Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Os encochadores e o machismo de cada dia

por Letícia Oliveira

Foto UOL

Nos últimos dias recebemos a denúncia de que havia um grupo público do Facebook intitulado "Encochadores" divulgando matérias e histórias repugnantes de casos de assédio sexual nos transportes públicos. Tal grupo defende e propagandeia essa prática livremente pela web sem nenhum tipo de punição ou investigação.

Os encochadores e o machismo de cada dia
Após horas e horas de expediente de trabalho, mulheres em todo o país são forçadas pela péssima qualidade do transporte público a pegar ônibus, trens e metros extremamente lotados. A prática de assédio sexual, a qual faz referência esse grupo do Facebook, é um dos maiores medos de cada trabalhadora em nosso país. É certo dizer que quase toda mulher já passou por isso em uma ida ou volta ao trabalho, e que sentiu-se totalmente indefesa para evitar tal abuso. De fato, o que se pode fazer? Em um transporte tão lotado, não há muito para onde fugir, e por vezes diversas mulheres, como me foi testemunhado a partir das denúncias que abrimos no Facebook, desistem de fazer qualquer coisa e torcem para que o abuso da "encochada" acabe o mais rápido possível.
Os "encochadores" relatam livremente a sua repugnância: "meu junior durasso pra fora da cueca... só sei que na plataforma da estação anhangabaú eu já estava cutucando a polpa da bunda esquerda dela bem a vontade esfregando de leve... quando entramos lá dentro me posicionei e já mergulhei meu pau deitando no meio da bunda dela... a que sensação d bem estar maravilhoso... rs... dai eu deixei ele reto e entuxava no meio dela a calça entrou mais ainda... rs... ela quieta o tempo todo até a estação carrão na saida apertei a bunda dela... aaaahhhhhhh... fiquei com essa ecochada até agora no pensamento... rs".
Independentemente das denúncias realizadas por uma série de mulheres, o Facebook mantém a página ativa, alegando que "não fere os princípios de comunidade do Facebook".
Ao fazer uma alegação como essa o Facebook nos leva a compreender ainda melhor uma triste realidade: no machismo de cada dia, que perpassa todas as relações, principalmente as de trabalho, abusos como este estão muito longe de ser considerados por qualquer empresa ou grande corporação como uma violência como de fato é.
O prazer que estes homens sentem não é nem de longe um desvio social. É apenas uma expressão mais aguda do que a sociedade nos educa todos os dias através das relações de trabalho e da ideologia dominante presente em cada filme, novela, propaganda ou jornais produzidos pelas grandes corporações de imprensa. Aprendemos em todos esses espaços que a mulher vale muito pouco ou quase nada, recebendo em média 2/3 do salário de um homem, e se for negra, menos da metade do salário de um homem branco.

Reagir ou não reagir, eis a questão
As mulheres vivem todos os dias de sua vida com a ameaça constante de algum tipo de violência moral, sexual ou doméstica. O Brasil lidera os rankings de casos de violência, tendo totalizado no primeiro semestre do ano passado mais de 260 mil denúncias de violência doméstica. No ano passado, o IPEA revelou que a cada 90 minutos uma mulher é assassinada no Brasil vítima de violência doméstica. Em 2013, o Sistema Único de Saúde brasileiro recebeu cerca de 2 mulheres por hora com sinais de violência sexual, totalizando mais de 2300 casos, sem contar as mulheres atendidas no sistema privado e as multidões de mulheres que por vergonha deixam de procurar auxílio médico nesse tipo de situação.
Por essa realidade, não são poucas as mulheres que evitam andar sozinhas durante a noite, usar roupas curtas ou envolver-se com pessoas desconhecidas. Apesar de corretas em sua prevenção, essas medidas dão a entender que o problema da violência sexual é culpa da própria mulher. Que seus hábitos e vestuário são os grandes culpados por aquele trauma, quando na verdade o culpado por toda essa violência que sofremos é um sistema econômico que desenvolve uma ideologia machista totalmente favorável a sua dominação.
Ao convencer o conjunto dos trabalhadores de que as mulheres são inferiores, facilitam a super exploração de metade da humanidade e economizam com serviços que, se não cumpridos pelas mulheres, sairiam bastante caros para esses que precisam de tanto lucro, como são os serviços de lavanderia, cuidado de filhos e idosos, alimentação etc.
Contra a sua própria responsabilização sobre cada um desses casos de violência, o Estado burguês nos culpabiliza ao passo que cria Globelezas e mulheres submissas em suas novelas e, se durante o dia rouba nosso dinheiro, à noite tenta nos fazer escandalizar nos jornais com os casos de estupro.
Nenhuma mulher deve se envergonhar ao ser assediada nos transportes ou em qualquer outro lugar. A vergonha deve ser carregada por esses homens e pela burguesia que lucra todos os dias com a nossa opressão, inclusive com os transportes cada vez mais lotados que pagam suas festinhas privadas e seus ganhos extras com corrupção.

