo moral da classe burguesa em sua racionalização mercantil. Se o dadaísmo não fora senão “uma maneira de sentar-se”, como escreveu André Breton em 1923, é possível que o mesmo poeta analisasse o “período heróico do surrealismo” (entre os anos 1923-1925), conforme denominado por Maurice Nadeau, como expressão da mesma postura de relaxamento, em seu sentido estritamente político.2
É fato que a Revolução Russa, ainda não degenerada, não fora objeto de exaltação por parte do grupo. Ao contrário: entendida enquanto uma mera transposição de poderes, cuja única tônica repousava no aspecto econômico, não merecia destaque para os mesmos, que almejavam uma Revolução completa, do espírito humano, que passaria a incorporar o aspecto inconsciente da vida, a supra-realidade. Lê-se, por exemplo, em La Revolutión Surrealiste no. 4:

Não existe revolução total, há unicamente a Revolução perpétua, vida verdadeira, como o amor, deslumbrante a todo momento. Não existe ordem revolucionária, há apenas desordem e loucura. A guerra da liberdade deve ser conduzida com cólera e conduzida sem cessar por todos que não aceitam...
(Apud NADEAU, 1985, p. 76)

A idéia sobre uma Revolução social, desta maneira, passava por matizes idealistas, no sentido de que adquiria o aspecto de uma revolta sem consciência, um valor transcendente, sem alcance, perpétua em seu sentido longínquo, inalcançável.3 A “criação de um mito coletivo”, idéia cara ao grupo, era entendida enquanto desvinculada e às vezes antagônica com a proposição de uma insurreição armada acaudilhada pelo proletariado para a tomada de poder das mãos da burguesia. Os intensos debates promovidos pelos surrealistas na época, tais quais se o surrealismo consistiria em si uma revolução ou não, foram acelerados pelos rumos da situação internacional, de maior dinamização da luta de classes. A Guerra do Marrocos assume importância central no giro do movimento às questões mais propriamente políticas, a partir de uma aproximação e colaboração do grupo com a revista Clarté e seus editores.4
É deste período uma proclamação inteiramente nova aos surrealistas, que marca a passagem de uma concepção mais abstrata do sentido de uma Revolução para a de uma subversão do modo de vida fincada em bases materiais: “Não somos utopistas: esta Revolução não a concebemos senão sob sua forma social.” (NADEAU, 1985, p. 83).5 Não se trata mais de uma “revolução do espírito” sem mudar “o que quer que seja na ordem física e aparente das coisas” (Idem, ibidem). É significativo que no mesmo período André Breton tenha lido Lenin, escrito por Trotsky, o que se faz notar neste trecho, por exemplo, do Manifesto lançado pelo grupo em 1925, A Revolução primeiramente e sempre:

Há mais de um século a dignidade humana é rebaixada à categoria de valor de troca. Já é injusto, é monstruoso mesmo, que quem nada possui seja escravizado por quem possui, mas quando essa opressão ultrapassa o quadro de um simples salário a pagar e toma, por exemplo, a forma de uma escravidão que as altas finanças internacionais fazem incidir sobre os povos, é uma iniqüidade que nenhum massacre poderá expiar.
(Apud NADEAU, 1985, p. 83)

A passagem da Revolução de valor transcendente até a adesão dos surrealistas ao princípio do materialismo dialético marca o “período raciocinante” do grupo, conforme nomeado pelo próprio Breton. Interessa notar que, enquanto a maior parcela da intelectualidade francesa aderiu à consigna de “defesa da pátria” mediante a Guerra do Marrocos, os surrealistas se alinharam prontamente em favor dos insurgentes marroquinos, aproximando-se deste modo do Partido Comunista Francês e de seus intelectuais. A filiação do grupo ao PCF dá-se paulatinamente, e até 1927, quase todos os seus membros remanescentes já eram militantes. No mesmo ano, entretanto, em função da crescente stalinização das fileiras do Partido, boa parte dos surrealistas rompe com seu aparato burocrático.6


A expressão mais significativa e mais citada deste desenvolvimento do ideário surrealista, feito mediante uma série de conflitos internos e distanciamentos e aproximações de outros artistas do grupo inicial, é o Segundo Manifesto do Surrealismo, que data de 1929. Neste, Breton declara abertamente a adesão do grupo ao materialismo dialético, bem como empreende críticas ao PCF.7 Cabe comentar também que é neste manifesto que pela primeira vez surge no interior do grupo a definição de arte enquanto processo de sublimação, definição esta que reaparecerá no Manifesto da FIARI, de 1938, redigido com Trotsky. Um elemento seu pouco comentado, no entanto, diz respeito à qualidade desta adesão ao materialismo. Escreveu Breton:

Como admitir que o método dialético só possa aplicar-se validamente à solução de problemas sociais? A ambição maior do surrealismo é fornecer-lhe possibilidades de aplicação de modo algum concorrentes no domínio consciente mais imediato. Em que pese a certos revolucionários de espírito acanhado, não compreendo por que nos absteríamos de colocar, desde que o abordássemos do mesmo ponto de vista do qual eles – e também nós – o fazem, que é o da Revolução, os problemas do amor, do sonho, da loucura, da arte e da religião.
(BRETON, 2001, p. 169)
O caráter afirmativo do grupo se manifesta, ao que nos parece, de modo a subordinar o materialismo dialético à Revolução Surrealista desejada, e não o contrário. A Revolução Comunista, desta maneira, e a luta por sua realização, vem como ampliação do ideário surrealista, e não enquanto propósito maior ao qual o surrealismo comporia. Retomando-se a idéia de “resolução dos problemas fundamentais do homem”, presente no Primeiro Manifesto (de 1924), os surrealistas aderem ao marxismo com o intuito de, primeiramente resolver os fundamentos materiais da existência, para assim abrirem caminho para a verdadeira revolução do espírito em sua totalidade. Eis uma das chaves para a compreensão da defesa incessante que farão acerca da necessária autonomia de suas atividades artísticas, cada vez mais cerceadas pela burocracia que se cristalizava no PCF:

(...) existe também a experiência surrealista. Ela já deu resultados e em nada se opõe à Revolução. Segundo Breton, até ultrapassa por sua amplitude a estreita especialização do econômico e do social e não seria pequeno o risco se se confundisse com ela, se se limitasse a ela. Aqueles que quisessem considerá-la como um simples anexo da ação revolucionária se enganariam, e Breton previne seus amigos políticos a não esperarem de sua parte nem desaprovação dessa ação, nem renúncia. É útil, é necessário que a experiência surrealista prossiga seu caminho.
(NADEAU, 1985, p. 87)



