Uma polêmica aberta com PSTU, PSOL e o Levante Popular da Juventude, que rompe com a greve, mas não rompe com a Dilma.
A Universidade de São Paulo tem passado nas últimas semanas por uma das
maiores greves de sua história. Com dezenas de unidades paralisadas por
diversos campi espalhados pelo estado, com unidades que há mais de 20 anos não
paravam, como o Hospital Universitário. Com um comando de greve fortalecido que
vem dirigindo a mobilização desde as bases, os funcionários da USP vêm sendo
ponta de lança desse movimento. Mesmo com o CRUESP se mantendo intransigente
nas negociações, essa fortaleza construída pouco a pouco pela força
independente dos trabalhadores continua erguida e promete ultrapassar o mês de
julho com a mesma força de antes. Diante desse decisivo cenário, a entidade
representativa dos estudantes, o DCE, vem boicotando espaços abertos e democráticos
do movimento e implementando sucessivas tentativas de implosões desses espaços,
se retirando de dois desses fóruns, um em um comando de greve e outro em uma
Assembleia Geral, e desde então não participando de outras instâncias do
movimento estudantil.
Nós da Juventude Às
Ruas queremos problematizar com o conjunto do movimento estudantil da USP e das
outras duas estaduais paulistas as atitudes da atual gestão do nosso DCE. Na
verdade não se trata de nada novo. Nos últimos anos vimos as mesmas correntes
que hoje compõem a atual gestão do DCE, sendo elas RUA, Juntos! e PSTU, se
retirando de Assembleias quando encaminhava-se alguma questão política que eles
discordavam. Em uma das primeiras reuniões do comando de greve, quando os
espaços abertos do movimento ainda estavam cheios, com delegados que
representavam mais de 1500 estudantes presentes em assembleias de curso, o DCE
decidiu se retirar após uma votação que eles discordavam. O comando deu
continuidade e votamos a mesa da Assembleia Geral da semana seguinte, e o DCE
quase implodiu aquela Assembleia por discordar da composição da mesa. Dias
depois, na faculdade de Direito do Largo São Francisco, novamente os coletivos
Juntos! e PSTU que compõem a gestão do DCE deslegitimaram um fórum legítimo do
movimento estudantil se retirando da plenária antes mesmo de ocorrerem falas.
Após esses acontecimentos, Juntos!, RUA e PSTU não participaram dos espaços
abertos do movimento, como comandos de mobilização ou chamar Assembleias
Gerais. Não vimos até agora nenhuma nota pública esclarecendo os
acontecimentos.
O movimento estudantil
da USP deve se organizar frente a tudo o que vem acontecendo! Estamos diante de
uma crise orçamentária que impacta profundamente a conjuntura das universidades
públicas e que fez deflagrar uma greve histórica na USP, Unesp e Unicamp! Há uma
mobilização surpreendente por parte dos trabalhadores da Universidade! Estamos em um momento político no qual
trabalhadores e jovens do Brasil inteiro se levantam por seus direitos! Em
contrapartida, vemos claramente um avanço na repressão por parte da polícia e
dos governos (como a prisão de Fábio Hideki e as 42 demissões do Metrô) e a
Copa do Mundo a cada dia que passa extrapola ainda mais as contradições sociais
no país. Desde o começo da mobilização, no final de Maio deste ano, nós da
Juventude Às Ruas viemos construindo os espaços abertos do movimento com o
intuito de levar a frente as pautas estudantis em unidade com os trabalhadores.
A única maneira de fazer frente aos ataques que a reitoria desferiu (cortando
bolsas, demitindo terceirizados, congelando contratações, cortando pesquisas,
etc.), seria através da mobilização organizada a partir das assembleias de
base. Defendemos nessas assembleias a necessidade de se abrir o livro de contas
da universidade e das fundações privadas; a construção de um novo estatuto
universitário, que coloque em xeque a atual estrutura de poder arcaica e
antidemocrática, que concentra suas forças no reitorado e no Conselho
Universitário; a democratização radical do acesso, através da implementação
imediata de cotas raciais proporcionais ao número de negros no Estado e do fim
do vestibular e da estatização das universidades privadas, fazendo com que
todas as vagas particulares hoje se transformem em vagas públicas; defendemos a
permanência para toda a demanda estudantil e a devolução imediata dos blocos K
e L; a construção de creches para mães estudantes e trabalhadoras, de acordo
com a demanda.
Mas infelizmente a atual gestão do DCE atuou contra a
construção e massificação da mobilização estudantil desde o começo do ano.
Alguns meses depois das mobilizações de junho, em ano de Copa, quando lutas em
respostas aos cortes de Zago eram uma necessidade óbvia, a primeira assembleia
do ano aconteceu no fim de maio e votou greve sem qualquer tipo de preparação.
Na assembleia seguinte, o DCE votou contra a conformação de um comando de greve
com delegados eleitos nas bases para organizar e ampliar a greve, proposta
defendida por nós, outras correntes e centenas de estudantes independentes que
felizmente foi vitoriosa. Hoje, barra qualquer possibilidade de organização
mínima dos estudantes ao votar sucessivamente contra a realização de
Assembleias de curso (como na Letras, mesmo quando havia cerca de 100 pessoas
presentes na plenária da noite), boicotar as deliberações de Assembleia Geral
(como os atos em defesa dos metroviários), e implodir os espaços que deveriam
servir de ferramenta para organizar a luta.
Esse tipo de atitude é
recorrente por parte do Juntos! e do PSTU (e o RUA acaba indo atrás) quando
eles não conseguem controlar o movimento, quando a mobilização ultrapassa e supera
suas direções. A resposta que dão é que 500 pessoas em uma Assembleia não vão
derrotar o governo do Estado. Também achamos que não, por isso construímos a
Assembleia da melhor maneira possível para que a próxima seja muito mais cheia.
