O ano de 2013 foi marcado por uma forte greve
estudantil questionando a atual estrutura de poder da USP e exigindo democracia
tanto no que diz respeito ao acesso quanto à gestão da Universidade. Esse
movimento paralisou mais de 60 cursos da USP impulsionado por uma ocupação de
Reitoria com tamanho apoio democrático que levou a justiça a negar uma primeira
liminar de reintegração de posse. Ainda que esse forte movimento, imbuído do
espírito das Jornadas de Junho, poderia ter ido muito além do beco sem saída para
o qual a gestão do DCE em 2013 o levou (gestão que hoje impulsiona a chapa “Para virar a USP do avesso”), a
indignação estudantil com a atual estrutura anti-democrática de decisão dos
rumos da Universidade e o anseio latente contra o seu elitismo no acesso e
permanência abalaram as estruturas do atual regime universitário herdeiro da
Ditadura Militar.
Nesse sentido, a candidatura de Belmira e Diana Vidal
para a Diretoria da FEUSP não representam um passo no sentido da luta que os
estudantes levaram a frente, muito pelo contrário. Com uma carta à comunidade acadêmica
que não passa de uma reprodução quase ipsis
litteris[i]
de suas propostas quando candidata em 2006(!), a candidatura à Direção, na
figura de Belmira, defende a manutenção das Fundações Privadas nas
Universidades (como a FAFE na Educação) alegando serem estas parte de uma “cultura” já criada e que representa
apenas mais uma “tensão” a ser
simplesmente “gerida”. Apresentando
de maneira antagônica a inclusão social com a manutenção da qualidade de
ensino, a maior verdade que fica evidente de sua carta consta na afirmação de
que sua “concepção de universidade é
fruto da formação que obteve aqui [na USP]”. Ao formar-se dentro da
Universidade mais elitista, racista e anti-democrática da América Latina
durante o período da ditadura militar no Brasil, não é de estranhar que sua
concepção de Universidade veja antagonismo entre a democratização do seu acesso
e aquilo que esta formação meritocrática entende sobre qualidade do seu ensino.
Também não é de se estranhar que sua visão sobre a ditadura militar se resuma
em “abalos dos anos 60” que, mesmo
assim, “mantiveram a notável
continuidade” dos objetivos iniciais da USP (objetivo idealizado pela elite
paulistana cafeicultora na década de 30).
A carta de Belmira e Diana Vidal se coloca em
sintonia com a nova Reitoria da USP, Prof. Zago. Essa nova Reitoria já deixou
claro que sua retórica de “diálogo” encobre a manutenção da repressão e das
demissões ilegais contra trabalhadores e eliminações autoritárias contra
estudantes. Seu “diálogo” é voltado para os setores da própria burocracia
universitária descontentes com a gestão Rodas para tentar aplicar da maneira
mais hegemônica possível nos órgãos colegiados os cortes orçamentários, o
arrocho salarial e as demais políticas de austeridade. Declarar seu alinhamento
com a Reitoria que pretende reformular o Estatuto da USP por dentro do Conselho
Universitário e sem transformar a podre estrutura de poder da USP, filha
legítima da ditadura militar, só pode significar um retrocesso com relação a
luta por democracia que se desenvolve dentro da USP.
Diferente da maioria dos demais Institutos e
Faculdades da USP nas quais os Diretores são eleitos apenas pelos membros da
Congregação da Faculdade (órgão colegiado que possui a presença de 85% de
professores, 5% de trabalhadores e 10% de estudantes) e que está submetido à
aprovação da Reitoria a partir de uma lista tríplice, a Faculdade de Educação
possui um processo de consulta à comunidade acadêmica e um acordo de que a
Congregação apenas homologará o nome mais votado (o fim da lista tríplice para
Diretor foi institucionalizado em toda a USP esse ano). Ainda que seja
progressivo este pleito frente ao cúmulo de anti-democrático que é o processo
de escolha e participação dirigente na USP, não podemos deixar de enxergar os
enormes limites anti-democráticos que possui essa consulta. Somente professores
titulares podem ser candidatos, o que limita o direito democrático de mais de
95% da comunidade da FEUSP se candidatar, prevalecendo a ditadura da minoria de
docentes titulares no mando da Universidade; a consulta acadêmica não respeita
a conquista democrática constitucional do voto universal (um voto por cabeça) e
amplia o peso do voto de cada professor, limando o peso de voto de cada
estudante, ao estipular a proporção paritária (33% para cada categoria),
fortalecendo o corporativismo e desviando o conteúdo político da concepção de
universidade em uma sociedade de classe criando a falsa ideia de que cada
categoria é homogênea e que estas possuem interesses antagônicos entre si.
Não fazemos,
portanto, campanha para que os estudantes participem desse processo consultivo,
pois está evidente a pouca validade representativa que ele possui. Ao mesmo
tempo, respeitamos as/os estudantes que desejam participar criticamente desse
processo para demarcar sua posição. A estas/es, chamamos a anularem o voto,
pois Belmira e Diana Vidal não representam nenhuma postura que avance na luta
que os estudantes protagonizaram no ano passado e no sentido da real
democratização do acesso e das estruturas de poder da USP.
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