Em confluência com o desenvolvimento das idéias do grupo, acerca da autonomia artística frente aos partidos, percebe-se um notório paralelismo nas elaborações de Leon Trotsky sobre o tema, contraposto, neste arcabouço teórico, às teorias sobre a cultura proletária e a arte proletária, embriões da futura política soviética de coerção à produção artística e eliminação física dos artistas.8 Ao abuso cometido nestas linhas, com a imediata e mecânica associação entre o campo da economia e da cultura, e uma mesma política estatal e partidária que deveria se guiar igualmente nos dois sentidos, Leon Trotsky oporá a mais ampla liberdade à criação artística: se reivindica, por um lado, a economia planificada, reivindica a anarquia criativa e intelectual. O revolucionário, que desde 1923, ironizava e criticava a pobreza das teorizações sobre a cultura proletária, no sentido da impossibilidade histórica da mesma e da contradição que mantinha com a teoria marxista9, se colocará até sua morte, em 1940, contra a política cultural desenvolvida no interior da Rússia e assumida pelos demais Partidos Comunistas a partir da Internacional Comunista. Escreverá em 1923:
No fim da guerra civil, quando abordávamos uma nova fase da nossa atividade, a tentativa de criar uma “doutrina militar proletária” foi a expressão mais clara e mais gritante da incompreensão das tarefas da nova época. Os orgulhosos projetos que visam criar uma “cultura proletária” em laboratório partem da mesma incompreensão. Em meio à busca pela pedra filosofal, o nosso desespero perante nosso atraso une-se a uma crença no milagre, que é ela própria um sinal desse atraso. Mas não temos nenhuma razão para nos desesperar; é mais do que tempo de nos libertarmos dessa crença em milagres, dessas práticas pueris de curandeiros, do gênero da “cultura proletária” ou da doutrina militar proletária. Para fortalecer a ditadura do proletariado é preciso desenvolver um militantismo cultural cotidiano, o único que pode garantir um conteúdo socialista para as conquistas fundamentais da revolução. Quem não compreendeu isso, representa um papel reacionário na evolução do pensamento e do trabalho do partido.
(TROTSKY, 2009)10
Na mesma trilha, publicará no ano seguinte Literatura e Revolução, obra lapidar no combate à coerção da produção artística e a mencionada tentativa de se “criar em laboratório” uma nova cultura de classe:

Isso quer dizer que o Partido, contradizendo seus princípios, adota uma posição eclética nos domínios da arte? O argumento que parece fulminante é meramente infantil. O marxismo oferece diversas possibilidades: avalia o desenvolvimento da nova arte, acompanha todas as suas mudanças e variações por meio da crítica, encoraja as correntes progressistas, porém não faz mais que isso. A arte deve abrir por si mesma seu próprio caminho. Os métodos do marxismo não são os mesmos da arte. (...) A arte não é um domínio que se chame o Partido a comandar.
(TROTSKY, 2007, p. 173 - grifos nossos)

Embora Literatura e Revolução só tenha sido publicado na França em 1964 (pela tradução do também primeiro historiador do surrealismo: Maurice Nadeau), a série de debates travados no período pela intelectualidade francesa indica que suas teses centrais, se não lidas, já haviam sido apreendidas e incorporadas nas discussões (GOUJON, 1994). O alinhamento entre o grupo e as idéias de Trotsky, entretanto, não se dá apenas no que toca mais diretamente o campo da arte. O próprio estreitamento dos surrealistas à Clarté dá-se mediante a reivindicação, em primeiro lugar, dos nomes de Vladimir Lenin e de Trotsky, enquanto seu continuador revolucionário. Em 11 de março de 1929, por exemplo, Breton chama uma reunião do grupo com o intuito de discutir e examinar criticamente a “sorte dada recentemente a Leão Trotski” (NADEAU, 1985, p. 115), referindo-se à expulsão do revolucionário da Rússia pela burocracia soviética, ou ainda, a título de outro exemplo, a já mencionada leitura apaixonada de Breton sobre o livro Lenin, sobre o qual comentará, em 1925:

No plano moral onde resolvemos nos colocar, está claro que um homem como Lenin é absolutamente inatacável. E à objeção de que, conforme este livro, Lênin é um tipo e os ‘tipos não são homens’, pergunto: Qual destes novos bárbaros sofistas terá a ousadia de sustentar que há algo a reprovar nas apreciações gerais emitidas ocasionalmente por Trotski sobre os outros e sobre ele mesmo?
(Apud FACIOLI, 1985, p. 76)

Poderíamos citar ainda o manifesto Planeta sem Passaporte, de 1934, no qual o grupo coloca-se novamente em defesa do dirigente do exército vermelho e contrário à negativa de permissão de asilo político da França ao mesmo; ou ainda o conhecido Manifesto da FIARI, escrito no México em 1938 por Breton e Trotsky – expressão mais bem acabada dos esforços de ambos os revolucionários no campo de uma elaboração programática referente às artes (“toda a licença em arte”).
Importa notar, por fim, que, mesmo durante o período de ingresso do grupo no PCF, os surrealistas sempre foram marginalizados no interior do partido em função de suas atividades artísticas, entendidos enquanto grupo de matriz pequeno-burguesa, sem disciplina revolucionária, etc. Os surrealistas parecem se preparar a todo o momento para um ataque dos demais militantes e da comissão editorial da Clarté, de onde resulta a série de cartas, tomadas de posição e intimações que formam a brochura Au Grand Jour, de 1927:

Por que, perguntam a Marcel Fourrier, somos utilizados apenas para uma “tarefa literária”? É dessa maneira que compreendeis a especialização? Será que servimos somente para amenizar as áridas páginas políticas de Clarté? Por outro lado, por que vos mostrais tão tímido a tomar a nossa defesa? Se até nós temos de ser defendidos contra a estreiteza de espírito de militantes que não apreciam a mensagem de libertação humana que Sade e Lautréamount lhes transmitiram, por que não nos defendeis aberta e responsavelmente, e com conhecimento de causa, já que de maneira nenhuma vos somos desconhecidos?
(Apud NADEAU, 1985, P. 97)


A linha política do PCF no período, ainda que não orientada tal qual depois de 1934, para a perseguição dos artistas de vanguarda que não tivessem aderido à estética estatal do realismo-socialista, já poderia conter elementos de perseguição neste sentido, informação da qual se carece de fontes.
A série de tensões, entretanto, que permearam o desenvolvimento do movimento surrealista em contato íntimo com a intelligentsia comunista francesa já nos remete a uma perseguição, ainda que informal, dos quadros do partido a estes artistas, como colocado acima. O trotskismo, neste sentido, oferecia uma possibilidade alternativa, ao menos teoricamente – na medida em que muitos dos quadros e dirigentes trotskistas (incluso o ex-surrealista Pierre Naville11) perseguirão artistas – com relação à articulação arte e política. A revisão historiográfica crítica sobre tais processos é tarefa premente para os revolucionários, no sentido de “escovar a contrapelo” a relação mantida entre o trotskismo e as vanguardas artísticas, bem como o debruçar sobre as elaborações de Leon Trotsky sobre o tema, e da necessária independência artística para a revolução, não apenas tática, mas estrategicamente.





