segunda-feira, 9 de março de 2015

PAZ SEM VOZ NÃO E PAZ E MEDO – RESISTENCIA DO COMPLEXO DA MARE


PAZ SEM VOZ NÃO E PAZ E MEDO – RESISTENCIA DO COMPLEXO DA MARE

Faby, militante da Juventude às Ruas

Na segunda feira (23/02), centenas de moradores realizaram um ato contra assassinatos de moradores, ações abusivas e invasões em moradias ocorridas nas ultimas semanas promovidas pelas forças militares. A invasão militar da Maré pelos aparatos do Estado como o Exercito, Marinha e suporte da Aeronáutica a mando do governo do PT de Dilma completara 1 ano em abril, e coleciona denuncias de violações dos direitos mais elementares como ir e vir, dormir a noite, realizar festas ou ate mesmo reuniões, ate casos de torturas, agressões nas ruas, abusos de poder, invasões noturnas em moradias, fuzilamento de veículos e assassinatos. Durante a campanha de Dilma para o segundo mandato em debate com o PSDB na televisão, a candidata falou com orgulho dessa ocupação como exemplo para segurança nacional, desmascarando a pratica desse governo de passar por cima dos direitos e dos corpos dos trabalhadores, dos negros e do povo pobre. No dia 21 de fevereiro um pedreiro foi fuzilado na Maré, outro trabalhador negro e pobre, outro Amarildo. Companheiros meus de universidade me relatam o medo diário dos tanques estacionados em suas portas com dezenas de soldados fazendo estardalhaços, entrando nas casas de madrugada, que não apagam mais as luzes para dormir e me questionam Se entrarem na minha casa e se depararem com um negro de short dormindo:! Será que vai valer os livros na estante como defesa:! Diariamente inúmeras questões tomam esses moradores, medo, impotência, coragem, vontade de lutar, alegria de estar vivo mais um dia, superação.

Enquanto moradora negra de uma favela com UPP (Unidade de Policia Pacificadora), política de segurança do governo Cabral do PMDB com incentivos privados e federal, compreendo as particularidades de cada território, de cada ocupação e as diferenças de ter seu espaço invadido pela policia militar e pelas forças nacionais. Procuro expor aqui minha solidariedade e disposição para lutar lado a lado, nossa luta e uma só, nossos inimigos são vários e nossas forças infinitas. Ser favelado e favelada, ser favela significa resistência cotidiana, somos a resistência negra, feminina, nordestina, pobre, lgbt, trabalhadora nos quilombos urbanos. A decisão de me organizar, de militar veio depois de assistir o filme “O Estopim” na Rocinha que mostra toda a tortura e assassinato de Amarildo e relatos de como praticas como essa são cotidianas. Precisava de meios e ajuda para lutar cotidianamente para modificar a realidade de milhares assim como eu. Busquei um programa coerente com o que precisamos, temos pressa! Não queremos uma “UPP social”como alguns setores de esquerda defendem, não queremos uma policia “desmilitarizada” que terá a mesma atuação assassina pelo papel de classe que cumpre na sociedade capitalista, racista e elitista. Como exemplo da atuação da Civil temos a Core que mata e tortura tanto quanto a Bope. Temos necessidade de uma nova sociedade, não uma nova policia, de um Estado construído e dirigido pela classe trabalhadora majoritariamente negra e feminina.

A situação na Maré a cada dia assume escalas mais graves, moradores temem uma chacina como represália aos levantes que eles vem protagonizando. Tornar publica todos os ataques sofridos, o debate sobre Estado e policia são cada vez mais gritantes numa cidade como o Rio de Janeiro que vem assumindo o papel de um “Estado de policia”, a cidade modelo para todo mundo que mais mata negros e negras pobres. Nas ultimas semanas tivemos morte de um moto taxista no Complexo do Alemão e um ato de seus companheiros de trabalho com moradores e familiares fortemente reprimido pela UPP, jovens que filmaram os momentos de seu assassinato pela policia militar na Palmeirinha no Complexo do Lins desmascarando as farsas dos autos de resistência, adolescente assassinado com 3 tiros nas costas também no Complexo do Lins, tiroteios constante no São João, São Carlos e Jorge Turco. Que todos nos levantemos contra a criminalização da pobreza e a militarização dos territórios favelados! Tudo que vem ocorrendo comprova para os mais entusiastas com o projeto de intervenção militar que esta fadado ao fracasso, especialmente para quem mora e constrói cotidianamente esta “cidade maravilhosa”. A favela deve pertencer aos moradores, que nos tenhamos autonomia nas decisões sobre nossas vidas, através de decisões democráticas como assembléias e com mecanismos como associações que de fato funcionem. Não, eu não quero ter que escolher entre “bandido” e “bandido de farda”, e só isso que a sociedade e o Estado capitalista tem a me oferecer:!

Ate quando permitiremos e nos calaremos frente a isso e a todos os ataques cotidianos.
Pelo fim da invasão militar no Complexo da Maré e nos demais territórios favelados!!
Basta do genocídio da juventude negra, pobre e periférica!!
Basta de estar nas estatísticas dos 80% assassinados pela policia! Basta de estar massivamente fora das universidades, queremos cotas proporcionais e o fim do vestibular! Chega de silenciarem nossa cultura!
Pelo fim da UPP e das demais formas de militarização dos territórios!

Pela dissolução de todas as policias!!!

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