terça-feira, 19 de junho de 2012

DO QUESTIONAMENTO DA REPRESSÃO SEXUAL PARA A SUPERAÇÃO DA SOCIEDADE DO CAPITAL! E vice-versa...

por Adriano, estudante de historia da UNESP de Franca

No dia 20/05/12, a Rede Globo de Televisão, por meio do programa “Fantástico”, trouxe ao ar uma declaração da apresentadora infantil Xuxa Meneghel de que havia sido abusada sexualmente na infância por um amigo do pai. Nas semanas seguintes várias emissoras e revistas midiáticas se utilizaram do tema para organizarem suas reportagens e programas.

O intuito desse artigo é abrir uma reflexão mais profunda sobre a formação da sexualidade e de algumas de suas diversas manifestações doentias dentro do sistema capitalista, buscando compreender onde se assentam suas origens e assim como combatê-las e superá-las. A conclusão busca demonstrar como a Rede Globo se utiliza desse fato, infelizmente corriqueiro na realidade de inúmeras familias, não para combatê-lo, mas para reforçá-lo, na medida que reproduz imagens, histórias, tomadas e vídeos que, ao contrário de favorecerem a coragem nas vítimas para denunciarem os abusos, reforça o nível da violência, da repressão e das ameaças por parte dos abusadores. Afinal, como tentaremos demonstrar, essa mesma mídia, por meio da ideologia sexualmente inibidora, machista e opressora transmitida nos seus pogramas, e, por isso, uma das principais responsáveis pela reprodução desse desvio sexual doentio, não é capaz e nem tem o interesse de solucionar a raiz desse problema, que é a crise sexual que assola hoje a humanidade.


Da repressão da livre-expressão da sexualidade infantil à construção de adultos sexualmente doentes


Há um século falar sobre a sexualidade infantil era não só um tabu – como ainda hoje o é –, mas era um tema ausente na própria literatura científica. Hoje, ainda que a literatura tenha avançado – especialmente desde Freud – para incluir na análise do desenvolvimento infantil o fator do desenvolvimento da sexualidade, ainda é muito presente no senso comum a compreensão de que o instinto sexual só desperte no período de puberdade, e as explicações das características e reações dos adultos ainda continuam sendo buscadas em ‘possíveis’ problemas hereditários ou ‘supostos’ problemas psíquicos de nascença. Foi desde a inclusão da sexualidade infantil no estudo científico que se pôde avançar para compreender a formação do caráter dos adultos, as doenças e sanidades sexuais e psíquicas da humanidade, o papel da moral e dos valores sociais na formação da sexualidade do indivíduo desde a mais tenra infância, assim como na determinação de quais padrões são considerados sãos e quais doentis dentro da sociedade e a função que cumpre tanto as relações de produção e de propriedade com suas imposições de normas hierárquicas, autoritárias e de submissão na construção da identidade de sexo e de gênero dos indivíduos qanto, destas imposições, na reprodução das relações de produção dentro do sistema capitalista.

“Uma característica da ideia popular sobre o instinto sexual é que ele esta ausente na infância e só desperta no período da vida descrito como puberdade. Isto, contudo, não é puramente um erro simples, mas um erro que tem tido várias consequências, pois é principalmente a esta ideia que devemos nossa atual ignorância das condições fundamentais da vida sexual. Um estudo completo das manifestações sexuais da infância provavelmente revelaria os caracteres essenciais do instinto sexual e nos mostraria o curso de seu desenvolvimento e a maneira pela qual ele se consolida a partir de várias fontes.

É digno de nota que escritores que se preocupam em explicar as características e reações do adulto tenham dedicado muito mais atenção ao período primitivo que é abrangido pela vida dos ancestrais do indivíduo – isto é, tenham atribuído muito maior influência à heredtariedade – do que ao outro período primitivo, que se situa dentro da vida do próprio indivíduo – ou seja, a infância. (...)”