Referências
ARTAUD, Antonin. Linguagem e vida. São Paulo: Perspectiva, 2004.
BRETON, André. Manifestos do surrealismo.Rio de Janeiro: Nau, 2001.
FACIOLI, Valentim (Org.). Breton-Trotsky: Por uma arte revolucionária independente. São Paulo: Paz e Terra; Cemap, 1985. 218 p.
COGGIOLA, Osvaldo (Org.). Trotsky hoje. São Paulo: Ensaio, 1994. p. 203-216.
GOUJON, Gerard. Trotsky e a “literatura proletária” na França. In: COGGIOLA, Osvaldo (Org.). Trotsky hoje. São Paulo: Ensaio, 1994. p.193-202.
KLINGSOHR-LEROY, Cathrin. Uma nova declaração dos direitos do homem. In: Surrealismo. Singapura: Taschen, 2007.
LOWY, Michael. Estrela da manhã: surrealismo e marxismo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
NADEAU, Maurice. História do surrealismo. São Paulo : Perspectiva, 1985. 
TROTSKY, Leon. Literatura e revolução. Rio de Janeiro : Zahar, 2007. 
______________. Questões do modo de vida / A moral deles e a nossa. São Paulo: Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2009.
______________. Textos sobre arte, cultura y literatura. Córdoba: Jorge Sarmiento, 2008.


Notas:

1 André Breton, Louis Aragon, Paul Eluárd e Benjamin Péret, em 1922.
2 Ressalta-se que a afirmação realizada não implica em um desmerecimento da obra artística dos surrealistas no mesmo período. Neste, as empreitadas estéticas dos mesmos, centradas na narração dos sonhos, na escrita automática e na destruição da forma romance, bem como intervenções em espaços públicos, expressam seguramente uma grande riqueza de conteúdo. Não se pretende, nesta análise, um debruçar-se sobre as obras, mas, antes, sobre a atuação e posição política do grupo.
3 Exemplo notório desta concepção de mundo que permeava o grupo encontra-se na carta de Antonin Artaud de 8 de janeiro de 1927, que se refere a sua expulsão do grupo surrealista: “Para mim há muitas maneiras de se entender a Revolução e dentre estas maneiras a Comunista me parece de longe a pior, a mais reduzida. Uma revolução de preguiçosos. Não me importa absolutamente, eu o proclamo bem alto, que o poder passe das mãos da burguesia para as do proletariado. Para mim a Revolução não está aí. Ela não está em uma simples transmissão de poderes. (...) Por ora, direi que a Revolução mais urgente a realizar está em uma espécie de regressão no tempo. Que nós voltemos à mentalidade ou simplesmente aos hábitos de vida da Idade Média (...), e julgarei então que nós teremos efetuado a única revolução de que vale a pena que se fale.” (ARTAUD, 2004, p. 39).
4 Periódico que orbitava em torno do Partido Comunista Francês, que assumirá posteriormente tendências oposicionistas.
5 Importa pontuar que nos referimos, neste texto, à ala majoritária dos surrealistas, e daí as generalizações. LOWY (2002) refere-se a três frações consolidadas no seio do movimento surrealista entre os anos de 1925 e 1926: uma primeira, que se assentava predominantemente no aspecto mágico e inconsciente do surrealismo, a ponto mesmo de expressar um niilismo frente ao aspecto político que o movimento começara a esboçar, da qual participava, entre outros, Antonin Artaud e Philipe Soupault (o qual deixará esta fração e se tornará mais politizado); a segunda – que se fundamentava predominantemente em um marxismo de ranço determinista e mecanicista, chegando mesmo a censurar o aspecto amplamente subjetivo preconizado pelo grupo, representado principalmente por Pierre Naville; e o terceiro, que abrangia a maior parte dos surrealistas, que procurava unir o campo objetivo ao subjetivo, afirmando a irmandade existente entre poesia e revolução, como André Breton e Benjamin Péret. As frações não foram, obviamente, estáticas, mas muito dinâmicas, de onde pode provir uma certa confusão em caracterizar tal ou qual artista surrealista, ou de fixá-lo em uma fração até o final de sua vida.
6 Rompe primeiramente com o PCF a ala “dirigente” dos surrealistas então, da qual fazia parte André Breton, Yves Tanguy, René Crevel, Paul Eluárd, Pierre Yoyotte e Pierre Naville, dentre outros. O rompimento em definitivo de quase todo o grupo se dará em junho de 1935, após o Congresso dos escritores em defesa da cultura (FACIOLI, 1985, p.15).