É possível que o transporte seja um lugar agradável?
Sim! A vontade de todo trabalhador ao sair do trabalho é pegar um metro, um trem ou um ônibus sem estresse. A qualidade de vida de uma realidade dessa é impensável para nós hoje em dia. A única justificativa para que o transporte siga sendo assim é o fato de que é gerido e administrado pelos que não usam o transporte como meio de locomoção e que dele não extraem nada a não ser os lucros exorbitantes.
Durante as recentes jornadas do transporte e as que colocaram o Brasil no cenário da juventude internacional em junho de 2013 já defendíamos que a única saída para que o transporte fosse de fato público, de qualidade e atendesse às necessidades dos trabalhadores era a partir da estatização sob controle dos trabalhadores e usuários.
Nesse espaço, a partir da clareza de que a opressão à mulher não deve ser reproduzida pelos trabalhadores pois a nós de nada serve essa ideologia, é possível que as mulheres trabalhadoras e usuárias do transporte possam pensar medidas efetivas de combate ao assédio sexual nos trens, metros e ônibus. Não houve por parte das administradoras públicas e privadas nenhuma medida efetiva de combate a essa prática a não ser campanhas estéreis e esparsas que jamais passaram pela solidariedade entre as trabalhadoras e as usuárias ou em campanhas de vigilância dos próprios usuários para denunciar e repreender cada caso que presenciassem.
Os homens são parceiros na luta contra o assédio?
Neste tipo de discussão é comum que as mulheres passem a encarar todos os homens como seus inimigos na luta contra a opressão. A verdade é que os homens, apesar de parcialmente beneficiados pelo machismo dentro de suas casas e pelo direito que recebem de nos insultar na rua, tocar em nossos corpos ou nos violar, não são os que verdadeiramente ganham com o machismo. Apenas a burguesia - proprietária dos meios de reprodução da vida como as fábricas, os bancos e outros - ganha qualitativamente não apenas com a opressão às mulheres, mas também com o racismo, a homofobia, a transfobia, a xeonofobia e todas as possíveis formas de opressão. Esse é o melhor caminho que ela encontra para dividir e enfraquecer a classe trabalhadora e lucrar mais ao determinar postos de trabalho mais precários para aqueles que não obedecem o padrão "homem, branco, heterossexual".
Portanto, a melhor luta contra a opressão é aquela que se faz lado a lado, trabalhadores e oprimidos, numa luta unitária contra toda forma de opressão e exploração, negando a divisão das fileiras operárias e abraçando a causa de todos aqueles, trabalhadores ou não, que sofrem cotidianamente da opressão de gênero, raça, etnia ou nacionalidade.
Assim, é possível reconhecer que em cada vagão de metro, trem ou em cada ônibus em todo o mundo as mulheres encontrarão nos trabalhadores e nas outras mulheres solidariedade para interromper o assédio que estiverem sofrendo, e que a tarefa de cada uma dessas mulheres é lutar para que possa, junto aos seus irmãos de classe e oprimidos, determinar o que será feito de cada um desses vagões e ônibus através de um controle operário e popular dos transportes.
Registros de telas usados para a denúncia de conteúdo feita ao Facebook




Ato contra o aumento da tarifa em SP: Mesmo sendo reprimidos novamente, seguimos em luta!

por Guilherme Kranz, estudante de Letras da USP

"Não, não tem arrego! Contra a tarifa eu vou pra rua o ano inteiro!"
Esse é o clima que dá o tom para esse início de ano!