Freud, Sigmund. Três Ensaios sobre sexualidade

É somente compreendendo que “não há período em que a capacidade de receber e reproduzir impressões seja maior do que precisamente os anos da infância” (idem) e que “as mesmas impressões que esquecemos deixaram, não obstante, os mais profundos traços em nossas mentes e tiveram um efeito determinante sobre a totalidade do nosso desenvolvimento subsequente”(ibidem), que podemos enxergar, de fato, o papel que cumpre, em primeiro lugar, a educação familiar e em segundo, a educação religiosa, escolar e a mídia na construção da sanidade ou não do desenvolvimento e da sexualidade do indivíduo. Negar a existência da sexualidade na infância, ao mesmo tempo em que se educa o indivíduo sob a influência da moral sexual repressora da Igreja, da hierarquia patriarcal familiar e dos valores identitários socialmente pré-determinados e heteronormativos da mídia e da escola, significa, na prática, construir um indivíduo sexualmente hipócrita e eternamente em contradição e crise entre a satisfação dos seus anseios e desejos naturais e a repressão moral imposta pela sociedade.

A superação de cada uma das contradições pode se dar pela vitória da satisfação dos desejos, por meios torpes – de maneira escondida, culpabilizada, construindo o caráter de um indivíduo receoso, incompleto, que viverá assombrado pela combinação: desejo, vergonha, satisfação e culpa –; pela vitória da imposição moral social – construindo um indivíduo submisso às normas e às imposições hierárquicas, casto e internamente doente, eternamente culpado simplesmente por desejar –; ou, por fim, pela sublimação, recalque ou reacionamento dos desejos insatisfeitos por outras formas de satisfação, moralmente aceitas, e pela formação de um caráter disposto a defender com unhas e dentes esses valores, pois ruir com tais bases, significaria retornar às velhas contradições há tempos enclausuradas e ‘esquecidas’. A sociedade, tal qual ela é, só é capaz de construir indivíduos sexualmente doentes e socialmente insanos, em maior ou menor medida, a depender das distintas combinações das superações dessas contradições nas distintas fases de desenvolvimento do indívuduo, sendo a infância o período de concentração da maioria destas fases.

A família compulsória como a principal célula cancerígena. A Igreja e a escola como propulsores da metástase

Dentro da familia a criança se relaciona com pais doentes. Visualiza, assimila e reproduz as relações familiares no seu dia-a-dia. A família atual, como microcosmo do que é a organização do Estado, é, por excelência, o espaço de construção do ser social adaptado – física, psíquica e moralmente – para ser incluído nas relações de produção e propriedade do sistema, ou seja, é o espao privilegiado da construção de adultos doentes. Também, por ser visto como um espaço privado, é o local onde os adultos doentes vão buscar a satisfação dos seus desejos socialmente reprimidos, seja na relação machista entre marido e mulher, na relação autoritária entre pai/mãe e filhxs e na reprodução mais ou menos semelhante dessas relações entre irmãos e irmãs, mais velhos e mais novos.

Ele [pai patriarcal] é, por assim dizer, o expoente e representante da autoridade estatal na família. Devido à contradição entre a sua posição no processo de produção (subordinado) e a sua função familiar (chefe), ele é lógica e tipicamente uma espécie de primeiro-sargento; submete-se aos que estão acima dele, absorvendo totalmente os pontos de vista dominantes (daí a sua tendência para a imitação), e domina os que estão abaixo dele; transmite os pontos de vista governamentais e sociais e os faz respeitar. (...)
a mãe, quando não é obrigada a procurar seu sustento fora do lar, cada vez mais procuram nas crianças o conteúdo da vida – e em prejuízo delas descobrem que nisso os filhos desempenham o papel de cachorrinhos de estimação, que se podem amar, mas também maltratar à vontade, que a atitude emocional dos pais os torna completamente inadequados para a educação, são fatos muito corriqueiros (...)

Reich, Wilhelm. A Revolução Sexual

Entre essas satisfações também se incluem as diretamente sexuais, especialmente entre irmãxs, primxs, amigxs de idade próxima, seja no seio da família, na igreja, no bairro, no condomínio ou na escola, as quais, na primeira vez, sofrem repressão direta dos adultos (pais, professorxs) quando descobertas, construindo na criança a ideia de que a expressão da sexualidade é algo errado/feio/ruim e, quando buscada posteriormente, vem acompanhadas de culpa, repugnância, vergonha, medo e da necessidade do anonimato.