7 “Como não nos preocuparmos terrivelmente com tamanho rebaixamento do nível ideológico de um partido que, não faz muito tempo, saíra tão brilhantemente armado de duas das melhores cabeças do século XIX?!”(BRETON, 2001, p. 172)
8 Alexander Bogdhanov e Nicolai Bukhárin se lançarão à frente do debate com a elaboração dos conceitos de cultura proletária e arte proletária, do primeiro derivado, ambos fundamentados em um raciocínio mecânico de contraposição à cultura burguesa, fundamentados na filosofia empiriomonista de Bogdhanov. Deste modo, o caráter de classe da produção artística caracterizada como burguesa (o que passava, imediatamente, pelas experiências vanguardistas do período) seria contraposto pelo caráter coletivista e propagandístico de uma arte proletária, elaborada por operários e camponeses, que fosse capaz de dar conta de um elogio à classe e da captação de seu espírito revolucionário. Contraditoriamente, a forma pela qual se daria este renovação estética seria, em sua maior parte, pelo resgate formal do realismo e do neo-classicismo do século XIX, ainda que negasse fundamentalmente seus autores, como Balzac e Flaubert, enquanto meros burgueses. Assim, estaria garantida a participação ativa do povo na vida cultural e a negação de todos os “influxos reacionários”, “formalistas”, neste campo.
Francisco Posada atenta para a identidade muitas vezes presente nas teorias estéticas marxistas entre o conservadorismo e uma teoria global da decadência burguesa, pontuando o caráter mecânico que muitas vezes assumem estas ponderações ( nas quais decadência burguesa geraria imediatamente arte decadente). Cf. POSADA, 1970..
Conforme colocou Victor Serge, em 1925: “a tarefa do proletariado na escala da história não tem sido a de criar uma sociedade do proletariado, mas uma sociedade sem classes, na qual a cultura será, não qualificativa e restritiva, mas uma ocupação de todos, de toda a humanidade (Apud GOUJON, 1994, p.196). Importa assinalar, igualmente, que nas elaborações de Marx e Engels sobre o campo cultural está presente o descompasso de tempos entre a política, a economia e a cultura. Desta forma, um autor reacionário politicamente poderia produzir obras revolucionárias objetivamente (como Balzac), bem como uma época histórica de refluxo ou decadência econômica poderiam ser a base para obras artísticas de elevada qualidade (como a Grécia antiga, em seu declínio). Cf. MARX,K;ENGELS,F. __________
10 Em 1929, voltando ao Segundo Manifesto do Surrealismo, André Breton, a par das elaborações trotskianas escreverá, em tom similar: “ (...) tão falso quanto qualquer tentativa de explicação social, excetuada a de Marx, é, para mim, qualquer ensaio de defesa e ilustração de uma literatura e uma arte dita “proletárias”, numa época em que ninguém pode invocar a cultura proletária, pela simples razão de que esta cultura não existe nem mesmo em regime proletário”. (BRETON, 2001, p.187)
11 No conhecido caso em que Naville barra o ingresso do surrealista Benjamin Péret à Liga Comunista Francesa (trotskista) em função de suas atividades artísticas.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A realidade nos exige ser uma juventude revolucionária, combativa e classista


2° Plenária da Juventude às Ruas com ativistas da greve da USP 


Por Iuri Tonello e Ana Carolina Oliveira

Essa é a tarefa que ficou marcada para os mais de 100 estudantes que estiveram presentes na plenária impulsionada pela Juventude Às Ruas com os ativistas da greve da USP, no último domingo, 04/12. Nela estiveram presentes estudantes de São Paulo, da Unesp (Marília, Rio Claro e Franca), Campinas, PUC e USP; do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.


A partir das discussões e reflexões que se abriram com o conflito de importância nacional que teve na USP, em que os estudantes travaram uma forte e importante campanha pela retirada da PM do campus e pela defesa dos 73 presos políticos no conflito, discutiu-se as lições e perspectivas de como avançar na conformação e consolidação de uma juventude revolucionária que começa a se constituir a partir dos processos reais da luta de classes em que viemos intervindo, buscando atuar dentro das universidades e colégios e se ligar as principais greves, como no último período buscamos fazer apoiando os trabalhadores dos Correios, Bancários, Unicamp etc.



Da USP ao Chile: as intervenções de abertura da plenária!




Nesse sentido, a plenária expressou desde suas intervenções iniciais a experiência da USP a luz da discussão sobre as lições da intervenção nesse processo: Gui, estudante independente da USP, partiu de detalhar os processos que ocorreram durante o conflito no último período, colocando a importância da auto-organização a partir do comando de greve com delegados revogáveis tirados nas assembleias de curso, que tem levado a uma experiência concreta de organização do movimento pela base, ressaltando ainda os entraves que tanto PSOL como PSTU estão colocando em relação a esta política de auto-organização; Caio, estudante independente da USP, relacionou a questão dos conflitos contra a entrada da PM no campus à discussão nacional, em que a polícia atua como agente da repressão estrutural num país dito “Brasil potência”, mas montado na precarização do trabalho e na pobreza urbana. Assim, partiu-se de questionar a polícia no campus para o questionamento do papel da repressão no país inteiro, sendo a mesma polícia que está reprimindo e assassinando a juventude, militarizando a pobreza com ocupações e intervenções militares nos, morros, favelas e periferias. Ainda tivemos a intervenção de Aline, que a partir da discussão da USP, colocou a experiência que tiveram na construção da Chapa Cícera, que leva o nome de uma moradora da favela São Remo, negra e pobre assassinada pela polícia e em sua memória a importância de se construir entidades militantes, que se coloquem na perspectiva de ser a voz das milhares de Cíceras dentro e fora das universidades.


Na abertura, contamos com a presença também para compor a mesa da companheira Bárbara Brito, militante do Partido de los Trabajadores Revolucionários (PTR -organização irmã da LER-QI no Chile). A intervenção de Bárbara se pautou diretamente no debate a partir da rica experiência do movimento estudantil chileno, no qual centenas de milhares de estudantes saíram às ruas para lutar por educação gratuita para todos. A partir da luta chilena, Barbara frisou importantes lições: a primeira é de que a discussão e o combate pela auto-organização foi uma experiência importante para estudantes chilenos (que chegaram a ocupar mais de 600 colégios durante o conflito), podendo tirar lições e fazer experiências concretas de auto-gestão, como o Colégio A-90[1]; Bárbara Brito também relacionou essa questão com a necessidade de se combater a burocracia estudantil (que impede a auto-organização dos estudantes e a expressão da base dentro do movimento) e a necessidade de levar a luta do questionamento da privatização da educação contra os monopólios educacionais e empresários capitalistas que se utilizam da educação para aumentar cada vez mais seus lucros. Que para a juventude levar essa luta até a vitória era necessário se ligar aos trabalhadores, numa forte aliança operário-estudantil para vencer os capitalistas e a privatização da educação.


A parte inicial finalizou-se com a intervenção de Bruno Gilga, militante da LER-QI, que relacionando as lições do processo chileno com as diversas experiências que a juventude vem protagonizando no âmbito internacional, permitiu demonstrar como a luta dos estudantes da USP deve nos aparecer como uma escola de guerra para a construção de uma juventude revolucionária de milhares de jovens, que aprendam com os processos internacionais, intervenha de modo internacionalista nesses processos contribuindo com o avanço das lutas da juventude nos diversos países e possam protagonizar de modo cada vez mais intenso aqui no Brasil um questionamento profundo a universidade de classe, a burocracia acadêmica, ao filtro social que permeia as universidades - vestibular, aos gigantescos monopólios da educação no Brasil e, baseados no processo vigente, ao profundo questionamento dos aparelhos estatais de repressão, como a polícia militar, que vem reprimindo os ativistas e movimentos sociais. “Devemos construir uma juventude revolucionária de milhares, nacionalmente, a partir da fusão com os melhores setores de lutadores que surjam nos processos de mobilização”, reafirmava Gilga.

