Juventude Às Ruas da USP
Panfleto distribuído pela JàsR nas atividade sobre gênero e questão da mulher da calourada nos cursos da USP
Atualmente, no dia 8 de março, as mulheres
são parabenizadas por serem mães e esposas... Mas não foi sempre assim. Esse
dia traz um importante histórico de luta!
No final do século XIX e início do XX acontecia a inserção das mulheres
no trabalho fora de casa. A classe dominante se apoiava na ideia da submissão
feminina para lhes dar os piores postos de trabalho, os ambientes mais
precarizados e os menores salários. Em seus primeiros anos, o 8 de março não
era um dia de festa, mas um dia no qual as trabalhadoras iam às ruas por
melhores condições de vida e trabalho. Em março de 1911, mais de cem
trabalhadoras morreram no incêndio de uma fábrica têxtil nos EUA, causado pelos
patrões da Triangle Shirtwaist contra as trabalhadoras que exigiam melhores
condições. Também no 8 de março de 1917, na Rússia, foram as manifestações de
mulheres contra a miséria do czarismo e da guerra que deram um pontapé inicial
para a revolução de Outubro!
No entanto, não se pode falar dessa
realidade de precarização do trabalho feminino como uma coisa do passado.
Grande parte da mão de obra terceirizada é composta por mulheres e maioria
delas negras, ou seja, elas ainda têm os piores empregos e os piores salários,
graças a ideologia machista e racista que faz com que hoje no século XXI os
salários femininos sejam menores. As estudantes que agora ingressam na
universidade podem se dar conta de que a opressão na universidade segue presente não apenas nos
trotes machistas. Dadas as condições precárias de trabalho que essas empresas
impõem para gastar menos dinheiro e lucrar mais, oito em cada dez mortes por
acidentes de trabalho ocorrem com terceirizados, impondo duplamente a
precarização a essas mulheres, que não são apenas oprimidas, mas também
exploradas.
A presidência do Brasil é hoje ocupada por
uma mulher, fato colocado como uma vitória em si inclusive por coletivos
feministas. Mas o que significa ter esse cargo ocupado por Dilma para as
milhões de trabalhadoras e jovens? Para as primeiras, o significativo aumento
do trabalho terceirizado durante sua gestão, e da carestia de vida, já que não
importa o gênero, a elite sempre deseja que xs trabalhadorxs paguem as contas
de sua crise. Dilma no governo, alinhada com a política das igrejas
evangélicas, por votos, também não garantiu às mulheres o direito a seu próprio
corpo, e o aborto segue proibido. As mulheres da classe média e da elite pagam
milhares em clínicas particulares e as mulheres pobres morrem tentando métodos
caseiros. As que querem ser mães também não têm esse direito garantido num país
onde as condições de educação (principalmente creches) e saúde pública são
precárias.
Tampouco pararam os feminicídios e a violência doméstica, já que a lei
Maria da Penha ou as delegacias de mulheres não dão conta de resolver um
problema que está na própria família patriarcal e na ausência de condições para
que muitas mulheres se sustentem sozinhas – sem depender financeiramente de seu
espancador. Nas delegacias, propostas pelo governo no lugar de salários
melhores, direito de decidir ou não pela maternidade e etc., as mulheres são
novamente oprimidas pela polícia, acusadas de terem provocado os estupros e a
violência que sofreram, como o caso recente da mulher lésbica que tentou
denunciar sua agressão e teve os dedos mutilados pela própria polícia. Não pode
ser que a resposta que o movimento de mulheres dê para esses casos seja que
mães procurem aqueles que nas favelas assassinam seus filhos, que as estudantes
nas universidades dependam daqueles que reprimem sua organização política,
tampouco que as trabalhadoras possam confiar naqueles que com os cassetetes
intervém em suas greves. Temos de lutar no movimento estudantil e de
trabalhadores para discutir e combater, organizadamente, os casos de opressão.
É diante dessa realidade que nós
da Juventude às Ruas convidamos você a compor nosso bloco no ato do dia 8 de
março, junto com os coletivos Metroviários Pela Base e Professores Pela Base.
Pois acreditamos que a luta dos jovens e das mulheres deve se espelhar nas
mulheres da Primavera Árabe e da Índia e ser somada contra seu inimigo comum: a
burguesia e os governos que descarregam a crise em nossas costas e nos negam
direitos, que perpetram a opressão das mulheres com sua ideologia para seguir
lhes pagando salários menores, negando direitos e reprimindo aquelxs que lutam.
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