Por Iuri Tonelo e Simone Ishibashi
A propósito do
seminário que realizaremos entre os meses de outubro e novembro em
universidades de São Paulo
Chegamos ao
quinto ano da crise econômica internacional. Desde o primeiro colapso do banco
de investimentos Lehman Brothers em 2008, vivenciamos um período em que os
Estados nacionais despejaram trilhões de dólares na economia mundial para
salvar os bancos privados; e em seguida, já transcendendo todos os limites das
dívidas públicas nacionais, começaram a coordenar governos (ora mais ‘liberais’
ou mais ‘socialdemocratas’) para aplicar violentos ataques ao conjunto dos
trabalhadores (especialmente na Europa, sobretudo no caso grego) com planos de
austeridade, reduções salariais e corte de direitos. Assim que, no século XXI,
o marxismo e a busca por uma resposta proletária frente aos ataques
capitalistas é impulsionado e retoma sua força pela imposição, cada vez mais
emergencial, que a dinâmica da crise econômica coloca aos trabalhadores.
Vai se
fechando, nesse sentido, a etapa de “restauração burguesa”, com respostas ainda
incipientes dos trabalhadores no plano
internacional, e com (já mais desenvolvidas) mobilizações da juventude em
diversos países do mundo, no Oriente Médio, Europa e inclusive na América
Latina. Entretanto, ainda que venha retomando sua força, a “reivindicação” do
marxismo (e as variantes reformistas e autonomistas que dizem dialogar) ainda
carrega uma série de vícios e ideologias impregnadas dos 30 últimos anos sem
revoluções, em que a burguesia atacou e utilizou todos os mecanismos para
deformar (ou mesmo aniquilar) a estratégia revolucionária no conjunto das
organizações de esquerda.
Desde esse ponto
de vista, torna-se fundamental para as novas gerações de trabalhadores e da
juventude se apropriarem da tradição revolucionária e do legado daqueles que
lutaram contra toda a deformação e mantiveram as bases da teoria, estratégia e programa
revolucionários.
Leon Trotsky - que
desenvolveu a teoria da revolução permanente, foi dirigente da revolução de
Outubro, fundador do exército vermelho e principal dirigente da construção da
IV Internacional na luta contra o stalinismo – é o revolucionário do qual
buscamos resgatar o legado capaz de armar os trabalhadores para enfrentar a
forte crise econômica (e do sistema
de conjunto) que vivemos e para a qual o capitalismo demonstra que não tem
nenhuma saída, a não ser mais exploração e opressão dos operários e operárias.
Nosso intuito,
portanto, é colocar as ideias de Trotsky como resposta revolucionária para a
crise. Em primeiro lugar, como marxismo revolucionário, que combateu e está
completamente desgarrado dos erros e degenerações stalinistas (intituladas pela
burguesia de “socialismo real”); em segundo lugar, o legado do revolucionário
russo nos dá a base para lutar contra um dos produtos mais nefastos da
restauração burguesa (ofensiva da burguesia contra o proletariado em nível
internacional advinda da derrota do ascenso operário aberto entre 1968 e 1981),
que é o ceticismo e a perda de confiança na força da classe operária, que tem
consequências sobretudo na sua conformação como sujeito revolucionário, que é
capaz de forjar seus organismos de auto-organização a partir das experiências
da luta de classes, para assim fazer frente à superestrutura degenerada do
regime burguês, fundamentando as bases para o poder operário.
Indo além, e tendo
em vista o peso que assume o “fator subjetivo” na época imperialista – na
medida em que se impõem combates ao proletariado e em que ganha importância
superior a influência de uma direção temperada e experimentada, podemos também
colocar que a força do trotskismo reside justamente em não ceder a ideia da
“falência do modelo” de partido revolucionário, típico discurso neoliberal (e
pós-moderno) que moldou “organizações de esquerda” pacifistas, disciplinadas ao
regime burguês, inclinadas a variantes estratégicas de conciliação de classe.
Mesmo entre as
organizações de esquerda trotskista, frente aos principais processos da luta de
classes, temos visto uma incapacidade de traduzir esse legado em uma política
revolucionária, como nos exemplos da Primavera Árabe (onde as organizações não
mantém uma posição independente do proletariado, cedendo às ditas “revoluções
democráticas”). Essa herança se remete ao trotskismo de Yalta (centrismo da
segunda metade do século XX), na medida em que essas correntes se defrontaram
com as revoluções do pós Segunda Guerra Mundial – casos excepcionais, como
Trotsky previu, quando direções pequeno-burguesas poderiam, pela pressão das
massas e da situação internacional, ir para além de seus objetivos e expropriar
a burguesia – e acabaram se adaptando a essas direções pequeno-burguesas, ao
contrário de buscar oferecer um programa revolucionário que desse conta das
contradições que marcaram este processo.
Nesse sentido que,
sem tirar as lições das experiências passadas (sobretudo do ascenso operário da
segunda metade do século XX), seguem aprofundando os seus fundamentos, como se
demonstra no último período a conclamação de um “governo das esquerdas” frente
a situação grega, negando todas as lições de Trotsky para a reflexão da frente
única, a partir de uma experiência superestrutural e “midiática” ou deturpando
a discussão que o revolucionário fazia de “governo operário” para a preparação
imediata da tomada do poder na Alemanha em 1923. Nesse intuito que pretendemos
resgatar o legado de Leon Trotsky a partir de um ciclo de debates em São Paulo
e cidades do interior para a discussão necessária sobre o verdadeiro legado de
Trotsky, a partir das principais experiências revolucionárias na primeira
metade do século XX, e sua vigência para responder às tarefas postas em nosso
tempo.
