Por Daniel Bocalini, militante da juventude da
LER-QI
Diante de
um cenário de maior contágio no Brasil da crise econômica mundial, do giro à
direita do governo Dilma e em meio ao aprofundamento dos fenômenos da luta de classes
internacional, aconteceu no último sábado, 29 de setembro, o encontro aberto da
Juventude às Ruas, agrupação impulsionada pela LER-QI junto a jovens
independentes, que reuniu mais de 200 jovens trabalhadores e estudantes,
universitários e secundaristas, para discutir sobre que bases impulsionar uma
juventude revolucionária de centenas frente à nova situação nacional.
A mesa de
abertura foi sem dúvida o ponto alto do encontro. Foi composta por jovens
trabalhadores do metrô de São Paulo, dos Correios, bancários, professores e da
USP que estão na linha de frente de importantes processos de mobilização em
suas categorias. Dois delegados sindicais dos Correios e uma companheira
bancária, também delegada sindical, relataram as péssimas condições de trabalho
as quais são submetidos os trabalhadores nessas categorias e fizeram um balanço
das greves que ambas impulsionaram poucos dias antes do encontro. No balanço,
ressaltaram a necessidade de lutar contra a burocracia sindical ligada ao PT e
ao PCdoB que mais uma vez traiu os trabalhadores ao impor o fim da greve contra
a vontade da base das categorias através de fraudes e diversas manobras. Também
falaram sobre a importância e a diferença que fazem as ações de solidariedade
impulsionadas pela Juventude às Ruas e o papel decisivo que pode ter essa
aliança para recuperar os sindicatos das mãos da burocracia e para se enfrentar
com os interesses dos governos e dos patrões.
Ainda na
mesa de abertura, outro momento de destaque foi a intervenção de um trabalhador
quarterizado (terceirizado da empresa terceirizada) da construção civil de uma
obra de expansão do metrô de São Paulo. O companheiro relatou a luta que esses
trabalhadores levam adiante nesse momento contra o ataque da empresa que ameaça
fechar demitindo todos os trabalhadores e sem pagar dois meses de salários
atrasados e os direitos trabalhistas. Falou da motivação que sentia
participando de um evento com tantos jovens e pediu solidariedade a ocupação da
sede da empresa que estão promovendo para que não retirem as máquinas até que
recebam o que lhes é devido. Em resposta, entre as resoluções do encontro
aprovamos que nos somaremos aos atos dos trabalhadores terceirizados e
arrecadaremos recursos para seu fundo de greve.
Encerrando
a mesa, Pablito, diretor do SINTUSP e militante da LER-QI, destacou como os
processos que se abriram a nível internacional em consequência do
aprofundamento da crise colocam de novo a classe operária como sujeito
histórico na luta contra a miséria capitalista. Ao mesmo tempo lembrou que
frente a divisão imposta pela burguesia é urgente termos uma estratégia que
ligue a atuação nos sindicatos e nos conflitos particulares com a unificação
das fileiras da classe, mas também que os trabalhadores se aliem ao conjunto
dos setores oprimidos e à juventude, lembrando do papel que essa aliança já
desempenhou em outros momentos históricos, como em 1968, ou o papel que
cumpriram importantes revolucionários como Lenin e Trotsky ao se ligarem
organicamente com a classe operária ainda em sua juventude.
Em
seguida, formou-se outra mesa com representantes das localidades onde a
Juventude às Ruas vêm se construindo de maneira mais dinâmica e que contou
também com a presença internacionalista de Zonyko, rapper chileno militante do
PTR do Chile. Desde aí se expressou o balanço da greve de mais de três meses
das universidades federais que, em meio ao desafio que representou à Dilma a
greve dos servidores federais, levantou um importante manifestação de
insatisfação com o projeto de educação neoliberal que vem levando o PT, ainda
que a greve não tenha avançado mais pelo papel que cumpriram as direções
centristas do PSOL e do PSTU ao descolar a luta em defesa das universidades
públicas da luta pelo fim do vestibular e da estatização do ensino privado.
Zonyko marcou
o caráter internacionalista da juventude compartilhando como as lições da luta
dos estudantes chilenos por educação gratuita foram fundamentais para que ele
próprio avançasse para enxergar a necessidade de construir um partido
revolucionário, superando as experiências anteriores com coletivos de Hip hop
populistas.
Durante
todas as intervenções desde as mesas e depois também direto da plenária, ficou
expresso o debate que viemos fazendo desde as reuniões de preparação para o
encontro da necessidade de construirmos uma juventude marxista revolucionária,
que se alie a classe trabalhadora desde a perspectiva da revolução e em combate
com as concepções reformistas e autonomistas, que já mostraram no Chile e na
Espanha a incapacidade de responder aos desafios que estão colocados. Nos
colocamos também pela necessidade dos trabalhadores terem seus próprios
instrumentos de luta e organização política independentes da burguesia. Além do
apoio aos trabalhadores terceirizados do Mêtro de São Paulo, votamos no encontro
impulsionarmos uma ampla campanha contra a repressão a nível nacional e,
imediatamente, pelo fim dos processos contra estudantes e trabalhadores da USP
perseguidos por lutar contra a PM, contra a privatização da universidade e por
defender os interesses dos terceirizados. Discutimos também a necessidade de
ligarmos a campanha contra a repressão ao combate à violência policial que mata
todos os anos milhares de jovens negros nas periferias de todo país e que é
herdeira da transição pactuada da ditadura militar que anistiou torturadores e
assassinos.
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