Desde 1500, a cor
favorita da repressão e do trabalho precário é negra.
Por Ana Carolina Oliveira
A história do negro após a libertação da escravidão sem
emprego e sem terras tornou-se a história dos trabalhos precários. A
transformação dos escravos em futura mão de obra extremamente precária foi
aspecto chave para a manutenção da taxa de lucro da burguesia. No Brasil de
hoje, o discurso de crescimento e melhorias graduais e lentas das condições de
vida no Lulismo, continuados por Dilma, apoiam-se nas condições estruturais de
trabalho precário e vida precária dos negros e pobres. Para manter essa
situação a burguesia brasileira, ontem e hoje, necessita de um corpo armado
especializado em silenciar os negros e pobres, criminalizando a pobreza,
naturalizando o racismo, a precarização do trabalho, as diferenças de salários
entre negros e brancos e o extermínio cotidiano da juventude negra das
periferias. A burguesia precisa conceder migalhas e manter uma sistemática
repressão para conter que estas contradições de classes se expressem em
explosões sociais.
O governo Dilma, que acaba de aprovar cotas, é incapaz de
tomar uma única medida para reverter o fato de que esse é o país onde 70% das
mulheres negras que trabalham estão em trabalhos precários, ganhando a menor
renda média nacional. No emprego doméstico, dos 7,22 milhões de ocupados, 93%
são mulheres, a maioria, negra.
Segundo dados do Dieese, em 2009, as pessoas pardas ou negras
ganhavam em torno de 70% dos rendimentos das pessoas brancas com 12 anos ou mais
de escolaridade. Os negros ocupam 18% dos empregos sem carteira assinada,
enquanto os brancos 13,8%.
O Haiti é aqui
Em São Paulo, com recente histórico de repressão policial na
USP, Cracolândia e Pinheiro, só reafirma a política ofensiva de repressão do
PSDB, que conta como braço armado com a polícia militar de São Paulo, resquício
da ditadura militar e descendente dos bandeirantes que exterminavam e caçavam
negros e índios, que se orgulha de ser uma mais assassinas do mundo.
A visão que a burguesia tenta passar como “firmeza” da
policia na guerra contra o PCC, significa toques de recolher impostos pela
policia e ocupações militares em favelas como São Remo (em torno da USP),
Paraisópolis, Morro Doce, instaurando um clima de terror e deixando um saldo de
mais de 300 jovens mortos no último mês, 95% a mais do que os homicídios no ano
passado. O que a burguesia e a mídia tentam vender como guerra ao trafico, é na
verdade uma ruptura de um pacto espúrio que sempre existiu entre PCC e PM. A
principal fonte de criminalidade se encontra na própria policia, que prende,
julga e mata sumariamente, praticando um verdadeiro genocídio contra a
juventude e os trabalhadores negros e pobres, estes sim que nunca podem esperar
de seus algozes nenhum tipo de segurança.
O prefeito eleito pelo PT – Haddad - se elegeu com “aliados”
como Paulo Maluf que, além de agente da ditadura militar e corrupto, é padrinho
da policia militar e de sua tropa assassina de elite - a Rota. A gestão Haddad
não será diferente do que todos os outros partidos, e assim como eles fará uso
da repressão aos movimentos sociais e da violência contra os pobres e negros,
com uso de uma policia que tem isso como lema.
No Rio de Janeiro esta política é mais avançada. A
consolidação das UPPs e o projeto de cidade orquestrado por Sérgio Cabral e
Eduardo Paes, segue transformando profundamente a cidade, com privatizações,
centenas de obras, remoções a serviço da especulação imobiliária, aumento do
custo de vida e repressão cotidiana para tornar esta cidade vitrine do Brasil
para o mundo. As UPPs não são um projeto de segurança, mas um projeto de cidade
e de como gerir o imenso contingente de “pobres urbanos” do Rio de Janeiro. Tal
plano de cidade tem orçamento e contingente policial de um lugar em guerra: a militarização
no Rio de Janeiro concentra 1 policial a cada 80 habitantes nas comunidades
ocupadas nas cidades, enquanto a média nacional é de 400 habitantes por
policial- mais gastos do orçamento do estado com “segurança” do que com
educação.
