Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quem são nossos inimigos? Quais são suas armas e como nos atacam?


Juventude Às Ruas USP

            Estamos em meio a uma grande crise que se expressa nos campos econômico, político, ideológico e que apresenta à juventude de todo o mundo uma perspectiva nada agradável para o futuro. As certezas que existiam na Europa, por exemplo, com as políticas de bem-estar social já desmoronaram de todo. As promessas dos governos populistas de toda a América Latina se provaram grandes ilusões e já não convencem setores massivos que se enfrentam fortemente com os aparatos repressores em todo o continente. No Brasil, a idealização do ‘país do futuro’ caiu por terra e todos os falsos avanços dos anos de governo PT se chocaram com os limites impostos pelos interesses do Capital. Em todo o mundo crescem assustadoramente os índices de violência, principalmente ligados à repressão a movimentos sociais e às opressões, em um claro avanço de ideologias conservadoras.

A crise de representatividade

            O Brasil viveu um momento singular de lutas em junho de 2013, com as ruas sendo tomadas por milhões em todo o país. As revoltas, cujo estopim foi a questão da tarifa do transporte público, se mostraram grandes desfiles heterogêneos de indignações de uma juventude que assiste aos seus poucos direitos serem retirados, sofre com a precariedade dos serviços públicos e sente no bolso os efeitos de uma crise econômica mundial, ao mesmo tempo em que vê grandes escândalos de corrupção ocorrerem sem que a casta privilegiada de políticos sofra qualquer tipo de represália. Com gritos dos mais diversos presos na garganta, milhões de jovens reencontraram na ação coletiva um espaço para que sua voz fosse ouvida.

            A partir das Jornadas de Junho e dos seus ecos no país a ideia de uma crise de representatividade se escancarou. Talvez a única linha que realmente tenha perpassado todas as vozes de junho seja a descrença naquilo que está posto, a compreensão de que a política, no sentido mais corriqueiro do termo, da forma como se faz hoje não dá conta de atender às necessidades da população e que quando falta de um lado, sobra de outro.

            O mote “não me representa” apareceu e aparece na maioria das campanhas por demandas dos mais diversos tipos, principalmente no que tange a questões tabu, defendidas a unhas e dentes pelos setores mais conservadores da sociedade – como é o caso de políticos extremamente reacionários com grande destaque na mídia, como Jair Bolsonaro e afins, defendendo políticas opressoras e violentas. Em consequência, aos poucos foram surgindo as respostas pela positiva, elevando determinadas pessoas a símbolos de lutas. É o caso de algumas figuras públicas de posicionamento mais à esquerda e também com certo destaque midiático, apesar de muitas vezes levantarem bandeiras que ficam aquém da necessidade real da população e que não têm condições de atingir, ou sequer discutem, as reais causas dos problemas, como ocorre com o Deputado Jean Willys, do PSOL. Indo um pouco mais além, percebe-se o aumento de campanhas que se articulam em volta da ideia do “somos todos...”, em um movimento de ocupar simbolicamente o espaço vazio deixado por esse regime cuja representatividade está sendo posta em xeque – campanhas que podem causar enormes polêmicas, como no caso do atentado ao Charlie Hebdo, já que se trata realmente de uma disputa sobre qual o caráter da mudança que deve ser feita em relação a esse regime que se critica.

            A grande questão, no entanto, é: que representatividade é essa que está sendo questionada, quem a questiona e quem ocupa o espaço dessa representação? Não à toa esse debate não está na mídia que alardeia a tal crise. Não interessa a ela dissecar o regime para que compreendamos de fato quem são os sujeitos políticos envolvidos no processo, muito menos assumir que a crise, mais do que de representatividade, é de regime. Mas essas relações não são abstratas e a indignação que levou milhões às ruas, ainda que por pautas diversificadas, não foi uma coincidência ou um surto coletivo de subjetividades.

A democracia dos ricos não nos representa

            A descrença total na casta dos políticos pela compreensão acertada de que estes são privilegiados em detrimento da esmagadora maioria da população e de que governam para os próprios interesses é uma constante em todo o mundo, mas os levantes que a tomam como premissa não têm dado conta de alcançar suas reivindicações. Isso se dá porque toda a crítica tem sido direcionada aos políticos profissionais, ignorando que estes governam seguindo determinadas regras.

Retomando Marx, “O poder do Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.”[1] Ou seja, este Estado que hoje está posto em todo o mundo é um grande balcão de negócios para a burguesia e responde aos interesses dessa classe, e não de outra, consciente e atentamente, sempre disposto a alterar as suas formas de maneira a garantir a sempre crescente exploração sobre a classe trabalhadora. A essas formas chamamos regimes – democracias, ditaduras, monarquias -, e todas as diferenças que existem entre eles respondem às necessidades momentâneas do capitalismo de flexibilizar as próprias dinâmicas para garantir a exploração. Em outras palavras, são diferentes aspectos da mesma ditadura do capital sobre os trabalhadores, que se utiliza de aparatos como as forças armadas e polícias, a justiça, a Igreja, a mídia e toda sorte de instituições para garantir a dominação burguesa.

O Brasil vive a sua fase mais duradora sob um regime “democrático”. Este chega ao Brasil e ao resto da América Latina como instrumento para uma ofensiva neoliberal sobre esses países. Ou seja, a implementação de uma dita “democracia” se dá por interesse da burguesia em um Estado que intervenha cada vez menos na economia, mas que garanta o direito à propriedade de modo a garantir o livre mercado, e que possa utilizar, ou melhor, utilize por via de regra os seus aparatos repressores para conter toda e qualquer tentativa de desvio da ordem.

Tomando como exemplo a postura do PT diante do ascenso operário das décadas de 70-80, que teve seu caráter bastante desviado pela separação das lutas econômicas e políticas que criaram o melhor cenário para o neoliberalismo se firmar na década de 90, vemos como a democracia burguesa se dá, necessariamente, na contramão dos interesses da classe trabalhadora. Para se firmar como alternativa eleitoral dentro do regime, o PT teve de incentivar fortemente e com êxito a conciliação de classes, enfraquecendo a organização pelas bases e tirando do horizonte a perspectiva revolucionária – o que ecoa ainda hoje. Os únicos beneficiados por esse movimento, obviamente, são os burgueses que conseguem avançar no seu projeto de superexploração.