É dessa repressão que se origina primariamente a maioria dos distúrbios amorosos mais tarde (...). Em primeiro lugar, não haveria nenhuma repressão (...) se lhe fosse permitido [aos meninos] o jogo genital com as meninas de sua idade, bem como o onanismo [a masturbação] socialmente. Não se admite de boa vontade que tais jogos sexuais ("brincar de doutor", etc.) sempre acontecem, onde crianças se encontram em companhia de outras por tempo prolongado; realizam-se, no entanto, com plena consciência da proibição de tais atividades e, portanto, com sentimentos de culpa e fixações prejudiciais a tais jogos. A criança que não ousa praticar tais jogos, quando para isso tem oportunidade, é candidata certa a graves prejuízos em sua vida sexual posterior por obedecer aos princípios da educação familiar.[i]

Reich, Wilhelm. A Revolução Sexual

Também influenciam na construção sexual do indivíduo a diferenciação social entre homem e mulher, a atitude de reprodução ou reação do filho ou da filha frente às relações de violência, machismo, autoritarismo e submissão entre pai e mãe, a assimilação dos papéis socialmente designados para cada gênero, etc. O papel que cumpre a moral cristã na subjugação da mulher, na castidade, na repressão sexual e na formação do indivíduo para os valores do casamento, como a monogamia, a fidelidade sexual e a propriedade matrimonial e a reprodução desses valores em larga escala por meio da mídia, programas de auditório, novelas, programas infantis, propagandas, indústria de brinquedos, etc., também são essenciais na construção desse indivíduo reprimido.

É sob toda essa influência social que se constrói um adulto sexualmente doente em vários aspectos, incapaz de manter relações sexuais e sociais saudáveis. Entre estes, alguns indivíduos impotentes, covardes e incapazes de se dirigir a qualquer outro objeto sexual para satisfazer seus desejos, se utilizam da fraqueza e impotência de reação de uma criança. A legítima curiosidade interessada da criança, tolhida de satisfazer saudavelmente tal curiosidade com outras crianças pela repressão sexual imposta pelos adultos, se torna um álibi para a consumação do abuso. Não é por acaso que a maioria absoluta dos casos de abuso sexual de crianças se encontre dentro da própria família ou dentro da Igreja. Em 1905, Freud apontava que “abusar sexualmente de crianças [era] prática inquietantemente frequente entre professores e simplesmente porque [eram] eles que [tinham] mais oportunidade de fazê-lo” (Freud, Três Ensaios sobre sexualidade), hoje, as mudanças na instituição escolar e na relação aluno-professor (com exceção dos internatos) transferiu a visibilidade e a maior oportunidade da realização do abuso para os antros sagrados das Igrejas e para o seio da própria família.

Essa sociedade, nucleada na instituição familiar, não pode garantir a construção de um indivíduo sem recalques, sublimações, receios, imposições, angústias e insatisfações, em suma:

“a repressão das necessidades sexuais se reflete ainda num enfraquecimento geral das funções intelectuais e emocionais, principalmente da auto-segurança, da força de vontade e da capacidade de crítica (...) A estrutura de vassalo é uma mistura de impotência sexual, indefensabilidade, necessidade de apoio, ânsias de liderança, temor da autoridade, medo da vida e misticismo. É caracterizada pela inclinação para a rebeldia e vassalagem ao mesmo tempo. O temor sexual e a hipocrisia sexual constituem o núcleo daquilo que chamamos comodismo burguês”

Reich, Wilhelm. A Revolução Sexual

As demais esferas sociais de formação tampoco podem eliminar tais insatisfações e recalques, muito pelo contrário, assentam essa repressão e criam ainda outras. A origem da formação sexual doentia de toda a humanidade, hoje, esta ligada com a sociedade organizada em classes, e só pode avançar satisfatoriamente à sua superação nas bases de outra organização social, que transforme o papel da familia emancipando a criança do julgo auoritário, consevador e moralista dos pais, que garanta uma relaçao comunitária sadia e livre entre as crianças, que elimine a busca do lucro nas industrias do consumo com sua planificação sob controle dos trabalhadores, que elimine os vínculos estatais com os valores e morais cristãos/religiosos e que coloque a educação a serviço da autonomia e da emancipação, fazendo da escola um espaço coletivo do livre pensar, viver e praticar.

