Por Cristiane Ciancio e Anderson
Martins
Assim
como no Brasil, Chile,
México e outros lugares do mundo, as juventudes que se levantam
contra a precarização da vida, recebem uma única resposta dos
governos burgueses: repressão!
Este
fato tem se repetido constantemente na Universidade de Sussex, na
cidade de Brighton, sudeste da Inglaterra, principalmente, quando
os/as estudantes perceberam que a única maneira de impedirem a
terceirização de mais de 235 postos de trabalho da Universidade,
seria retomando os métodos históricos de luta da classe
trabalhadora e decidiram, em 7 de fevereiro de 2013, pela ocupação
do Centro de Conferência Bramber House. Na manhã da última
terça-feira, 2 de abril, dezenas de policiais cercaram a ocupação
e avançando na intransigente repressão ao movimento, iniciaram o
processo de “reintegração de posse” e criminalização de um
dos mais fortes bastiões de resistência à privatização que vem
surgindo na Inglaterra, e que ao passar dos dias estava ganhando
grande visibilidades nas mídias e moções de apoio de organizações
e importantes pessoas de setores de esquerda e democráticos
de toda a Europa.
Nós
da Juventude Às Ruas, escrevemos este breve artigo, buscando então,
primeiramente nos solidarizar com as/os camaradas em luta
(estudantes, professorxs e funcionárixs), e consequentemente,
buscando compreender melhor como as experiências desta mobilização,
nos permitem chegar em reflexões
centrais para o avanço do programa marxista,
para a nossa formação enquanto revolucionários/as, e a construção
das tarefas que temos pela frente da forma mais internacionalista e
classista possível.
A
Campanha de estudantes, funcionários/as e professores/as, “O
Sussex contra a privatização” (mais de 90% de todas as
instalações e serviços estão sendo vendidas a empresas privadas),
começou em maio de 2012, e os estudantes relatam que diversas
medidas, tais como debates, abaixo-assinados, manifestações,
reuniões, já haviam sido estabelecidas buscando “dialogar” com
a burocracia acadêmica. Todas eram insuficientes porque, segundo os
estudantes a direção não dava ouvidos às preocupações
levantadas. Assim, há cerca de 2 meses iniciou-se a ocupação de um
prédio da Universidade que representa o centro “financeiro” para
a mesma. Em nota sobre a tática da ocupação, os estudantes colocam
que seu efeito “ao desligar esta fonte de lucro, estamos
comunicando com a gestão na única linguagem que eles entendem.
Transformando o espaço em uma arena para a organização e
resistência, para o conhecimento, música e arte – estamos fazendo
uma declaração política: este Campus é um lugar para a educação
e não para o lucro.”[1]. Essas ações aproximaram para as
questões políticas os diversos setores da universidade e da
comunidade, que passou a apoiar mais fortemente a mobilização.
Os
ataques que hoje ocorrem na Universidade de Sussex não estão em um
cenário isolado, mas sim representam as medidas autoritárias e
desumanas que a burguesia imperialista
avança
diariamente nos lugares do Mundo onde a precarização da vida se faz
mais presente, ou onde há setores que resistem e se colocam em luta
denunciando tamanha exploração e se ligando as demandas da classe
trabalhadora e dos setores oprimidos.
Enfatizando
também,
de que esta mobilização,
acontece nos marcos de uma crise econômica mundial, comparada,
pelos principais analistas da burguesia, com a crise de 1929. A
atual crise, estourou a partir de 2008, e vem colocando em xeque a
cada novo acontecimento a possibilidade de se manter o equilíbrio
entre as nações europeias pela via da União Europeia e do Euro.
Neste momento, os países imperialistas começam a realizar cortes
sociais dentro de suas próprias fronteiras, estas medidas fazem
parte do plano da Troika para descarregar a crise sobre as costas da
classe trabalhadora.
É fundamental lembrarmos que a
política de privatização que atinge diversas universidades, dentre
outros setores, em todo o mundo hoje, tem sua origem na necessidade
de reorganizar a exploração capitalista no período pós crise de
1973, tendo como maiores expressões os governos de Margareth Tatcher
na Inglaterra, de Ronald Reagan nos EUA e de Pinochet no Chile. O
neoliberalismo se configurou como uma reestruturação econômica que
visou recuperar as margens de lucros capitalistas, para tanto se fez
necessário fragmentar todo tipo de movimento que contestasse,
principalmente o movimento operário. A luta de classes não podia
sair do controle.