Para além da dominação econômica, a dominação ideológica é fortíssima, e nisso a democracia burguesa é muito eficiente. Mascarado pela ideia de liberdade de expressão, igualdade legal, direitos civis, concessões dadas a partir de pressão de mobilizações pontuais e o próprio processo eleitoral, onde grande parte da população efetivamente vota a cada dois anos, esse regime em nada é democrático. Os representantes escolhidos “pelo povo” governam, não para quem os elegeu, mas para os donos do capital. Nessa “democracia”, a política econômica fica a cargo de funcionários de confiança de empresários e banqueiros, já que não há nenhum tipo de eleição para definir quem vai gerir instituições como o Banco Central ou a Receita Federal, por exemplo. O orçamento público não é debatido a fundo no parlamento e não está nas mãos do povo decidir se quase metade dele realmente deve ser utilizado para o pagamento de dívidas interna e externa. O parlamento brasileiro é caríssimo, redundante e não há nenhum esforço em se esconder a aviltante lista de privilégios dos parlamentares, desde salários absurdamente altos (que os próprios têm direito legal de aumentar) a benefícios de todo tipo, e isso pensando apenas naquilo que está dentro da lei – cuja maior parte é elaborada, não pelo legislativo, mas pelo executivo.

A formação do parlamento é outra farsa da democracia burguesa. Apesar de existir a possibilidade teórica de um partido organizado desde as bases conseguir eleger parlamentares que exercessem seus mandatos em defesa da classe trabalhadora e com a perspectiva de denunciar o jogo de interesses burgueses, a realidade torna essa situação praticamente impossível de acontecer. A disputa com os partidos da ordem dentro dos meandros do regime é impraticável para um partido realmente comprometido com os interesses dos trabalhadores e com independência financeira, já que este é um jogo que envolve milhões – fora a visível disparidade entre, por exemplo, o alcance e o tempo da propaganda eleitoral entre partidos “grandes”, ou melhor, altamente comprometidos com os interesses burgueses, e “pequenos”, dentre eles os partidos da esquerda tradicional, como o PSTU.

Esse regime “democrático” também se apoia nos aparatos judicial e policial, além do parlamento, para manter a dominação burguesa. O dito “país da impunidade” só permite que saiam impunes os privilegiados; ao setor mais pobre, e principalmente negro, da população a lei é aplicada duramente, superlotando os presídios (sendo que boa parte da população carcerária já cumpriu toda a sua pena ou sequer foi julgada), matando cotidianamente nas periferias em nome de uma pretensa “guerra às drogas” e, agora, desejando encarcerar adolescentes de 16 anos por meio da aprovação da redução da maioridade penal.

Todo esse quadro nos aponta claramente: a democracia em que vivemos é uma democracia dos ricos. Em nada nos beneficia, não porque ainda não é madura o suficiente, como tentam nos fazer pensar, mas porque nunca teve essa perspectiva. Ela surge e se articula unicamente para garantir uma maior exploração sobre a classe trabalhadora. A burguesia a defende não por ser uma classe “defensora da liberdade”, mas, pelo contrário, porque é a melhor maneira de seguir podando a liberdade da maioria esmagadora da humanidade e de seguir espoliando aqueles que tudo produzem no mundo e que nada possuem além de sua força de trabalho, cuja venda está diretamente relacionada à sua existência em meio à ditadura do capital. Ao menor sinal de que não há mais para onde expandir seus lucros dentro desse regime, os burgueses não terão pudor algum em destruir a dita “democracia” que construíram.

Por uma juventude revolucionária

            A juventude deve se colocar à disposição das fortes lutas que se apresentam e se apresentarão. E para essas lutas serem efetivamente vitoriosas é preciso ter clareza: não devemos ter nenhuma confiança nos governos, sejam eles assumidamente reacionários, sejam os travestidos de “populares”, que se utilizam hipocritamente de um discurso de “mal menor” quando implementam ataques dantescos à classe trabalhadora e à juventude. Dos partidos da ordem nada podemos esperar, e não virá de nenhum deles uma “nova política”. A pretensa polarização que hoje se apresenta no país é uma falácia: governam todos em prol da burguesia e seus interesses, e a disputa é apenas entre quais serão os agentes dos ataques – eles virão independentemente da sigla que os acompanhe. O rechaço à corrupção e aos corruptos não pode abrir espaço para que se deposite qualquer tipo de esperança em outros atores do mesmo teatro burguês.

             Por dentro da democracia burguesa a juventude e a classe trabalhadora não encontrarão nenhum espaço para melhoria efetiva de suas condições de vida. Qualquer aparente avanço que possa ser arrancado com muita luta gerará alguma perda em outro canto. Também não há nenhuma vitória efetiva que a juventude possa alcançar sozinha: sem se aliar à classe operária em nada avançaremos. O sistema que nos nega direitos básicos tem como premissa o lucro sempre crescente, e isso se dá por meio de uma exploração cada vez maior daqueles que tudo produzem. O sujeito da transformação radical desta sociedade é a classe trabalhadora, e a juventude que deseja essa transformação deve construir uma forte aliança com ela.

            As Jornadas de Junho nos dão uma lição: a juventude tem, sim, força e vontade para se levantar. Mas se levantar, apenas, não basta, é preciso ter um programa que oriente essa luta: um programa revolucionário. As soluções para os problemas que se apresentam e nos indignam não existem dentro do sistema capitalista; é preciso lutar pela derrubada violenta das condições sociais existentes. E pra isso é preciso que a juventude, aliada fortemente com a classe trabalhadora, tome para si a convicção e a ambição que Trotsky tão brilhantemente nos colocou: “A vida é bela. Que as futuras gerações a livrem de todo mal e opressão, e possam desfrutá-la em toda sua plenitude.”



[1] MARX e ENGELS. “Manifesto Comunista”, São Paulo: Boitempo, 2010. In: LANFREDI, Leandro. Apontamentos para avançar da crítica aos “políticos” à crítica da democracia dos ricos. Luta de Classes – Revista de política e cultura, no2, 2014.

Legalização das drogas já! Sob controle operário e popular!


Juventude Às Ruas USP

Constantemente vemos os governos dos ricos interferirem em nossos corpos e não permitirem que tenhamos autonomia sobre o que fazemos com aquilo que somos. A liberdade mínima e democrática de sermos livres para decidir o que fazer com nossos corpos, como a liberdade de alteração de consciência através do uso de substâncias psicoativas, é limitada tanto por padrões morais quanto por leis conservadoras que proíbem determinadas substâncias.

A farsa da proibição

            A proibição das drogas tem um processo histórico mundial de opressão e exploração. Desde o fim do século 19 a burguesia imperialista passou a fazer uma ampla política de controle social sobre os povos que eram explorados pela produção capitalista a partir do novo processo de industrialização e divisão internacional do trabalho. Aquela erva fumada pelos latinos e asiáticos, aquele pó que os africanos cheiravam, o ópio dos orientais, tudo isso era propagandeado como uma grande ameaça à sociedade branca e cristã, especialmente norte-americana imperialista. Porém, a proibição não passava de controle cultural, social e político sobre os povos oprimidos que eram explorados nas fábricas do império, sustentada pela propaganda ideológica sobre as massas dos “males das drogas”.