A burguesia necessita da repressão policial para abrir
caminho para a especulação imobiliária: enquanto toda a cidade está repleta de
favelas, 17 das 21 UPPs estão localizadas em áreas de evidentes interesses de
especulação imobiliária. O Estado agora diz estar presente nestes lugares, como
se já não estivesse presente pela sua ausência e abandono. A imagem de
recuperar o orgulho carioca através da legitimação das ocupações militares e da
violência policial serve para mascarar um estado de controle sobre a juventude
negra e pobre, para manter a população disciplinada e garantir grandes
contingentes de mão de obra barata, pois são nestes locais que estão os
trabalhadores mais precários, sendo necessário garantir que estes não se
revoltem com a repressão cotidiana que proíbe festas, músicas e churrasco onde
moram e passem a questionar que esta cidade esta sendo reconstruída em cima do
seu sangue e suor.
Por
isso, a resposta que dá o PSOL com a política de UPPs “sociais” que mantém a
repressão como necessidade, o fato de que o candidato a prefeito Marcelo Freixo
em seu programa político não continha uma sequer palavra sobre repressão
policial ou negro e ainda a política do PSTU e outros setores da esquerda, que
são contra as UPPs, mas defendem os policiais e bombeiros como trabalhadores em
seus motins, são totalmente insuficientes, sendo necessário levantar que não
será pelas mãos da policia o combate à violência e nem à “segurança”, mas pela
autodefesa dos negros e pobres que como a parte mais massiva da classe
trabalhadora, deve se colocar como vanguarda e não confiar em seus inimigos de
classe, levando assim uma luta totalmente independente da burguesia e de seus
aparatos policiais.
( A principal fonte
de criminalidade se encontra na própria policia, que prende, julga e mata
sumariamente, praticando um verdadeiro genocídio contra a juventude e os
trabalhadores negros e pobres”
Fora PM das favelas,
periferias e morros!!
Punição aos
torturadores de ontem e hoje!)
O
governo Dilma que através da Comissão Nacional da Verdade e da implementação de
cotas faz demagogia de democrático, esconde que para cada uma dessas políticas
existem limites reais. À CNV impõe que não punirá os torturadores, muitos dos
quais seguem liderando e influenciando as políticas de segurança de vários Estados
(Em São Paulo, a PM carrega dentre suas estrelas, homenagens ao massacre de
Canudos, a repressão ao movimento de João Candido e a “Revolução” (!!!) de 64).
A contra cara que o governo tenta esconder é que as limitações das suas
políticas ditas “democráticas” já poderiam ter sido previstas ao saber-se que
esse é o governo que, servindo ao Imperialismo americano, envia tropas de
assassinos e estupradores para “pacificar” o Haiti, que aplaude as ocupações de
morros no Rio, que senta para negociar auxílio ao massacre que se segue em São
Paulo, lembrando a todos que o Haiti é aqui.
Sem
fronteiras, lutaremos contra a repressão que sofremos aqui e contra os ataques
aos trabalhadores e povo pobre em todo o mundo.
A
crise se acirra, o apartheid acorda
No
último 14 de Novembro, a classe trabalhadora junto à juventude paralisou a
Europa, Espanha, Grécia, Portugal, Chipre, Malta e por algumas horas na Itália
fizeram uma histórica greve geral mostrando o potencial de unidade da classe
trabalhadora para impor que os capitalistas paguem pela crise. Em cada luta,
cada manifestação da juventude e dos trabalhadores contra o destino de miséria
que tenta impor a Troika e o imperialismo internacional, vemos a policia a
serviço de impedir, reprimir, perseguir e prender lutadores para assegurar a
manutenção da ordem social da exploração de miséria e opressão, o lucro da
burguesia internacional em meio a crise econômica mundial.
A
crise vem se aproximando de países com histórias trágicas de opressão colonial.
No caso da greve dos mineiros de Marikana, na África do Sul, foi possível ver
do que é capaz a burguesia quando vê seus negócios ameaçados em tempos de
tantas perdas econômicas. O governo de Jacob Zuma, do Congresso Nacional
Africano, herdeiro de Nelson Mandela, demonstrou a verdade por trás do governo
que “vai acabar com a divisão racial do apartheid”, e com o uso de seu aparelho
policial condenou 44 grevistas à morte, chacina que não se vê desde que o
apartheid acabou em 1994.
