segunda-feira, 12 de março de 2012

BOLETIM ESPECIAL CALOURADA - RJ

OS NOVOS TEMPOS NOS EXIGEM SER UMA JUVENTUDE REVOLUCIONÁRIA

Crescemos com a certeza que nos contavam que a história havia acabado, que o capitalismo seguia firme e sólido e que as revoluções eram coisas do passado.  Crescemos sob uma ideologia individualista que nos ensinava que os sonhos e as expectativas de vida são baseados no consumo e o que somos medidos pelo que temos.

 A crise capitalista que eclodiu em 2008 é uma crise histórica. Ela chocou estes sonhos de consumo vendidos pela burguesia com a impossibilidade de sua realização material. Os sonhos de consumismo viraram pesadelo de desemprego, repressão, fome e miséria. O destino que a burguesia guarda aos povos é mostrado na Grécia, na Espanha. 

Na Grécia foi reduzido o salário mínimo de toda a população em 22%, na juventude a redução passa de 30%. O desemprego da juventude é de os 54% por cento, e os que conseguirem empregos precários ganharam menos de metade que os adultos ganhavam antes do desconto. Para garantir os lucros, a "competitividade" das empresas entregam corpos, vidas e o futuro de gerações inteiras.

A crise e a busca de cada burguesia nacional em recuperar sua "produtividade" fará cada uma despejar sobre sua classe trabalhadora ajustes tais como os gregos. Os países da América Latina hoje andam em outro ritmo - mas dependem de uma situação conjuntural de fluxo de capitais estrangeiros e na qual a China siga comprando commodities. Mas isto terminará, a China, a fábrica do mundo precisará reduzir sua produção, pois a Europa e os EUA com tanto desemprego estagnação econômica precisam consumir menos, situação que certamente atingirá o Brasil. O futuro que nos aguarda é grego. A Grécia é um país da Europa e mesmo assim sofre um ataque muito maior dos que foram impostos à América Latina nos anos 80 e 90. Os impostos são recolhidos para uma conta especial, tem auditores europeus destas contas e só depois de entregue o dinheiro a UE é que este país poderá ter qualquer gasto. Se fazem isto na Europa, o que nos aguarda?!

Em meio ao avanço da crise econômica e das saídas reacionárias da burguesia, a juventude reage e tem entrado em luta em vários países, mas ainda não a altura dos desafios históricos. Na Grécia a juventude vai às ruas, protagonizando diversos enfrentamentos de rua com a polícia para barrar os planos de austeridade e também a classe trabalhadora dá mostras com 16 greves gerais de que não está disposta a pagar pela crise dos capitalistas. Para que esta disposição de luta alcance suas necessidades é preciso superar a burocracia sindical que impede a confluência da juventude e da classe trabalhadora, e trata cada greve geral não como uma investida contra o governo e a burguesia mas como pressão para que alterem o ataque. Na Espanha a situação é muito semelhante, o desemprego chega a 25% e a juventude também sai à luta. A juventude indignada espanhola influencia a juventude em todo o mundo a criar “Occupy”. Na Primavera Árabe a juventude e o povo põe-se em movimento para derrotar décadas de ditaduras sanguinárias, vendidas ao imperialismo que mantinha sobre o manto do nacionalismo árabe a população sob fome, repressão, desemprego e miséria. 

Na América Latina, a juventude no Chile protagonizou uma luta por mais de 7 meses em defesa de educação gratuita, de qualidade para todos, fazendo tremer as bases de um regime repressivo e anti-democrático, herdeiro da Ditadura de Pinochet. A combinação de família e gerações de jovens endividadas com a educação privatizada com a repressão policial fez surgir no Chile uma juventude conhecida como a “geração sem medo” e que, em processos desiguais, vai fazendo experiências com o PC Chileno e outras direções que buscam desmobilizar através de conduzir tudo à negociações estéreis com o governo. Sigamos o exemplo dos estudantes chilenos, sejamos aqui também uma geração sem medo de lutar pelo futuro.

Não é só na economia que a burguesia prepara grandes ataques

A Europa do consenso está morrendo para dar lugar ao predomínio, aberto, de uma nação (Alemanha) sobre outras. Isto é uma reviravolta histórica a todo projeto de união européia e todo equilíbrio entre França, Alemanha, Inglaterra que predominou nas últimas décadas. Isto é um sinal de que o futuro nos espera muito maiores contradições entre os estados.  Para conseguir implementar estes ataques a burguesia também precisa garantir condições políticas. Se, os “ajustes” são duros demais é difícil que consiga impor sua hegemonia somente pelo consenso – convencimento. É preciso, se necessário derrotar, esmagar a classe trabalhadora. É por isto que vemos nascer, e ser alentado, ainda de forma não decidida, uma série de partidos xenofóbicos na Europa, o Tea Party nos EUA. São ensaios de governos reacionários e fascistas. Estes desafios políticos se dirigem não só à classe operária e juventude mas a conquistas elementares da humanidade, como livrar-se do racismo como instituição oficial e legal do Estado, separação – formal que seja – do Estado e da Igreja, entre vários outros, estarão questionados. Estes fenômenos são uma viva atualização do que dizia Lênin que vivemos em uma época de crises, guerras e revoluções. A juventude que nossos tempos exigem, e o futuro exigirá muito mais precisa partir disto. Lutar contra o imperialismo e pela revolução! 