O grande discurso do “combate às drogas” não passa de uma retórica hipócrita por parte do imperialismo estadounidense para vigiar as semicolônias como o Brasil, e a partir desta “guerra ao narcotráfico” encontrar o seu plano ideológico para financiar a repressão e massacre nestes países. As burguesias nacionais, incapazes de qualquer distanciamento do império, são grandes interessadas em tal processo repressivo, e historicamente vêm usando o combate às drogas e aos seus traficantes como principal discurso para a militarização das periferias e favelas, que tenta legitimar o genocídio da juventude pobre e negra. A violência existe por conta da proibição política destas substâncias, e não por conta das substâncias em si.

O mercado lucrativo do narcotráfico

Através da lógica proibicionista colocada em prática há tantos anos, os poderosos encontraram uma fórmula para ao mesmo tempo em que reprimem os pobres com a desculpa do combate às drogas, também terem como de lucrar com todo o comércio ilegal do narcotráfico. Sabemos, por exemplo, que o comercio das grandes fabricantes de armas passa em grande parte pelas rotas do comércio ilegal de drogas, financiando as guerras e genocídios ao redor do mundo, especialmente nos países mais pobres. O mercado clandestino das drogas também é onde os grandes empresários lavam seu dinheiro sujo, com contas bilionárias nos países de paraíso fiscal.

Existe ainda uma divisão internacional da produção bem definida entre os capitalistas do mercado de drogas, em que na Europa é comum que se produzam as drogas com mais tecnologia agregada, enquanto que em países como Colômbia, Afeganistão e Brasil se localizam as plantações de drogas de baixo valor agregado. Os capitalistas, aliados aos seus políticos corruptos, desenvolvem todo um sistema de comércio ilegal de drogas em que na “ponta” estão parte de suas vítimas, afinal, o “aviãozinho” das favelas brasileiras, ou a juventude pobre e negra que passou por amplos processos de desemprego e encontrou no tráfico uma atração econômica, tem como resposta desta mesma sociedade que o criou, a morte ou prisão por parte das forças repressivas do Estado. No Brasil, o genocídio tem números dentre os maiores do mundo e a política reacionária avança com as recentes tramitações da redução da maioridade penal no congresso, que propõe o aumento da população carcerária que já figura entre as três maiores do mundo, propondo também um fim cada vez mais rápido à vida da juventude pobre e negra do país.

Devemos considerar ainda o controle técnico e científico que possuem os grandes capitalistas sobre a produção de drogas mundial, onde, por exemplo, a patente da heroína pertence a Bayern e a do LSD à Roche, duas das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, que se utilizam disso para obter o controle das pesquisas e técnicas de produção dessas substâncias. Tal controle estar longe das mãos dos trabalhadores resulta no que vem sendo a política de drogas nas ultimas muitas décadas: uma limitação irracional do desenvolvimento de possibilidades medicinais e recreativas dessas substâncias e o uso sem conhecimento dos efeitos e propriedades de cada droga por parte da classe trabalhadora. Este distanciamento do produto faz com que possam surgir drogas de controle populacional e extermínio, como o Crack. Caso o conhecimento, a produção, distribuição e consumo estivessem sob controle dos próprios trabalhadores, não faria sentido existir drogas de destruição, mas sim, poderíamos avançar em uma utilização saudável das substâncias psicoativas.

O desconhecimento das substâncias por parte dos trabalhadores e da juventude faz com que nos pareça normal a legalidade do álcool, cigarro, café, açúcar e diversas outras substâncias psicoativas, mas não a maconha, cocaína, LSD etc. Podendo racionalizar esta produção, veríamos também os efeitos destruidores que o álcool provoca na sociedade, com as brigas de bar, acidentes de transito, problemas graves de saúde e etc. Enquanto que por outro lado, sabemos de alguns efeitos bem menos nocivos nos casos da maconha ou do LSD, por exemplo. Porém, a medicina e suas pesquisas de hoje não querem saber de bem-estar, mas sim, buscam apenas o lucro e a mera sobrevivência do trabalhador, para que ele possa ter a saúde mínima para continuar produzindo. Portanto, drogas que são contraditórias ao ritmo de produção capitalista, ou que podem ser utilizadas para ajudar que alguns tratamentos sejam menos nocivos ao corpo, não interessam aos olhos de lucros dos grandes capitalistas, que regem a proibição junto de seus políticos e enriquecem com o tráfico mundial.

Legalizar, estatizar e controlar!

É por conta de todo este cenário absurdo do proibicionismo mundial, por conta do genocídio aos povos oprimidos ao redor do mundo, e para lutar contra o lucro de sangue destes capitalistas, que devemos lutar pela imediata legalização das drogas, não mais nas mãos da propriedade privada e dos grandes monopólios, mas controlada pelos trabalhadores e pela população, através de comitês de base que definam a produção, distribuição, preço e educação sobre as drogas. Precisamos construir uma forte aliança entre os estudantes das universidades para o desenvolvimento de pesquisas junto aos trabalhadores do setor farmacêutico, em busca das melhores soluções medicinais e recreativas dessas substâncias. Uma aliança também dos estudantes que possam prestar atendimento social, médico e psicológico para todos os dependentes dedrogas produzidas para dizimar o povo pobre, que viciam as pessoas por conta da própria miséria material e subjetiva que o capitalismo os impõe. É necessária uma ampla mobilização anti-imperialista que retire as bases norte-americanas da América latina e coloque em prática um processo de expropriação dos bens dos grandes traficantes e cartéis de drogas, revertendo o dinheiro para a pesquisa e desenvolvimento da produção estatal sob controle operário e popular, dando um basta aos governos aliados dos grandes cartéis do tráfico mundial, como no caso mexicano. Para conquistarmos este programa, devemos lutar pelo fim das polícias, impondo um fim ao genocídio da população pobre e negra em nosso país.

A ANEL, que é uma entidade nacional independente dos governos e da burguesia, tem a importante tarefa de lutar pela legalização das drogas sob controle operário e popular. Convidamos todos ao congresso da ANEL em Campinas, a partir de 4 de Junho, para também debatermos as questões das drogas e organizamos a luta pela legalização. Assim como convidamos para a Marcha da Maconha de São Paulo, a ser realizada no próximo dia 23 de Maio, no vão do MASP.

Posicionamento da Juventude Às Ruas sobre cotas



A mobilização que os estudantes negros e negras, juntamente com o conjunto do movimento negro vem tocando há anos e nesse momento ganha mais força, escancara o racismo estrutural presente na USP: uma universidade elitista e branca onde ofensas racistas são pichadas no banheiro da EACH, professores na sala de aula ainda transmitem, em pleno século XXI as teorias do racismo científico, dizendo que os negros têm uma capacidade cognitiva menor, onde os negros ocupam os postos mais precários de trabalho e somos nós os mais atingidos pelo desmonte que o reitor e o governador pretendem implementar. Uma universidade fundada pelos filhos da elite cafeeira do estado, uma classe dominante que faz homenagens aos bandeirantes que caçavam índios e escravos no meio da floresta e que não tem uma homenagem aos grandes heróis negros e negras. Logo, a primeira função que a reivindicação de cotas raciais cumpre é a de desmascarar o racismo.

