Há algum
tempo tento refletir as causas e consequências que contribuíram ao atual estado
de afastamento e desagregação de nossa gestão, e por consequência, do próprio
Centro Acadêmico, contribuindo, humildemente, com o debate, buscando maneiras
para superar possíveis equívocos a partir das contribuições mais diversas dos
estudantes. Em meio à sedução "democrática" ilusória que tem a
eleição de um diretor de instituto, porta voz da reitoria no IFCH, estamos
órfãos de um Centro Acadêmico que organize a vida política: esse é o problema
principal. Infelizmente, minha posição é minoritária.
Em meados
desse ano, traços de heterogeneidade ficaram evidentes entre os
“Intergalácticos”, culminando, meses depois, em evidente falta organicidade
entre seus integrantes. Somado a isso, as poucas propostas
“prático-programáticas” não surtiram os efeitos esperados; em suma, não
conseguimos, através de novos meios, resolver antigos problemas. Dessa maneira,
abateu sobre parte da gestão um desalento político, desencadeando na atual
fragmentação. Os “Intergalácticos”, quando a realidade guardou suas manchetes
cruéis no esquecimento comum, foram incapazes de guiar a política do Centro
Acadêmico – faltou uma bússola, faltou estratégia e programa, faltou um
horizonte claro.
Hoje a atual
gestão do centro acadêmico já não existe mais. É um cadáver sendo arrastado por
uma reunião semanal. Seus membros se fragmentaram, quase toda a chapa eleita já
não participa mais do CA, adotando diferentes posições, sobrando somente quatro
membros da gestão. Enquanto isto o PSTU tenta inutilmente ressuscitar o morto,
sustentando artificialmente e inutilmente seu corpo com seus próprios
militantes. Enquanto isto os principais fatos políticos de nossa época passam
impunes, despercebidos, intocados por esta gestão, sem programa, sem membros.
Dessa
maneira, qual deve ser o horizonte para um Centro Acadêmico? Acredito que boa
parte dos ingressantes, em qualquer Ciência Humana, carrega certo anseio
transformador, gerado pelo incomodo perante a realidade. Dessa maneira, o
Centro Acadêmico representante desses alunos deve ser a ponte que auxilie os
estudantes a ligar a teoria crítica e transformadora, produzida nas salas de
aula, à realidade cruel de milhares de trabalhadores, mulheres, homossexuais,
negros, pobres. Em contrapartida, ser também, dentro da Universidade, o eco das
vozes dos morros e periferias, a tribuna no qual os excluídos e marginalizados,
os oprimidos e explorados, possam discursar. O horizonte do Centro Acadêmico de
Ciências Humanas deve ser a superação do modelo educacional empresarial
pactuado com o imperialismo durante a Ditadura e da sociedade, através de sua
aliança com os setores mais explorados; ser a ilha de discussão política e ação
prática, rodeada pelo mar da estagnação acadêmica; ser o contraponto no qual
todos possam ouvir e questionar, aprender e ensinar.
Em uma das
ultimas reuniões ordinárias do CA, estavam presentes cerca de trinta
estudantes. Eu, juntamente com meus companheiros da LER-QI, propusemos a
rediscussão do balanço e perspectivas da atual gestão, para que pudéssemos
chamar uma assembleia geral com este mesmo tema, já que da ultima vez que este
tema foi discutido na reunião do CACH a posição do PSTU contraria a assembleia
venceu. Esperávamos ouvir a opinião de muitos estudantes, que, apesar de
discutirem e se posicionarem, rotineiramente, não frequentam as reuniões
ordinárias do CA. Para a minha surpresa, e a de muitos estudantes ali presentes,
os companheiros do PSTU, fizeram uma defesa apaixonada do silêncio, da omissão.
Desviando a atenção para o processo burocrático das eleições de diretoria do
instituto ao invés de se preocupar com a auto-organização estudantil no CACH. Reduzindo cinicamente em seu discurso todas as
discussões do CACH “a um debate entre LER-QI e PSTU", com a finalidade de
generalizar a todos os estudantes não organizados um desinteresse em realizar a
assembleia, desinteresse que era apenas seu. Levaram a crer que apenas os
“organizados” são capazes de se posicionar perante a questão em pauta, e que os
estudantes ‘independentes’, por não possuírem "uma posição
unificada", estavam impossibilitados de poder dizer o que pensam (o que
efetivamente está acontecendo sem um espaço amplo para discussão) – como se a
legitimidade da crítica e da proposição fosse privilégio dos “mobilizados” ou
dos “organizados”. Ao invés de se posicionarem a favor de uma assembleia, onde os
estudantes pudessem se inteirar e se posicionar sobre os acontecimentos, o PSTU
adotando uma postura burocrática preferiu esconder esse debate da base dos
estudantes e tomar para si a direção do CA, sem que todos pudessem se
posicionar politicamente sobre qual CA temos de construir. Votaram sozinhos
contra a proposta de reabertura deste ponto de pauta, e infelizmente foi o
suficiente para que ganhassem a votação.
