Zonyko
é também militante do PTR-CcC (grupo irmão da LER-QI no Chile e parte
da Fração Trotskista), que impulsiona junto a independentes a Agrupação
Combativa e Revolucionária (ACR) que recentemente reuniu cerca de 300
companheiros nacionalmente. Desde o início do processo de luta da
juventude estamos na linha de frente dos combates.
JPO: A mobilização que está acontecendo no Chile neste momento é continuidade do ano passado?
Completamente. A juventude no Chile vem sendo uma grande
protagonista das mobilizações da juventude em todo o mundo. Passamos de
ser um dos países mais estáveis do mundo, para fazer parte deste que é o
maior ascenso da juventude em todo o mundo desde 1968, com a luta pela educação
gratuita. Mas a juventude terminou se chocando contra os pilares do
Chile neoliberal, colocando em cheque a herança pinochetista e o regime
herdado da ditadura, mantido pela direita e pela Concertación. Mas no
ano passado a coisa explodiu com a luta da juventude. Só que as direções
burocráticas, PC e variantes populistas, aceitaram a política do
governo de desvio para o parlamento e isolaram os setores combativos.
Por isso não vencemos. E fizeram isso mesmo depois de o governo e sua
polícia terem levado a vida de Manuel Gutierrez no histórico 25 de
agosto em que saíram as ruas quase um milhão de pessoas. Mas a
juventude, principalmente a secundarista volta a sair à luta, seu
“segundo round”.
JPO: Como está sendo a luta deste ano?
Voltaram com tudo as ocupações e marchas massivas. No
dia 28 de agosto, os professores com participação dos secundaristas e
universitários mobilizaram 200.000 pessoas pelo país. O presidente
Piñera, com apenas 27% de aprovação, responde com repressão, querendo
fazer valer uma nova lei, a Lei Hinzpeter, que permite prender
manifestantes por até 3 anos. O problema
que enfrentamos é que a vanguarda, principalmente secundaristas, está
sozinha, ainda que ganhando adeptos. Aparecem grupos anti-ocupação de
estudantes e pais reacionários organizados, junto à repressão policial
para desocupar os colégios. A vanguarda responde reocupando. Estamos num
equilíbrio instável e dinâmico, que mostra que a crise segue aberta,
mas com uma correlação de forças muito mais empatada que no ano passado.
JPO: E como está a experiência com a
burocracia estudantil neste momento? O que propomos para fazer avançar a
organização dos estudantes para vencer?
A burocracia estudantil quer aceitar migalhas. A Confech
(Confederação dos universitários) defende a regulamentação da educação
privada e abandonaram a luta imediata pela gratuidade. Deixa os
secundaristas, que têm sido vanguarda, serem reprimidos sozinhos
(inclusive com abusos sexuais). Em secundaristas, o movimento terá que
impor uma unificação em base a delegados revogáveis eleitos na base para
superar a atual fragmentação entre
a ACES (dirigida majoritariamente por populistas) e a CONES (dirigida
majoritariamente por reformistas, PC, Concertación). Um organismo assim
permitiria que fossemos até o final na luta pela educação gratuita,
contra a Lei Hinzpeter e para liquidar a herança pinochetista, superando
as direções.
JPO: Temos visto que vem avançando
bastante a construção da Agrupação Combativa e Revolucionária, pode nos
contar um pouco sobre esse processo?
Temos organizado mais de 300 companheir@s nas cidades de
Santiago, Antofagasta, Valparaíso e Temuco. Foi um avanço muito grande
como parte deste processo. O PTR teve o mérito de, distintamente da
inércia das outras organizações, se meter com tudo no movimento e se
ligar a parte dos setores mais combativos. Hoje somos reconhecidos em
todo o país, tanto por estar na primeira fileira do combate contra a
polícia e a repressão, por termos sido os mais consequentes na luta pela
educação gratuita e contra a burocracia estudantil, mas também por
termos sido parte importantíssima do processo mais avançado de
questionamento à burocracia estudantil, na Universidade de Santiago do
Chile, a USACH. E ainda estivemos a frente de uma das experiências mais
avançadas do movimento secundarista, que foi a auto-gestão do colégio
A90, que hoje é um exemplo que está sendo seguido por parte do movimento
que ressurgiu.
JPO: Conte-nos sobre sua trajetória no movimento
hip hop, sua ligação com o movimento e porque resolveu neste ano entrar
para o PTR e para a ACR. Tem a ver com o processo de 2011?
Exato. Foi a luta de 2011 que me colocou em crise na
realidade. Eu venho do populismo, uma tradição muito forte aqui no
Chile, também dentro do hip hop e nos seus coletivos. Em 2011, muitos
ativistas do hip hop vimos que estávamos por fora do processo. Por
exemplo, minha companheira e eu impulsionávamos um coletivo e os jovens
que vinham nas atividades estavam nas ocupações de colégios, marchavam,
lutavam nas ruas, e o dia do hip hop era o momento de relaxar. Isso nos
levou rapidamente a irmos para as ocupações, começamos a compor canções
que empalmaram com aquele setor mais combativo, realizamos vários
festivais e atividades em colégios. Assim tivemos um grande avanço
subjetivo. Isso não aconteceu só com agente, e sim com um amplo setor do
hip hop combativo. Mas, obviamente, não via até o final as questões
estratégicas fundamentais. Foi justamente isso que consegui ver quando
comecei a me aproximar do PTR.
JPO: Quais são essas questões estratégicas fundamentais que fizeram você se ligar ao trotskismo?
A importância da classe trabalhadora como a única que
pode levar a luta contra o capital até o final, a necessidade da aliança
operária-estudantil, a necessidade de um partido revolucionário de
combate, além de outras. A experiência que tive nestes coletivos me
mostrou que a partir deles não se pode superar as direções burocráticas e
menos ainda a burguesia. Essas lições fomos tirando no processo de luta
e ficaram “gravadas a fogo” na minha cabeça. O hip hop pode estar
ligado à luta de classes, à perspectiva revolucionária.
JPO: Alguma mensagem a juventude brasileira?
É realmente uma honra viajar para o Brasil. Estou muito
contente porque vou participar de um encontro da Juventude às Ruas no
dia 29, para quando também estamos tentando organizar um festival,
alguma coisa de protesto, com música e tal. Também por poder conhecer
camaradas que lutam pelas mesmas ideias que nós aqui no Chile, os
companheiros da LER-QI. Isso é parte do internacionalismo que temos na
FT. Estou ansioso para compartilhar estes momentos com a juventude
brasileira combativa e revolucionária.
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