É impossível compreender até o fim o racismo por fora de encará-lo como uma política que é imposta e propagada pela burguesia que, por um lado, impõe a dinâmica econômica que a favorece concomitantemente à ideologia que a sustenta no poder. Por outro, os trabalhadores que, carregados da ideologia burguesa, vende sua força de trabalho e luta pela sua sobrevida. No mundo capitalista, nada existe a não ser que gere exorbitantes lucros. O racismo institucional impede formação mais qualificada de negros e negras, delegando-os postos de trabalhos precários e mal remunerados e rebaixa os salários de conjunto dos trabalhadores, já que há um enorme mercado de homens e mulheres que podem trabalhar por um preço muito menor. Se não houvesse lucro sobre o racismo, este não se manteria.

A  mobilização por cotas raciais nas universidades públicas é um exemplo de como o racismo pode se deixar esconder por traz de um falso mito de democracia racial, transferindo o resultado de uma política de mais de 500 anos de genocídio e descaso social em mera incompetência do povo preto. A USP é de longe a universidade mais racista do país, se recusa implementar até mesmo a chamada Lei de Cotas, programa federal de cotas nas universidades públicas. Há pouquíssimos negros estudando na nossa universidade devido a anos de educação precária e a um filtro social altamente eficaz: o vestibular. Dos que entram, menos ainda seguem seus cursos, uma parcela ainda mais minoritária avança para a pós graduação e raros chegam a ser professores.

A maioria dos negros da USP só entram na sala de aula para limpar o nosso chão e servir estudantes e professores, como trabalhadores terceirizados, em sua maioria mulheres. O trabalho precário dentro da universidade aumenta conforme avança sua crise financeira, via sobrecarga dos trabalhadores efetivos que permanecem e via terceirização.

A atual conjuntura nacional de crise na educação se expressa também pra dentro dos muros da maior universidade do Brasil através de cortes nas bolsas de moradia e pesquisa, na dificuldade enorme de se conseguir vaga no CRUSP, demissão de 1500 trabalhadores, no fechamento de um bandeijão, nos cortes de serviços do HU, não abertura de vagas nas creches, salas de aulas super lotadas, na precarização no regime de contratação de professores... Os resultados podem ser sentidos por todos que estudam e trabalham na USP, seja na qualidade de seus estudos, nas condições pra se manter estudando, na sobrecarga, doenças e assédio moral sofrido pelos trabalhadores.

Mas o setor de estudantes que mais sofrem os efeitos do desmonte da universidade e sucateamento da educação são os negros e negras. São aqueles que, mesmo com as dificuldades impostas por uma sociedade machista, racista e lgbtfóbica conseguem furar o filtro social do vestibular, conquistam uma vaga e logo de cara vêm seu sonho de ter uma educação de qualidade ir por água abaixo, ao passar pelo segundo filtro social, a falta de permanência.

Neste cenário de boicote histórico as nossas demandas, nós estudantes negros e negras resistimos e damos voz aos milhões de negros, negras e indígenas que financiam a universidade na qual nunca adentrarão sem que lutemos. Neste sentido, cotas raciais representa o mínimo necessário e urgente para a reparação aos irmãos e irmãs que permanece insistentemente sem ser efetivada.

Desde o começo do ano a Ocupação Preta vem protagonizando a luta pelo direito dos negros à educação pública de qualidade impondo através de ocupações nos espaços acadêmicos a discussão de cotas.

Nós da Juventude às Ruas acreditamos que a luta por cotas raciais é uma demanda extremamente necessária e deve estar diretamente ligada à luta pela defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade a serviço da classe trabalhadora, pois essa corre risco de extinção. É uma luta que precisa ser levada com força por meio da unidade dos estudantes e os trabalhadores, que colocam esta universidade pra funcionar em sua maioria, negros que sofrem na pele todo dia o racismo velado, explícito e institucional. Devemos nos organizar em torno de pautas e interesses em comum para golpear a reitora e o governo do Estado num só punho. A ocupação do Conselho Universitário no dia 14/05 foi uma demonstração importante da força de nossa unidade.

Uma luta sem unidade só pode nos conduzir ao isolamento político dentro e fora da universidade e repressão aos lutadores por parte da reitoria, como pretende fazer agora o reitor Marco Antonio Zago, ao ameaçar punir estudantes e funcionários que estavam presentes no dia da Ocupação do Conselho Universitário, reivindicando que fosse feito a discussão sobre Cotas. É fundamental que o movimento dê uma resposta a esse ataque e não deixe que a reitoria continue implementando sua política de repressão aos lutadores.

Estamos ao lado do movimento negro no combate aos setores de direita que organizam campanhas contra as cotas e entendemos a importância do movimento negro organizado que elaborou o programa de cotas da Frente Pró Cotas. Apesar de acharmos, diante do atual cenário do país, ser extremamente necessário reivindicar cotas, entendemos isto como o princípio de uma reparação histórica aos negros que não se esgota na educação tampouco na universidade, pois cotas apenas não resolvem os problemas dos negros que sequer completam a educação básica. Ou seja, cotas deve estar atrelada às demandas de democracia universal, como educação para todos. Por isto levantamos um programa de cotas raciais que se choca diretamente com os interesses da burguesia e nos leva a questionar a lógica capitalista na educação que a tem como mais uma mercadoria, defendemos o fim do vestibular e estatização das universidades privadas sob controle dos funcionários e estudantes.

Nas universidades se faz necessário levantar um programa de cotas proporcionais ao número de negros/negras e indígenas de cada estado brasileiro não só para que contemple um maior número destas populações, sobretudo os mais marginalizados, mas, acima de tudo, para impor no espaço da universidade a contradição que se expressa em toda a sociedade. Contradição que, ao colocar a mesma proporção de negros e brancos, acirra a disputa do conhecimento produzido pela universidade. E a auto-declaração é um incentivo à afirmação do povo negro para procurar disputar o espaço acadêmico e combater o racismo estrutural que se expressa desde a composição social de trabalhadores e estudantes até o currículo que nega nossa história de luta e resistência e a pesquisa e extensão que não serve aos interesses dos trabalhadores e sim das empresas privadas.

O movimento estudantil precisa retomar seus métodos de luta baseados na democracia operária tomando pra si as demandas daqueles que não podem sequer pisar na universidade. Impulsionar a luta dos negros por reparação, colocada hoje mais explicitamente pela via das cotas, é cumprir este papel de tribuno do povo. Pois pela precarização do trabalho, o povo negro está furtado da possibilidade de organizar suas demandas através de um aparato político centralizador, passando por dentro da luta de classes. E esta situação pode nos fazer confiar e nos aliar a setores da sociedade que não estão ao nosso lado. Pode a burguesia entregar aos negros e negros, depois de séculos de expulsão do ensino básico para forjar mão de obra semiescrava para o trabalho precário, ensino laico, gratuito e de qualidade desde a infância até a vida adulta?