Tomemos os exemplos da luta da juventude no mundo e construamos uma juventude revolucionária

No Brasil depois de 8 anos de governo Lula e de eleger a primeira presidente mulher, consolida-se o mito de país “potência” em que as condições de vida poderiam avançar de forma lenta e gradual, num clima de paz social, que caminharia ao fim da miséria, que atinge o posto de 6° economia do mundo. O que vemos é que este clima de paz social tem dias contados. Pois este Brasil potência cresce em meio ao trabalho precário, salários de miséria, déficit de moradia e índices esse sim no topo da lista: de violência policial e de mortos em crimes patronais chamados de acidentes de trabalho – mais de mil por ano. Não existe possibilidade de o Brasil permanecer blindado em meio à crise econômica mundial. Se, com toda a suposta blindagem o que vemos é repressão a quem luta pela universidade como na USP, por terra como no Pinheirinho, privatizações da previdência e aeroportos por Dilma o que nos esperará quando tudo deixar de ficar “perfeito”? Por isso precisamos nos preparar para o que tempo nos exige ser.

Mas a Grécia, a Espanha, o Egito, mostram como ainda inicialmente, mas sem sombra de dúvidas a juventude pode ajudar a sacudir os trabalhadores e o conjunto da população. A juventude pode ter um papel na luta de classes ao lado dos trabalhadores e do povo! 

É preciso que tenhamos isto muito claro em cada discussão sobre que universidade queremos, como lutar por permanência estudantil, como barrar os aumentos dos transportes públicos. Participar ativamente de cada luta pontual que aconteça, organizando, questionando, preparando o futuro, nossos sonhos. É preciso derrotar os ataques que a universidade sofre hoje, defender os lutadores da USP e em todo país como preparação do futuro. 

O revolucionário russo Lênin dizia: "É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias." Para fazer possível nossos sonhos de construir um mundo livre da exploração do homem pelo homem, o que só é possível pela organização da classe trabalhadora aliada ao campesinato, desempregados, juventude e setores explorados da sociedade. Nossos sonhos não cabem em vitrines, creditos no cartão, nem nas urnas. A realidade hoje nos exige pensar, questionar, lutar, nós da Juventude Às Ruas, queremos fazer o esforço apaixonado de sacudir aqueles que não vem o que se aproxima, e mostrar que se aproximam novos tempos e que a juventude pode fazer diferença na luta de classes. 
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Breves lições da luta da USP

Em meio a uma situação nacional onde o que se destaca é a esperança em mudanças graduais, os estudantes e a juventude em geral, no país tem mostrado em forma muito embrionária e inicial sua relação com este processo mundial. Ano passado ocorreram várias lutas por permanência estudantil como restaurantes, bolsas, em praticamente todas universidades federais do país, mas achamos importante destacar três processos que apontam, ao nosso ver, embrionariamente para o futuro pois se ligam a problemas dos trabalhadores e do povo, e porque criam novas formas de organização. Na UFMG centenas de estudantes apoiaram ativamente a luta dos trabalhadores da educação de Minas, na UFF os estudantes lutaram contra a remoção de uma favela, e com mais destaque e mais profundamente o que ocorreu na USP. Em meio a uma situação onde a burguesia conseguiu reconquistar apoio a sua assassina polícia os estudantes da USP souberam ser audazes em lutar pela retirada da polícia da universidade. Nós da Juventude às Ruas nos orgulhamos de junto a centenas de estudantes independentes conseguir que o que fosse denunciado na USP não fosse a polícia só na universidade mas também nos morros e favelas. E mais importante ainda, na USP foi erguida uma forma de organizar o movimento que é muito diferente do que existe em todo o país e permite tanto sua massividade quanto sua radicalização. Contra os limites impostos pelas principais direções do movimento (PSOL e PSTU) que buscavam que a luta não se desenvolvesse mas chegasse a rápidos acordos com a direção da universidade os estudantes, construíram um comando de greve. Um comando a partir de delegados, revogáveis, de cada assembléia na proporção de 1 delegado a cada X estudantes por assembléia. Esta medida permite que o conjunto dos estudantes em luta, toda suas tendências, criem um organismo muito superior para um período de luta do que são as entidades estudantis, ou uma reunião de todas as correntes, mas uma representação real, mutável a cada assembléia do conjunto do movimento. Uma direção democrática, auto-organizada, do conjunto do movimento. 
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Educação para todos? 