Tal
situação mundial impõe aos negros e negras respostas rápidas e decididas no
sentido de se verem como parte da classe trabalhadora, exigindo dos sindicatos,
entidades
estudantis e todos os trabalhadores e jovens não organizados que pautem
imediatamente os ataques que, a princípio, serão desferidos contra esse setor
da classe, e que se passarem, servirão de base para fortes ataques ao conjunto
da classe e da juventude. É preciso que se lute imediatamente pelo fim do
trabalho precário e da carestia de vida, pelo fim da repressão, pela reforma agrária
e urbana, democratização radical do sistema de saúde e de educação. Nada disso
será possível sem a independência dessa classe, que quando se alia com a
burguesia para revindicar suas demandas, faz apenas aumentar as ilusões em
conquistas parciais que nunca chegam, ou mesmo entrega suas demandas a uma
derrota só reversível após décadas e mais décadas de carestia.
Fora PM das escolas, universidades, favelas e periferia!
Pela punição imediata aos torturadores de ontem e hoje!
Em defesa do internacionalismo: Fora as tropas brasileiras do
Haiti! Punição aos mandantes e executores do massacre de Marikana!
Pela reforma urbana e agrária com independência de classe!
Educação no Brasil e
a farsa propagada por Lula Dilma PT e seus aliados
Por Marcela Darido
Desde
o início da colonização, no nosso país é o povo preto que tem mais sofrido. Foi
sequestrado de suas terras para construir nosso país e dar as bases de formação
da potência imperialista inglesa com trabalho escravo. Mesmo no pós-abolição, o
Estado brasileiro reforçou sua exclusão, o que é importante para que nosso país
possa cumprir seu papel dentro da divisão internacional do trabalho.
“Libertos”, jogados na miséria, sem terra, educação, saúde, sofrendo
discriminação e repressão, os pretos ainda hoje são quem mais sofre as mazelas
da exploração sobre a classe trabalhadora.
A
elite branca Brasileira, que já estava preparada para lidar com o processo de
abolição, coloca em prática o projeto para lidar com a população preta liberta.
Esse projeto se estrutura em cima de três políticas principais: o branqueamento
populacional, o controle social e o extermínio do povo preto. O aparato de
dominação pouco mudou e os pretos e pretas que saíram das senzalas acabaram em
quilombos ou criando nas cidades os bairros africanos, que depois se tornariam
as favelas, onde hoje a polícia entra para dar continuidade ao extermínio dos
pretos. O índice de mortalidade de jovens pretos de 15 a 24 anos no nosso país
é três vezes maior do que a de jovens brancos na mesma faixa etária, esse índice é resultado de uma
política de genocídio sobre a população negra, principalmente de sua juventude,
feita pelas mãos da polícia, as forças armadas do Estado.
A população negra é o
setor mais precarizado da classe trabalhadora, ocupando os postos de trabalho
que não necessitam de especialização mais profunda para serem ocupados. Essa
super-exploração dos pretos pressiona cada vez mais para baixo os salários de
toda a classe trabalhadora.
Há anos os negros tem
sofrido uma política de exclusão social, inclusive no que diz respeito à
educação formal. A política de educação não pode ser desligada do plano da
burguesia para os negros no Brasil. Hoje temos um índice de 8,9% de analfabetos
do país, onde a grande maioria é de negros, devido ao fato de que, segundo os
índices de Cor/Raça do IBGE, os brancos estudam 1,6 anos a mais do que os
negros.
Enquanto 30,67%
das crianças brancas (1,6 milhão) têm idade superior à recomendada nos anos
finais do ensino fundamental, entre as crianças negras, a taxa é de 50,43% (3,5
milhões). Das crianças com mais de sete anos que ainda não estão na pré-escola,
63,5% são pretas, enquanto 36,5% são brancas, no ensino fundamental o índice de
retenção dos estudantes pretos também é maior. Em 2008 quase metade das crianças
pretas de 6 a 10 anos estava fora da série adequada, contra 40,4% das brancas;
entre 11 e 14 anos, o porcentual de pretos atrasados subia para 62,3%.
