segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CENAS DA REPRESSÃO- Um relato da invasão militar do Pinheirinho


CENASDA REPRESSÃO-Um relato da invasão militar doPinheirinho
porAline, estudante de Ciências Sociais da USP e militante daJuventude Às Ruas 


Dia21 de janeiro de 2012 - DIA ANTERIOR À REINTEGRAÇÃODE POSSE
Durantea plenária das 19hs, onde estavam presentes Zé Maria,Eduardo Suplicy, Ivan Valente,  outros parlamentares,diversas entidades, partidos e organizações, juntamentecom toda a comunidade do Pinheirinho, todas as falas feitas seconcentraram em tranquilizar os moradores em relação apossibilidade de uma ação da polícia nacomunidade, dizendo que ela por enquanto não viria eantecipando uma possível vitória.
EduardoSuplicy, durante a plenária, garantiu que a reintegraçãode posse não aconteceria e que no prazo de 3 meses a 2 anosninguém seria tirado dali. Todas as outras falas anunciavam avitória da luta por moradia, confiantes nas medidas judiciaiscontrárias à reintegração pela PM.Todosos que estavam ali presentes foram envolvidos por uma falsa sensaçãode segurança. Todos ali, inclusive nós estudantes.
Emoutra fala, Suplicy relatou a sua última conversa com Cury, oPrefeito de SJC, que afirmou que apesar de não concordar com ainvasão criminosa dos adultos , estava muito preocupado com as4 mil crianças da comunidade, e se comprometeu a garantir oacesso a saúde e educação.
(Umgeneroso gesto de benevolência de um Prefeito que negacotidianamente a essas mesmas crianças o acesso àspoliticas de assistência social do município e vagas emescolas e creches municipais simplesmente por serem moradoras daOcupação de Pinheirinho. O mesmo Prefeito que reconhecea origem nordestina da maioria desses moradores, que promove nacidade a xenofobia e a segregação racial e que,homenageia Bolsonaro com medalha de honra ao mérito.)
Acomunidade comemorou e a plenária acabou depois das 21hs danoite com palavras de ordem que diziam fervorosamente:"A-ha,u-hu! O Pinheirinho é nosso!". Vamos comemorar!

DIA22 de janeiro de 2012...
Por volta das 06hs da manhã, o quefoi dito impossivel 8hs antes, acontece: a tropa de choque surpreendea todos!
"Eue outros três estudantes estávamos dormindo naSecretaria da Ocupação do Pinheirinho. A Secretaria éprimeira casa que fica na frente do portão principal daComunidade. Fogos de artificio dão o sinal! Somos acordados,enquanto eu coloco o cobertor na mochila meus amigos se arrumam esaem. Conforme eu passo pela porta da secretária, vejo umaformação com mais ou menos 20 policiais da tropa dechoque, fortemente armados, adentrando a rua principal da comunidade.No lugar do portão de acesso do lugar, que foi violentamentedestruído, estavam cinco homens da tropa de choque. Osmoradores começam a sair de suas casas para entender o queestava acontecendo, já que havia se tornado rotina a entradade um certo número de policiais armados para intimidar eaterrorizar os moradores. Fiquei ali ao lados dos moradores que saiamde sua casas tentando entender o que era aquilo. Com um celular namão, me dirijo aos cinco policiais da tropa e pergunto o queestava acontecendo, a resposta foi reintegração, eupergunto de quem foi a ordem, ”- CPI.” (sic) é a resposta.(Na verdade não houve CPI alguma. Durante a noite do sábado,enquanto a plenária tranquilizava os moradores, na verdade,estava acontecendo na clandestinidade uma reunião com apresença da Ilustríssima juíza, do Prefeito emais uma terceira pessoa não identificada, que decidiramdesumanamente e em prol de seus interesses privados a reintegraçãode posse imediata e a qualquer custo).
Nesse momento, um policial datropa de choque me pergunta se sou moradora, digo que nao, que eraestudante em luta e neste momento, desarmada e sem oferecerresistencia, o celular que estava na minha mão éarremessado para longe e sou "delicadamente" conduzida pelobraço e convidada a me retirar . Quando saio, observo quetodas as ruas que dão acesso ao Pinheirinho estãositiadas pela  tropa de choque. Na medida em que todos ospoliciais me viam saindo de lá, armas eram apontadas paraminha direção enquanto eles gritavam "Fora, fora,sai, sai, sai agora, vai vai!!!!". A força brutal, aameaça, intimidação e covardia eram naturalmenteutilizados, por  homens altamente armados, assassinos doEstado e dispostos a qualquer coisa. Outros dois estudantes queestavam do lado de fora e alguns moradores que tentaram entrar emPinheirinho para encontrar as famílias, resgatar os filhos, etentar reaver, ao menos, seus documentos pessoais, foram brutalmenteimpedidos. Uma moradora idosa, desesperada por seu filho pequenoestar lá dentro, sozinho, foi espancada por policiais querespondiam com cacetes de borracha à sua necessidade de zelarpela integridade física de seus familiares. Todas as ruas aoredor da Ocupação de Pinheirinho foram sitiadas eatacadas. Algumas famílias da vizinhança, com criançaspequenas, acordaram com bombas sendo jogadas dentro de suas casaspara impedir que elas saíssem para ajudar Pinheirinho. Pessoascomeçaram a se aglomerar na tentativa de ter notíciasde familiares que estavam lá dentro, foram todas atacadas pelatropa de choque com balas de borracha e bombas. Armas eram apontadaspara crianças e para a imprensa local. Os nossos gritos "temcriança aqui, tem criança aqui!" nãocausavam o mínimo de sensibilidade em pessoas que se limitavama vender sua humanidade e a cumprir ordens como um simplesinstrumento do monopólio da violência do estado burguês.