Aliança com setores do ME nacional, internacional e com trabalhadores!


A plenária também contou com importantes saudações: A companheira Camila, da Universidade Federal de Maringá, contou sobre o processo de ocupação naquela universidade parte de um cenário de ocupações e greves nas universidades pelo país inteiro, da luta que travaram e das lições para a necessidade da unificação do ME nacionalmente nas lutas. Também tivemos importantíssimas saudações de companheiros dos metroviários (que trouxeram a solidariedade à luta da USP, a partir da disputa na categoria em criar um comitê de solidariedade e pela retirada dos inquéritos policiais dos 73 presos políticos); contou também com saudação de companheiros bancários, da agência 7 de Abril, a qual contou com a solidariedade ativa da Juventude Às Ruas nos piquetes e ato na importante greve que tiverem este ano; teve ainda presença e saudação de Marcelo Pablito, diretor do Sintusp, que interviu colocando questões estratégicas de como forjar um sindicalismo realmente revolucionário e, nesse sentido, como enxergar o papel estratégico da juventude e a da aliança operário-estudantil na perspectiva de levar os processos e mobilizações a vitória.. 


A plenária contou também com saudações internacionais da juventude do Partido de los Trabajadores Socialistas - de companheiros também processados por sua aliança com os trabalhadores no conflito da fábrica Kraft, de 2009 - e também a saudação da Liga de Trabajadores por el Socialismo (organizações da Argentina e do México, respectivamente, ambas organizações irmãs da LER-QI), na perspectiva da integração das juventudes desses países na conformação de um movimento estudantil internacionalista.


Com muitas intervenções do plenário, abriu-se um vivo debate das lições da USP, e de todas as universidades presentes. Entramos também em discussões sobre outros processos abertos, como a greve de trabalhadores da UNICAMP, apoiado especialmente pelos estudantes do IFCH-Unicamp e processos de luta como o da moradia de Franca por permanência estudantil e de como a luta contra a polícia é um exemplo do que temos que construir no Rio de Janeiro.


A luta pela retirada dos processos contra os 73 presos políticos da USP, tomou parte em varias intervenções, ressaltando a importância da centralidade deste eixo em um momento onde assistimos uma investida contra o conjunto dos movimentos sociais em todo território nacional. Nesta linha, coube a denúncia a política  do PSOL e PSTU que seguem a dar nenhum peso para esta campanha, tentando desviar o debate para a questão da segurança do campus, caindo em um debate corporativo, sem questionar as raízes da repressão estatal e o papel que cumpre diariamente a PM no extermínio da juventude negra e pobre das periferias, morros e favelas.


Entre os diversos debates, chamamos a atenção para a rica discussão na plenária acerca da reivindicação do marxismo na conformação da juventude: com bastante debate, a plenária expressou diversos setores interessados em ligar as discussões sobre teoria revolucionária com os processos concretos de atuação. 


Nesse sentido, votamos a construção de um seminário de férias com o objetivo de levar adiante e aprofundar as discussões que se abriram sobre o marxismo e outras tradições teóricas do movimento operário. As lições que se pode tirar dos grandes processos revolucionários do século XX são uma condição para preparar uma juventude revolucionária à altura dos desafios do nosso tempo, e nessa perspectiva pretendemos aprofundar os debates sobre teoria revolucionária da plenária.

Uma juventude com uma estratégia revolucionária em meio a crise capitalista!

Fica cada vez mais clara a necessidade de superarmos, a partir dos processos em curso, a velha lógica de construção das burocracias de juventudes voltadas para eleições e aparatos: é necessário que construamos uma juventude que rompa com a conciliação e a passividade, construindo luta pelo questionamento da universidade de classe, elitista e racista, aprofundando o conteúdo estratégico da auto-organização e da luta contra a burocracia: isso se expressa de modo muito concreto na continuidade da luta na USP pela retirada da PM do campus e a retirada dos inquéritos contra os presos políticos, além dos diversos processos contra ativistas que vem sendo perseguidos pela reitoria, aprofundando o comando de greve e preparando uma forte juventude revolucionária para atuar desde as calouradas nas universidades e colégios no início de 2012.

Nos marcos da crise econômica internacional e na ofensiva de ataques da burguesia para fazer com que a classe trabalhadora e a juventude paguem pela crise, queremos ser parte viva e linha de frente da juventude estudantil e proletária que se espelha nos exemplos mais avançados internacionalmente, como dos estudantes chilenos e que se prepara para fazer diferença na luta de classes ao lado dos trabalhadores.


A experiência nos processos iniciais de luta de classes, a partir da forte discussão em base a luta contra a PM na USP, nos leva a tarefa de criar uma juventude que relacione cada luta parcial sua numa perspectiva anticapitalista, pois sabemos que o capitalismo numa crise histórica não pode fornecer mais que miséria, pobreza e exploração. A juventude anseia pelo seu futuro: está realidade nos impõe nos forjarmos como uma juventude classista, combativa, internacionalista e revolucionária e queremos também aqui no Brasil, assim como no Chile, conformar uma “Juventude que vai por tudo”!

Chamamos a todxs a conhecer e construir a Juventude Às Ruas!



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Seminário da Teoria da Revolução Permanente – Neste fim de semana na UNESP-Marília!



Durante os dois primeiros meses de 1917, a Rússia ainda era uma monarquia Romanov. Oito meses depois, os bolcheviques se apoderaram do leme. Eles eram pouco conhecidos de todos quando o ano começou e seus líderes ainda estavam sob a acusação de traição ao Estado quando chegaram ao poder. Não encontraremos nenhuma outra virada tão brusca na história – especialmente se lembrarmos que ela envolve uma nação de 150 milhões de pessoas. Está claro que os eventos de 1917, sob qualquer ângulo, merecem estudo


(Trotsky – Prefácio a História da Revolução Russa)


  
Resgatar a história das revoluções é necessário. Nesses momentos tão decisivos da luta de classes, onde se coloca em jogo toda a organização da sociedade por um período indefinido de tempo, os agrupamentos políticos - como representantes das classes sociais em luta – tem que mostrar seus objetivos e seus projetos, e com a ponta da baioneta, seus adversários. Nesses momentos, também, as classes dominantes “se vestem de vermelho” tentando fazer transparecer os seus objetivos como idênticos aos dos trabalhadores e do conjunto dos oprimidos.   