Como a família compulsória se encontra economicamente fundida com a sociedade autoritária, seria muita ingenuidade esperar que os seus efeitos e influências possam ser erradicados dentro dessa sociedade. Tais efeitos e influências se encontram na própria situação da família e, pelos mecanismos inconscientes da estrutura impulsional, acham-se inextricavelmente entranhados no indivíduo isolado.

Reich, Wilhelm. A Revolução Sexual

De adultos sexualmente doentes à sujeitos emancipados, independentes, livres e sexualmente saudáveis
Ainda que a unica forma possível e real de combater as doenças psíquicas e sexuais construídas nos adultos desde à infância seja com a transformação das bases da sociedade para outra assentada em relações de produção e de propriedade que caminhem para uma sociedade sem classes, livre e emancipadora; a luta pela transconstrução do adulto crescido doente em um adulto com cada vez maior possibilidade e liberdade para combater essa formação doentia em si e nos demais é imprescindível para efetivar a transformação dessa sociedade, afinal “a repressão da vida amorosa infanto-juvenil provou, graças às pesquisas da economia sexual e individual, ser o mecanismo básico da criação de indivíduos submissos e escravos econômicos”(idem).

Essa relação dialética entre a superação do sistema econômico com a superação da repressão sexual é central de ser debatida tanto por todxs aqueles que se reivindicam revolucionárixs e que constroem organizações políticas da classe operária na perspectiva da formação de um partido dos trabalhadores, sem patrões, organizado de maneira soviética, para derrubar o capitalismo por outra base econômica de organização da produção e social de organização das relações, quanto por todxs aqueles que militam dentro das disntintas militâncias sexuais (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgênero) e de gênero na luta pela garantia da afirmação, da visibilidade, da igualdade e de direitos. Se umx “revolucionárix” enxerga nas questões da sexualidade apenas uma discussão de opressão, ou um espaço político para a construção partidária, sem compreender que a organização destes setores é o grito daquelxs que enfrentaram certas normas sociais e morais quando este se calou e se reprimiu, sem ser este também sujeito no enfrentamento das morais, valores e instituições que o formaram enquanto ser consciente, alienado e ideologizado, então elx jamais será capaz de lutar fielmente por uma outra sociedade. Da mesma forma, umx militante LGBTT ou feminista que não compreenda que qualquer conquista dentro do sistema capitalista se torna seu inverso, pois as bases que sustentam o Estado e a burguesia necessitam da repressão sexual – acompanhe ela os ventos políticos da imposição autoritária, da naturalização irônica, da transferência indireta ou da ideologização subliminar – além de ser utópico, é reacionário, pois se corporativiza na satisfação individual momentânea e não na busca da realização do coletivo e da humanidade, e, portanto, incapaz de lutar seriamente contra a opressão e a repressão sexual enquanto superestruturas sociais.

Trata-se, inequivocamente sempre sem qualquer possibilidade de mistificação social, de se afirmar integralmente, de ajudar e assegurar, as manifestações livres e sadias da vida dos recém-nascidos, das crianças, dos adolescentes, das mulheres e dos homens, ou de se reprimi-las ou aniquilá-las, seja com que ideologia ou pretexto, seja no interesse deste ou daquele Governo, "proletário" ou "capitalista", seja ainda em nome desta ou daquela religião, judaica, cristã ou budista. Isso vale inequivocamente em qualquer lugar e enquanto houver vida, se é que se quer acabar de uma vez por todas com o embuste organizado das massas humanas trabalhadoras; se é que se quer demonstrar pela ação que os ideais democráticos o são a sério.