O aumento das tarifas de ônibus e metrô na cidade de São Paulo e nos municípios ao redor tem desencadeado uma série de protestos. No dia 16 de janeiro milhares de jovens e trabalhadores foram ao centro da cidade de São Paulo protagonizar o segundo grande ato contra o aumento da tarifa. Uma vez mais a população se rebela contra esse ataque desferido pelo governo de Geraldo Alckmin e pelo prefeito Haddad para demonstrar toda a indignação daqueles que sofrem no transporte público todos os dias. Janeiro de 2015 já está sendo um mês de luta e a resposta dos governos têm sido a mesma de sempre a todos que se levantam contra o atual estado de coisas: repressão brutal.
Ocupando o coração da cidade, caminhando da Av Consolação até a prefeitura da cidade, os milhares de manifestantes foram reprimidos constantemente pela Polícia Militar. Como se não bastasse o policiamento ostensivo antes do ato começar, com revistas a inúmeras pessoas que caminhavam pelas proximidades, a polícia reprimiu gratuitamente os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo, efeito moral e balas de borracha. Diversos ativistas foram feridos em frente a prefeitura e pelo menos 13 foram detidos, já liberados.
A polícia que reprime as manifestações é a mesma polícia que reprimiu violentamente a greve dos metroviários no ano passado que lutavam por seus direitos e pela redução da tarifa (e que hoje mais de 40 seguem demitidos pelo governo Alckmin). É a mesma polícia que mata cotidianamente nas periferias o povo pobre e negro. A polícia do Estado de SP é uma das polícias que mais mata no mundo. Sabemos que enquanto levamos balas de borracha no centro da cidade, na periferia a polícia mata desenfreadamente. Por isso devemos lutar contra a repressão, não apenas nos atos e nas greves como também nos morros. É tarefa nossa lutar pela readmissão imediata dos metroviários demitidos por lutar. Trata-se de uma perseguição política inadmissível que indigna a todos.

Mas nem a chuva nem a repressão vão conseguir frear nossa vontade de mudar. Mesmo debaixo de um calor desigual, a população de SP mostrou que está com disposição para lutar. Os manifestantes atravessavam o centro da cidade entoando "Não, não tem arrego! Contra a tarifa eu vou pra rua o ano inteiro!". Esse é o clima que dá o tom para esse começo de ano. Sabemos também que a redução da tarifa não é suficiente para resolver os problemas do transporte público hoje. Apenas com a aliança entre os trabalhadores dos transportes e a população usuária é possível retirar das mãos dos grandes empresários, verdadeiros mafiosos, e estatizar todo o sistema de transporte colocando-o sob controle operário. Apenas com essa aliança conseguiremos efetivamente dobrar os governos do PSDB e do PT e acabar com o privilégio daqueles que lucram em cima da população esmagada como sardinhas no transporte público todos os dias. Na terça feira, dia 20 de Janeiro, às 17h na Praça Silvio Romero, próximo à estação Tatuapé, haverá o terceiro grande ato contra o aumento da tarifa. Chamamos toda a juventude e os trabalhadores para participarem deste ato e aumentar o caldo desta luta que está apenas começando. Amanhã vai ser maior!

Uma matemática que só o filho do prefeito entende

por Nelson Fordelone Neto, estudante de Letras da USP



Frederico Haddad, filho do prefeito Fernando Haddad, escreveu, há poucos dias, um extenso texto de polêmica sobre o passe livre, defendendo o aumento da passagem para R$ 3,50.
A título de exemplo, falemos apenas da Viação Santa Brígida, que atende a região Noroeste e teve lucro líquido de R$ 7.346.690 (sete milhões, trezentos e quarenta e seis mil, seiscentos e noventa reais) em 2012. É um exemplo ainda modesto, se comparado ao lucro de R$ 39.680.300,00 da Viação Campo Belo no mesmo período.
Seus modelos urbanos mais recentes, como o Caio Millenium Vip, são de 2003, o que no varejo custa cerca de 50 mil reais. Para efeito de absurdo, estimemos cada um a 100 mil reais. Este valor, portanto, cobriria 73 novos ônibus apenas em 2012. Consideremos que o lucro caia pela metade, e ainda seriam 36 novos ônibus, renovação de cerca de 5% da frota. Quem pega ônibus lotado sabe a falta que fazem.
Seus motoristas e cobradores, que consomem nas palavras de Haddad, 50% do orçamento, têm média salarial de R$ 1.541,70, em valores atualizados com o reajuste de 2013. 4.764 trabalhadores com esta média salarial, portanto, poderiam ser custeados em seus salários novos apenas pelos lucros antigos. 2.382, se pensarmos nos encargos trabalhistas os quais o empresariado tanto lastima. Mais de 1300, se a taxa de lucro fossem os "desejados" 10% (o valor que o prefeito Haddad declara que busca que as empresas aceitem diminuindo do valor atual). A Santa Brígida possui aproximadamente 3.500 colaboradores, ao todo.
Para Haddad, é absolutamente natural que um punhado de acionistas detenham o equivalente a supostamente um quinto do que é gasto em salários. É desejável que a sexta parte do valor pago ao total dos trabalhadores corresponda ao orçamento de pouquíssimos proprietários que não utilizam o serviço, não organizam as linhas, não conhecem os percursos, nem o equipamento e não representam, enfim, nenhum interesse para além do lucro ao mediar - ainda sob a forma de monopólio - o direito à cidade.
Haddad acha razoável que a população não tenha acesso aos valores e detalhes das transações realizadas, as licitações, salários e contratos diversos. E sem nenhuma cerimônia, dá como verdade a correção da auditoria realizada por técnicos que sabem melhor do que nós o que é ou não aceitável na administração de nossos interesses, embora não nos ofereçam claramente nem seus critérios, nem seus resultados. À contrariedade, respondem com bombas, tiros e difamação pública.
Em matemática simples, se o aumento é de aproximados 16% e o lucro gira em torno de 18%, sem acrescer um único centavo nos gastos públicos, sem congelar salários, sem demitir ninguém, ainda sobrariam R$ 816.298,89 limpos na mão de meia dúzia de parasitas.