Contra
o projeto educacional privado, levado a frente por Pinochet, que
os estudantes chilenos se levantaram nos ultimos anos,
dando um grande exemplo nas ruas de como organizar a luta das/os
trabalhadoras/es e estudantes por uma educação pública, gratuita e
de qualidade que atenda aos interesses da classe trabalhadora e dos
setores oprimidos pelo capital. Sigamos o exemplo das/os camaradas
chilenas/os. Contra o projeto educacional neoliberal e os cortes
sociais gritamos com todo o fôlego: “Que
os capitalistas paguem por sua crise! Não ao resgate dos bancos!”
As
lutas do movimento estudantil chileno trazem
lições importantíssimas para a juventude que hoje se coloca em
luta, tanto inglesa como de outros países, mas é preciso avançar
na unificação dessas diversas mobilizações em
a aliança estratégica com a classe trabalhadora e setores
oprimidos, só assim, com esta tática fundamental,
que nossas
bandeiras se tornarão de fato realidade.
Pois é caminhando nesse sentido que alcançaremos a correlação de
forças que nos permitirá garantir as questões democráticas, com
as condições objetivas materiais [2].
A MOBILIZAÇÃO DE SUSSEX CONTRA
A PRIVATIZAÇÃO.
Segundo
os/as estudantes de Sussex, a decisão da direção da Universidade
de privatizar 235 empregos, incluindo serviços como reformas,
limpeza, segurança e porteiros, mobilizou-os por estes entenderem
que a entrada das empresas privadas atacará a qualidade da educação,
uma vez que o lucro é o principal objetivo e não a qualidade das
relações sociais e intelectuais. Tão importante também, está
a questão do ataque aos direitos trabalhistas, uma vez que a
privatização tende a diminuir a segurança no emprego e a garantia
de bons salários.
De
acordo com informes, os sentimentos de solidariedade entre
trabalhadores/as e estudantes estão cada vez mais fortes, e que
segundo
o jornal Independet “Esta unidade está enraizada em um sentido
compartilhado de frustração - entre alunos e funcionários - com a
invasão intransigente da Universidade, e da falta de democracia.”[3]
As exigências iniciais que o
movimento, o “Occupy Sussex” (nome apelidado para a ocupação),
emitiu foram:
1. Completa suspensão do processo
de licitação em andamento e fim de todo o programa de privatização,
IMEDIATAMENTE.
2.
Formação de uma comissão de alunos, funcionários e professores,
com competência plena para reavaliar os procedimentos e canais de
gestão responsável,
estendendo
também a participação dos estudantes e trabalhadores nestas
decisões. 3. Fim da intimação que a gerência superior e média têm usado para deter os estudantes e trabalhadores de discutirem e agirem acerca de suas preocupações.
Os debates também giram em torno da crítica ao discurso ideológico burguês que tenta colocar a terceirização como uma medida necessária, “não havendo outra alternativa" aos "ganhos e eficiência" e "redução de custos", o que tem acarretado uma reforma de Universidades britânicas seguindo linhas de mercado. Isso se agrava com a retirada de financiamento público, dando lugar as “doações” corporativas para o ensino e a pesquisa. Para os/as estudantes, a terceirização de serviços neste contexto, é mais uma transmissão do controle da universidade pública para as mãos dos interesses privados.
A
aceleração da mercantilização da educação na Inglaterra vem
sido promovida
pelo Governo de coalizão conservador-liberal encabeçado pelo
primeiro-ministro David Cameron[4], que tem entre suas principais
políticas a reforma de programas sociais, cortando verbas,
aumentando impostos, aumentando o tempo necessário de trabalho para
aposentadoria. O mesmo ocorre sobre as universidades, o aumento dos
impostos recai no aumento das mensalidades, há também
reestruturações de grades curriculares, e fechamento de cursos como
filosofia, linguística e história em detrimento de cursos
relacionados a administração de empresas.