Uma das armas que a população dos arredores dacomunidade possuía, era a câmera de vídeo e ocelular. Qualquer um que tentasse registrar a açãoarbitraria e fascista da tropa de choque era violentamente reprimido.Todas as pessoas eram ameaçadas e obrigadas a retornar paradentro de suas casas. Helicópteros pousavam. A cavalariaavançava. Carros da rota e carros blindados com mais e maispoliciais chegavam. Caminhões do corpo de bombeiros tambémestavam lá para prestar a sua contribuição nomassacre de Pinheirinho. Na medida em que o som de tiros e bombasecoava de dentro da comunidade, chegavam as notícias viacelular para os familiares que estavam lá fora, informaçõescruzadas sobre a possibilidade da existência de mortos entre osmoradores que tentavam resistir, já que foram utilizadas pelapolícia armas de fogo com munição letal. Nãohouve tempo para a resistência organizada, os moradores dePinheirinho, desesperados, tentavam resistir como puderam natentativa de proteger suas famílias, seus pertences, e o seudireito legítimo de lutar pela suas necessidades básicasde sobrevivência, e que lhe são negadas pelo estadoburguês. Enquanto isso, a mídia local e nacional cumpriaa sua função de classe, distorcendo informaçõese só noticiando a defesa dos moradores, retratada comodepredação e criminalizada, sem relatar nenhuma dasviolações dos direitos humanos praticadas massivamentepelos policiais. Foram 5hs de resistência extramuros daOcupação de Pinheirinho, as pessoas eram dispersadas eretornavam revoltadas com as notícias da possiblidade de morteentre os moradores e com a ação violenta e falta dehumanidade da tropa de choque. Algumas horas depois alguns moradorescomeçaram a sair de Pinheirinho com o que podiam carregar,informando que suas casas foram lacradas pela polícia. E alimesmo, nas ruas dos bairros ao redor da comunidade esses moradorescomeçaram a se aglomerar na esperança de poder reaverqualquer coisa. A ação da policia foi atenuada pelachegada da grande mídia. A indignação e asensação de impotência foi enorme. A Zona Sulinteira de SJC parou com o estado de sitio. Foi uma manhã depuro horror e desespero, nunca presenciei algo parecido, a falta dehumanidade me embrulhava o estômago. Vidas estavam sendodestruídas em nome do dinheiro e do poder, o exemplo maisconcreto da luta de classes e do extermínio que a burguesia eo estado promovem cotidianamente na invisibilidade das periferias.

Às4hs da tarde, voltando para casa, avisto tratores e caminhõesse dirigindo para a ocupação, e neste momento me douconta que o massacre de Pinheirinho havia apenas começado".

1 comentários:

Desde Buenos Aires, camaradas, estamos con ustedes!!!

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