No decorrer destes processos, porém, como já assinalava Marx - nas suas análises das Revoluções de 1848 - o conteúdo da política dos grupos dominantes, se mostra muito aquém das fraseologias, reprimindo e sufocando qualquer tentativa independente dos trabalhadores, para que estes pudessem ao fim, concentrarem todo poder político em suas mãos para acabar com a propriedade privada, o Estado e a sociedade de classes. Estes momentos nos mostram os limites de todas as influências das frações ligadas à classe dominante no movimento operário, e nos arma a combatê-los nas suas diversas formas de ressurgimento e manutenção.  

É partindo desta reflexão que realizaremos em Marília o Seminário da Teoria da Revolução Permanente que tem como objetivo discutir o seu processo de construção, desde sua primeira formulação no ínterim da Revolução de 1905, sua confirmação na Revolução de 1917 e sua posterior generalização para os países coloniais e semi-coloniais na década de 1930, em meio a luta contra a burocratização do Estado operário dentro do partido bolchevique e da III internacional.  

É de se notar que, a discussão sobre a Teoria da Revolução Permanente, tenta apreender, a partir das revoluções do século XX, a dinâmica que existe nesses processos e que são exteriores as vontades dos sujeitos em luta. Buscar leis objetivas nos processos revolucionários pode arrepiar a cabeça do intelectual da pós-modernidade. O mesmo que dizia que as revoluções e até mesmo a história acabaram e até pouco tempo atrás buscava ar de serenidade para afirmar que os trabalhadores deixaram de existir.   

Muito longe de uma discussão que não respeita as particularidades históricas, sabemos que as polêmicas, discussões e resoluções que a classe operária encontrou na sua luta contra a opressão do capital, não podem se perder na história e que, portanto, o resgate dos processos e de sua dinâmica não pode estar desligado do esclarecimento estratégico dos processos atuais e sua conseqüente realização em prática política.  

Mas não pretendemos nos alongar aqui na polêmica com os representantes da modernidade líquida. O ano de 2011 já colocou por terra as mirabolantes teorizações construídas nas últimas décadas. Egito, Tunísia, Europa. Primavera Árabe, Indignados, Occupy Wall Street.. Estes novos processos, em poucos meses, golpearam de morte a perspectiva de fim da história, invalidando rios de tinta e saliva dos legitimadores da ordem capitalista.
De outro lado, uma lição já pode e deve ser tirada desses primeiros momentos de rebelião: não é suficiente a combatividade e abnegação dos trabalhadores e da juventude em luta, mas é condição vital pra vitória uma estratégia e um programa correto. Só os trabalhadores em aliança com os setores oprimidos da população podem dar uma saída concreta de superação das mazelas do capitalismo e de sua crise. Para isso é necessário ter clareza, apoiado nas experiências históricas, da necessidade de se construir uma direção revolucionária em nível nacional e internacional. Resgatar o legado teórico de Trotsky se torna ainda mais necessário neste momento. Seu pensamento foi alvo das maiores perseguições e falsificações da história. O stalinismo, cumprindo o papel servil da classe dominante, se encarregou de tentar apagar a história da luta da classe trabalhadora e do conjunto dos explorados, sujando a bandeira do marxismo, da Revolução de Outubro e do partido de Lênin. 

Convidamos todas/os a participarem deste seminário, onde discutiremos o pensamento revolucionário de Trotsky, aprofundando os grandes debates estratégicos que se tornarão cada vez mais vivos e necessários para os grandes desafios que se aproximam!
Neste Sábado (10/12) e Domingo (11/12) às 10h na FFC!

LER- QI - MARÍLIA

ESTUDANTES FAZEM ATO EM FRANCA CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM



Em Franca comono mundo, a juventude volta a se rebelar!


           
            No Egito, a juventude que atende por "soldados daPraça Tahrir" toma novamente as praças para expulsar os militares queseguem atacando as condições de vida do povo, no Chile a juventude "semmedo" continua nas ruas exigindo o fim do ensino privado e a universidadepublica para todos, no inicio do ano, nas capitais do Brasil, a juventuderoubou a cena das 1as paginas dos jornais na "revolta dobuzú/2011" contra o aumento das passagens. E agora, em Franca, a juventude desperta para protestar contra os abusivos valores da empresa São José e sua política, em parceria com o prefeito Sidney Rocha (PSDB), de precarização da vida dosjovens e dos trabalhadores.

                A nossa geração aprendeu que os patrões, os politicos e a midia estão JUNTOS! e que deles nãopodemos esperar nada alem de mais ataques e mentiras, e que por isso, cabe anós, jovens, tomarmos as ruas enquanto trabalhadores e estudantes - principaisinteressados e mais afetados com as politicas de sucateamento e privatizaçãodos transportes implementado pelos empresários, patrões e o govenro - paragarantirmos um transportecoletivo que seja publico, gratuito e estatizado sob controle dos usuários edos trabalhadores.

                Essa não é uma luta facil e por isso precisamos ter,desde já, politicas que ampliem omovimento para que chegue principalmente aos trabalhadores e ao setor maisprecarizado da juventude que são os quemais sofrem com os altos preços e a má qualidade do transporte coletivo.Transporte esse que é fundamental para que as pessoas possam se locomoveraté o trabalho, aos hospitais e postos de saúde, as escolas e universidades,aos centros de cultura e lazer e para ter acesso a outros locais e serviçosnecessários para a mínima reprodução da vida. Precisamos desde já conformarcomitês de base em cada local de trabalho e estudo que se articulem em umComitê de Mobilização, para que possamos assim ter tambem uma organizaçãoindependente que faça com que a população e os trabalhadores sejam os própriossujeitos políticos dessa importante luta.