Quando voltamos nossos
olhos ao ensino superior, a desigualdade é ainda mais gritante, em parte pelo
resultado de anos de educação precária que afastam o negro da educação desde a
infância, em parte pelo imenso esforço feito pela elite para que na universidade
só entrem os que passam pelo filtro social mais eficaz já inventado por ela: o
vestibular. De todos os entrevistados pelo IBGE, 25,5% dos brancos já haviam
frequentado o ensino superior contra apenas 8,2% dos negros.
Esse processo
de exclusão dos negros da educação formal forjou uma casta intelectual branca
que é a que escreveu e pensou a questão negra, como o livro Casa Grande e
Senzala de Gilberto Freyre que é um marco importante da tese da democracia
racial. O mito da Democracia racial se coloca enquanto forma de desarticular a
população oprimida, cria-se a filosofia da convivência harmoniosa entre a elite
branca e os pretos oprimidos, aculturação para o embranquecimento. Uma
destruição cultural dos polos. Ao contrário do que diz Freire, e todos os que
compram sua ideia de democracia racial, a mistura entre as raças gerou mestiços
que também sofrem racismo, os “pardos” das valas preenchidas pela polícia, não
existindo de maneira alguma uma “miscigenação” que eliminou os polos da
realidade racial brasileira. Partindo de um pressuposto que todas as raças têm
as mesmas condições na sociedade, coloca nos setores mais oprimidos e
criminalizados toda a culpa por seus próprios problemas sociais.
(É preciso entender
que nós pretos e pretas devemos lutar pelo necessário, não pelo possível na
legalidade de um poder que nos aprisiona.)
A discussão sobre cotas raciais nas
universidades públicas é um exemplo de como o racismo pode se deixar esconder
por traz de um falso mito de democracia racial, transferindo o resultado de uma
política de mais de 500 anos de genocídio e descaso social em mera incompetência
do povo preto. Se hoje não vemos os pretos nas salas de aula das universidades,
nem como estudante, tão pouco como professores, é por que o lugar dado a esses
nas universidades é limpando as salas de aula e banheiros, nos postos mais
precarizados.
O governo Dilma aprovou no senado um
projeto de cotas sociais e raciais para serem implementados nas universidades
federais, esse projeto prevê 50% de cotas sociais, entre as quais uma
porcentagem de cotas raciais de acordo com a porcentagem de pretos e pardos no
estado. Para algumas universidades que já implementaram cotas será um
retrocesso, pois terão de diminuir o número de cotas raciais, como é o caso
UFABC, que hoje destina 28,3% de suas vagas a negros e terá que diminuir para
16% .
Apesar de nos colocarmos ao lado do
movimento negro no combate aos setores de direita que organizam campanhas
contra as cotas, para promover a democratização radical do ensino que garantirá
acesso pleno à universidade a todo o povo negro, defendemos como programa o fim
do vestibular e a estatização das universidades privadas sem indenização.
A garantia de ingresso de pretos nas
universidades ainda é muito pouco: é preciso uma política que garanta de fato o
acesso do povo preto a educação formal, desde as creches até as universidades!
Se por um lado esse governo abre
alguma concessão, dando migalhas ao pretos por outro avança na repressão da
classe trabalhadora e no genocídio do povo negro ajudando as UPPs no Rio de
Janeiro, mandando o exército reprimir as mobilizações dos trabalhadores das
obras do PAC, oferecendo auxilio para o extermínio do povo preto nas favelas de
São Paulo, etc.
Garantir
educação de qualidade para pretos e pretas é apenas uma pequena parte do
processo de reparação.
Reparar os pretos historicamente significa fazer uma transformação radical na
sociedade, que vai desde a reforma agrária e urbana até o fim da violência
policial e do sistema prisional. E a luta por melhores condições na educação
para os pretos não pode estar desligada de todas as outras, por que a falta de
moradia, o genocídio da população preta, principalmente de sua juventude, seu
encarceramento, a necessidade de trabalhar desde cedo, a ocupação dos cargos
mais precarizados, etc, fazem parte do conjunto de fatores sociais que tiram os
jovens pretos das escolas desde a infância e que não permitem que os mesmo
entrem nas universidades, ou sequer vejam o ensino superior como algo possível
em sua vida.
