Em primeiro lugar, gostaríamos de dar boas vindas aos novos calouros que ingressam na universidade. Mas não podemos deixar de lembrar que a alegria de receber os novos calouros vem acompanhada de um fato triste: o não ingresso de muitos na universidade pública. Para cada novo estudante são mais de 10 pessoas que não conseguiram ingressar em nossa universidade. O filtro social do vestibular mantém o acesso ao ensino público restrito e associado a estrutura de poder antidemocrática da universidade, formam uma universidade elitista cuja produção de conhecimento está a serviço dos grandes empresários e dos interesses do capital. Por isso nossas boas vindas vêem acompanhada de uma chamado a todos os calouros a se incorporarem à nossa luta pela democratização da universidade e pelo fim do vestibular.
Em 27 de Outubro de 2011 uma manifestação espontânea de estudantes da FFLCH expulsou a PM da faculdade e gerou uma forte mobilização contra o convênio firmado entre a reitoria e a Polícia Militar, que já vinha sendo utilizada como forma de intimidação ao movimento sindical e estudantil, com a prisão de um dirigente do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e a invasão da PM no campus em 2009, para acabar com uma greve de trabalhadores. A mobilização que surgiu no dia 27 de Outubro gerou a ocupação do prédio da administração da FFLCH e, posteriormente, da Reitoria. O governo do estado em conluio com a reitoria reagiu de forma brutal: uma violenta reintegração de posse que contou com um "aparato de guerra" de mais de 400 homens, helicópteros, etc.
A última aparição da USP na mídia foi no início deste mês, quando tornou-se público a reacionária denúncia movida pela promotora do MP, Eliana Passarelli, contra os 72 estudantes e trabalhadores que ocuparam a reitoria no final de 2011, lutando por uma universidade verdadeiramente democrática, aberta a toda a sociedade, mas também buscando fazer ecoar as demandas dos trabalhadores e do povo pobre, contra a brutal repressão policial que sofrem cotidianamente da polícia mais assassina do mundo. As denúncias feitas pelo MP, em particular a de formação de quadrilha, tem como objetivo tratar o movimento estudantil, que lutava e luta, contra o projeto privatista de Rodas e do governo tucano, com políticas de criminalização. Mostrando estar muito bem articulada com os setores mais reacionários desse estado a grande mídia divulgou a denúncia do MP aos estudantes, que foram tratados por esta com "bandidos" e "terroristas". Essa campanha reacionária, articulada entre reitoria, MP e mídia, é parte da política de criminalização dos movimentos sociais levada pelo governo do PSDB no estado de São Paulo e de conjunto pela classe dominante também na esfera federal via os governos Lula e Dilma ao longo dos últimos anos.
A luta contra a repressão e a criminalização desde então se faz reproduzir em toda sociedade. Da brutal repressão das famílias do Pinheirinho em São José dos Campos (2011), até a recente ameaça de reintegração de posse do assentamento Milton Santos em Americana-SP e a onda de assassinatos de militantes do MST no campo, o que temos visto nos últimos anos é um incremento da repressão oficial sobre qualquer movimento contestatório, havendo até utilização das forças armadas para enfrentar greves operárias radicalizadas nas obras do PAC do Governo Federal - em Jirau, Suapes e Belo Monte. A atual denúncia reacionária do MP deve ser interpretada por todos os movimentos sociais e populares, nos marcos de uma crescente onda repressora onde cada vez mais a classe dominante mostra sua verdadeira face, e sua disposição de usar todo o seu aparato repressivo-ideológico contra os trabalhadores, o povo pobre, ou qualquer setor que se levante para resistir aos ataques que a elite desse país executa afim de garantir seus lucros frente à histórica crise capitalista em curso que começa a se instaurar no país.
