Panfleto escrito pelo grupo de mulheres Pão e Rosas junto à independentes, para a Marcha das Vadias de Belo Horizonte.
Pelo pleno direito à liberdade de nossos
corpos e vidas!
“A igualdade
perante a lei não é ainda a igualdade perante a vida.” [Lenin]
Ainda que hoje vivamos em um momento histórico onde
existe igualdade jurídica entre homens e mulheres, essa igualdade não garante
às mulheres os mesmos direitos. O direito de decidir pelo próprio corpo lhe é
negado, assim como sua autonomia. O direito de escolher como se vestir, como,
com quem e quantas pessoas se relacionar, o direito de decidir como, quando e se quer ser mãe, são liberdades
castradas das mulheres, que sofrem com assédio sexual, estupros, além da
ilegalidade do aborto, que clandestino mata milhares de mulheres anualmente.
Nesse sentido, a Marcha das Vadias traz essa discussão, colocando na pauta a
importância do combate contra o machismo, a opressão às mulheres, e o direito
ao corpo e de exercer livremente a sexualidade.
Nós, do grupo de Mulheres Pão e Rosas e estudantes independentes, acreditamos,
porém, que o preconceito e a opressão não são ideias abstratas que pairam no
ar, mas possuem raízes concretas na construção da sociedade tal como é hoje,
por dentro do atual sistema em que vivemos.
Hoje, as mulheres ocupam mais
postos de trabalho, porém são os postos mais precários, como os terceirizados,
ligados à limpeza e alimentação, sem direitos e garantias. Ainda que todas as
mulheres sofram opressão, existe uma significativa diferença entre a patroa e a
empregada: a exploração e a opressão são, antes de mais nada, de uma classe
sobre a outra. Por isso, a mulher trabalhadora, em sua maioria negra, além de
pertencer à classe mais oprimida é duplamente explorada, pois é responsável também por todo serviço
doméstico, criação dos filhos, além de trabalhar precariamente por salários de
miséria, o que gera a dupla jornada de trabalho, que nada mais é do que iniciar
um novo dia de serviço após o serviço feito fora de casa. Além de serem as que
possuem menos condições de decidirem sobre a maternidade, não podendo realizar
um caríssimo e ilegal aborto seguro, nem tendo acompanhamento médico pré-natal
necessário.
As tarefas domésticas realizadas
pelas mulheres são necessárias à manutenção da vida e de todos trabalhadores e,
portanto, necessárias ao patrão que precisa de seu funcionário alimentado e com
a roupa limpa. Tais tarefas são realizadas gratuitamente pelas mulheres que,
com o trabalho dentro e fora de casa, chegam a realizar jornadas de 80h/semanais
de trabalho. Isso coloca a mulher na
situação de não ser apenas a mão-de-obra necessária à produção e lucro
capitalistas enquanto trabalhadora, mas também a agente da manutenção dessa
mão-de-obra, sendo a dona de casa que sustenta as condições de vida dos
trabalhadores.
A luta contra a opressão deve
vir combinada da luta contra a exploração, pois o corpo da mulher somente será
livre quando estiver livre também dos tanques, fogões e patrões. Por isso, esse
trabalho necessário à manutenção do Estado deve ser garantido pelo Estado, com
lavanderias, restaurantes e creches públicas. Além disso, mais do que lutar
pelo direito ao aborto, devemos nos colocar pelos direito ao aborto livre,
seguro e gratuito, garantido pelo Estado, além de educação sexual de qualidade
e não heteronormativa nas escolas, e contraceptivos gratuitos e de qualidade em
todos os postos de saúde. Para a mulher que decida ser mãe, a garantia de sua
maternidade, com acompanhamento pré-natal e parto seguros e gratuitos, além de
creches públicas em período integral.
Hoje, estamos no terceiro ano da
presidência de uma mulher, o que em nada significou avanços e conquistas para
as mulheres, senão ataques às mesmas e a todo conjunto dos trabalhadores. Para
se eleger, Dilma trocou o direito ao aborto, direito democrático das mulheres,
por votos dos setores evangélicos, com sua Carta ao Povo de Deus. Lula, ao fim
de sua presidência, assinou o Acordo Brasil-Vaticano, que dá privilégios à
Igreja Católica, o que significa mais legitimidade para mais ataques às
mulheres e LGBTTIs. E é esse governo petista de Lula-Dilma que garante e
legitima que um racista e homofóbico como Marco Feliciano assuma a presidência
justamente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Chamamos todas as mulheres – e
homens – a se levantaram no combate cotidiano às opressões, pois não basta
buscar conscientização e convencimento apenas. É necessário se organizar e se
aliar à classe trabalhadora, único sujeito capaz de travar a luta concreta
contra a exploração e opressão, pois apenas
lutando contra a dupla jornada, a precarização do trabalho, os salários
inferiores e todas as condições das quais emanam a ideologia opressora de que
as mulheres possuem menos direitos, podemos ter direito a nossos corpos e
vidas.
“O proletariado não alcançará a emancipação completa
se não for conquistada primeiro a completa emancipação das mulheres.” [Lenin]
- EDUCAÇÃO
SEXUAL PARA NÃO ENGRAVIDAR. CONTRACEPTIVOS GRATUITOS E DE QUALIDADE PARA NÃO
ABORTAR. ABORTO LEGAL, LIVRE, SEGURO E GRATUITO PARA NÃO MORRER!
- POR
RESTAURANTES, LAVANDERIAS E CRECHES PÚBLICAS E GARANTIDAS PELO ESTADO!
- PELA
ALIANÇA ENTRE ESTUDANTES E TRABALHADORES, NO COMBATE À OPRESSÃO, EXPLORAÇÃO, E
A MISÉRIA DA VIDA!
Pão e Rosas e Independentes
0 comentários:
Postar um comentário