Por Ana Carolina Oliveira, estudante de Serviço Social da UERJ e Jenifer Tristan
A Juventude Às Ruas - Rio de Janeiro (LER-QI + Independentes) organizou um importante seminário com o tema "Marxismo, questão negra e revolução no Brasil" para abrir as discussões e reflexões sobre como a questão negra é crucial para pensar um processo revolucionário no Brasil. A partir de reflexões iniciais e o resgate da história dos negros internacionalmente e em especial no Brasil, partimos de regatar a nossa história de luta desde as várias revoltas quilombolas e diversas formas de resistência negra neste país, parte da nossa história que não nos ensinam nas escolas para fazer-nos crer que a escravidão foi passiva. Pensar a revolução brasileira é também parte fundamental de ver que a história dos negros sempre foi de revoltas e resistências, com o maior quilombo da Américas que foi o Quilombo dos Palmares e todas as ações do negrxs de resistências, fugas, envenenamento de senhores, incêndios nos engenhos são as primeiras expressões de luta de classes no Brasil.
O Brasil de hoje foi criado sobre as bases da escravidão e é na marca das condições de vida dos setores mais explorados que vemos a herança da escravidão. Por trás dos postos de trabalho precário, das moradias precárias nos morros, favelas e periferias, no alvo fácil da repressão sistemática nas mãos da policia que mais mata no mundo, na maior parte da população carcerária, vemos os negros e negras hoje.
A esquerda em diversos momentos
de sua trajetória nunca deu a centralidade necessária para debater a questão
negra, seja porque acreditava que esta questão dividia a classe trabalhadora ou
ignorando a dinâmica racial, colocando como única pauta a revolução e como se
esta fosse pensável sem os negros e o combate ao racismo em um país que foi o
maior país escravocrata do mundo. No Movimento Negro diversos setores não
colocam a luta pelos direitos dos negros como parte da mesma trincheira da
classe trabalhadora. Para superar este atraso histórico precisamos resgatar o
legado do marxismo, que desde sua origem sempre deu como tarefa central a
libertação da mulher e dos negros, como parte fundamental de libertação da
humanidade.
A expressão destes atrasos
históricos primeiramente da esquerda ao não enxergar a questão negra como parte
fundamental da perspectiva revolucionaria, nunca a fez ser uma alternativa real
para os negros e para o próprio movimento negro. Isso faz com que hoje estes
setores se limitem a defender demandas mínimas extramente insuficientes como
são as cotas raciais, que apesar de ser um avanço não respondem a altura da
precarização e elitismo nas universidades e mantém vários milhões de jovens negros
e pobres fora das universidades.
O debate no seminário além de se debruçar
neste pontos, também debateu ativamente a situação do negro em nossa cidade em
meio a sua profunda transformação para atender aos projetos da elite. Na menina
dos olhos de Dilma, Cabral e Paes, frente a preparação do País que vai sediar a
Copa do Mundo e as Olimpíadas, vivemos em base a um projeto de cidade
privatista, de remoções, higienista que varre das ruas o conjunto dos negros e
pobres, militarização as favelas a partir das UPP’s, remove milhares de
moradores para dar lugar a especulação imobiliária, além de um projeto de Lei
que proíbe qualquer tipo de manifestação nos meses antes destes megaevento, o
AI5 da Copa. O principal alvo desta ofensiva privatista e militarista é a
população trabalhadora, e sua ampla maioria são os negros.
Diante deste cenário
debatemos as tarefas de uma um juventude revolucionária que deve dar uma
resposta a altura e se colocar a tarefa de atingir amplos setores desde a
perspectiva da transformação revolucionária desta sociedade como aliada da
classe trabalhadora. O avanço da discussão
e reflexão sobre a questão negra, somado a papel que cumpre a juventude e o
peso que tem o proletariado negro no Rio de Janeiro pode e deve ser um aporte
para a luta dos negros no Brasil e no mundo todo.
Com esta imensa tarefa e desafio,
mesmo que ainda só com um pontapé inicial deste seminário que continuaremos com
diversas outras atividades, ele foi um marco para todos presente e serve de um
ótimo começo para nos fazermos à altura deste imenso desafio de relembrar a
história da luta dos negros e da classe trabalhadora para acabar definitivamente
com as heranças da escravidão e abrir caminho a um a nova sociedade e
humanidade, o socialismo.
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