As universidades no Brasil mostram como não estamos avançando para que a educação seja um direito de todos. É só olhar em volta para ver que são poucos os negros, a única vaga que é reservada para a maioria negra da população é na limpeza. Um dos mecanismos que garante este elitismo e racismo é o vestibular.

“Novo” Enem: fim do vestibular (?!) 

O “novo” Enem e o Sisu não alteraram esta estrutura que os petistas herdaram e mantiveram dos tucanos. As vagas permanecem limitadas, e grande parte do orçamento é comprometida em ajudar os grandes empresários da educação através do PROUNI. Mesmo com um “vestibular nacional” e alguma expansão de vagas mantém-se de pé este filtro social, e mais estas mudanças não alteram outro filtro social das universidades. O estudante pobre que passou dificilmente conseguirá arcar com a moradia, os custos da vida acadêmica, alimentação, transporte. 

As miseráveis políticas de assistência estudantil e o prolongamento do filtro social no cotidiano da academia

Uma questão extremamente importante e que se encontra totalmente abandonadas por governos e reitorias, são as políticas que tangem a permanência estudantil nas universidades. Para ficarmos apenas num “pequeno” exemplo da dimensão do problema podemos citar a situação da moradia estudantil daqui da UFRJ: São 504 quartos ao todo para uma Universidade com 50.000 estudantes!  Sem falar que e o “aló” está abandonado e precário. Os poucos estudantes de baixa renda que conseguem as disputadíssimas vagas no aló, ainda são obrigados a arcarem financeiramente para poderem permanecer na moradia. 

- Por moradia, bolsas, transporte e alimentação para todos!
- Por bandejões sem trabalho precário, com trabalhadores efetivos das universidades! 
- Pela estatização das universidades privadas para garantir vagas para todos em um sistema público, gratuito e de qualidade!
- Pelo fim do vestibular/livre acesso!
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RIO DE JANEIRO: A CIDADE DO FUTURO OU UMA  CIDADE A FAVOR DOS LUCROS ?

O Rio de Janeiro tem passado por várias transformações  para sediar os grandes eventos em 2014 e 2016.   Obras faraônicas no estádio do Maracanã; grandes reformas como a chamada “Operação Porto Maravilha” na Zona Portuária; as inúmeras desocupações urbanas e as UPP´s (Unidades de Polícia Pacificadora) nos morros e favelas cariocas. Por mais que a princípio pareça que a cidade está se desenvolvendo e que toda a população de forma geral tem melhorado suas condições de vida, é necessário olharmos mais de perto as contradições postas, que refletem uma lógica que beneficia cada vez mais a burguesia em detrimento dos trabalhadores. 

 As UPP´s: mais repressão e controle à juventude negra e pobre e aos trabalhadores

Com a desculpa de serem uma forma de combate à violência, somam-se hoje 19 UPP´s, que além de garantirem preços exorbitantes dos aluguéis com a valorização dessas regiões, servem para reprimir e controlar os moradores das favelas e morros impedindo até confraternizações. O projeto carro chefe do governador Cabral e o secretário de segurança pública José Mariano Beltrame, aplaudido por Lula e defendido por Dilma como “um exemplo a ser seguido em todo o país” (e que hoje já é implementado em Salvador e Curitiba) expressa o verdadeiro projeto de cidade pensado pelos governos, baseado na repressão. 

No último período, são recorrentes as notícias dos inúmeros ataques diretos e perseguições que a classe trabalhadora e a juventude negra e pobre vem sofrendo no Rio de Janeiro. A polícia, que reprime as manifestações estudantis, greves operárias e que desocupa de forma criminosa moradores de suas próprias casas diariamente no Rio de Janeiro, (assim como fez recentemente no Pinheirinho) tem como único propósito de existir a defesa da propriedade privada e os interesses do Estado e da burguesia. Se no Rio, ainda sem intensa luta de classes, a burguesia pode se dar o luxo de vender sua polícia como algo para a “segurança dos indivíduos”, lugares como o Egito, Grécia, Estado Espanhol, Chile, mostram o que ela é. Uma garantidora da ordem – da propriedade da burguesia e seus governos – contra o povo! Por isto o fortalecimento da polícia, e de sua suposta segurança não é um projeto que favorece os trabalhadores e o povo.

A Precarização do trabalho e da vida

A aliança entre os governos federal, estadual e local com a burguesia carioca é cada vez mais explícita. Hoje existe um projeto de lei no Senado com objetivo de  proibir as greves operárias nos últimos três meses antes dos mega eventos e durante todo a sua duração, um brutal ataque a todos trabalhadores.  O chamado AI-5 da Copa, literalmente caracteriza como crime um direito fundamental e inclusive constitucional de liberdade de expressão e manifestação, criminalizando o principal método de luta da classe operária, as greves. Isso mostra que os ataques estão só começando, e que muito ainda estão por vir.

Estão construindo uma cidade que é para os lucros, para a Fifa, para Eike Batista. Precisamos lutar por uma outra cidade, uma cidade dos trabalhadores e do povo.

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