Entretanto, devemos ter plena consciência que fazer justiça aos pretos e pretas significa fazer uma transformação radical na sociedade, que vai desde a reforma agrária e urbana até o fim da violência policial e do sistema prisional. E a luta por melhores condições na educação para os pretos não pode estar desligada de todas as outras, porque a falta de moradia, o genocídio da população preta, principalmente de sua juventude, seu encarceramento, a necessidade de trabalhar desde cedo, a ocupação dos cargos mais precarizados, etc, fazem parte do conjunto de fatores sociais que tiram os jovens pretos e pretas das escolas desde a cedo e que não permitem que os mesmos entrem nas universidades, ou sequer vejam o ensino superior como algo possível. Temos que seguir o exemplo de Zumbi dos Palmares, Malcolm X, Panteras Negras, e tantos outros que se armaram contra a opressão ao povo preto. É preciso entender que nós, pretos e pretas, devemos lutar pelo necessário, não pelo possível na legalidade de um poder que nos aprisiona, e que nossa luta deve ter como norte a certeza de que só seremos livres com a libertação de toda a humanidade, com o fim da exploração da classe trabalhadora.

terça-feira, 31 de março de 2015

26M na USP: aliança entre estudantes e trabalhadores dos bandejões

por Denis Kawano



Na última quinta-feira, dia 26, como parte das atividades do Dia Nacional de Luta pela Educação, cerca de 200 estudantes da USP realizaram ato em frente ao Bandejão Central exigindo mais recursos para a permanência estudantil, a reabertura imediata de um dos restaurantes universitários (que foi fechado no início do ano, o que tem provocado filas ainda maiores), e reabertura das vagas cortadas nas creches. O protesto denunciou o desmonte da universidade que vem sendo realizado pelo reitor Marco Antônio Zago e pelo diretor da SAS (Superintendência de Assistência Social), Waldyr Jorge, que chegam ao absurdo de fechar leitos e ambulatórios de especialidades no Hospital Universitário. 

O Plano de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), implementado pela reitoria no início deste ano, diminuiu o número de trabalhadores em todas as unidades da USP,sendo que alguns dos lugares mais afetados foram os bandejões. Antes do PIDV, os funcionários dos restaurantes já estavam sobrecarregados, tendo que realizar tarefas muito além do que é humanamente possível (cerca de 70% dos trabalhadores possuem algum tipo de lesão por esforço repetitivo). Agora, com menos efetivo, o trabalho nos restaurantes foi ainda mais precarizado, e a pressão e assédio das chefias só aumentam. 

Diante desse quadro de dificuldades para os trabalhadores, o ato dos estudantes adentrou o bandejão e se solidarizou com essa luta. Por meio de jograis, dialogamos com os que estavam ali almoçando, lembrando os cortes na educação realizados pelo governo federal e a situação da USP. Sob gritos de "Trabalhador, pode lutar! O estudante tá aqui pra te apoiar!", um grande exemplo de união foi dado: diversos estudantes ocuparam as bancadas, a cozinha, as pias, e passaram a realizar as tarefas dos trabalhadores! Estudantes serviram uns aos outros, lavaram as bandejas e os talheres, retiraram o lixo, limparam as mesas. O olhar de surpresa dos outros estudantes ao verem seus colegas servindo a comida, por vezes se transformou em ajuda concreta; muitos que não estavam no início do ato procuravam uma vassoura, um pano ou outra forma para colaborar. Os trabalhadores assistiam e orientavam o que devíamos fazer, enquanto as nutricionistas e outras chefias acompanhavam atônitas que os estudantes apoiavam quem elas cotidianamente assediam. A alegria de realizar essa demonstração de apoio aos funcionários contrastava com a triste constatação de como a situação é insalubre, de como a precarização da universidade afeta física e emocionalmente os que para ela entregam seu suor.

Os trabalhadores aplaudiram e se emocionaram com a iniciativa. Um exemplo de solidariedade diante dos ataques da reitoria, indicando que somente uma aliança entre estudantes e trabalhadores poderá construir uma mobilização forte, que arranque a contratação de mais funcionários, a reabertura do bandejão da prefeitura do campus, a reabertura de vagas nas creches e de leitos no Hospital Universitário. A ação do movimento estudantil escancarou a gritante falta de funcionários e deu um recado para a burocracia da universidade: trabalhadores e estudantes estão unidos contra a precarização!


quarta-feira, 11 de março de 2015

Quarto de despejo: um relato atual.



O grupo de estudos Cultura e Marxismo realizou no dia 24/02 uma atividade de calourada sobre literatura e sociedade tendo como viés a questão da mulher. Foi usado o livro Quarto de Despejo, da autora Carolina Maria de Jesus. Usamos alguns dos dias do diário de Carolina para apresentar o livro aos estudantes e problematizar as questões políticas que ele abarca.

A primeira problemática a ser debatida se deve ao fato de ser um livro de extrema importância por denunciar as contradições da sociedade da época como também por expor aspectos fundamentais da cultura e organização social brasileira que vêm sendo reproduzidas até os dias de hoje e não estar presente na academia. Como é selecionado o cânone que lemos na universidade e porque foram questões abordadas.

É evidente o caráter de classe ali exposto.  A autora relata seu cotidiano como moradora negra da favela do Canindé e dá início a um debate de qualidade sobre aspectos cruciais da vida em comunidade. O fato de ser mulher, mãe de dois filhos – sendo eles de gêneros diferentes – abriu a oportunidade de pensarmos a vida de uma catadora de lixo na sociedade capitalista e como a marginalização, já tão naturalizada, tem consequências materiais e subjetivas. Seus relatos denunciam as opressões, como o racismo, apontando seus desdobramentos e consequências desde a escravidão.

Foi possível discutir a sociedade de classes, a questão negra, o patriarcado e o machismo escancarado em algumas relações marcadas pela violência doméstica. Traçar paralelos entre o passado e o presente do Brasil dado a infeliz continuidade desta realidade que assola a população. Concluímos não só as questões políticas e sociais passíveis de análise pela incrível obra de Carolina Maria de Jesus como a necessidade de intervir para modificar e erradicar questões como a fome, tão tratadas na obra, comuns a milhares de famílias como a da autora. 