Temos que
seguir o exemplo de Zumbi de Palmares, Malcolm X, dos Panteras Negras, e vários
outros lutadores que se armaram contra a opressão do povo preto. É preciso
entender que nós pretos e pretas devemos lutar pelo necessário, não pelo
possível na legalidade de um poder que nos aprisiona, e que nossa luta deve ter
como norte a certeza de que só seremos livres com a libertação de toda a
humanidade, com o fim da exploração da classe trabalhadora.
“Nós nunca teremos liberdade real entre brancos e negros
nesse pais sem destruir esse pais, sem destruir o atual
sistema político, sem destruir o atual sistema econômico
sem reescrever a Constituição inteira, sem destruir tudo que
os EUA supostamente defendem.” Malcolm X
Questão negra e
marxismo uma conciliação necessária para
a vitória.
por: Leticia parks
Em
diversos momentos da trajetória do movimento operário no Brasil, não foram
poucos os momentos em que as direções sindicais e partidárias esquivaram-se de
debater a questão negra, alegando que essa questão poderia alavancar uma
divisão na classe operária brasileira, que há muitos anos já vem integrada, não
existindo mais diferenças entre as raças que convivem no Brasil, devendo ser,
portanto, prioridade do movimento operário e da juventude, levar em frente as
lutas que integram esses diferentes setores em torno da questão de classe.
Outros
setores da esquerda alegam que para tal questão a única pauta é a revolução,
não havendo antes dela, nem mesmo dentro dela, questões específicas ligadas a
questão negra, ou a outros setores oprimidos pelo capitalismo, como as mulheres
e os homossexuais.
Nós
da Juventude às Ruas!, em contraposição a essas concepções, reconhecemos
profundamente o papel da revolução para a libertação de todos os povos
oprimidos, e que se levada a frente a estratégia correta, como na revolução
proletária vivida na Rússia em 1917, com auto-organização dos trabalhadores,
atendendo às demandas democráticas mais sentidas pelos camponeses e mulheres, é
possível alcançar aos negros demandas inéditas como as alcançadas pelas
mulheres e camponeses no início do séc XX: a União Soviética foi o primeiro
Estado a legalizar o aborto, o divórcio e a estabelecer plenamente a reforma
agrária.
A
fuga das direções do movimento operário em relação a questão negra não se deu
por um apego ao marxismo, mas ao stalinismo. Tratar a questão negra como uma
questão de divisão da classe foi política do PCB durante toda a sua construção
no séc XX e até hoje. A degeneração burocrática promovida por Stalin foi
acompanhada do retrocesso sobre a questão da mulher, agrária e homossexual após
a morte de Lênin, como política consciente para dentro do Estado operário.
Para
o marxismo, desde sua origem, a questão da mulher e do negro, em meio a outros
setores oprimidos pelo capitalismo, sempre se deu como tarefa central, sendo
para qualquer comunista , apegado aos seus preceitos históricos e teóricos
fundamentais do marxismo, absurda a ideia de libertar-se sobre o aprisionamento
de outros povos, outras etnias ou outros gêneros.
Em
uma sociedade dividida em classes, com a burguesia, por um lado, impondo a
dinâmica econômica que a favorece e junto a isso a ideologia que sustenta a
manutenção de seu poder, e por outro, os trabalhadores, vendendo sua força de
trabalho e lutando pela sua sobrevida, carregado da ideologia burguesa que
impregna nosso cotidiano; é impossível compreender a questão do racismo por
fora de encará-lo como uma política que é imposta e propagada pela burguesia.
No mundo capitalista, nada existe a não ser que gere exorbitantes lucros. Se
não houvesse lucro sobre o machismo, este não se manteria. Se não houvesse
lucro sobre o racismo, esse não se manteria. O racismo dá altos lucros para a
burguesia ao convencer setores amplos dos trabalhadores de que pode semi-escravizar
toda uma população justificando-se apenas na sua cor de pele. Com isso, faz com
que a força de trabalho de uma mulher negra valha ao menos 6 vezes menos do que
a força de trabalho de um homem branco, para quem a burguesia é obrigada a
pagar salários muito mais altos.
