O
processo administrativo que visa a eliminação e demissão de estudantes e
trabalhadores, originado na ocupação da reitoria e na moradia retomada, caminha
para sua conclusão nas próximas semanas. O processo não passa de uma
inquisição, onde a reitoria acusa, colhe provas, julga e puni, e tudo isso
baseado em um decreto oriundo da ditadura militar. A eliminação e demissão dos
lutadores que se ergueram contra essa universidade elitista e pela defesa da
universidade pública, contra sua privatização, centralmente em torno das
consignas “Fim dos processos!” e “Fora PM da USP” - que é bem sabido não esta
lá por segurança alguma, mas apenas para sufocar a mobilização política contra
o projeto da reitoria - mas também pela polícia fora dos morros, favelas, e
periferias, deve ser barrada a todo custo! O movimento estudantil precisar dar
uma resposta dura por via de uma mobilização organizada!
Nós
que sempre defendemos essa consigna temos certeza de que ela nunca foi tão
atual e necessária. Em baixo de nossos narizes, logo ali na São Remo, a polícia
genocida e racista vem atuando de forma selvagem. Atualmente, existe nessa
favela um toque de recolher não oficial, onde simplesmente a PM decretou que
quem estiver na rua após as 22h pode ser morto. Isso por conta das prováveis
quebras de acordo entre a polícia e o crime organizado. Essa onda de violência
vem se manifestando não apenas na São Remo, mas em grande parte da periferia e
região metropolitana de São Paulo. Nas últimas duas semanas foram mais de 8
pessoas mortas pela polícia nessa comunidade. A última delas foi um garoto,
baleado nas costas pelo fato de ter ido comprar leite condensado para sua mãe
depois das 22h. Além de sofrer cotidianamente com esse aparato repressor, herança
da ditadura militar, essa favela está ainda na linha de fogo da reitoria e da
burocracia acadêmica, com o tal do projeto de reurbanização, que na prática
sabemos o que significa: despejo! Isso, porque a USP quer de volta seus
terrenos dessa região, e já vem esboçando a algum tempo com seus arquitetos da
FAU esse projeto, mais uma mostra de a serviço de que esta essa universidade
hoje.
Precisamos
estar ao lado desses trabalhadores, muitos deles inclusive trabalhadores
precários da própria USP, barrar esse projeto de reurbanização e seguir
fortemente na luta contra a repressão e contra a polícia, dentro e fora da
universidade.
O desmonte da Prefeitura do Campus da Capital - avança o projeto privatista de Rodas e da burocracia acadêmica.
A
prefeitura do Campus desempenha um papel fundamental para o funcionamento da USP.
Está em curso hoje, na universidade, um processo de desmonte da prefeitura.
Isso significa, na prática, um desmonte também do corpo de funcionários
contratados da prefeitura, ou seja, eles seriam transferidos ou,
potencialmente, demitidos.
Com
o desmonte da prefeitura, quem cumprirá as tarefas que ela cumpria? Empresas
terceirizadas. Nesse momento, é aberto um espaço para a iniciativa privada
atuar em uma Universidade Pública, projeto que está em curso há décadas na USP
e que vem se acentuando cada vez mais nos últimos anos – um exemplo claro é a
extinção dos circulares e criação do BUSP. Sem contar que o salário de um
terceirizado é pelo menos 3 vezes menor do que o de um efetivo, e com uma
diferença enorme de direitos adquiridos por anos de luta da categoria.
Além
disso, os funcionários da prefeitura do Campus sempre desempenharam um papel
histórico e fundamental na luta por melhores condições de trabalho, por uma USP
mais democrática e pública de fato, apoiando inclusive a luta dos estudantes.
Desmontar a prefeitura significa, também, desarticular politicamente esses
trabalhadores, enfraquecendo sua histórica resistência frente aos ataques
brutais da reitoria. E esses ataques não estão dissociados da questão da
repressão dentro e fora da Universidade, da inserção da PM na USP e da
utilização da força para garantir a “ordem”, impedindo que manifestações
políticas ameacem esse projeto elitista e privatista de Universidade.
A FFLCH ameaçada de divisão
Medidas
semelhantes a essas, também de acordo com a política da reitoria, estão sendo
preparadas na FFLCH. A política defendida pelo novo diretor, Sérgio Adorno, de
divisão da faculdade, visa concentrar mais recursos na formação de especialistas
para o mercado e o estado, em detrimento da formação básica, bem como
desarticular a vanguarda que se concentra na unidade (como faz na prefeitura).
A política que está sendo levantada pelas entidades estudantis e pela ADUSP, de
uma plenária institucional, na medida em que está separada de qualquer medida
de mobilização, é uma adaptação ao regime universitário e seria completamente
incapaz de barrar esse ataque.
E o DCE faz... um plebiscito que não fala de nada disso!
Diante
da ofensiva da reitoria, é necessária uma campanha que ligue os estudantes da
USP a aliados que também sofrem com a repressão, como os próprios trabalhadores
da Universidade, os moradores da São Remo e lutadores das demais universidades,
como as estaduais paulistas e a UNIFESP. A atual gestão do DCE não vem tomando
medidas nesse sentido, a começar pelo XI Congresso dos Estudantes da USP, onde
demonstrou que contrapõe a luta pela democratização e a luta contra a
repressão. Como pode existir democracia dentro da universidade quando os
lutadores estão sendo reprimidos e impedidos de manifestar politicamente? Essas
duas questões estão intimamente ligadas, e não podem estar contrapostas.
Isso
fica claro se olharmos para o plebiscito que o DCE impulsionará essa semana.
Ele poderia ser útil para gerar uma ampla discussão nos cursos, mas isso
precisa servir para preparar uma mobilização. O que o DCE faz é o contrário,
não impulsionando a organização dos estudantes como deveria, visto o pouco peso
dado às assembleias pela atual gestão, deixa qualquer tipo de mobilização séria
para um futuro que não existe.
O
plebiscito visa apenas às próximas eleições estudantis. Em sua campanha sequer
cita os mais de 100 estudantes e trabalhadores processados, que podem ser
eliminados da universidade, a demissão do dirigente sindical Claudionor
Brandão, ou os 8 estudantes que já foram eliminados, entre eles a companheira
Amanda, ameaçada de despejo do CRUSP com seu filho de menos de um ano! As
perguntas não trazem uma discussão sobre a real democratização da USP, e sim
uma campanha pelo programa que essa gestão - e a chapa que ela formará para
concorrer às eleições no próximo mês - defende, reduzindo a discussão da
estrutura de poder ao "sim ou não" para eleições diretas e estatuinte
paritária. As diretas são insuficientes, pois não alteram a estrutura de poder
da universidade, mantém organismos como o CO e o próprio reitorado que precisam
ser dissolvidos para atacar a burocracia acadêmica, e a paridade apenas garante
que o voto de um professor valha cerca de cinco vezes o de um funcionário e
quinze vezes o de um estudante. Como mínimo deveríamos exigir uma cabeça um
voto, dissolução do CO, e a constituição de uma estatuinte livre e soberana
composta pelos três setores.
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