Nossa proposta com o grupo de estudos é discutir a sociedade em que vivemos e o que faz com que alguns dos aspectos mais delicados e fundamentais para sua constituição sejam negligenciados nas recorrentes discussões teóricas em sala de aula e quais suas consequências na formação política dos alunos. Chamamos, portanto, todos e todas para as discussões semanais. Política pode e deve ser feita dentro e fora da sala de aula. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

PAZ SEM VOZ NÃO E PAZ E MEDO – RESISTENCIA DO COMPLEXO DA MARE


PAZ SEM VOZ NÃO E PAZ E MEDO – RESISTENCIA DO COMPLEXO DA MARE

Faby, militante da Juventude às Ruas

Na segunda feira (23/02), centenas de moradores realizaram um ato contra assassinatos de moradores, ações abusivas e invasões em moradias ocorridas nas ultimas semanas promovidas pelas forças militares. A invasão militar da Maré pelos aparatos do Estado como o Exercito, Marinha e suporte da Aeronáutica a mando do governo do PT de Dilma completara 1 ano em abril, e coleciona denuncias de violações dos direitos mais elementares como ir e vir, dormir a noite, realizar festas ou ate mesmo reuniões, ate casos de torturas, agressões nas ruas, abusos de poder, invasões noturnas em moradias, fuzilamento de veículos e assassinatos. Durante a campanha de Dilma para o segundo mandato em debate com o PSDB na televisão, a candidata falou com orgulho dessa ocupação como exemplo para segurança nacional, desmascarando a pratica desse governo de passar por cima dos direitos e dos corpos dos trabalhadores, dos negros e do povo pobre. No dia 21 de fevereiro um pedreiro foi fuzilado na Maré, outro trabalhador negro e pobre, outro Amarildo. Companheiros meus de universidade me relatam o medo diário dos tanques estacionados em suas portas com dezenas de soldados fazendo estardalhaços, entrando nas casas de madrugada, que não apagam mais as luzes para dormir e me questionam Se entrarem na minha casa e se depararem com um negro de short dormindo:! Será que vai valer os livros na estante como defesa:! Diariamente inúmeras questões tomam esses moradores, medo, impotência, coragem, vontade de lutar, alegria de estar vivo mais um dia, superação.

Enquanto moradora negra de uma favela com UPP (Unidade de Policia Pacificadora), política de segurança do governo Cabral do PMDB com incentivos privados e federal, compreendo as particularidades de cada território, de cada ocupação e as diferenças de ter seu espaço invadido pela policia militar e pelas forças nacionais. Procuro expor aqui minha solidariedade e disposição para lutar lado a lado, nossa luta e uma só, nossos inimigos são vários e nossas forças infinitas. Ser favelado e favelada, ser favela significa resistência cotidiana, somos a resistência negra, feminina, nordestina, pobre, lgbt, trabalhadora nos quilombos urbanos. A decisão de me organizar, de militar veio depois de assistir o filme “O Estopim” na Rocinha que mostra toda a tortura e assassinato de Amarildo e relatos de como praticas como essa são cotidianas. Precisava de meios e ajuda para lutar cotidianamente para modificar a realidade de milhares assim como eu. Busquei um programa coerente com o que precisamos, temos pressa! Não queremos uma “UPP social”como alguns setores de esquerda defendem, não queremos uma policia “desmilitarizada” que terá a mesma atuação assassina pelo papel de classe que cumpre na sociedade capitalista, racista e elitista. Como exemplo da atuação da Civil temos a Core que mata e tortura tanto quanto a Bope. Temos necessidade de uma nova sociedade, não uma nova policia, de um Estado construído e dirigido pela classe trabalhadora majoritariamente negra e feminina.

A situação na Maré a cada dia assume escalas mais graves, moradores temem uma chacina como represália aos levantes que eles vem protagonizando. Tornar publica todos os ataques sofridos, o debate sobre Estado e policia são cada vez mais gritantes numa cidade como o Rio de Janeiro que vem assumindo o papel de um “Estado de policia”, a cidade modelo para todo mundo que mais mata negros e negras pobres. Nas ultimas semanas tivemos morte de um moto taxista no Complexo do Alemão e um ato de seus companheiros de trabalho com moradores e familiares fortemente reprimido pela UPP, jovens que filmaram os momentos de seu assassinato pela policia militar na Palmeirinha no Complexo do Lins desmascarando as farsas dos autos de resistência, adolescente assassinado com 3 tiros nas costas também no Complexo do Lins, tiroteios constante no São João, São Carlos e Jorge Turco. Que todos nos levantemos contra a criminalização da pobreza e a militarização dos territórios favelados! Tudo que vem ocorrendo comprova para os mais entusiastas com o projeto de intervenção militar que esta fadado ao fracasso, especialmente para quem mora e constrói cotidianamente esta “cidade maravilhosa”. A favela deve pertencer aos moradores, que nos tenhamos autonomia nas decisões sobre nossas vidas, através de decisões democráticas como assembléias e com mecanismos como associações que de fato funcionem. Não, eu não quero ter que escolher entre “bandido” e “bandido de farda”, e só isso que a sociedade e o Estado capitalista tem a me oferecer:!

Ate quando permitiremos e nos calaremos frente a isso e a todos os ataques cotidianos.
Pelo fim da invasão militar no Complexo da Maré e nos demais territórios favelados!!
Basta do genocídio da juventude negra, pobre e periférica!!
Basta de estar nas estatísticas dos 80% assassinados pela policia! Basta de estar massivamente fora das universidades, queremos cotas proporcionais e o fim do vestibular! Chega de silenciarem nossa cultura!
Pelo fim da UPP e das demais formas de militarização dos territórios!

Pela dissolução de todas as policias!!!

sábado, 28 de fevereiro de 2015

NOTA DE APOIO À LUTA DAS E DOS ESTUDANTES DA EACH EM DEFESA DOS ESPAÇOS ESTUDANTIS

     Quarta-feira 25/02, dezenas de estudantes da EACH USP (USP Leste) organizadas/os em assembleia decidiram pela ocupação do espaço da incubadora no campus. As/Os estudantes reivindicam um espaço estudantil que atenda as suas demandas, já que o espaço que eles tinham foi desapropriado pela direção em pleno período de férias do início do ano (dia 27/01), sendo essa a terceira vez que a direção ataca os espaços estudantis nos últimos 3 anos. Não é de hoje os esforços do movimento estudantil do campus de dialogar (sem resposta) com a direção em seus órgãos representativos exigindo que se debatesse essa questão que vem se arrastando há tanto tempo, por isso consideramos essa uma luta legítima em seu conteúdo e método.
      Os espaços estudantis (e de trabalhadores) são de extrema importância para a organização política e socialização. Por isso, nós da Juventude Às Ruas! nos colocamos lado a lado a esses lutadores e lutadoras, apoiando e construindo a mobilização junto com esses que já começaram o ano em movimento, e em plena calourada estão se mobilizando.
     Apenas com a luta poderemos arrancar os nossos direitos, não somente o espaço estudantil, mas também a descontaminação da EACH, verdadeiros programas de permanência e tantos outros problemas vivenciados pelo conjunto dos setores que realmente constroem a universidade. Chamamos a todas as organizações e entidades a apoiarem política e financeiramente essa luta legítima.


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Juventude Às Ruas realiza importante oficina na USP




Nesta quarta-feira, dia 25/02, ocorreu a primeira atividade da Juventude Às Ruas da USP em 2015, onde realizamos uma oficina com o tema "Nem água na torneira, nem pátria educadeira".