A
partir de 1905, Lênin, um importante militante e estrategista marxista, elabora
o conceito de tribunos do povo para os sindicatos operários. Com essa política,
coloca a limitação existente entre as reivindicações dos operários
sindicalizados e dos operários que, pela precarização do trabalho, são furtados
da possibilidade de organizar suas demandas em torno de um organismo político
centralizador. Sendo assim, seria papel das organizações operárias sindicais e
partidárias levar as reivindicações do povo mais oprimido para o seio das
reivindicações dos trabalhadores sindicalizados, assim como, para a juventude
organizada no movimento estudantil, levar ao seio de sua base as reivindicações
dos setores mais oprimidos e da classe operária, que não é representada pelo
movimento estudantil de maneira direta como o é nos sindicatos.
(se levada a frente a estratégia correta, como na revolução
proletária vivida na Rússia em 1917, (…) é possível alcançar aos negros
demandas inéditas como as alcançadas pelas mulheres e camponeses no início do
séc XX: a União Soviética foi o primeiro Estado a legalizar o aborto, o
divórcio e a estabelecer plenamente a reforma agrária.)
É
parte constitutiva dos atrasos da esquerda e do movimento negro atualmente
considerar que a trincheira das reivindicações do movimento negro atualmente
está por fora da luta de classes, e que é possível que a burguesia seja o
sujeito capaz de alcançar as reivindicações históricas dos negros, oprimidos há
séculos em nosso país e em todo o mundo. Entretanto, é possível que uma classe
que se pauta apenas por seus lucros e poder entregue definitivamente nas mãos
dos negros todas as suas exigências básicas, muitas das quais não se colocam
como demandas socialistas, mas simplesmente demandas democráticas que deveriam
ser atendidas por um Estado que se diz democrático? Pode a burguesia
brasileira, responsável pela existência de tantos sem terra em nosso país,
entregar aos negros a Reforma Agrária tanto reivindicada? Pode a burguesia
entregar aos negros, depois de séculos de expulsão do ensino básico para forjar
mão de obra semi escrava para o trabalho precário, garantir ensino laico,
gratuito e de qualidade para todos os negros desde a infância até a vida
adulta? Pode a burguesia brasileira acabar com a violência policial, ela que
precisa assassinar no campo e nas cidades para garantir a “paz social” que
mantém seus lucros assegurados reprimindo os trabalhadores precários moradores
de favelas?
É
de nossa opinião que só pode assegurar esses direitos a classe que não tem
sobre as vidas das massas o interesse no lucro, na especulação e na
parasitagem; e que essa classe é a classe operária. É parte da estratégia
marxista para a transformação da sociedade a ideia e a prática de que o terreno
da luta contra o racismo não são as alianças espúrias estabelecidas entre
grupos reformistas e governo (que apesar de se dizer dos trabalhadores, governa
para a burguesia), tampouco é a negação da existência do racismo ou de demandas
específicas dos negros. Nosso terreno é o terreno da luta de classes, contra a
burguesia e contra seus agentes, seja a polícia ou a justiça burguesa, pela
conquista de demandas que não possam nos ser retiradas. Lutamos para convencer
todos os setores da classe operária de que cada demanda dos negros é também uma
demanda de todos os trabalhadores brasileiros, americanos, venezuelanos,
haitianos, espanhóis, portugueses, italianos... A questão negra é uma questão
mundial e uma tarefa de hoje, que deve em cada pequena luta levar a um profundo
questionamento do sistema capitalista e da divisão entre classes que legitima o
poder de uma classe com interesses opostos ao pleno desenvolvimento dos seres
humanos como o que são: diferentes, plurais, criativos, coloridos.
Como
parte da estratégia marxista, consideramos fundamental apropriar-se de nossa
história, pois só assim é possível aprender com os acertos e erros já
realizados por nossa classe organizada. Para nossa história, os indivíduos são
fundamentais, e por vezes colaboram de maneira determinada, com suas ideias e
sua decisão, os rumos das lutas levadas a frente pelos trabalhadores. Sendo os
negros um dos setores mais explorado de toda a classe por todo o mundo, a
decisão e a coragem daqueles negros e negras que se organizaram na luta pelo
fim de sua escravidão antes e depois do capitalismo moderno, são figuras essências
de serem resgatas e fortemente reivindicadas por todos os trabalhadores e pela
juventude, como os fios de continuidade de uma tradição a ser retomada na
classe operária brasileira e mundial de profunda conexão entre a opressão às
negras e negros e o fim da exploração sobre a classe trabalhadora de conjunto.