Apesar de
sustentar um ponto de vista crítico perante o CA, estive sempre preocupado em
conhecer as opiniões de todos os estudantes, sejam elas convergentes ou
divergentes da minha. Por isso, desde meu primeiro posicionamento público,
defendi a construção de uma Assembleia, na qual todos pudessem apontar suas
opiniões, críticas e propostas, contudo o bloqueio silencioso dos companheiros
do PSTU venceu em todos os momentos. E dessa forma, não vejo motivos para
permanecer na atual gestão. Não posso continuar como coordenador de uma gestão
falida, já inexistente, que não é capaz de cumprir o mínimo de seu dever
democrático frente a sua fragmentação, ou seja, chamar uma assembleia de
balanço e perspectivas.
O anúncio de
meu rompimento com o CACH não significa abandono do CA, mas sim uma posição de
princípio que lutarei apaixonadamente para defender com meus colegas. Defendo
um CA, que combine militantes organizados e independentes, dotado de
horizontes, que também possa acolher todos os posicionamentos críticos e
propositivos, que não se omita perante um estado agudo de desagregação, que
expresse sua opinião, mas ouça também as demais. Defendo uma CA que se erga sobre
um programa, que se ligue aos principais processos de luta dentro e fora da
universidade, politizando o instituto com debates e atividades, mantendo uma
relação orgânica com a base de estudantes através da auto-organização, como as
assembleias. Unificando o movimento estudantil e se aliando aos trabalhadores,
numa clara perspectiva de se defrontar com o atual projeto de universidade
privatista e elitista, e sua estrutura de poder antidemocrática e repressiva.
Dessa forma, anuncio hoje meu afastamento
da gestão “Intergalácticos: Uni-vos!” e faço um chamado para que o conjunto dos
estudantes para que avancemos para a construção de uma
novo centro acadêmico.
Fabiano Galletti, militante da Juventude Às
Ruas e LER-QI.
Campinas 09 de outubro de 2012
1 comentários:
Quem tem medo dos comunas do CACH? :=) Sério, vocês todos de esquerda brigando por causa de problemas nas reuniões, e a reação em bloco, coesa, lhes dá igualmente um único epíteto, sem distinguir posadistas, stalinistas, trotskistas, morenistas e o escambau: todos COMUNAS, mesmo. Um "lixo ideológico" canceroso que é preciso extirpar urgente da universidade em prol de seu serviço à "sociedade" (quer dizer, "mercado").
O problema é muito mais sério e muito mais "embaixo" do que meras desgregações no movimento estudantil. Militar e ter opinião política hoje virou sinônimo de "démodé" e "empecilho ao bom desempenho acadêmico". A Juventude não está mais nas Ruas, a fragmentação da convivência social, gerada por internet, televisão, horários de trabalho apertados e prazos acadêmicos impossíveis, acabou com a discussão dos problemas "cara a cara", "boca a boca", "olho no olho". Desde o Ensino Fundamental, a gente aprende a ser apenas parafuso da máquina do consumo, não pensa em refletir pra que existimos e o que podemos fazer no país e no mundo.
Os estudantes universitários não estão formando opinião própria, e isso é grave pra quem deseja ser acadêmico, pesquisador ou mesmo um ótimo profissional. Mesmo que seja uma opinião de direita, e não de esquerda, mas uma opinião, uma postura... O Santo Mercado vende a ideia de que o discurso bipolar "direita/esquerda" acabou, quando o que vemos é uma fascistização do capitalismo em crise. Querem nos convencer de que "tomar partido", em todos os sentidos, é anacrônico, inútil; querem desmontar e sucatear o único patrimônio que temos, que é o RACIOCÍNIO!
Enfim, talvez o maior inimigo a enfrentar não seja diretamente o "mercado" e o modelo de universidade atual, mas sua consequência mais direta, que é a atomização do corpo discente. E iniciativas culturais, políticas, sociais, acadêmicas e outras no câmpus, fora dele e mesmo nas redes sociais são de importância fundamental. Certamente, procurar algo que UNA ao invés de DIVIDIR, para que antes de afinarmos nossa ideologia, ressuscitemos o mais caro dos mortos, que é a VIDA SOCIAL ESTUDANTIL.
Sem mais pretensões, vos fala um humilde História 06 que acompanha com carinho, mas pouca diligência, os acontecimentos políticos de nossa fauna.
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