Em formato de roda de conversa, a discussão foi aberta por Odete, estudante de Letras da USP, que nos forneceu um completo panorama das lutas que se apresentam na universidade hoje, onde os cortes dos governos já começam a ser sentidos e os problemas tendem a se aprofundar, como é o caso da crise hídrica que já atinge também as universidades e pode ter graves consequências para seu funcionamento.


Os cortes do governo precarizam a universidade também com as recentes demissões de trabalhadores, em que o REItor Zago deu inicio ao Programa de Demissão Voluntária que já teve mais de mil e quatrocentos funcionários adeptos sem que seus postos de trabalho sejam preenchidos por novas contratações, o que gerou fechamento de bandejões, não abertura de vagas nas creches e uma crescente precarização das condições de trabalho na USP.


Também pudemos ter mais acesso às informações sobre este sucateamento das condições de trabalho na universidade com o relato de Babi, trabalhadora do Hospital Universitário, que além de nos contar sobre as importantes batalhas que fizeram na greve do ano passado para defender a saúde pública da região, o que unificou os trabalhadores e lhes deram força para vencer, também nos apresentou a situação degradante em que os trabalhadores se encontram hoje no HU, por conta dos ataques da REItoria e do governo que buscam sua privatização e sucateamento.


Outro importante debate que fizemos em nossa oficina, com a presença da Patrícia, trabalhadora da FFLCH, foi o caso da Biblioteca da faculdade, que nesta semana de calourada se encontra fechada por causa de contaminação cancerígena em alguns de seus livros. Isso levou os trabalhadores a terem que enfrentar a direção de Sergio Adorno para que os livros fossem isolados e os funcionários não sofressem mais com os problemas de saúde que a contaminação já vinha gerando. Patrícia nos relatou a força que os trabalhadores vinham tendo neste conflito, assim como a intransigência da direção, que não queria retirar os livros contaminados da biblioteca mesmo sabendo do risco à saúde eles representam.


Contamos em nossa roda de discussão com professores da rede estadual de ensino, que nos apresentaram a calamidade que se encontram as escolas devido a não contratação de professores neste ano. Com salas superlotadas, professores desempregados, e o ensino público atacado como um todo, as professoras presentes nos deram a perspectiva de que a categoria entre em greve já na sua primeira assembleia do ano, dia 13/03. Isto será um primeiro momento importante de luta contra os ataques do governo, onde os professores de São Paulo poderão seguir os professores do Paraná, que deram verdadeiras aulas de como se luta contra os cortes: fazendo greve, indo às ruas e ocupando assembleia legislativa para barrar os pacotes de ajustes que o governo de lá queria implantar.


Os ingressantes saudaram a oficina como um espaço muito importante de discussão, apresentando a vontade de levar aquelas informações para todos os que estão entrando na universidade esta semana, reforçando a perspectiva de que este ano será necessária uma ampla unidade entre nós estudantes, com profundos debates, para que possamos fazer frente aos ataques dos governos à educação pública e às condições dos trabalhadores em geral.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A crise da UERJ precisa de uma resposta à altura

Por Carolina Cacau, coordenadora do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ e militante da Juventude Às Ruas.



A UERJ está em uma imensa crise. Atrasam bolsas estudantis e dos residentes, atrasam salários dos técnicos e professores contratados, constantes quedas de energia, salas de aula sem climatização em meio a um verão com recorde de calor, déficit de professores e neste momento a escandalosa situação de centenas de famílias que passam fome pelo atraso de já dois meses nos salários dos terceirizados da limpeza, manutenção e segurança. E esta situação, se não a derrotarmos tende a se repetir e piorar nos próximos meses.


Esta precarização da universidade atinge a toda educação e a saúde da população atendida pelo Hospital Pedro Ernesto, mas antes de mais nada atinge os negros. Justamente na universidade que era um símbolo nacional por ser a primeira universidade a ter cotas, quem fica sem salários são os terceirizados, em sua maioria negros, e os bolsistas, que são em uma grande parcela justamente os negros cotistas. Ou seja esta precarização da UERJ é também sua elitização e “embranquecimento”.


Quem faz estes ataques? O reitor Vieiralves que atua de forma ditatorial na universidade, fazendo tudo via decretos e sem a menor discussão com a comunidade universitária sobre o que deve ser priorizado, como ela deve funcionar. E isto é feito sob as ordens do Governador Luiz Fernando Pezão que está implementando um corte em todo o funcionalismo. Ele anunciou um corte de 25% no orçamento de custeio em todas as áreas no Estado do Rio de Janeiro. Com a queda da arrecadação no estado do Rio de Janeiro pretendem arrochar os salários, cortar verba nos serviços públicos, como na saúde e educação, aumentar várias tarifas e impostos, como luz e transporte, ao mesmo tempo continua milionárias isenções de impostos às grandes empresas e continuam as obras faraônicas das Olímpiadas, entre outras.. Na UERJ, UEZO e UENF, o ataque vai atingir maiores proporções: na última semana Pezão declarou que cortará 144 milhões das estaduais. Ou seja a atual situação da UERJ só tende a piorar.


Um ataque neste nível exige uma resposta à altura: a perspectiva que estudantes, trabalhadores e professores construam uma grande greve massiva, que mobilize dezenas de milhares em cada unidade e curso para barrar este ataque. É preciso que uma forte greve de todos os setores da universidade que permita defende-la mas também reorganizá-la, democraticamente, escolhendo sua forma de funcionamento, financiamento, etc. Para avançar em organizar uma força e perspectiva como esta que nós propomos todos os setores da universidade: estudantes, funcionários, professores, terceirizados, trabalhadores do Hospital Universitário Pedro Ernesto, e CAP à construir um Congresso da UERJ que debata a luta que precisaremos travar e um programa com o conjunto da universidade para responder a crise. Um espaço como este é fundamental para a construção da luta e que fortaleça com uma saída de fundo a greve em unidade desde a base de todos setores.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Os encochadores e o machismo de cada dia

por Letícia Oliveira

Foto UOL

Nos últimos dias recebemos a denúncia de que havia um grupo público do Facebook intitulado "Encochadores" divulgando matérias e histórias repugnantes de casos de assédio sexual nos transportes públicos. Tal grupo defende e propagandeia essa prática livremente pela web sem nenhum tipo de punição ou investigação.