Reich, Wilhelm. A Revolução Sexual

A Rede Globo de Televisão, a moral do IBOPE e do capital, ainda que apoiado sobre o aumento da violência sexual

Para além da discussão acerca do sensacionalismo por trás do ressurgimento da sênior apresentadora infantil, Xuxa Meneghel, que estava relativamente sumida; para além do foco do programa de reportagem mais assistido pela população brasileira (o Fantástico) – e dos demais nas seguintes semanas – ter sido sobre a Xuxa, em meio a uma situação política nacional com graves descobertas de corrupção envolvendo governo, oposição, grandes monopólios, global-players nacionais – ou seja, grande parte da burguesia brasileira – em atividades lícitas e ilícitas e uma greve nacional dos professores e trabalhadores das Universidades Federais, com forte apoio estudantil; o que, de fato, incomoda é a utilização do tema de abuso sexual infantil, e não outro, para garantir o desvio do foco da política nacional e a reaparição da Xuxa na TV.

A utilização consciente desse tema só pode ser compreendida se retomarmos as últimas movimentações a nível programático da Rede Globo em meio aos dois eventos mais aguardados pela burguesia nacional, não é desconhecida a relação dos Roberto Marinho com distintos setores empresariais brasileiros, como o ramo de turismo – envolvendo hotéis, restaurantes, municípios, Estados e governos – e também, haja vista a relação da Revista Veja – Editoras Abril – com o escândalo do ‘jogo do bixo’ do Cachoeira-Delta, não podemos descartar as possíveis relações entre os Roberto Marinho e práticas ilícitas e ilegais, como o turismo sexual. A Globo lançou mão no início do ano de uma mini-série a ser transmitida mundialmente, de nome “As Brasileiras”, na qual retrata distintas mulheres, com distintos comportamentos estigmatizados, de distintos Estados e com distintas pretensões sexuais; também podemos ver nas suas novelas a construção de um Brasil e de um esteriótipo de brasileirxs para ser comercializado aos gringos como propaganda das belezas e riquezas nacionais (onde a mulher é um destes belos objetos para ser consumido).

É no marco da Rede Globo conformando seus maiores quadros humorísticos – se é que podemos chamá-los assim –, como Casseta e Planeta e Zorra Total, na naturalização do assédio sexual, na satirização da violência à mulher, do feminicídio e do machismo e no aprimoramento da construção da mulher-objeto, e objeto à serviço do interesse sexual dos homens. É entre uma propaganda de bonecas e brinquedos infantis, cada vez mais sexualizados, e a exportação de produtos musicais como “Ai, se eu te pego!” que a Rede Globo de Televisão apresentou alguns depoimentos, imagens e vídeos de casos de abuso sexual infantil. Longe de querer denunciar esses abusos, os interesses da Rede Globo ficam bem claro contextualizados com seus demais programas, que são de vitrine para o turismo, inclusive o sexual – com sua respectiva construção moral –, no Brasil da Copa e das Olimpíadas.

A apresentação pública desses casos de abuso, longe de acuar os abusadores, só podem fazer garantir maior cuidado e maior repressão e exigência sobre a criança por parte do abusador. Da mesma forma que não se elimina a existência do roubo, prendendo aquele que se torna ladrão devido às desigualdades desse sistema, senão extirpando a existência da desigualdade; não se combate a existência do abuso sexual infantil pela publicização da sua existência e das formas judiciais de acusação e prisão do indivíduo que a comete, a não ser eliminando os fatores repressores morais, tradicionais e patriarcais que constroem os indivíduos para uma sexualidade doentia – fatore que a prórpia Rede Globo reproduz. Essa eliminação só pode se dar na luta conjunta por uma outra organização social e econômica, que só pode passar pela construção do socialismo em direção ao comunismo.




[i] Nesse trecho em específico, Reich aparenta uma negligência sobre a possibilidade dos jogos sexuais infantis acontecerem entre indivíduos do mesmo sexo. Porém, ainda que possamos fazer uma discussão crítica da maneira mecânica com que Reich reproduz o processo de inversão apontado por Freud - e inclusive do prórpio processo -, nessa questão em especial - da construção da sexualidade infantil - ele aponta nesse mesmo livro a possibilidade dos jogos sexuais infantis se darem tanto entre crianças do mesmo sexo biológico, quanto do sexo oposto.
Também em sua época a masturbação masculina era ainda mais reprimida do que hoje, o que levava à feminina a nem ser cogitada. Obviamente que podemos, tranquilamente, expandir a concepção sobre a qual trata do onanismo (masturbação) infantil para toda a criança independentemente do seu gênero biológico (masculino/feminino).

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