                A luta em defesa de umtransporte publico, gratuito e garantido pelo Estado sob controle dos usuáriose trabalhadores é parte da luta contra a precarização da vida como um todo: aspéssimas condições do sistema de saúde; o caos do atual sistema de educação e onão acesso da maioria da população ao ensino superior público; a falta depolíticas de obras públicas que garantam moradia adequada e que apresentem umasolução para as tragédias causadas pelas constantes enchentes edesmoronamentos, ao mesmo tempo em que garantam empregos efetivos à população;a alta sistemática do preço dos alimentos e dos bens de consumo em geral; osirrisórios reajustes salariais dados aos trabalhadores enquanto osparlamentares aumentam seus próprios salários em mais de 60%; a permanenterepressão policial ao povo negro e aos moradores das periferias. Somentea aliança entre estudantes, trabalhadores e as parcelas mais precarizadas dapopulação em luta por melhores condições de vida pode fazer frente à ganânciapor lucros dos grandes monopólios do transporte, como a empresa São José.

                Nessaluta, os patrões da São José e o governo Sidney Rocha utilizarão de todos osmeios possiveis para calar a juventude, passando desde a mídia para caluniar e criminalizar até apolicia militar para reprimir - como quase se deu no ultimo ato. É essa a forma deresposta que os governos e patrões sabem dar aos que lutam pela grantia dos direitos mais básicos da população, como o da livremobilidade! É com essa politica que agem contra o MST e estão agindo contra osestudantes da USP que estão em greve há 3 semanas questionando o papel repressor que a policia militar cumpre tanto nasuniversidades quanto nas periferias e sobre a juventude e os trabalhadores e tendo que se enfrentar com as mentiras da mídia quetenta a todo o custo falsificar o verdadeiro motivo da luta dos estudantes.

                É para lutar contra essa repressão desde já que setorna uma tarefa fundamental para todos os movimentos que se enfrentam com aspoliticas dos governos e patrões de precarização da vida, a luta contra acriminalização dos movimentos sociais e a defesa incondicional dos seuslutadores. Hoje temos na USP 73 presos politicos do Alckimin, governo doEstado (PSDB). 73 jovens que estiveram na linha de frente na luta pelopasse-livre no inicio desse ano e que estão diariamente combatendo desde dentroda USP pelo fim do vestibular para que toda a juventude possa cursar o ensinosuperior público e gratuito! 

-Passe Livre JÁ para todos os estudantes e Desempregados!

-Estatização das empresas privadas do transporte público, sob controle dostrabalhadores e usuários! Passe Livre para todos!

-Abaixo a repressão da PM de Alckmin e Sidney Rocha aos estudantes,trabalhadores e toda  a população queluta por melhores condições de vida! Pelo fim dos inquéritos aos 73 presospoliticos da USP!

-Formar um comitê aberto às entidades estudantis, sindicatos, movimentospopulares, associações de bairro e organizações de esquerda, parademocraticamente levar a frente esta jornada e derrubar o  aumento!


“Cadê o busão, ‘tá’ muito caro, se tudo aumenta então aumenta o meusalário”

“Trabalho, estudo, dou duro o dia inteiro, o prefeito anda de carro eainda rouba o meu dinheiro”

“E fora Sidney daqui, junto da Dilma privatista, garantem com a São José,a precarização da vida”

“Sidney Rocha, seu picareta, se não estatiza a gente pula a roleta”

“Chega de aumento pra deputado, e para o povo só onibus lotado”

“Do passe-livre não abro mão, ele garante o meu ganha-pão”

“Passagem não é esmola, a filha do prefeito vai de carro pra escola”

“Onibus lotado, falta de moradia, eu pago a passagem e quem lucra é aburguesia”

“Ãão, estatizar o busão, estatizar o busão, estatizar o busã-ãão”



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Lutar contra o governo de Roseana Sarney junto aos trabalhadores e não com a polícia!



Em nota de 25/11 a ANEL-MA manifestou seu apoio e solidariedade aos policiais e bombeiros do Maranhão dizendo que “O aumento salarial de 30% e melhorias na condições de trabalho são mais que necessárias para que possam fazer o seu trabalho de proteção à população maranhense”. Como foi no caso do motim dos bombeiros no RJ, a direção majoritária da ANEL mais uma vez apoia reivindicações que só servem para fortalecer o aparato repressivo do Estado.

Agora o debate aparece novamente, só que pior ainda. Para além de achar que se aliar aos bombeiros e policiais é o meio para combater o governo de Roseana Sarney, o faz em torno de uma profunda adaptação ao senso comum colocando a polícia como protetora da população.

Embora para os marxistas o Estado, por meio do seu aparato repressivo , seja um instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, não precisa ser marxista para saber que o papel da polícia não é de segurança e nem proteção. Como comprovam os moradores do município de Bequimão- MA, que no ínicio desse mês quando lutavam pela reconstrução da ponte do Balandro, foram duramente reprimidos pela polícia e os bombeiros com seus helicópteros, bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’agua. (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mMvDdP4A440).

Os trabalhadores e a população do Maranhão sofrem com a repressão policial desde a época da “Balaiada” (revolta popular e de escravos frente a miséria promovida pela crise do algodão duramente reprimida pela Guarda Nacional no período regencial) até os tempos atuais de dominação da “oligarquia Sarney”. Foram centenas de greves reprimidas e milhares de assassinatos no campo. Um verdadeiro massacre ao povo indígena e aos quilombolas. A polícia do Maranhão é a mesma polícia que no RJ o governo Dilma e Cabral utilizam para a militarização dos bairros e favelas, promovendo um genocídio a juventude negra. A mesma polícia que em Rondônia prende estudantes e professores em greve. E que na USP sitia o campus, prende lutadores e está a serviço de um projeto elitista e privatista de universidade.

Ao defender o aumento salarial e melhor condição de trabalho para as forças repressivas, a direção majoritária da ANEL se soma a oposição burguesa do Maranhão como o ex governador e prefeito de São Luis João Castelo (PSDB), a ex-secretaria de segurança Eurídice Vidigal, e nacionalmente fortalece políticos como Bolsonaro que estão na linha de frente para aprovação da PEC 300 no Congresso Nacional.  
Os estudantes só têm uma alternativa para lutar contra o Governo de Roseana Sarney e é a partir da aliança com os reais trabalhadores e o conjunto da população pobre, e não com os órgãos repressores do Estado que farão de tudo para desarma-los em qualquer tipo de resistência.

 Nesse sentido, felizmente a posição da ANEL-MA não é consenso dentro da Entidade. Na USP aonde milhares de estudantes estão em greve contra a presença da PM no campus quem diz que a PM está para proteger é a Reitoria, o governo Alckmin, a Veja e Reinaldo Azevedo, justamente para esconder o caráter de repressão ao movimento estudantil e os trabalhadores. Será que é diferente no Maranhão? Provavelmente não, a única diferença está no PSTU que em São Paulo diz lutar contra a PM, porém no Maranhão defende “as melhores condições de trabalho” para repressão com o argumento de garantir  segurança para a população.