Estamos iniciando uma nova onda de lutas contra os ataques promovidos pelos empresários e seus governos. A única saída para garantir aos jovens e ao povo pobre o direito à cidade, aos hospitais, à arte, diversão e à vida, enfim, é nos lançarmos em aliança com os trabalhadores contra a corrupção e os lucros, tomando em nossas mãos o controle do transporte estatizado e em nossos dentes a primavera.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Fuvest: o filtro social que fecha a USP


Nos dias 4, 5 e 6 de janeiro será realizada a segunda fase da Fuvest. Mais de 30 mil inscritos para pouco mais de 11 mil vagas. Todos os anos o filtro social do vestibular impede que milhões de alunos por todo o país tenham acesso a uma educação pública e de qualidade.
 
A apreensão e o nervosismo na hora da prova são só alguns dos desafios que os candidatos precisam enfrentar. O vestibular foi criado para selecionar e para excluir a maioria dos jovens do acesso à educação. Não é a mesma coisa para um aluno que estudou a vida inteira nos “colégios de ponta” fazer a Fuvest do que é para um aluno de escola pública. E apoiando-se nos poucos que conseguem furar esse filtro, superando todas as dificuldades encontradas, que a universidade sustenta que o vestibular é o meio mais democrático de acesso ao ensino superior. Afinal, se você se esforçar e se dedicar, passará pelo vestibular. O mérito individual se sobressai e o Estado não garante um direito democrático mínimo: o acesso à educação.
 
A juventude excluída da universidade através desse filtro chamado vestibular é majoritariamente negra e filha da classe trabalhadora e a USP hoje, uma das universidades mais racistas e elitistas do Brasil, procura se fechar cada vez mais em si mesma e nem ao menos discute demandas mínimas como as cotas raciais.
 
A grande maioria dos alunos das escolas públicas nem sequer se inscreveram para a Fuvest. A dura realidade desses alunos, quando conseguem se formar já que os números de evasão escolar são altíssimos, passa longe de uma universidade pública. Na maioria das vezes tudo o que eles almejam é passar em uma universidade privada, cuja graduação é totalmente voltada para o mercado de trabalho e a produção de conhecimento para atender os interesses do capitalismo. Para pagarem sua formação, trabalham em empregos precários e deixam grande parte do seu salário com os grandes capitalistas que lucram fazendo da educação uma mercadoria.
 
A educação é um direito básico e é dever do Estado garantir que todos tenham acesso a esse direito. Contudo em uma sociedade dominada pelos interesses do capitalismo, onde a educação não passa de mercadoria para atender os interesses dos grandes magnatas do ramo, esse direito é negado a maior parte da população. Mas para que todos tenham acesso à educação é preciso lutar uma democratização radical da universidade através das cotas proporcionais ao número de negros do estado e rumo ao fim do vestibular! E essas reivindicações não bastam! É preciso também lutar também pela estatização de todo o sistema de ensino, sob controle dos estudantes e trabalhadores. Essa é a única forma de garantir esse direito básico para toda população.