A absurda denuncia do MP é um ataque de magnitude distinta a esse processo iniciado com a "operação de guerra" arquitetada pela PM, o governo do estado e a reitoria. No início do ano a reitoria divulgou as penas dos processos administrativos abertos contra os estudantes e trabalhadores que participaram da ocupação da reitoria: suspenções que vão de 5 a 15 dias. Assim, faz parecer que impunha penas "brandas", enquanto articulava junto ao MP, do mesmo governo tucano que elegeu Rodas reitor, essa denúncia que se acatada e julgada pode levar a penas de até 8 anos de prisão. Não aceitaremos nenhuma punição a lutadores! Essa "pena branda", nada mais é que uma intimidação a todo movimento estudantil e de trabalhadores a qualquer lutador que queira resistir aos ataques na universidade. Coloca uma corda no pescoço desses que se levantaram contra a linha reacionária do governo do estado de São Paulo não apenas dentro da universidade, mas também fora dela.
É preciso, portanto, que cada organização democrática, cada movimento social, sindical e estudantil engajem-se numa ampla campanha pelo imediato arquivamento da denúncia do MP que criminaliza 72 lutadores, no marco da luta contra a criminalização dos movimentos sociais. Desta campanha já fazem parte dezenas de entidades do movimento de estudantes e trabalhadores, movimentos sociais, intelectuais, políticos etc. É preciso impedir que este ataque abra precedentes e criem um ambiente de naturalização da criminalização de todo aquele que se coloca em movimento, de toda aquela que se põe em luta. O governo tucano que quer prender estudantes da maior universidade do país, acusando-os por "formação de quadrílha" quando estes se põem em movimento contra o regime anti-democrático que existe dentro da universidade de São Paulo, que pune estudantes baseado num estatuto que remonta ao período da ditadura militar, é o mesmo governo que reprime violentamente os movimentos por moradia e por terra, etc
Os estudantes de Direito, em particular, tem uma papel central a cumprir, frente a este ataque do MP. É necessário em primeiro lugar cercar de solidariedade todo e toda lutadora criminalizado pelo Ministério Público e Reitoria, por meio de notas de apoio das entidades e participação ativa na construção da campanha pelo arquivamento da denúncia. Outrossim, a iniciativa de criminalização partiu do Poder Judiciário, revelando, junto com a aberração jurídica da reintegração de posse do Pinheirinho, do despejo do Milton Santos ou do leilão das máquinas da fábrica ocupada por trabalhadores da Flaskô, enfim, demonstrando o verdadeiro caráter de classe do poder Judiciário e sua subordinação aos interesses dos detentores do poder econômico no país. Como estudantes de Direito, devemos colocar todo nosso conhecimento a serviço dos trabalhadores, estudantes e dos movimentos sociais vítimas de processos administrativos ou criminais, engajando-se não só na defesa jurídica desses movimentos, como efetivamente tomando parte daquelas lutas, ombro a ombro, junto aos trabalhadores e estudantes criminalizados.
Fazemos um chamado ao Centro Acadêmico XI de Agosto e demais entidades estudantis e correntes políticas da FDUSP a se somarem nesta campanha, participando ativamente desta luta e, além disso, chamamos que se declarem publicamente em apoio à campanha e pelo arquivamento da denúncia. Também convidamos todos os estudantes da Faculdade de Direito a fazer coro a essa ampla campanha.
No dia 20 de fevereiro ocorrerá na sede do DCE, no campus do Butantã, às18h, a plenária unificada dos 3 setores da universidade (Sintusp, DCE e Adusp), onde se discutirá e se organizará a defesa dos 72 lutadores e a campanha democrática contra a denúncia do MP. É importante que todas as entidades, correntes e estudantes estejam presentes!
PELO IMEDIATO ARQUIVAMENTO DA DENÚNCIA DO MP CONTRA OS 72 ESTUDANTES E TRABALHADORES DA USP! REVOGAÇÃO DAS SUSPENSÕES, NENHUMA PUNIÇÃO! FIM DE TODOS OS PROCESSOS, REINTEGRAÇÃO IMEDIATA DE BRANDÃO E DE TODOS OS ESTUDANTES ELIMINADOS!
CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS!
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