Nós da Juventude às Ruas que construímos a ANEL não nos solidarizamos com a greve dos policiais e bombeiros no Maranhão, porque consideramos que os estudantes brasileiros devem seguir o exemplo dos jovens que em Tahir organizam milícias de auto defesa no processo revolucionário egícpcio contra a junta militar, e dos encapuzados do Chile que se enfrentam com a polícia na defesa da educação pública. Assim como não é possível democratizar o capitalismo, também não é a sua polícia, por isso defendemos a dissolução de todo os órgãos repressores do Estado. Exigimos que a Executiva Nacional se reúna e publique nossa posição nos materiais e site da Entidade, já que a ANEL deve ser uma instrumento de frente única dos estudantes possibilitando a maior forma de democracia interna e não sendo apenas um aparato difusor da política do PSTU.  

Felipe Campos- Membro da Executiva Nacional da ANEL pela Juventude As Ruas (LER-QI + Independentes)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

::neste domingo:: Plenária aberta Juventude Às Ruas e Ativistas da greve da USP!




A luta contra a PM na USP, que bem como as dezenas de processos a estudantes, trabalhadores e diretores do Sintusp tem como objetivo reprimir os que resistem ao aprofundamento de um projeto elitista e privatista de universidade, abriu um debate nacional, pois ataca uma política central do estado: a repressão policial aos que lutam, ao povo pobre nos bairros e favelas, o verdadeiro genocídio estatal da juventude negra, tudo a serviço do projeto de um grande Brasil da Copa e das Olimpíadas sustentado na miséria e no trabalho precário.

O desenvolvimento dessa luta está ligado à defesa intransigente dos nossos próprios companheiros perseguidos, e ao aprofundamento da auto-organização dos estudantes. A punição aos 73 presos políticos da USP é a via pela qual a reitoria e o governo querem impor uma dura derrota aos estudantes, que os desorganize e interrompa a luta em curso, e ao mesmo tempo impor uma correlação que lhes permita avançar na repressão: se os estudantes da USP podem ser presos e criminalizados por se manifestar, o que não se dirá dos diretores do Sintusp ameaçados de demissão, dos moradores do CRUSP perseguidos, e mesmo fora da USP, dos sem-teto que ocupam prédios no centro, os sem-terra no campo, os trabalhadores em greve, etc. Para seguir a luta, ao mesmo tempo, é fundamental aprofundar ainda mais a experiência mais avançada de auto-organização estudantil que tivemos na USP em muitos anos. A constituição do comando de greve composto por delegados eleitos nas assembleias de curso, mandatados por suas discussões, e revogáveis, é um exemplo de democracia do movimento, que ainda precisa ser aprofundado, mas desde já deve ser mantido, para preservar a organização dos setores mobilizados e seguir a luta.

Esses debates sobre a a USP tratam não somente da luta pela transformação da universidade, mas da luta, em aliança com os trabalhadores, contra a repressão estrutural no país, a semiescravidão que o sustenta com o trabalho precário e a terceirização, e os ataques aos direitos dos trabalhadores e da juventude com que o governo e a burguesia se preparam para o avanço da crise internacional no país.

A juventude tem um papel histórico a cumprir aí, como demonstram não somente grandes exemplos da luta de classes ao longo do século XX, mas as grandes mobilizações e processos convulsivos que atravessam o mundo ao longo desse ano. Seja no Egito, onde vemos um segundo capitulo de um processo revolucionário decisivo, que se abriu no início do ano contra os efeitos da crise nas condições de vida da população, derrubou o ditador Mubarak, e agora se enfrenta com o governo militar que o substituiu e sua repressão assassina; seja no Chile, com milhões de estudantes se enfrentando com a repressão policial do regime herdeiro de Pinochet, na luta por educação gratuita já; seja nos EUA, com dezenas de ocupações questionando a onipotência do capital e dos investidores sobre o destino da grande maioria da população; o que vemos é o desenvolvimento de uma nova etapa histórica, uma situação internacional convulsiva, que tem de fundo uma crise histórica do capitalismo, e diante dela a juventude demonstrando que pode cumprir um papel decisivo!

E nós somos parte disso! Nos sentimos parte da juventude conhecida em todo mundo como "soldados da praça Tahir", somos parte de uma mesma juventude que no Estado Espanhol luta para que o movimento dos indignados se ligue à classe trabalhadora e enfrente consequentemente o Estado herdeiro da ditadura franquista, somos irmãos da juventude chilena que luta para levar até o final o combate pela educação gratuita pra todos já, contra a política da burocracia estudantil que quer desviar o movimento para uma negociação por migalhas no parlamento, nos sentimos parte da juventude que nos Estados Unidos questiona o lucro dos banqueiros e resiste à repressão do Estado, estamos ao lado dos estudantes na Colômbia que resistem às reformas educacionais neoliberais do governo Santos, da luta dos estudantes e trabalhadores da UPEA na Bolívia, pela universidade pública, gratuita e de qualidade para todos, que está se enfrentando neste momento contra a repressão desferida por Evo Morales, estamos juntos à juventude grega que se enfrenta com a polícia para impedir que a crise seja descarregada nas costas dos trabalhadores e do povo!

Chamamos a debater conosco esses processos de luta e a situação nacional e internacional, como parte da grande tarefa de forjarmos uma juventude revolucionária com centenas de estudantes e trabalhadores que, a partir das lições de cada luta, como a da USP, e também desses processos, se prepare para, também aqui, cumprir um papel decisivo diante do desenvolvimento da crise e dessa nova situação internacional!


:: Participe da plenária aberta::
Juventude Às Ruas
e ativistas da greve da USP

Com a presença de Bárbara Brito
delegada da faculdade de Filosofia e Letras da Universidade do Chile

neste domingo às 10h
no SINSPREV
[Rua Antonio de Godoy 88, Centro/SP]



>>> Anulação já dos inquéritos aos 73 presos por lutar na USP!

>>> Fora PM das USP, dos bairros, periferias e favelas!

>>> No Chile, no Egito, nos EUA, na Colômbia: a juventude se levanta! 

>>> Tirar as lições de cada luta para pôr de pé uma juventude revolucionária
e que os capitalistas paguem sua crise!


Juventude Às Ruas!
LER-QI + INDEPENDENTES