PAZ SEM VOZ NÃO E PAZ E MEDO – RESISTENCIA DO
COMPLEXO DA MARE
Faby, militante da Juventude às Ruas
Na segunda feira (23/02), centenas de
moradores realizaram um ato contra assassinatos de moradores, ações abusivas e
invasões em moradias ocorridas nas ultimas semanas promovidas pelas forças
militares. A invasão militar da Maré pelos aparatos do Estado como o Exercito,
Marinha e suporte da Aeronáutica a mando do governo do PT de Dilma completara 1
ano em abril, e coleciona denuncias de violações dos direitos mais elementares
como ir e vir, dormir a noite, realizar festas ou ate mesmo reuniões, ate casos
de torturas, agressões nas ruas, abusos de poder, invasões noturnas em
moradias, fuzilamento de veículos e assassinatos. Durante a campanha de Dilma
para o segundo mandato em debate com o PSDB na televisão, a candidata falou com
orgulho dessa ocupação como exemplo para segurança nacional, desmascarando a pratica
desse governo de passar por cima dos direitos e dos corpos dos trabalhadores,
dos negros e do povo pobre. No dia 21 de fevereiro um pedreiro foi fuzilado na
Maré, outro trabalhador negro e pobre, outro Amarildo. Companheiros meus de
universidade me relatam o medo diário dos tanques estacionados em suas portas
com dezenas de soldados fazendo estardalhaços, entrando nas casas de madrugada,
que não apagam mais as luzes para dormir e me questionam Se entrarem na minha
casa e se depararem com um negro de short dormindo:! Será que vai valer os
livros na estante como defesa:! Diariamente inúmeras questões tomam esses
moradores, medo, impotência, coragem, vontade de lutar, alegria de estar vivo
mais um dia, superação.
Enquanto moradora negra de uma favela com UPP
(Unidade de Policia Pacificadora), política de segurança do governo Cabral do
PMDB com incentivos privados e federal, compreendo as particularidades de cada
território, de cada ocupação e as diferenças de ter seu espaço invadido pela
policia militar e pelas forças nacionais. Procuro expor aqui minha
solidariedade e disposição para lutar lado a lado, nossa luta e uma só, nossos
inimigos são vários e nossas forças infinitas. Ser favelado e favelada, ser
favela significa resistência cotidiana, somos a resistência negra, feminina,
nordestina, pobre, lgbt, trabalhadora nos quilombos urbanos. A decisão de me
organizar, de militar veio depois de assistir o filme “O Estopim” na Rocinha
que mostra toda a tortura e assassinato de Amarildo e relatos de como praticas
como essa são cotidianas. Precisava de meios e ajuda para lutar cotidianamente
para modificar a realidade de milhares assim como eu. Busquei um programa
coerente com o que precisamos, temos pressa! Não queremos uma “UPP social”como
alguns setores de esquerda defendem, não queremos uma policia “desmilitarizada”
que terá a mesma atuação assassina pelo papel de classe que cumpre na sociedade
capitalista, racista e elitista. Como exemplo da atuação da Civil temos a Core
que mata e tortura tanto quanto a Bope. Temos necessidade de uma nova
sociedade, não uma nova policia, de um Estado construído e dirigido pela classe
trabalhadora majoritariamente negra e feminina.
A situação na Maré a cada dia assume escalas
mais graves, moradores temem uma chacina como represália aos levantes que eles
vem protagonizando. Tornar publica todos os ataques sofridos, o debate sobre
Estado e policia são cada vez mais gritantes numa cidade como o Rio de Janeiro
que vem assumindo o papel de um “Estado de policia”, a cidade modelo para todo
mundo que mais mata negros e negras pobres. Nas ultimas semanas tivemos morte
de um moto taxista no Complexo do Alemão e um ato de seus companheiros de
trabalho com moradores e familiares fortemente reprimido pela UPP, jovens que
filmaram os momentos de seu assassinato pela policia militar na Palmeirinha no
Complexo do Lins desmascarando as farsas dos autos de resistência, adolescente
assassinado com 3 tiros nas costas também no Complexo do Lins, tiroteios
constante no São João, São Carlos e Jorge Turco. Que todos nos levantemos
contra a criminalização da pobreza e a militarização dos territórios favelados!
Tudo que vem ocorrendo comprova para os mais entusiastas com o projeto de
intervenção militar que esta fadado ao fracasso, especialmente para quem mora e
constrói cotidianamente esta “cidade maravilhosa”. A favela deve pertencer aos
moradores, que nos tenhamos autonomia nas decisões sobre nossas vidas, através
de decisões democráticas como assembléias e com mecanismos como associações que
de fato funcionem. Não, eu não quero ter que escolher entre “bandido” e
“bandido de farda”, e só isso que a sociedade e o Estado capitalista tem a me
oferecer:!
Ate quando permitiremos e nos calaremos frente
a isso e a todos os ataques cotidianos.
Pelo fim da invasão militar no Complexo da Maré
e nos demais territórios favelados!!
Basta do genocídio da juventude negra, pobre e
periférica!!
Basta de estar nas estatísticas dos 80%
assassinados pela policia! Basta de estar massivamente fora das universidades,
queremos cotas proporcionais e o fim do vestibular! Chega de silenciarem nossa
cultura!
Pelo fim da UPP e das demais formas de
militarização dos territórios!
Pela dissolução de todas as policias!!!
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