A repressão na USP a
serviço de um projeto
Em outubro do ano
passado, estudantes da Universidade de São Paulo deflagraram greve contra a
presença da PM dentro da Universidade, os processos e prisões contra estudantes
e trabalhadores e a estrutura de poder autoritária, herdeira da ditadura
militar. A presença da PM no campus serve à imposição da força sempre que
necessário e, com maior eficácia, a um projeto de universidade: uma
universidade elitista, racista, mercadológica e de portas fechadas para os
trabalhadores e povo pobre. Agora, nesse fatídico mês de setembro, Rodas
pretende levar até o fim os processos administrativos abertos contra os 73
estudantes e funcionários, punindo-os exemplarmente, novamente apoiado no
regimento da USP, escrito durante a ditadura militar, no ano de 1972, por um
dos redatores do AI-5 – e reitor – Gama e Silva, assim como fez com os oito
eliminados da moradia retomada.
Mas as punições, as
perseguições, enfim, a repressão está longe de atingir apenas os estudantes:
hoje mais de seis delegados sindicais do SINTUSP estão sendo processados, além
do diretor sindical Claudionor Brandão, demitido inconstitucionalmente em 2008
por apoiar a luta contra a terceirização dentro da universidade. Rodas também
ameaçou processar a ADUSP, por conta das manifestações contrárias à repressão
de Rodas e sua administração na imprensa.
O movimento estudantil
se prepara para ressurgir!
A reitoria da USP, na
tentativa de avançar em seu projeto, esbarra na organização estudantil em todos
os campi universitários. Em São Carlos, Rodas tenta assinar convênio com a PM,
atacar à moradia estudantil e retirar dos estudantes a autonomia sobre seus
espaços, ameaçando o principal espaço de organização estudantil do campus de
São Carlos, o histórico centro acadêmico único, CAASO, que representa todas as
secretarias acadêmicas dos cursos que estão na USP São Carlos.
Já na EACH, os estudantes
se mobilizam contra a terceirização do bandejão da unidade, que oferece além de
péssima qualidade na alimentação, precarização e exploração do trabalho. Os
alunos questionam a terceirização e o papel nefasto que cumprem as empresas
terceirizadas, exigindo a reincorporação de uma funcionária demitida no já
conhecido “troca troca” de empresas terceirizadas que prestam serviço à USP,
que demitem funcionários, não pagam salários e por meio de falsas falências
deixam os trabalhadores explorados a ver navios.
Na Unesp de Franca, o
movimento estudantil, aliado a movimentos sociais, expulsam o “príncipe do
Brasil” do campus da universidade, presente para uma palestra, sendo que
defende claramente os latifúndios, contra a reforma agrária, assinando embaixo
a todo o derramamento de sangue no campo pelas lutas por terra, trabalho e
moradia.
As entidades devem estar a serviço de
unificar as mobilizações e derrotar a repressão!
É nesse contexto de ressurgimento do
movimento estudantil que acontece o XI Congresso dos Estudantes da USP, que com
um chamado por “democracia na universidade” e “diretas para reitor”,
secundariza a forte organização dos estudantes, desde a vanguarda até as bases
do curso, para barrar os ataques da reitoria, desconsiderando que é preciso
derrubar completamente, e não reformar, a estrutura de poder da USP. É
necessário dissolver o C.O. (Conselho Universitário) e o reitorado, construindo
uma assembleia estatuinte em base à mobilização; democratizar radicalmente o
acesso, não só através das cotas, mas da luta pelo fim do vestibular, com a
estatização sem indenização do ensino privado; compreender que essa luta por
democracia é inseparável, no conteúdo, da luta contra a repressão aos que
lutam, e que caso se concretize a ameaça de eliminação de dezenas de estudantes
e trabalhadores o movimento todo sofrerá uma derrota que tornará impossível o
avanço na luta pela democratização.
Por isso, se vota no congresso, em razão
de uma fortíssima luta política dada por um setor de estudantes ali presentes,
do qual a Juventude às Ruas! esteve à frente, a construção de uma forte
campanha contra a repressão na Universidade, pelo fim de todos os processos
contra estudantes e trabalhadores e pela reintegração dos estudantes eliminados
e de Brandão. Para que essa campanha se efetive, e saia do âmbito de resolução
congressual, é necessário que as direções do movimento, PSTU e PSOL, atentem
para a central importância de tocar essa luta à frente, organizando os
estudantes para barrarem esses ataques e colocando todo o peso nessa questão.
Porém, o que vimos até agora é justamente o contrário, um DCE desmobilizado,
opondo de todas as maneiras qualquer debate à questão da repressão, como fazem
agora com as eleições para diretor da FFLCH, onde jogam todo o seu peso de CA’s
e DCE para desliga-la da luta pela derrocada da estrutura de poder que pune
estudantes por se mobilizarem contra o projeto de universidade. O DCE alterou
parcialmente, desrespeitando as decisões do congresso sobre os eixos de
atividades e materiais, o conteúdo dessa campanha. Ao mesmo tempo, as
resoluções implementadas estão servindo para pautar desde as entidades reconhecidas
a luta contra os processos, o que mostra como a luta política desde o congresso
não somente foi correta como deve seguir permanentemente.
Levar adiante uma forte campanha contra a
repressão é o que pode permitir unificar essas mobilizações, ainda isoladas,
que surgem estadualmente – expressões iniciais nas universidades de São Paulo
do fenômeno visto nas greves das federais e nas respostas que os trabalhadores
e a juventude começam a dar nacionalmente aos ataques dos governos e patronais
–, e assim avançar para impor uma derrota às reitorias e ao governo.
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