A ocupação de 2007 da Diretoria da FCL (Faculdade de
Ciências e Letras) – Araraquara ocorreu contra a repressão na UNESP e os
decretos do governador José Serra que ameaçavam a autonomia das universidades
estaduais. Os decretos tinham o objetivo de aprofundar a dependência do
conhecimento universitário aos interesses de grandes empresas. A reintegração
de posse, ocorrida em 2007, é um símbolo da intransigência do Estado contra as/os
lutadoras/es, pois foi a primeira entrada da Polícia Militar em uma
universidade pública desde o período da Ditadura Militar.
No dia 20 de junho de 2014, exatamente 7 anos após a
reintegração de 2007, a Polícia Militar entrou novamente na UNESP - Araraquara,
a pedido da atual direção, para cumprir um novo mandato de reintegração de
posse à Ocupação da Diretoria da FCL da UNESP – Araraquara. Dessa vez, a
ocupação da diretoria faz frente à crise programada que vêm sendo implantada
nas três estaduais paulistas como parte de um projeto, em andamento, de
privatização da universidade pública, transformando-a em um pólo de serviços.
Esse projeto inclui o desmonte do caráter social da
universidade e o aprofundamento da relação com os interesses privados e
reflete-se, para as/os estudantes, no descaso com a política de permanência
estudantil, no desmonte do tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão) -
precarização dos cursos, aumento das restrições à autonomia universitária e
cortes massivos no número de bolsas de extensão - e repressão sistemática às/aos
estudantes em luta. Às/aos trabalhadoras/es, os ataques desse projeto são
observados nas políticas salariais (o reajuste salarial deste ano foi de 0%) e
no aprofundamento da terceirização, que é uma forma de precarizar e fragmentar
a classe trabalhadora.
A pauta motora da ocupação foi a expulsão de 38
estudantes da moradia estudantil por critérios arbitrários, como rendimento
escolar (aplicado neste caso em uma bolsa socioeconômica!) para eliminar
estudantes pobres do programa de permanência e utilizar desta “solução” absurda
para abrir vagas às/aos cotistas e intercambistas, em detrimento da real
solução que é a ampliação dos números de vagas na moradia estudantil à todas/os
aquelas/es que necessitarem. A elitização da universidade colocada em prática
pelos governos e reitorias, além de impedir a entrada das/os negras/os e pobres
através do filtro social do vestibular, impede também que os poucos que entram
na universidade, mesmo que através da baixa porcentagem de cotas, não possam
continuar seus estudos pela questão da permanência estudantil, ou seja, por não
terem como morar, comer, ou estrutura básica para poderem estudar.
A crise orçamentária anunciada nas universidades
paulistas tem em seu contexto os abusivos salários de uma casta de burocratas
que regem essas universidades e definem seus rumos. Esta burocracia, intimamente
atrelada ao governo estadual, gasta grande parte do orçamento das universidades
em favorecimento do interesse de empresas privadas nas pesquisas universitárias
e também é constantemente acusada de desvios de verbas, improbidade
administrativa ou envolvimento com cartéis e propinas, além dos gastos
faraônicos com edifícios que não servem ao ensino e com seus próprios luxos
pessoais. Diversos destes burocratas são donos de empresas privadas de limpeza
e segurança que prestam serviço às universidades públicas, ou seja, são os
primeiros a imporem aos trabalhadores sua fragmentação e a não terem interesse
no fim da terceirização e incorporação das/os terceirizadas/os ao quadro do
funcionalismo público. E mais, esta corja burocrática, culpada pela crise
orçamentária, impõe agora um reajuste de 0% no salário das/os trabalhadoras/es,
abaixo até da inflação, como um claro ataque àquelas/es que movem a
universidade e que mais dependem de seus salários, e sem sequer abrir as contas
das universidades, para que a população tenha acesso a real situação e ao
destino do orçamento público da educação superior.
Às/aos estudantes que se colocam em luta contra esse
projeto, a política das reitorias e diretorias é a criminalização e perseguição
política, seguindo à risca a política dos governos estaduais e federal de
repressão aos movimentos e entidades sociais. A greve das/os metroviárias/os de
São Paulo, por exemplo, demonstra que a posição dos governos não é a do
dialogo, mas sim a da repressão, aplicada no ataque feroz da Polícia Militar
aos piquetes e atos das/os trabalhadoras/es do Metrô, na criminalização legal
da greve, nas multas milionárias ao Sindicato dos Metroviários e,
principalmente, nas 42 demissões das/os trabalhadoras/es grevistas, já
anunciando qual seria a resposta do Governo estadual para a luta nas UNESP.
Em resposta à greve de 2013, existem mais de 100
processos administrativos abertos contra estudantes da UNESP e alguns tantos
outros processos na justiça comum. Durante essa ocupação, 5 estudantes
receberam mais um processo acusando-os de ameaça, turbação e esbulho possessório.
Depois de negar-se inúmeras vezes ao dialogo, numa política orientada pelo
CRUESP, a diretoria da FCL – Araraquara, representada por Arnaldo Cortina,
impôs a reintegração de posse via o braço armado do Estado, o que mostra que o
“dialogo” com comunidade e as/os estudantes só será feito pela Polícia Militar.
A greve da educação superior se estende pelo Estado de
São Paulo, fortalecida de piquetes das/os trabalhadoras/es e com amplo apoio
estudantil. Este ataque não ficará sem resposta e lutaremos para que a greve se
unifique cada vez mais entre as três universidades e os quatro setores que as
compõe, para que assim alcancemos tanto as demandas estudantis e de trabalhadoras/es,
como uma universidade aberta a todas/os e à serviço da classe trabalhadora e do
povo pobre e oprimido.
- Contra a repressão ao movimento estudantil! Pelo fim das
sindicâncias!
- Nenhuma punição às/aos estudantes detidos na reintegração
de posse da Unesp de Araraquara! Negociação já!
- Foram PM das Universidades, periferias, favelas e das nossas manifestações! Pelo fim da polícia!
Juventude às Ruas Araraquara
0 comentários:
Postar um comentário