Os encochadores e o machismo de cada dia
Após horas e horas de expediente de trabalho, mulheres em todo o país são forçadas pela péssima qualidade do transporte público a pegar ônibus, trens e metros extremamente lotados. A prática de assédio sexual, a qual faz referência esse grupo do Facebook, é um dos maiores medos de cada trabalhadora em nosso país. É certo dizer que quase toda mulher já passou por isso em uma ida ou volta ao trabalho, e que sentiu-se totalmente indefesa para evitar tal abuso. De fato, o que se pode fazer? Em um transporte tão lotado, não há muito para onde fugir, e por vezes diversas mulheres, como me foi testemunhado a partir das denúncias que abrimos no Facebook, desistem de fazer qualquer coisa e torcem para que o abuso da "encochada" acabe o mais rápido possível.
Os "encochadores" relatam livremente a sua repugnância: "meu junior durasso pra fora da cueca... só sei que na plataforma da estação anhangabaú eu já estava cutucando a polpa da bunda esquerda dela bem a vontade esfregando de leve... quando entramos lá dentro me posicionei e já mergulhei meu pau deitando no meio da bunda dela... a que sensação d bem estar maravilhoso... rs... dai eu deixei ele reto e entuxava no meio dela a calça entrou mais ainda... rs... ela quieta o tempo todo até a estação carrão na saida apertei a bunda dela... aaaahhhhhhh... fiquei com essa ecochada até agora no pensamento... rs".
Independentemente das denúncias realizadas por uma série de mulheres, o Facebook mantém a página ativa, alegando que "não fere os princípios de comunidade do Facebook".
Ao fazer uma alegação como essa o Facebook nos leva a compreender ainda melhor uma triste realidade: no machismo de cada dia, que perpassa todas as relações, principalmente as de trabalho, abusos como este estão muito longe de ser considerados por qualquer empresa ou grande corporação como uma violência como de fato é.
O prazer que estes homens sentem não é nem de longe um desvio social. É apenas uma expressão mais aguda do que a sociedade nos educa todos os dias através das relações de trabalho e da ideologia dominante presente em cada filme, novela, propaganda ou jornais produzidos pelas grandes corporações de imprensa. Aprendemos em todos esses espaços que a mulher vale muito pouco ou quase nada, recebendo em média 2/3 do salário de um homem, e se for negra, menos da metade do salário de um homem branco.

Reagir ou não reagir, eis a questão
As mulheres vivem todos os dias de sua vida com a ameaça constante de algum tipo de violência moral, sexual ou doméstica. O Brasil lidera os rankings de casos de violência, tendo totalizado no primeiro semestre do ano passado mais de 260 mil denúncias de violência doméstica. No ano passado, o IPEA revelou que a cada 90 minutos uma mulher é assassinada no Brasil vítima de violência doméstica. Em 2013, o Sistema Único de Saúde brasileiro recebeu cerca de 2 mulheres por hora com sinais de violência sexual, totalizando mais de 2300 casos, sem contar as mulheres atendidas no sistema privado e as multidões de mulheres que por vergonha deixam de procurar auxílio médico nesse tipo de situação.
Por essa realidade, não são poucas as mulheres que evitam andar sozinhas durante a noite, usar roupas curtas ou envolver-se com pessoas desconhecidas. Apesar de corretas em sua prevenção, essas medidas dão a entender que o problema da violência sexual é culpa da própria mulher. Que seus hábitos e vestuário são os grandes culpados por aquele trauma, quando na verdade o culpado por toda essa violência que sofremos é um sistema econômico que desenvolve uma ideologia machista totalmente favorável a sua dominação.
Ao convencer o conjunto dos trabalhadores de que as mulheres são inferiores, facilitam a super exploração de metade da humanidade e economizam com serviços que, se não cumpridos pelas mulheres, sairiam bastante caros para esses que precisam de tanto lucro, como são os serviços de lavanderia, cuidado de filhos e idosos, alimentação etc.
Contra a sua própria responsabilização sobre cada um desses casos de violência, o Estado burguês nos culpabiliza ao passo que cria Globelezas e mulheres submissas em suas novelas e, se durante o dia rouba nosso dinheiro, à noite tenta nos fazer escandalizar nos jornais com os casos de estupro.
Nenhuma mulher deve se envergonhar ao ser assediada nos transportes ou em qualquer outro lugar. A vergonha deve ser carregada por esses homens e pela burguesia que lucra todos os dias com a nossa opressão, inclusive com os transportes cada vez mais lotados que pagam suas festinhas privadas e seus ganhos extras com corrupção.

É possível que o transporte seja um lugar agradável?
Sim! A vontade de todo trabalhador ao sair do trabalho é pegar um metro, um trem ou um ônibus sem estresse. A qualidade de vida de uma realidade dessa é impensável para nós hoje em dia. A única justificativa para que o transporte siga sendo assim é o fato de que é gerido e administrado pelos que não usam o transporte como meio de locomoção e que dele não extraem nada a não ser os lucros exorbitantes.
Durante as recentes jornadas do transporte e as que colocaram o Brasil no cenário da juventude internacional em junho de 2013 já defendíamos que a única saída para que o transporte fosse de fato público, de qualidade e atendesse às necessidades dos trabalhadores era a partir da estatização sob controle dos trabalhadores e usuários.
Nesse espaço, a partir da clareza de que a opressão à mulher não deve ser reproduzida pelos trabalhadores pois a nós de nada serve essa ideologia, é possível que as mulheres trabalhadoras e usuárias do transporte possam pensar medidas efetivas de combate ao assédio sexual nos trens, metros e ônibus. Não houve por parte das administradoras públicas e privadas nenhuma medida efetiva de combate a essa prática a não ser campanhas estéreis e esparsas que jamais passaram pela solidariedade entre as trabalhadoras e as usuárias ou em campanhas de vigilância dos próprios usuários para denunciar e repreender cada caso que presenciassem.
Os homens são parceiros na luta contra o assédio?
Neste tipo de discussão é comum que as mulheres passem a encarar todos os homens como seus inimigos na luta contra a opressão. A verdade é que os homens, apesar de parcialmente beneficiados pelo machismo dentro de suas casas e pelo direito que recebem de nos insultar na rua, tocar em nossos corpos ou nos violar, não são os que verdadeiramente ganham com o machismo. Apenas a burguesia - proprietária dos meios de reprodução da vida como as fábricas, os bancos e outros - ganha qualitativamente não apenas com a opressão às mulheres, mas também com o racismo, a homofobia, a transfobia, a xeonofobia e todas as possíveis formas de opressão. Esse é o melhor caminho que ela encontra para dividir e enfraquecer a classe trabalhadora e lucrar mais ao determinar postos de trabalho mais precários para aqueles que não obedecem o padrão "homem, branco, heterossexual".
Portanto, a melhor luta contra a opressão é aquela que se faz lado a lado, trabalhadores e oprimidos, numa luta unitária contra toda forma de opressão e exploração, negando a divisão das fileiras operárias e abraçando a causa de todos aqueles, trabalhadores ou não, que sofrem cotidianamente da opressão de gênero, raça, etnia ou nacionalidade.
Assim, é possível reconhecer que em cada vagão de metro, trem ou em cada ônibus em todo o mundo as mulheres encontrarão nos trabalhadores e nas outras mulheres solidariedade para interromper o assédio que estiverem sofrendo, e que a tarefa de cada uma dessas mulheres é lutar para que possa, junto aos seus irmãos de classe e oprimidos, determinar o que será feito de cada um desses vagões e ônibus através de um controle operário e popular dos transportes.
Registros de telas usados para a denúncia de conteúdo feita ao Facebook