No
dia 25 de março, ocorreu uma Manifestação na cidade de Brighton,
onde centenas de estudantes de toda a Inglaterra estiveram presentes,
junto com trabalhadores/as, professoras/es, unidos e
em marcha dando apoio a Universidade de Sussex, demonstrando uma
importante solidariedade aos companheiros que estão na linha de
frente, e buscando ao máximo fortalecer a correlação de forças.
Os estudantes tem buscado como uma de suas principais táticas a ação
direta e os mecanismos de democracia de base, fundamentais para que o
movimento se massifique de forma qualitativa.
Durante
a maior parte da ocupação, houve diversas táticas da burguesia
para enfraquece-la,
desde o bloqueio da
distribuição de
alimentos para a ocupação, corte do sinal de internet em boa parte
da cidade, corte do aquecimento dentro da ocupação (neste período
do ano na Inglaterra a temperatura média varia de -10°C a 5°C),
além de perseguições e chantagens aos/as militantes dentro do
Campus Universitário, sendo contratada para isso uma polícia
privada.
Em
todo esse quadro de coerção, soma-se
a repressão às
militantes mulheres, inúmeras vezes
realizada por estes seguranças privados, buscando
sempre inferiorizá-las através da incitação ao abuso sexual. Como
descreve um grupo de estudantes,
as meninas não podiam ir ao banheiro pois os guardas ficavam
passando e dizendo coisas referentes a abusos sexuais ou tentando
diminuir as mulheres a objetos ou comparando-as a animais.
AVANÇA A REPRESSÃO AS/OS
TRABALHADORAS/ES E OS SETORES OPRIMIDOS E POR ISSO PRECISAMOS DE
UNIDADE: ELES NÃO PASSARÃO!!!
O controle das burguesias sobre os
exércitos e tecnologias armamentistas, principalmente em períodos
de maior agudização da luta de classes, faz com que a repressão
aumente e seja mais constante, pois busca-se o quanto antes
“exterminar” uma mobilização, para que não sirva de exemplo
para outras.
As
mobilizações que vem surgindo nos últimos anos[5] contra as
políticas de austeridade na Europa, mesmo as mais pacíficas e
democráticas, tem sofrido violentas repressões, além de prisão de
centenas de manifestantes. As sentenças destes,
demonstram o quão o governo burguês tenta criminalizar os
movimentos sociais e de trabalhadores/as. Dentre
os
exemplos
da ofensiva da repressão na Inglaterra, foi que em
novembro de 2012, uma assistente de ensino de 28 anos,
apareceu em um evento público na cidade de Oxfordshire e disse ao
primeiro ministro,
que ele tinha "sangue nas mãos", se referindo a política
de seu governo de cortar o apoio social vitalício para as pessoas
com debilidades físicas e intelectuais. Imediatamente ela foi jogada
ao chão, machucada e presa. Conforme consta em seu processo, ela foi
condenada por causar "o assédio, alarme e angústia" e
multada em mais de um mês de salário[6].
Outra penalidade que tem levantado muitas discussões se dá em torno da condenação por “desordem violenta”, que nada mais é do que uma tentativa de deslegitimar e enfraquecer as mobilizações, criminalizando manifestantes políticos, podendo estes pegar uma sentença de até cinco anos de prisão. Durante as manifestações na Praça do Parlamento em dezembro de 2010, dois estudantes foram incriminados por essa lei(6). Há cerca de 1 mês eles conseguiram absolvição, contudo, tiveram que passar mais de dois anos lutando para derrubar as acusações, pois eram impedidos de falar pelos tribunais. Sendo preciso destacar também que a polícia caracterizou um dos estudantes como “extremista violento”, tentando mascarar na realidade a enorme repressão policial que ocorreu, pois este estudante teve um golpe de cassetete na cabeça, que provocou um corte de cerca de 15cm, sendo necessária uma cirurgia cerebral de emergência.