Por isso vamos aos atos por cotas, atos em defesa da EACH, atos pela readmissão
dos metroviários. Por isso tentamos levar a frente às deliberações de
Assembleias de base e construímos o comando de greve. O movimento estudantil
caminha para um questionamento importante acerca do acesso e da permanência na
Universidade, exigindo Cotas raciais e permanência para toda a demanda. A
aliança com os trabalhadores da Universidade e outras categorias só aumenta. E a
gestão do DCE vem sucessivamente desrespeitando as centenas de estudantes
sinceros que veem na mobilização uma saída para os problemas estruturais da
Universidade, e mesmo da sociedade.
Na Copa está tendo luta,
mas não das correntes que hoje compõem o DCE. Enquanto dezenas de ativistas
estão sendo presos em atos de rua, metroviários e rodoviários estão sendo demitidos,
estudantes da USP apanhando violentamente da polícia nos atos de rua, o DCE
prepara-se para as campanhas eleitorais de fim de ano. Não é essa entidade que
queremos!
Como não podia ser
diferente, O Levante Popular da Juventude não só tem postura semelhante ao DCE
frente a recente mobilização estudantil, como declara isso abertamente e tenta
transformar a traição em virtude para, como sempre, se colar com os estudantes
que são contra o movimento estudantil. Na carta eles dizem que os espaços como
Assembleias Gerais e comando de greve estariam "distorcendo a real
correlação de forças políticas” existente na base da universidade. Na prática
isso significa boicotar esses espaços e construir o CCA (Conselho de Centros
Acadêmicos, uma espécie de parlamento estudantil onde o poder de decisão é
restrito aos centros acadêmicos). A questão é, porque a organização por cima seria
mais eficaz do que a mobilização em Assembleias Gerais sendo que as primeiras
Assembleias continham cerca de 1000 estudantes? Porque os CA's seriam mais
aptos a mobilizar as bases dos cursos agora, no final do semestre e não antes?
Porque as assembleias com 500 pessoas não eram mais suficientes para o LPJ e o
DCE? Achamos importante costurarmos a mobilização com os Centros Acadêmicos,
inclusive fazer um chamado amplo que aos CA's de cursos não mobilizados a
fazerem assembleias de curso e construírem a greve desde a base. Uma coisa não
pode ocorrer em detrimento da outra, mas infelizmente é o que vem ocorrendo. Essas
correntes vivem no pré-junho, no período anterior à greve dos garis, têm uma
dificuldade enorme de ver que a organização superestrutural, por cima, distante
das bases, não encontra mais espaço. A consciência da juventude e dos
trabalhadores mudou e todos querem ser sujeitos da transformação. Nós da
Juventude Às Ruas sempre defendemos a organização desde as bases e é por meio
destes espaços que os estudantes fazem sua política, pois neles está garantida
a democracia direta em que se apoia o movimento estudantil. Mesmo quando estes
espaços não representam toda a diversidade da base, eles permanecem sendo
nossas ferramentas mais avançadas de organização, portanto, nossa luta se
direciona para a ampliação destes espaços a todos os estudantes da USP, para
que estes estudantes se sintam representados e tomem os fóruns do movimento
para si, os legitimando, e não o contrário, que é romper com a auto-organização
dos estudantes em plena greve dos três setores, numa tentativa de deslegitimar
os fóruns do movimento estudantil.
O Levante Popular da Juventude não rompe com o governo Dilma. |
Enquanto o PSOL e PSTU atuam como entrave para a
mobilização nas estaduais paulistas, o Levante Popular atua em apoio
envergonhado ao governo federal. Eles rompem com a greve da USP, mas não rompem
com a Dilma. Rompem com as instâncias do movimento estudantil para conter as
mobilizações grevistas durante a Copa, pois sabem do perigo que representa uma
greve forte na USP para o governo do PT, ainda mais se essa greve avança e dá
novos exemplos de luta às outras categorias, como fizeram os Garis do RJ no
carnaval, que abriram espaço para uma ascensão grevista em abril e maio. Rompe
com as instâncias da greve, mas não rompe com o apoio sistemático ao projeto de
educação precária do governo federal, como o REUNI (contra o qual as greves das
instituições federais da educação já se levantaram diversas vezes) e nem rompe
com o projeto privatista da educação, no apoio ao PROUNI, onde o governo paga
milhões aos grandes monopólios da educação por uma vaga na universidade
privada, reforçando o caráter de mercadoria da educação, ao invés da maior
criação de vagas nas universidades públicas.
Nós da Juventude Às Ruas, junto de outros coletivos e
estudantes independentes, estamos construindo ativamente os fóruns do movimento
estudantil porque acreditamos que é possível reverter o esvaziamento da greve
estudantil frente ao período de “férias” e Copa e retomar uma mobilização forte
neste começo do segundo semestre. Mas também porque sabemos da importância que
faz o apoio do maior número possível de estudantes a heroica greve de
trabalhadores da USP que se mantêm firme. Convidamos todos os estudantes a
participarem das atividades dos trabalhadores, como os piquetes, as reuniões de
unidade, os atos, as assembleias. Levemos a aliança operário-estudantil a
frente porque para conseguirmos barrar os cortes orçamentários, abrir os livros
de contas, democratizar o acesso à Universidade, lutar pela permanência,
libertar Fábio Hideki, readmitir os 42 metroviários, nós precisamos de muito
mais. À luta que continua em julho!
0 comentários:
Postar um comentário