Sobre o
seminário “Por Que Trotsky?”
Buscando resgatar
esse vasto legado revolucionário da teoria e política revolucionária de Leon
Trotsky é que faremos um ciclo com quatro sessões, abordando temas que
percorrem a vida de Trotsky em quatro momentos chaves em que o dirigente revolucionário
teve que relacionar toda sua capacidade teórica e política com os desafios que
a arte da estratégia impunha em situações novas e dinâmicas.
Na primeira
sessão, que será realizada na USP no dia 03 de Outubro,
abordaremos a discussão da construção da teoria da revolução permanente,
relacionando-a com elementos fundamentais de seu pensamento, partindo da
análise de Trotsky sobre a Rússia, desde sua célebre teoria do desenvolvimento
desigual e combinado, passando pela Revolução de 1905 e a criação dos sovietes
(entrando inclusive nas bases do que poderíamos chamar de estratégia soviética
para a revolução proletária) e, por fim, desenvolvendo as experiências da
Rússia até a Revolução de 1917, partindo das conclusões fundamentais de
fevereiro até a confluência de Trotsky e Lenin em Outubro, refletindo sobre a
estratégia da tomada do poder e perspectiva da revolução internacional dos
bolcheviques, especialmente traduzida na revolução permanente de Trotsky.
Na segunda
sessão, na Unicamp (Campinas) em 18 de Outubro,
buscaremos partir das Li
ões de Outubro, de
modo a buscar compreender como Trotsky generalizou as experiências da Revolução
na discussão contra a Segunda Internacional a partir da reflexão sobre
estratégia e tática na época imperialista. A partir daí, entraremos no caso
concreto da Revolução Alemã, sobretudo em 1923, na medida em que se apresentou
uma oportunidade concreta para a tomada do poder e a vacilação do Partido
Comunista Alemão levou a uma derrota de proporções gigantescas na Internacional
Comunista. Nesse caso, analisaremos ainda como Trotsky propunha táticas ousadas
como o “governo operário” ligadas a perspectiva da insurreição e demonstrou uma
superioridade estratégica para as tarefas da “Revolução no Ocidente”, maior do
que consagrados nomes para esse tema, como o de Antonio Gramsci. É chave, nesse
sentido, adentrar a discussão sobre a tática de “governo operário”, que estava
ligada para Trotsky a um programa de armar o proletariado nas regiões da
Saxônia e Turingia (Alemanha) na preparação para a tomada do poder, na medida
em que a deturpação vigente hoje pela esquerda transforma essa tática em
situações particulares e profundas de 1923 em um “mote” (desvinculado da
situação concreta) para deturpações eleitorais e oportunistas de todo tipo.
Na terceira
sessão, que se realizará na Unesp de Marília em 23 de Outubro,
vamos abordar o período da década de 1930, a partir da discussão estratégica de
Trotsky para a Revolução Espanhola, que se estende de um período que vai de
1931 a 1939. Sob o mote de “a vitória era possível!”, refletiremos o combate de
estratégias de Trotsky com o anarquismo, o autonomismo e o centrismo (sobretudo
os debates com o Partido Operário de Unificação Marxista - POUM) que foram cruciais
na derrota da revolução espanhola; além disso, também abordaremos o combate ao
stalinismo, que na Espanha como nos outros países europeus, conjuntamente à
Frente Popular, atuou para frear o anseio das massas a tomada do poder e, nesse
sentido, colaborando para uma traição histórica aos trabalhadores nas vésperas
da Segunda Guerra Mundial.
Por fim, a
última sessão, a ser realizada novamente na USP no dia 08 de Novembro,
pretendemos adentrar no legado de Trotsky diretamente relacionado aos problemas
do século XXI, especialmente no meio da forte crise econômica que estamos
vivenciando. Para tanto, resgataremos seu célebre Programa de
Transição, que é uma verdadeira arma para o conjunto dos trabalhadores se
apropriarem de seu conteúdo e seu método para os desafios que a luta de classe
atual colocará aos trabalhadores e que, a partir do resgate da IV Internacional
e da luta pela sua reconstrução, temos certeza que estaremos mais preparados
para esses desafios. Nessa sessão, também faremos o lançamento da Revista
Estratégia Internacional – Brasil, com debates teóricos e políticos de
estratégia atuais, como uma contribuição à reflexão trotskista em nosso país na
perspectiva da construção de um partido revolucionário no Brasil.
Com esses debates
fecharemos o seminário “Por Que Trotsky?”, e pretendemos, nesse sentido, partir
da pergunta e contribuir com alguns elementos para a resposta do porquê as
novas gerações de trabalhadores e da juventude devem se apropriar com todas as
forças do legado de Trotsky para enfrentarmos as tarefas revolucionárias
colocadas numa época em que se reatualiza com velocidade impressionante a
perspectiva de “crises, guerras e revoluções”.
Calendário do Seminário
03/10 - USP: Russia e a Teoria da Revolução Permanente: 1905 e 1917
Claudionor Brandão e Edison Salles
18/10 - UNICAMP: Alemanha: estratégia e tática e a revolução no "Ocidente"
Iuri Tonelo e Pablito Santos
23/10 - UNESP Marilia: Espanha: A vitória era possível
Claudionor Brandão e Antonio Augusto
08/11 - USP: Lançamento: revista Estratégia Internacional Brasil nº6
Simone Ishibashi e Gilson Dantas
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