Outra penalidade que tem levantado muitas discussões se dá em torno da condenação por “desordem violenta”, que nada mais é do que uma tentativa de deslegitimar e enfraquecer as mobilizações, criminalizando manifestantes políticos, podendo estes pegar uma sentença de até cinco anos de prisão. Durante as manifestações na Praça do Parlamento em dezembro de 2010, dois estudantes foram incriminados por essa lei(6). Há cerca de 1 mês eles conseguiram absolvição, contudo, tiveram que passar mais de dois anos lutando para derrubar as acusações, pois eram impedidos de falar pelos tribunais. Sendo preciso destacar também que a polícia caracterizou um dos estudantes como “extremista violento”, tentando mascarar na realidade a enorme repressão policial que ocorreu, pois este estudante teve um golpe de cassetete na cabeça, que provocou um corte de cerca de 15cm, sendo necessária uma cirurgia cerebral de emergência.
Há 5 dias houve o processo de
reintegração de posse da ocupação de Sussex, com cerca de 80
policiais. Em nota [7] os/as estudantes publicaram que 4 estudantes
foram presos e muitos outros foram abusados nas mãos da polícia.
Manifestaram seu repúdio diante da ação da direção, que não
aceitarão esta medida, e que a mobilização vai continuar. Ações
conjuntas estão sendo organizadas contra os ataques à universidade
pública, e tem sido feito diversos contatos com outras
universidades. As consignías gerais tem sido “ Lutar pelo direito
ao trabalho. Lutar pelo direito de aprender. Lutar pela Universidade
Pública. Resistir. Organizar. Ocupar.”
A mobilização também teve apoio
de inúmeros intelectuais e figuras públicas de toda europa e dos
Estados Unidos, como por exemplo, Noam Chomsky, Tariq Ali, Peter
Capaldi, Vandana Shiva, Satish Kumar, e outros.
O
conhecimento tem um único fim para a burguesia: continuar
reproduzindo e aperfeiçoando o sistema capitalista, mesmo que para
isso milhares de vidas sejam exploradas, destruídas e mortas. A
falta de democracia nas universidades e os vestibulares são
alguns dos mecanismos que impedem que o conhecimento seja colocado a
serviço da classe trabalhadora e setores oprimidos.
Na
época imperialista em que vivemos, com a dominação das riquezas
mundiais pelos grandes monopólios e bancos (capital financeiro), se
fazem mais que corretas as análises de Lenin e Trotsky [8] sobre o
fim das fronteiras nacionais para a expansão do capitalismo, o que
resultou na primeira grande guerra mundial.
Assim, é preciso tomar muito cuidado com o discurso de que há
“burguesias que governam para seu povo”, pois o único interesse
da burguesia são com seus negócios. A classe trabalhadora e setores
oprimidos não devem depositar nenhuma esperança na classe
dominante, e sim, a única confiança que podemos ter é no
internacionalismo da classe trabalhadora.
Notas.
[1]
Fonte:
http://sussexagainstprivatization.wordpress.com/2013/04/01/occupations-history-and-tactic/
[2] Para aprofundar o debate nas
questões democráticas – texto do manifesto da Juventude Às Ruas:
http://juventudeasruas.blogspot.co.uk/2013/03/so-havera-democracia-quando-houver.html[3] Fonte: http://www.independent.co.uk/voices/comment/as-the-sussex-uni-occupation-shows-government-may-see-education-as-a-market-but-students-do-not-8488719.html
[4] Artigo que aprofunda um pouco as políticas do Governo de Cameron: http://www.pts.org.ar/sp6 ip.php?article19805 -
[5] Para uma discussão mais detalhada sobre as mais recentes mobilizações, indicamos a leitura do artigo “Luta de classes e novos fenômenos políticos no quinto ano da crise capitalista” de Cláudia Cinatti, publicado da Revista Estratégia Internacional n° 6. Ed. ISKRA. São Paulo,SP – 2012
[6]Fonte:http://www.guardian.co.uk/education/2013/mar/08/student-tuition-fees-cleared-disorder
[7]Fonte:http://sussexagainstprivatization.wordpress.com/2013/04/02/day-55-last-statement-from-occupation-2-april-2013-eviction/
[8] Lenin, V. Imperialismo: Fase superior do capitalismo. ed. Centauro, 2001 ; Trostky, L. Stalin: O grande organizador de derrotas. ed. Sudermann, 2010.
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