Angelo
H Peters Bueno, jovem operário estudante da Unicamp
O Brasil, país que possui a maior
classe trabalhadora da América Latina, conta hoje com mais de 90 milhões de
assalariados, um proletariado jovem precarizado, superexplorado,
majoritariamente de negros, que ocupam os trabalhos mais precarizados e com os
piores salários, um pais que possui um enorme campesinato com condições de
trabalhos igualmente precárias, país que tem como pilar de sua burguesia
escravocrata o latifúndio. Essa é a dura realidade de quem já enfrentou longas
jornadas de trabalho sem EPIs (equipamentos de proteção individual) e EPCs
(equipamentos de proteção coletivo), em que os patrões preferem pagar suborno
para os fiscais do Ministério do Trabalho em vez de garantir melhores condições
de trabalho, prática recorrente. Em Paulínia onde eu fui operário em 2009 - tinha
19 anos, trabalhava em uma empresa que não tinha as mínimas condições de
segurança, tanto é que nessa empresa, que tinha por volta de 25 funcionários, a
quantidade de acidentes de trabalho era enorme, era, ou melhor, ainda é, comum
ao final do dia um colega com um corte, dor no braço, intoxicação, dor de
cabeça, etc. Abrir CAT (Comunicado de Acidente no Trabalho) somente quando era
acidente grave. Nessa empresa eu trabalhei por um ano e sofri vários acidentes:
uma vez entrei num tanque, a quantidade de gás era grande, o que faz o oxigênio
baixar, quase não consigo sair vivo de dentro. Intoxicação, falta de oxigênio,
perigo de explodir, problema desses tipos de trabalho também são ergonômicos,
os tanques foram projetados para transporte de combustíveis e produtos
químicos; dentro desses tanques existem divisões quebra ondas com pequenas
passagens; o teto é baixo, um espaço confinado que dificulta o trabalho. Outro
grande e grave problema é a pressão dos patrões para fazer um trabalho de risco
e rápido, tanto é que em 2002 um colega perdeu a vida nessa empresa (segue
matéria abaixo).
“Explosão de tanque mata funcionário
Soldador de oficina mecânica, em Paulínia, fazia reparos numa carreta de gás quando ocorreu o acidente
Gláucia Santinello e Agência Estado – Paulínia
A explosão de uma
carreta de gás no interior da empresa Oficina Secreta Catatau, em Paulínia,
provocou a morte do soldador Nelson Castilho, 28, na manhã de ontem. O acidente
de trabalho aconteceu no momento em que o soldador realizava o serviço de
adaptação na válvula do carregamento.
O ajudante geral José dos Santos, 59, que estava próximo à carreta também foi atingido, mas sofreu escoriações leves. Ele foi levado ao Pronto Socorro do Hospital Municipal de Paulínia e liberado em seguida. Com a explosão, o galpão ficou parcialmente destruído.
De acordo com o
delegado Júlio Cesar Brugnoli, é a primeira vez que acontece esse tipo de
acidente na Oficina Secreta Catatau, empresa que presta serviço de recuperação e
restauração de carretas responsáveis por transporte de gás e combustível.
Segundo o delegado, a Perícia Técnica do IC (Instituto de Criminalística) de Campinas foi acionada para auxiliar no inquérito que foi instaurado. Há suspeita de suposta falha no equipamento de vaporização do veículo - que retira todo o gás ou combustível das carretas antes da execução dos reparos. O resultado do laudo, que vai apontar os motivos do acidente, deve ficar pronto entre 30 e 90 dias.
Segundo o delegado, se for comprovada negligência da empresa em relação às normas de segurança, o proprietário deve responder por homicídio culposo e por lesão corporal culposa.
O proprietário da empresa, Valdeci
Vieira dos Santos e sua advogada, Renata Strazzacappa não foram localizados para
comentar sobre o acidente.”
Esse não é um caso isolado, existem outros casos de morte também em Paulínia em outras empresas. Sindicato nunca vi, fiscal vinha somente para receber seu suborno enquanto a classe trabalhadora esta sendo massacrada no país da superexploração, em pequenas e grandes empresas e nas grandes obras do PAC e da Copa.
Os trabalhadores tem consciência de que
são explorados, são solidários uns com os outros, existe um ódio contra pelegos
e puxa- sacos, existe a consciência de que não existe um bom burguês e patrão
amigo. Minha classe é a operária e minha luta é pelo fim da exploração
capitalista, contra os burgueses parasitas que vive do sangue dos
trabalhadores.
Entrei na universidade no curso de
Ciência Sociais buscando entender o mundo que está a minha volta, para ter
maior clareza de como funciona o capitalismo e também ter armas na luta pelo
seu fim e consequentemente a libertação dos trabalhadores, das condições
insalubres e precárias. Lutar pelo fim desse sistema é lutar pelo fim do
racismo, utilizado pela burguesia para dividir a classe operária, e também pelo
fim da homofobia, lesbofobia, pelo o fim do machismo em que o capitalismo se
fundamenta.
Não encontrei no movimento estudantil
nada disso, era tão distante dos meus anseios, encontrei pautas mínimas, já
enojado de ver como a política se dá dentro dos partidos burgueses e sua
burocracia, encontrei um movimento estudantil burocrático, não me senti
confortável naquele espaço, pessoas sinceras, mas que com esta política não vão
libertar a classe trabalhadora! Revolução não está no seu vocabulário.
No segundo semestre fui convidado a
participar da chapa Prelúdio das Primaveras, com pautas que iam além do que eu
tinha como essencial como, por exemplo, o fim do vestibular, percebi que era
uma bandeira estratégica, as cotas não eram a solução, longe disso, comecei a
sentir que dentro desse espaço elitista haviam pessoas dispostas a lutar pela
classe operária! O material de campanha tinha a luta contra o trabalho
terceirizado e precarizado, contra o genocídio da população pobre e negra e sua
criminalização, isso era claro em todos os debates, ficava claro de que lado
estávamos e não adaptando o discurso, estudantes que gritavam aliança da
juventude com a classe operária, dos jovens universitários com os
trabalhadores, aliança que faz a burguesia tremer, dentro do IFCH, um dos
institutos com a maior renda social da Unicamp, um espaço em que estas ideias
não ecoam até mesmo naqueles que vem da classe trabalhadora devido a falta de
uma consciência de classe. Tem que se tomar um lado, não tem como ficar alheio,
mesmo a apatia política já é um posicionamento. Não vou virar as costas e
esquecer os que ficaram para fora da universidade! Luto pelos trabalhadores que
todos os dias são massacrados no campo e nas fábricas, MORTOS COMO NO EXEMPLO
ACIMA, luto pela reforma agrária e o fim da burguesia latifundiária, luto pelos
terceirizados dentro e fora da universidade, luto pela juventude que não tem
acesso a ensino superior, luto pelo fim da polícia racista e genocida que mata
e oprime os trabalhadores, luto pelo fim do Estado capitalista que se sustenta
na opressão e violência, na coerção e restrições, luto para construir uma
sociedade que salte do “reino da necessidade para o reino da liberdade”, e para
isso é necessário superar as relações capitalistas que impedem que a sociedade
se organize sob outras bases. A luta junto a classe trabalhadora não avança sem
estratégia e com qualquer estratégia, por isso estou na Juventude As Ruas, por
isso hoje me ponho ao lado dos companheiros da LER-QI para construir um partido
classista internacionalista com estratégia revolucionária trostskista, que luta
pela classe trabalhadora dentro e fora da universidade.
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