Zumbi dos Palmares
(1655 - 1695)
O
Quilombo de Palmares foi o maior quilombo que já existiu na história de luta
dos negros contra a escravidão. Nele os negros resistiram por mais de 1 século
contra as constantes investidas do Império para acabar com essa cidade, que
representava um grande risco para a corte por conta de seus mais de 20 mil
moradores. Zumbi é o líder que assume tal aposto após a queda de Ganga Zumba,
líder anterior que havia negociado o fim de Palmares com a corte portuguesa.
Zumbi demonstrou-se então um grande estrategista, e no pior tempo de ataques,
conseguiu manter o quilombo vivo por décadas, até que é entregue por seu braço
direito, Antonio Soares, e morto pelos bandeirantes liderados por Domingos
Jorge Velho. Zumbi é exemplo de resistência e de coragem não só para os negros,
mas para todos os trabalhadores do mundo, sendo uma das primeiras experiências,
antes mesmo do Haiti, em que a emergente burguesia branca é desafiada por um
subalterno.
C L R James (1901 -
1989)
James
foi um importante escritor e militante trotskista, que por anos comunicou-se
com Trotsky, junto a outros militantes da década de 30, para forjar nos EUA o
que seria a primeira organização americana a colocar-se contra a política
stalinista para a URSS e para os outros importantes processos que se abriam na
época, que por política da III Internacional, foram derrotados, jogando sobre a
classe operária décadas de sentimento de derrota. C L R James dedicou parte de
sua vida para aprofundar os estudos sobre a história de luta dos negros, tendo
importantes elaborações sobre os negros nos EUA e sua mais conhecida publicação
sobre a Revolução Haitiana, onde retoma a figura de Toussaint Louverture, líder
da revolução e outro importante estrategista negro. James representou a
necessidade e indissociabilidade entre a questão negra e o marxismo, e
interdependência entre tais discussões para a vitória dos trabalhadores e da
juventude sobre o capital.
Huey P. Newton (1942
- 1989)
Huey
foi um poeta, revolucionário e um dos fundadores do Partido dos Panteras
Negras, primeiro partido só de negros no mundo a reivindicar o marxismo como
lente para analisar a sociedade e lutar contra o capitalismo. Huey era
estudante de direito, e por essa via contribui com a consciência dos negros ao
demonstrar-lhes que as leis ditas universais na Constituição americana não
passavam perto de serem direitos dos negros, formulando assim os 10 pontos da
plataforma dos Panteras, que demonstram como para adquirir direitos básicos, os
negros foram obrigados a se armar, lutar contra o Estado e sua força policial e
foram fortemente reprimidos por isso, levando muitos dos Panteras à morte. Huey
foi um deles. Aos 47 anos foi assassinado a tiros por uma conspiração do Estado
contra a organização.
João de Mattos (viveu
provavelmente entre os anos de 1850 e 1900)
João de Mattos foi um líder sindical padeiro que na
década de 1870 em diante organizou levantes da categoria para libertar seus
companheiros escravizados. O primeiro levante do qual se tem notícia é o de
1876 em Santos, onde os padeiros escravos de 5 padarias abandonam o local de
trabalho com cartas de alforria falsas preparadas por João. Tal acontecimento
se repete em 1877 em São Paulo com um número ainda maior de padarias e com os
negros recém libertados seguindo João até o Rio de Janeiro, onde realizaram por
anos façanhas do tipo. Em 1878, João com seus companheiros fundam o Bloco de
Combate dos Empregados em Padarias, que com o lema de Pelo pão e pela liberdade
organizou cerca de 100 associados. Com a abolição em 1888, após uma série de
levantes, João demonstra em suas cartas que ainda era preciso lutar pela
liberdade dos escravizados livres, demonstrando que com o fim da escravidão não
se acabou a superexploração dela proveniente. João é um grande exemplo a ser
resgatado e aplicado nos dias de hoje, quando infelizmente os sindicatos
ignoram que dentro dos locais de trabalho que visitam os negros seguem sendo os
superexplorados, e que é preciso uma unidade entre toda a classe trabalhadora
para lutar contra a precarização do trabalho.
0 comentários:
Postar um comentário